MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS Coerência das Políticas: O Desafio do Desenvolvimento Sessão Pública 19.01.2011 Assembleia da República ABERTURA Senhor Presidente da Comissão dos Negócios Estrangeiros e das Comunidades Portuguesas da Assembleia da República, Dr. José Ribeiro e Castro Senhor Director do Instituto Marquês do Vale Flôr IMVF, Dr. Ahmed Zaky, Senhor Director da Direcção Cooperação e Desenvolvimento do CAD OCDE, Sr. Jon Lomoy, Caros Deputados, Senhores e Senhoras, É com muito prazer que estou presente na abertura desta Sessão Pública sobre a Coerência das Políticas o Desafio do Desenvolvimento. O trabalho da Cooperação Portuguesa no domínio da Coerência das Políticas para o Desenvolvimento (CPD) tem vindo a consolidar se e esta iniciativa do Instituto Marquês de
Valle Flôr (IMVF), é um excelente exemplo deste progresso que quero realçar. O projecto Coerencia.pt, promovido pelo IMVF e com o apoio do IPAD, tem vindo a identificar lacunas, a apontar soluções, e a mobilizar os decisores e a opinião pública, promovendo a discussão sobre a concepção de políticas de desenvolvimento mais eficazes e eficientes, mais dirigidas, em suma, mais coerentes. É também importante realçar as parcerias que se podem desenvolver neste domínio, e a este respeito destacaria o apoio do Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais e o patrocínio da Comissão Negócios Estrangeiros da Assembleia da República a esta iniciativa. O desafio do desenvolvimento exige, entre outros factores, um empenho permanente e um investimento internacional crescente tanto na quantidade como na qualidade da ajuda. Se por um lado, é essencial que os doadores respeitem os compromissos assumidos em Monterrey e no quadro da União Europeia quanto aos níveis de Ajuda Pública ao Desenvolvimento, e que a crise global não se traduza numa contracção dos orçamentos da cooperação para o desenvolvimento, é igualmente fundamental que os esforços financeiros de todos sejam aplicados da forma mais eficaz e eficiente
possível. As opiniões públicas dos países doadores não compreenderiam qualquer outra postura. Neste momento de importante reflexão sobre os constrangimentos decorrentes da crise financeira internacional, importa portanto desenvolver uma análise séria e ponderada sobre as actuais limitações e desafios à cooperação para o desenvolvimento e sobre as possíveis formas de as ultrapassar. É neste contexto que devemos pensar o constante aperfeiçoamento das políticas de desenvolvimento, e assegurar que estamos a evitar a duplicação de esforços, que apoiamos os projectos mais capazes e viáveis e que estes podem ser realmente eficazes. A exigência de políticas coerentes, sérias e eficazes, que respeitem o investimento e os esforços públicos e privados, das ONGDs e dos contribuintes tem de continuar a ser a tónica central da nossa actuação. A este panorama acresce o grau crescente de complexidade que caracteriza a cooperação para o desenvolvimento, decorrente não só da sua natureza multidimensional, mas também da proliferação de intervenientes, de novas dinâmicas introduzidas pelos chamados doadores emergentes, e de uma consciência acrescida da sua importância para a paz e a estabilidade mundial. Esta realidade impõe igualmente dinâmicas de coordenação e complementaridade entre os variados actores e domínios de intervenção.
Cabe nos a tarefa essencial de assegurar que o financiamento da ajuda é canalizado da forma mais eficaz possível através de políticas informadas e bem coordenadas coerentes na sua concepção e execução pelos vários actores responsáveis. Só então estamos em condições de assegurar uma maior eficácia da ajuda e da gestão de resultados e só através destas poderemos garantir os resultados esperados em matéria de ODM. Foi neste contexto que o Governo Português aprovou no passado mês de Outubro uma Resolução do Conselho de Ministros dedicada à Coerência das Políticas para o Desenvolvimento (RCM nº 82/2010 de 21/10/2010), reconhecida como um instrumento essencial para a melhoria da coerência da política externa portuguesa, e que identifica a necessidade de estabelecer mecanismos formais de coordenação e seguimento e o reforço do diálogo interministerial neste domínio. No mesmo sentido, o novo documento orientador da Cooperação Portuguesa para o desenvolvimento, actualmente a ser ultimado, reflecte a continuação da exigência de esforços no sentido de maior concentração da ajuda, racionalização dos fluxos e implementação de uma gestão centrada nos resultados, de forma a aumentar a eficácia da Cooperação Portuguesa e a potenciar melhores resultados.
Também no contexto europeu, a promoção da complementaridade entre doadores, no quadro da divisão do trabalho em matéria de desenvolvimento, representa um novo impulso na eficácia da cooperação para o desenvolvimento. A redução da fragmentação da ajuda, seja nas actividades sectoriais, seja dentro dos países ou entre os países, não é uma tarefa fácil, exigindo novas atitudes entre doadores e nos países parceiros; mas também escolhas políticas e mudanças nos processos de planeamento e implementação da ajuda. Neste sentido procuramos assegurar uma coordenação efectiva entre os doadores europeus a qual implica a delegação de autoridade e competências entre os Estados Membros e a Comissão Europeia. A Cooperação Portuguesa com reconhecida experiência e mais valias no seu relacionamento institucional com os PALOP e em Timor Leste, viu o IPAD certificado pela Comissão Europeia para poder passar a assumir a gestão de projectos de cooperação delegada, em áreas como a justiça, a cooperação policial, o desenvolvimento rural ou a comunicação social de forma a evitar duplicidade de esforços com outros actores europeus. Estes esforços são fruto de um importante progresso nos processos de reflexão e maior coerência que a política europeia de cooperação para o desenvolvimento tem vindo a procurar consolidar.
Porventura hoje, mais do que em qualquer outro momento da História, e apesar dos difíceis momentos que atravessamos, acredito que temos a capacidade tecnológica, a experiência e o conhecimento para promover a mudança e atingir os resultados pretendidos. Mas apenas com uma actuação global concertada conseguiremos ultrapassar os desafios que se nos colocam. A definição de uma política de cooperação para o desenvolvimento ao nível nacional, como aos níveis europeu e mundial cada vez mais eficaz, eficiente, e coerente é essencial para uma actuação concertada e bem sucedida. A iniciativa Coerência PT, e a sessão de hoje, são seguramente passos importantes neste sentido. Muito obrigada João Gomes Cravinho Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação