CASA UBATUBA CASA MAIA

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1 ANÁLISE COMPARATIVA: VOLUMES ENCRAVADOS As casas Ubatuba e Maia são produções de cunho residencial que possuem arranjos tipológicos semelhantes, tratados aqui como volumes encravados. Essa tipologia categoriza, dentro da pesquisa, todo projeto que, por sua estratégia de implantação em um terreno íngreme e pela relação entre construção e entorno, se mimetiza com a paisagem. Este estudo busca analisar comparativamente as duas residências, suas estratégias de implantação, de composição formal, aspectos funcionais e espacialidade, afim de encontrar similaridades ou especificidades entre os dois projetos dos escritórios SPBR e Yuri Vital. Implantação e Partido Formal CASA UBATUBA CASA MAIA Local: Ubatuba-SP Local: Carapicuíba-SP Ano: 2005/06 Ano: 2014 Escritório SPBR Escritório Yuri Vital Autoras: Stefânia Rossato Tonet, Cristina Piccoli e Ana Elísia da Costa Ambas as casas se encontram no estado de São Paulo. A casa Ubatuba do escritório SBPR, como o próprio nome indica, está localizada na cidade litorânea de mesmo nome, na Praia do Tenório, em Ubatuba. A casa Maia, em Carapicuíba, está implantada no Condomínio Golf Village. Implantadas em terrenos extremamente íngremes, as casas têm como premissa principal preservar ao máximo o entorno natural do sítio em que estão inseridas, especialmente a vegetação. Para tanto, se observa que a estratégia de locação perpendicular às curvas de nível foi adotada nos dois projetos, numa posição de enfrentamento da topografia. (figura 01) Figura 01: Implantação: Casa Ubatuba SPBR e Casa Maia Yuri Vital

2 As duas edificações têm suas coberturas no nível da rua e os acessos de veículos e de pedestres acontecem neste mesmo nível. Apesar disso, os partidos adotados em cada uma das residências apesentam diferenças. Na Ubatuba, composição aditiva é formada por quatro blocos individualizados e compactos. A conexão entre eles ocorre por meio de passarelas e circulações verticais. Já na Maia, a composição parte de um bloco único e compacto, que sofre subtrações na forma, configurando varandas e balanços. Nos dois esquemas, porém, percebe-se a preocupação em promover promenades que visam garantir o melhor aproveitamento das visuais. (figuras 01 e 02) Blocos aditivos Elementos de conexão Subtrações na forma Bloco compacto Figura 02: Esquemas compositivos: Casa Ubatuba SPBR e Casa Maia Yuri Vital No tratamento das fachadas, pode-se perceber novamente um ponto de confluência entre os projetos. A exposição de materiais brutos, como o concreto (Ubatuba), o aço (Maia) e a madeira na sua cor natural, impõem a presença da edificação ao observador. Já o uso abundante do vidro não tem outro objetivo a não ser proporcionar ao usuário a vista privilegiada da paisagem natural que cerca as duas casas. (figura 03)

3 Figura 03: Materialidade: Casa Ubatuba SPBR e Casa Maia Yuri Vital Fonte: Uma estratégia recorrente nas duas edificações é o uso de duas vigas de proporções generosas na cobertura. Além disso, também se percebe o destaque dado aos elementos estruturais, que mesmo incorporados a elementos funcionais como escadas e guarda-corpos mantém o forte apelo visual (figura 04). Já a modulação estrutural da casa Maia visivelmente organiza sua composição, o que na casa Ubatuba não é claro, já que esta recorre ao atirantamento de suas lajes. (figura 05) Figura 04: Esquema estrutural: Casa Ubatuba SPBR e Casa Maia Yuri Vital

