Pº R.Co. 22/2008 SJC-CT Pº C.P. 73/2008 SJC-CT Recorrente (Pº R.Co. 22/2008 SJC-CT):, Lda. Recorrida (mesmo processo): Conservatória do Registo Comercial de.. Consulente (Pº C.P. 73/2008 SJC-CT): Instituto dos Registos e do Notariado, I.P.. Sumário Rejeição da apresentação de pedidos de registo ( predial e comercial) Anotação no diário e na ficha Notificação e impugnação da decisão Sentido e alcance da determinação legal de aplicação, com as devidas adaptações, das disposições relativas à recusa Âmbito de aplicação dos artigos 46º, nº 1, b) e nº 2 do C.R.Com. e 66º, nº 1, e) do C.R.P., ao referirem-se a quantias devidas. Relatório 1. No dia 23 de Julho de 2008 João.., advogado, promoveu na Conservatória do Registo Comercial de, pelo correio, o registo de aumento de capital e alteração parcial do pacto da sociedade., Lda,matriculada na mesma Conservatória sob o nº 503, tendo para o efeito apresentado título que revelava tratar-se de aumento de capital por incorporação de reservas, livres e legais. Foi simultaneamente remetido um outro pedido de registo, a efectuar por depósito (transmissão de quota) e, para pagamento de ambos, foi enviado um cheque no valor de 400,00. 2. Apoiando-se no disposto no art. 46º, nº 1, b) e nº 5 do Código do Registo Comercial, a Senhora Conservadora lavrou despacho de rejeição da - 1 -
apresentação - datado de 25 do mesmo mês de Julho, com notificação postal remetida no dia 28 seguinte por entender que está em falta a quantia de 860,00, já que da aplicação do disposto no art. 26º, nº 3 da Tabela Geral de Imposto de Selo resulta haver lugar ao pagamento de 960,00 e, retirando da importância remetida os emolumentos únicos de 200,00 e 100,00, respectivamente para o registo em tabela( art. 22º, 2.4 do R.E.R.N.) e para o de transmissão de quotas referido supra( art. 22º, 3 do R.E.R.N.), apenas restam 100,00. 3. Daquele despacho de rejeição da apresentação foi interposto recurso hierárquico no dia 1 de Agosto de 2008 pela, Lda., cujos termos aqui se dão por integralmente reproduzidos, no qual não é questionada a interpretação do dito art. 46º, nº 1, b) ( no sentido de que o imposto de selo está abrangido pelas quantias devidas ) mas antes a interpretação do referido artº 26º, nº 3 da TGIS, defendendo-se não estar o aumento de capital por incorporação de reservas sujeito à tributação nele prevista, invocando-se em síntese: a) Que a redacção actual do dito nº 3, ao excepcionar expressamente da tributação nele prevista o aumento de capital efectuado através de numerário, foi introduzida pela Lei nº 67-A/2007, de 31 de Dezembro na sequência de decisão do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias de 21 de Junho de 2007; b) Que já antes da consagração expressa dessa excepção o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, por despacho de 7 de Agosto de 2003, considerou que o aumento de capital por incorporação de reservas não estava sujeito à dita tributação, conforme é referido no Manual de Minutas de Actos Sujeitos a Registo Comercial (também anterior à referida Lei nº 67-A/2007); c) Que os lucros não distribuídos nos termos do art. 33º do Código das Sociedades Comerciais, por serem destinados a reservas legais ou estatutárias, e posteriormente incorporados no capital social, são numerário. 4. A recorrida manteve inalterada a sua decisão de rejeição, contraargumentando, em síntese, com a invocação da posição defendida no Pº R.C. 106/2002 DSJ-CT ( BRN nº 3/2003, II caderno) e com o disposto nos artigos 295º e 296º do C.S.C., afirmando que os aumentos por incorporação de reservas, não constituem novas entradas dos sócios, nem têm sempre por objecto - 2 -
numerário, e por isso, não se incluem na excepção do disposto no artigo 26º,3 da T.G.I.S.. 5. Na sequência e em razão do teor da informação prestada no processo pelo núcleo do registo comercial e bens móveis do Sector Jurídico e de Contencioso (SJC) do Instituto dos Registos e do Notariado (IRN) na qual foi exarado despacho defendendo a sua divulgação na intranet, por assumir relevância no âmbito dos registos comercial e bens móveis e do registo predial -, foi superiormente determinado consultar o núcleo do registo predial do mesmo SJC acerca das questões ali tratadas. A esse processo de consulta foi atribuído o indicado nº C.P. 73/2008 SJC, tendo sido cumprida a determinação superior. Na presença dos sentidos de ambas as informações, fazendo apelo à vantagem de uniformização de procedimentos e atribuindo carácter inovador às questões abordadas, foi superiormente decidido submeter ambos os processos à apreciação deste Conselho, para emissão de parecer ou deliberação, embora sem concretização da questão ou questões objecto de consulta, mas que é possível fazer corresponder essencialmente à questão de saber, qual o sentido e alcance das alterações introduzidas ao Código do Registo Comercial e ao Código do Registo Predial, no regime da rejeição da apresentação, pelo D.L. nº 116/2008, de 4 de Julho. 6. O processo (de recurso hierárquico) é o próprio, as partes legítimas, o recurso tempestivo e não existem questões prévias ou prejudiciais que obstem ao conhecimento do mérito. A posição deste Conselho vai expressa na seguinte Deliberação 1 1 Tudo o que a seguir se dirá tem em vista os pedidos de registo comercial por transcrição e os pedidos de registo predial, impondo a sua aplicação aos pedidos de registo comercial por depósito uma - 3 -
1. A apresentação de um pedido de registo impõe à Conservatória destinatária a tomada imediata de uma decisão 2, em resultado do juízo necessariamente formado sobre a (in)verificação dos requisitos legais de ingresso( art.s 46º, nº 1 do C.R.Com e 66º, nº 1 do C.R.P.), a qual é implícita no caso de aceitação e é explícita no de rejeição. No caso dos pedidos apresentados on line é o próprio sistema informático que automaticamente assume aquela (in)verificação, permitindo ou impedindo a apresentação (electrónica) 3. 2. A ambas as decisões faz a lei corresponder uma anotação da apresentação no livro diário, efectuada na data e pela ordem que forem determinadas pela aplicação das regras nela previstas, em função do meio adaptação às especialidades do seu regime, como sejam (cfr. artigos 45º, nº 6, 46º, nº 7 e 47º do C.R.Com.): não há anotação de apresentações( por isso a lei fala de rejeição do pedido ) ; a decisão de rejeição pode ter lugar até à realização do registo ; e não há qualificação do pedido pela conservatória. 2 O facto de a decisão ser necessariamente imediata não significa, sendo ela de rejeição, que o respectivo despacho tenha que ser elaborado e assinado na data da apresentação, embora esta seja indiscutivelmente, e em qualquer caso, a data da decisão. É claro que o ideal será lavrar o despacho no mesmo momento ou, não sendo isso realizável, lavrá-lo tão cedo quanto possível, já que o mesmo está sujeito a notificação no prazo de dois dias ( artigos 50º, nº 1 do C.R.Com. e 71º, nº 1 do C.R.P.) e, parece-nos, o termo inicial deste prazo não pode deixar de ser a data da anotação no diário. No caso dos autos o despacho foi lavrado dois dias após a data da rejeição ( 25 de Julho), o que não permite que peremptoriamente consideremos excessivo o tempo de demora, tudo dependendo das circunstâncias concretas. Já quanto à notificação é inquestionável que não foi cumprido o prazo legalmente fixado, pois foi remetida apenas no dia 28 de Julho seguinte. O incumprimento do prazo da notificação é irrelevante para efeitos do mérito da impugnação, sendo certo que o termo inicial do prazo da impugnação corresponde à data em que deve dar-se a notificação por efectuada( in casu no dia 31 de Julho). 3 Nesta última hipótese, a que podemos chamar de rejeição electrónica ou rejeição on line, não é identificável uma decisão de rejeição, nomeadamente para efeito de impugnação. Significa isto que, como referimos no recente Pº R.Co.25/2008 SJC-CT ( nota 8), não restará ao interessado outra atitude que não seja apresentar o pedido por uma das outras vias legalmente permitidas e, se aí vier a ocorrer a rejeição com base no mesmo motivo que constituiu obstáculo à apresentação on line, impugnar a respectiva decisão. - 4 -
utilizado, mesmo que esteja em falta (na de rejeição) algum dos respectivos elementos, o que não significa que a anotação de apresentação rejeitada não deva reflectir que a respectiva eficácia fica suspensa da procedência da impugnação (artigos 46º, nº 3 do C.R.Com. e 66º, nº 2 do C.R.P.) 4. 3. Da aplicação à rejeição da apresentação das disposições legais relativas à recusa, com as devidas adaptações ( artigos 46º, nº 5 do C.R.Com e 66º, nº 3 do C.R.P.), resulta desde logo atribuído à procedência da impugnação o efeito substantivo correspondente : assegurar a prioridade do pedido 5. 4. Da mesma aplicação resulta ainda que - para lá da rejeição, da data de notificação do respectivo despacho, da interposição do recurso, da sua improcedência ou desistência, da deserção da respectiva instância e da paragem do processo durante mais de 30 dias por inércia do autor (cfr. as disposições que, para a recusa, a estas 4 A execução da decisão da rejeição através da anotação da apresentação ( o que se anota não é a rejeição) é coerente com o facto de a mesma lei mandar aplicar à impugnação da decisão de rejeição as disposições relativas à impugnação da decisão de recusa, o que significa atribuir à decisão de procedência o efeito de assegurar a prioridade, reportada à data do pedido. Daí que haja desde logo que numerar a apresentação na data respectiva ( a data dos registos é a da apresentação, se desta dependerem - art. 77º, nº 1 do C.R.P. e 55º, nº 4 do C.R.Com.). 5 Foi com a entrada em vigor do D.L. nº 116/2008, de 4 de Julho, que passou a estar prevista no C.R.Com.( art. 46º, nº 5) e no C.R.P. (art. 66º, nº 3 do C.R.P.) a aplicação à decisão de rejeição de apresentação das disposições constantes dos mesmos códigos para a impugnação da decisão de recusa da prática do acto de registo nos termos requeridos ( art. 101º e seguintes e 140º e seguintes, respectivamente). Embora já anteriormente e por diversas vezes este Conselho tenha tido oportunidade de defender a impugnabilidade (uma das primeiras vezes em que tal ocorreu foi no Pº 21/90 RP.4. ) - na consideração de que, embora não sendo ainda uma decisão de qualificação do pedido, a rejeição da apresentação não deixa de traduzir uma decisão desfavorável ao registo, nos termos requeridos - até então não havia disposição legal que permitisse atribuir à impugnação da rejeição da apresentação os efeitos da impugnação da recusa. É, assim, ao nível dos efeitos que se situa a importância da alteração legislativa. - 5 -
diversas situações se referem, tanto no C.R.P. como no C.R.Com. ) - deve ser também anotada na ficha a procedência da impugnação, já que, diferentemente do que se passa na recusa, ela não é aqui tabularmente traduzida na feitura ou conversão de um registo ( e a anotação da apresentação já se mostra efectuada 6 ). Na qualificação dos registos posteriores dependentes (do mesmo sentido ou sentido contrário) deve aplicar-se, por força da mesma determinação legal, a provisoriedade por natureza prevista no art. 92º, nº 2, d) do C.R.P. e 64º, nº 2, d) do C.R.Com., ficando a aguardar pela definição da situação da decisão de rejeição e ainda, em caso de procedência, também pela da decisão de qualificação 7. 5. As quantias devidas, cuja falta de pagamento a lei inclui entre os motivos de rejeição da apresentação - artigos 46º, nº 1), b) do C.R.Com. e 66º, nº 1, e) do C.R.P. - são unicamente as que devam ser imputadas ao acto de registo objecto imediato do mesmo e que, por esse motivo, foram englobadas num emolumento único ( feitura do registo, 6 O facto de termos defendido supra que a anotação da apresentação rejeitada deve reflectir o seu estado de pendência, não implica que, efectuando esta anotação de procedência na ficha, se imponha anotar o facto também no diário ( o que aliás implicaria uma adaptação do SIRP), assim como também se não impõe a anotação( no diário )das referidas improcedência, desistência, deserção e paragem. Ocorrendo a caducidade do direito de impugnação, esse facto é manifestado pela própria ficha, em função da anotação da data da notificação, como acontece com a recusa. Não vemos que, também aqui, se imponha efectuar qualquer anotação no diário( o que aliás implicaria igualmente uma adaptação do SIRP). 