Primeira Vistoria Cidadã das Obras Cicloviárias (L2 e L3 Norte)
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- Maria Alves Chaplin
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1 Ofício n. 10/2012 Brasília, julho de 2012 À Coordenação do Comitê Gestor da Política de Mobilidade Urbana por Bicicleta no DF Governo do Distrito Federal Assunto: Relatório de vistoria das obras cicloviárias Primeira Vistoria Cidadã das Obras Cicloviárias (L2 e L3 Norte) Dadas as denúncias recorrentes sobre a má qualidade de parte das obras cicloviárias no Plano Piloto feitas por diversos usuários de bicicleta que têm se deslocado por esses locais, a Rodas da Paz iniciou um trabalho de visita e fiscalização cidadã às obras. No dia 5 de julho, foi realizada uma vistoria na ciclovia em construção nas vias L2 e L3 norte. Anderson Paz, Jonas Bertucci e Uirá Lourenço pedalaram ao longo da ciclovia e fizeram observações com o intuito de contribuir para a boa execução dos projetos e efetiva melhoria da mobilidade por bicicleta. Considerando também as dúvidas que ainda permanecem sobre as soluções que serão implementadas nos pontos de conflito e sobre a garantia de fluidez ao ciclista, nosso objetivo é acompanhar a execução das obras e continuar propondo melhorias aos órgãos responsáveis, por meio de relatórios como estes. A análise a seguir considerou aspectos fundamentais no planejamento e na execução de infraestrutura cicloviária, quais sejam: segurança, conforto e continuidade no trajeto. Telefone para contato: /
2 Irregularidades no pavimento No lote da L2, o acabamento da ciclovia é inadequado. Apesar de ser um dos trechos com custo mais elevado por km2, há diversas falhas no concreto, além de marcas de pegadas e de rodas de bicicleta, o que pode causar acidentes diversos; Figuras 1 e 2: Marcas de pisoteio e irregularidades na ciclovia da L2 Norte Embora o trecho da L3 (feito por outra empresa e com custo menor) esteja com bom acabamento e quase não se notem irregularidades no piso, a ciclovia da L2 certamente não se apresenta de forma adequada, principalmente para ser utilizada por outros ciclos, devido a estas irregularidades; Em alguns trechos, a circulação é bem complicada, principalmente para quem usa pneu fino que, em teoria, deveria ser o mais apropriado para o uso urbano e pode ser um empecilho à circulação de pessoas de skate ou patins. Foi gravado vídeo que evidencia o incômodo provocado pela trepidação. Ressalta-se que pisoteio e irregularidades na pavimentação também ocorreram na construção da ciclovia no bairro Sudoeste; Em pelo menos um local, foi verificada uma grande fissura entre o "meio-fio" que delimita a ciclovia e o pavimento da mesma, e em outros o concreto está bastante irregular na borda da ciclovia; Foram identificadas rachaduras de fora a fora em alguns pontos; Há relatos de danos causados às calçadas pelas máquinas utilizadas para a retirada de entulho das obras; Figuras 3 e 4: Buraco e Rachadura grandes na ciclovia da L2 Norte
3 Conflitos com pedestres Como as calçadas estão em péssimo estado em muitos trechos e dado que não se está sendo feito nenhum trabalho para reformá-las, as ciclovias acabam sendo utilizadas de forma inadequada por pedestres para caminhadas; Como não há sinalização nem informação sobre a obra, os pedestres utilizam a ciclovia naturalmente, sem serem alertados do risco que correm. Isso aumenta as chances de acidentes e conflitos entre ciclistas e pedestres, que já estão ocorrendo; Mesmo em baixa velocidade, a passagem de uma bicicleta pode assustar uma pessoa e causar uma queda, torção de pé ou quebra de um braço, senão problemas maiores; Esse é um problema recorrente, assinalado por diversas vezes pela sociedade civil durante as reuniões do comitê. É preciso defender o direito dos pedestres. Porém, o GDF, apesar de conhecer o problema, mais uma vez se omite de buscar as soluções possíveis. Vale registrar que na região do Park Way existe calçada compartilhada bem sinalizada que pode ser opção de infraestrutura que garanta espaço seguro a ciclistas e pedestres. Figuras 5 e 6: Pedestres na ciclovia L2 (esq.) e espaço sinalizado para ciclistas e pedestres no Park Way (direita) Figuras 7: Pedestres na ciclovia da L2, em sinalização Telefone para contato: /