4 Módulo principal Derivações do módulo Figura 05: Esquema do princípio organizador: Casa Ubatuba SPBR e Casa Maia Yuri Vital Configuração funcional Apesar de composições terem sido geradas de forma opostas, as duas casas possuem o mesmo modelo de zoneamento: em níveis. A divisão em alas, evidentes nos blocos da casa Ubatuba, é menos explícita na casa Maia. (figura 06) Quanto à estratégia de posicionamento dos elementos irregulares de composição, as duas residências também se assemelham. Alguns elementos, como os banheiros e cozinhas, foram locados no interior da planta, juntamente com espaços de permanência prolongada. Outros elementos irregulares, como depósitos, casa de máquinas e áreas de serviço, foram transladados para o perímetro da edificação, tendo sua solução formal resolvida pelo desnível do terreno. No caso específico da Ubatuba, a casa de máquinas e depósito foi totalmente isolada do conjunto, conectados apenas por uma passarela. (figura 06)

5 Setor íntimo Setor social Setor de serviço Elementos irregulares Figura 06: Esquemas de divisão de setores: Casa Ubatuba SPBR e Casa Maia Yuri Vital O percurso sugerido do acesso até os dormitórios se assemelha nas duas casas. O ingresso é feito pela cobertura com a descida por uma circulação vertical até chegar nos setores sociais, que abrigam cozinha, sala de jantar e sala de estar. Os dormitórios não se encontram no mesmo nível do setor social e a transposição de uma circulação vertical é necessária para acessá-los. Nos dois casos, percebe-se uma alternância de estratégias de circulação - sugerida e en suíte, nos setores sociais e espacializada nos setores íntimos. Já quanto à localização das circulações, é possível perceber diferenças entre as propostas. Na Ubatuba, as circulações verticais se proliferam e estas, assim como as circulações horizontais, assumem posições periféricas em relação aos ambientes, buscando explorar as visuais do entorno. Já no caso da residência Maia, a circulação vertical é única e centralizada na composição, ficando a cargo do seu patamar-varanda o papel de elemento de composição que explora as visuais do entorno. (figura 07)

6 Circulação principal Circulação secundária Figura 07: Esquemas de circulação: Casa Ubatuba SPBR e Casa Maia Yuri Vital Espacialidade As duas residências possuem seus acessos pela cota mais alta do terreno, na laje de cobertura. Assim, o percurso que conduz até o acesso permite a contemplação do entorno. Ao descer a escada que leva aos ambientes internos, tem-se um leve contraste de sensações. Uma tênue compressão é gerada mais pela geometria destes espaços do que pela limitação espacial nas laterais, já que nenhuma delas é enclausurada (figura 08) Figura 08: Casa Ubatuba, SPBR e Casa Maia, Yuri Vital. Fonte: TONET, Stefânia,

7 Concluída a descida, na casa Maia, um pequeno espaço faz as vezes de hall antes de se atravessar a porta de ingresso à área social. Na casa Ubatuba, o usuário deve, antes de chegar às salas, passar por uma área de convivência e passarela. Em ambas as residências, o setor social é uma planta livre, de dimensões consideráveis, que integra num mesmo espaço salas de estar e jantar e cozinha. Por serem ambientes sem divisórias físicas ou visuais e por possuírem grandes planos de vidro, as relações entre eles e o entre o exterior são abertas e dinâmicas, com tensões multidirecionais. (figura 09) Figura 09: Espacialidade do Setor social: Casa Ubatuba SPBR e Casa Maia Yuri Vital O acesso aos dormitórios é feito, em ambos os casos, por circulações verticais, visto que a segregação entre setor social e setor íntimo ocorre por níveis nas duas residências. Para tanto, é preciso descer as escadas - enclausurada na Maia e com guarda-corpo na Ubatuba - que vão se fechando na medida em que o usuário se aproxima do setor íntimo. Assim, paulatinamente, a tensão unidirecional vai preparando o morador para um ambiente mais íntimo e de menores dimensões do que o anterior. (figura 10)

8 Figura 10: : Casa Ubatuba SPBR e Casa Maia Yuri Vital Nas duas configurações analisadas, os dormitórios apresentam as mesmas características espaciais, a de um ambiente que pretende uma relação aberta com o exterior, em função dos grandes planos envidraçados, mas que, ao mesmo tempo, promove uma tensão unidirecional, causada pelas laterais opacas.