7 Não se dando a procedência, actua-se de imediato de acordo com o disposto nos art.s 149º, nº 2 do C.R.P. e 112º, nº 2 do C.R.Com.). No caso de procedência, o resultado depende da qualificação que vier a caber ao pedido anterior, consoante lhe corresponda: um registo definitivo, em que se procede desde logo de acordo com o disposto nos números 1 dos artigos anteriormente indicados; um registo provisório, sendo num primeiro momento requalificados para a provisoriedade por natureza da alínea b) do nº 2, aplicandose posteriormente, em função da sorte daquele de que ficam a depender, o disposto nos nºs 1 ou 2 dos ditos art.s 149º e 112º, consoante o caso; ou uma recusa, em que se procederá de acordo com as hipóteses anteriores, consoante o que vier a verificar-se. - 6 -
seu estudo e preparação, actos subsequentes de inscrição no RNPC e publicação obrigatória). 6. Assim, não pode considerar-se como devida, para este efeito, a quantia imputável, a título de imposto de selo 8, ao acto de aumento de capital das sociedades de capitais mediante a entrada de bens de qualquer espécie, excepto numerário ( art. 26º, nº 3 da TGIS) 9. Nos termos expostos, é entendimento deste Conselho que o recurso do Pº R.Co. 22/2008 DSJ-CT deve proceder. Lisboa, 29 de Janeiro de 2009 8 Este Conselho teve já oportunidade de retirar conclusão genérica com este entendimento, na sequência da fundamentação utilizada na decisão de caso em que estava concretamente em causa imposto previsto no art. 8º da TGIS, em relação a pedido de registo de alteração do pacto - Cfr. Pº R.Co 35/2006 DSJ-CT, divulgado intranet. Ora, entendemos que o peso da fundamentação ali utilizada para a qual remetemos e que não vemos razão para não considerar aplicável ao registo predial - não sai afastado nem diminuído pela especificidade de o imposto cuja falta determinou no caso a rejeição da apresentação constituir receita do I.G.F.P.M.J., de acordo com o disposto no art. 4º do D.L. nº 322-B/2001, de 14 de Dezembro. Continuamos perante um imposto devido pelo acto submetido a registo e não pelo próprio registo. 9 Ainda que assim não fosse de se entender, impunha-se da mesma forma a procedência do presente recurso, pois nos parece que o aumento de capital por incorporação de reservas não cabe na facti species do referido artigo 26º, nº 3 da TGIS, ao contrário do que defende a recorrida que, como supra relatámos, invoca para o efeito o Pº R.C. 106/2002 DSJ-CT. Ora, com o devido respeito, não descortinamos pertinência na invocação. O que ali se defendeu, no contexto da (in)aplicabilidade do disposto no art. 28º do C.S.C. (verificação das entradas em espécie) foi que: o aumento de capital realizado através de prestações suplementares é uma nova entrada, não se lhe aplicando o regime da incorporação de reservas, que o não é; tendo as prestações suplementarem dinheiro por objecto, não pode o aumento realizado com créditos delas provenientes ser considerado entrada em espécie. Esse aumento de capital estaria, ao tempo, sujeito ao imposto em tabela. Hoje não, por ser numerário. Parece-nos não suscitar grandes dúvidas a afirmação de que o aumento de capital por incorporação de reservas não constitui nova entrada e se traduz em numerário, ainda que as reservas utilizadas não tenham provindo de lucros da sociedade( hipótese prevista no art. 295º, nº 2 do C.S.C., invocado pela recorrida para afirmar que os aumentos por incorporação de reservas( ) não têm sempre por objecto numerário ). - 7 -
2009. Deliberação aprovada em sessão do Conselho Técnico de 29 de Janeiro de Luís Manuel Nunes Martins, relator. Esta deliberação foi homologada pelo Exmo. Senhor Presidente em 11.02.2009. - 8 -