4 Falta de informação e sinalização Embora a ciclovia já esteja com muitos trechos em condições cicláveis, não foi verificada absolutamente nenhuma sinalização, nem sequer uma placa indicando que aquela obra é uma ciclovia; Pintar as ciclovias de vermelho, colocar sinalização vertical e horizontal e ajeitar as calçadas talvez seja parte da solução, assim como o trabalho de educação para a população, que ainda não teve início. Falta de tratamento nos cruzamentos e pontos de conflito Nas entrequadras, as ciclovias terminam abruptamente e o ciclista fica sem opção. Pelo que foi visto, apenas em uma das entrequadras (a do Pão de Açúcar) a calçada é larga o suficiente para fazer um esquema por meio de calçada compartilhada; Não há informações sobre como serão feitas as travessias nos pontos de conflito e cruzamentos, nem quem terá prioridade e como; Figuras 8 e 9: Calçada relativamente larga em entrequadra comercial da L2 Norte (esq.) e falta de tratamento no cruzamento com a calçada (direita) Figuras 10 e 11: Calçada estreita em entrequadra comercial na região da L2 norte (esq.) e falta de dúvida sobre a travessia no cruzamento (dir.). Também não conseguimos descobrir como isto estava previsto nos projetos. O início das obras sem clareza sobre o tratamentos dos pontos de conflito é altamente preocupante; Vale lembrar que a ciclovia deve ser um equipamento urbano de uso
5 simples e descomplicado, que auxilie na segurança e que não leve os usuários a situações de risco; É preciso um esforço por parte do Comitê para discutir estas soluções, disseminar e facilitar o acesso a estas informações; Quanto à sinalização, não há qualquer pintura ou placa que sinalize para a existência da ciclovia e para o sentido do fluxo. Também não existem placas de orientação ao ciclista quanto aos destinos, a exemplo do que ocorre em cidades que efetivamente incluem a bicicleta no sistema de transporte; Figuras 12 e 13: Placas de orientação ao ciclista com destinos e distância, na Holanda (esq.) e travessia de ciclistas sinalizada em Sorocaba (SP). (dir.). Quanto à iluminação, não se pôde avaliar as condições em razão do trajeto ter sido percorrido de dia. Mas se percebeu que, no início da L2 norte, a iluminação deve estar comprometida, pois faltam postes de iluminação. Figura 14: Trecho da ciclovia em construção sem postes de iluminação. Telefone para contato: /
6 Descontinuidade do trajeto Na L2, em frente ao parque olhos d'água, há descontinuidade do trajeto, já que o ciclista deve contornar o parque (e mesmo assim, ainda sem continuidade na via das 200), em vez de seguir pela mesma via, o que aumenta um curto percurso em cerca de 3 a 4 vezes; Figuras 15 e 16: Falta de continuidade da ciclovia na altura do parque Olhos D Água. Não foi identificado acesso adequado pela L2 nem à esplanada dos ministérios, nem ao setor bancário norte, centros importantes de concentração de atividades econômicas e culturais; Não foi identificada qual seria a opção para se deslocar de forma segura até os ministérios ou para subir até o teatro nacional e o conjunto nacional a partir da L2; Figuras 17 e 18: Ciclovia da L2 norte não dá acesso à Esplanada dos Ministérios e a outros locais centrais. Ou seja, até o momento não foi possível compreender como as ciclovias levarão o ciclista até os pontos mais importantes da cidade (as áreas comerciais, culturais e de trabalho) a partir da L2. Em várias ciclovias do DF, a exemplo da construída no Sudoeste (figura 12), a falta de continuidade é um problema recorrente.
7 Figuras 19 e 20: Término abrupto da ciclovia do setor Suodeste (esq.) e falta de preferência ao ciclista, na ciclovia de Samambaia (dir.) Figuras 20 e 21: Cruzamentos sinalizados com preferência para os ciclistas na Holanda e Dinamarca Telefone para contato: /
8 Por fim, vale comentar sobre a necessidade de campanhas educativas que ressaltem os benefícios do uso de bicicleta. Além da infraestrutura, o trabalho de sensibilização é essencial para garantir o êxito do programa de mobilidade por bicicleta. Deve-se salientar o respeito mútuo que se deve ter no trânsito e mostrar às pessoas que a bicicleta é uma alternativa prática e saudável de transporte. Além dos problemas identificados nas obras cicloviárias, gostaríamos de salientar que a discussão das adequações nos projetos no âmbito do Comitê requer mais tempo e cuidado. Diversas reuniões, fundamentais para discutir os projetos com a sociedade, foram desmarcadas pelo GDF. Funcionários foram deslocados para viagens e cursos, quando a prioridade deveria ser acompanhar de perto os projetos e responder aos questionamentos que tem sido feitos. E, após cerca de 10 meses, não foi criado um espaço púbico para mostrar os projetos cicloviários para a população, apesar da constante demanda das entidades da sociedade civil desde o início do Comitê. As obras cicloviárias em andamento são fundamentais para incentivar o uso da bicicleta em Brasília, aumentando a qualidade de vida da população e trazendo diversas outras vantagens já conhecidas que acompanham este meio de transporte. Contudo, é preciso haver maior fiscalização das obras, informação e transparência, além de maior discussão sobre as adequações na busca das melhores soluções destes conflitos, garantindo prioridade, segurança e fluxo ao ciclista. Sem mais no momento, apresentamos este relatório esperando contribuir para que as providências necessárias sejam tomadas. Uirá Felipe Lourenço Presidente - Rodas da Paz
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