Docentes: Prof. DSc Luciane Tasca Prof. Arq. Carina Folena Essência do pressuposto de Gehl AUR050 OS SENTIDOS E A ESCALA Cidade para pessoas Jan Gehl O natural ponto de partida do trabalho de projetar cidades para pessoas é a mobilidade e os sentidos humanos, já que estes fornecem a base biológica das atividades, do comportamento e da comunicação no espaço urbano (GEHL, 2013, p.33) Uma problemática urbana Uma problemática urbana As cidades tradicionais, orgânicas, cresceram baseadas em suas atividades cotidianas, ao longo do tempo. A velocidade dos novos meios de transporte e a escala maciça dos projetos impõem novos desafios Resultado: cidades em uma escala adaptada aos sentidos e ao potencial dos seres humanos. O conhecimento tradicional das escalas e proporções foi perdido e a nova escala das intervenções é distante dos parâmetros confortáveis ao ser humano Paraty, Rio de Janeiro Uma problemática urbana Entendendo a escala humana Se quisermos estimular o tráfego de pedestres e de bicicletas e realizar o sonho das cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis, precisamos começar pelo perfeito conhecimento da escala humana. Compreender a escala do corpo humano é importante se quisermos trabalhar de forma objetiva e adequada com ela, assim como abordar a interação entre a escala do pequeno e do lento e outras escalas também em funcionamento. Os pedestres urbanos do séc. XXI resultam de milhões de anos de evolução O homo sapiens é um mamífero ereto de orientação horizontal, frontal e linear 1
Entendendo a escala humana Campo social de visão Caminhos, ruas e bulevares são espaços de movimentação linear, projetados com base no sistema humano de locomoção. Trabalhar com a escala humana significa criar bons espaços urbanos para pedestres considerando as possibilidades e limitações do corpo humano. Levamos os sentidos em consideração? Campo social de visão No planejamento urbano, onde a relação entre sentidos, comunicação e dimensões é um tema importante, falamos de campo social de visão. Limite do campo social de visão: 100m quando vemos as pessoas em movimento Limiar significativo: 25m decodificação de emoções através das expressões faciais Dentro do limite do campo social Dentro do limite do campo social Estádios de futebol e outras arenas, usualmente respeitam a distância dos 100m Em outras situações, onde essa distância é extrapolada, os artifícios de difusão de imagem são outros Em teatros e óperas, onde a expressão é essencial, respeita-se, usualmente a distância dos 25m 2
A considerar Existem muitos usos existentes nos espaços urbanos em que intervimos. Até que ponto levamos em consideração esses usos e a infraestrutura para a sua ocorrência? O campo de visão social de 100m se reflete no tamanho da maior parte das praças antigas Elas permitem que os observadores fiquem em um canto e tenham uma visão geral do que ocorre na praça A distâncias de 60 a 70 metros já é possível ver quem está no espaço e como este é apropriado Muitas praças antigas da Europa não passam de 10.000m² Nessas praças é possível observar todas as atividades. Podemos ver todos os rostos dentro de 25m, permitindo perceber expressões e detalhes faciais. Tem-se o melhor de 2 mundos: o geral e os detalhes. Componentes urbanos básicos O campo de Siena demonstra que grandes áreas também podem ter uma dimensão humana, desde que cuidadosamente projetadas. Balizadores do espaço de 100m Meio afundado garante a visão do entorno e espaço para atividades Ruas: Movimento linear dos pés Movimento siga em frente, vá, vá Largos e Praças: Olhar, percepção dos eventos Permanência pare e veja o que acontece aqui 3
Componentes urbanos básicos Campo de visão vertical Dessa forma, os componentes básicos da arquitetura urbana são: O espaço de movimento, a rua O espaço de experiência, a praça Nosso campo de visão superior e inferior é diferente Onde pisamos, podemos ver 70º a 80º Para cima, nosso campo limita-se de 50º a 55º Numa caminhada normal inclinamos a cabeça a 10º Visão e ambiente construído Velocidade e percepção O aparelho sensorial é essencial para entender a percepção Em um único contexto urbano existem diferentes percepções da paisagem construída atreladas às diversas atividades Na paisagem urbana, os andares mais altos dos edifícios só podem ser vistos à distância Velocidade e percepção A escala do automóvel Até mesmo a arquitetura do ambiente construído se altera com as diferentes percepções das velocidades A introdução dos automóveis gerou uma confusão entre a escala e as dimensões das cidades Além do espaço ocupado pelos automóveis, quando a velocidade nas áreas urbanas aumenta de 5km/h para 60kmh, toda a dimensão espacial aumenta drasticamente O senso de proporção e escala passa a ser moldado pelo carro No planejamento, grandes distâncias, edifícios altos, a rejeição à cidade tradicional e o funcionalismo resultou em cidades altas, espalhadas entre vias expressas. 4
Distância e percepção Distâncias e comunicação Ruas estreitas: muito a se assimilar, atmosfera calorosa e convidativa Monumentalidade: impessoalidade, simplificação e frieza 0 a 45cm distância íntima amor 45cm a 1,20m distância da amizade e família Praia de Piratininga, Niterói - RJ 1,20 a 3,70 distância social conversas impessoais Mais de 3,70 distância pública comunicação unilateral Distâncias e comunicação A boa escala Na comunicação direta há o uso constante do espaço e da distância. As regras básicas de comunicação são importantes para que as pessoas se movimentem em segurança entre estranhos no espaço público. Os princípios da boa escala humana devem ser uma parte natural do tecido urbano, para convidar as pessoas a caminhar e pedalar. O corpo humano, seus sentidos e mobilidade são a chave do bom planejamento. A distância íntima, das fortes emoções, onde a presença é aceita depois de um convite pessoal é de, literalmente, um braço. Todas as respostas estão encapsuladas em nosso corpo. O nosso desafio, desse modo, é construir cidades esplêndidas ao nível dos nossos olhos. Boas práticas Boas práticas Entender as limitações sensoriais do ser humano Tomar como partido a potencialização dos sentidos humanos através das soluções projetuais: Visão visada Audição e olfato ambiência Tato - espacialidade Vivenciar e registrar fidedignamente as diferentes espacialidades e apropriações espaciais Cuidar da apreensão geral e dos detalhes da paisagem construída com igual dedicação Se ocupar da dimensão humana no projeto Entender o alcance de nossas vistas e saber direcionar o olhar do usuário através do projeto Entender que não só os componentes urbanos nos imprimem diferentes impressões/ações, como também nós mesmos, em diferentes contextos, apreciaremos o espaço de forma alterada 5
Boas práticas Referência Não esperar que os diferentes usuários tenham uma leitura única de espaço: A apreensão da paisagem construída e da ambiência urbana difere do pedestre, para o ciclista, para o automóvel... Logo, o projeto também deve promover diferentes abordagens para cada uma dessas categorias GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. Capítulo 2: Os sentidos e a escala 2.1. Os sentidos e a escala 2.2. Os sentidos e a comunicação 2.3 A escala fragmentada OLHAR, OBSERVAR E OUVIR saber apreciar os aspectos positivos e de vitalidade do espaço existente, e levá-los em consideração na atividade projetual 6