"A INTEGRAÇÃO ENTRE O NOVO GUIA BRITÂNICO PARA GERENCIAMENTO DA SAÚDE OCUPACIONAL E SEGURANÇA (BS 8800), O SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL (ISO 14001) E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA. Maria Dorotea Queiroz Godini Michel Epelbaun Jair Rosa Cláudio ( 1 ) 1. INTRODUÇÃO Seguindo o padrão dos modelos internacionais para Garantia da Qualidade (normas série ISO 9000) e para Gerenciamento Ambiental (normas série ISO 14000), foi homologada, no início deste ano, a norma britânica BS 8800 - Guia para Sistemas de Gerenciamento de Saúde Ocupacional e Segurança, substituindo a versão preliminar, então chamada, BS 8750. Esta norma, principalmente através de seus anexos, oferece uma estrutura que abarca requisitos legais, provendo espaço para o gerenciamento integrado de exigências legais como o PPRA, o PCMSO, o PCMAT, o PPEOB, o PPR. Além disto, permite uma ação integrada com outros códigos de práticas como, por 'exemplo, o da Atuação Responsável. O presente trabalho propõe-se a apresentar, para os profissionais do setor, opções para o gerenciamento de suas necessidades e ações, de forma sistematizada, e permitindo a inserção dos temas Segurança e Medicina do Trabalho da dentro da gestão global das empresas. 2. O Guia Britânico BS 8800 O Guia para Sistemas de Gerenciamento de Saúde Ocupacional e Segurança BS 8800 publicada pelo British Standartization Institute, em maio de 1996, é baseado em princípios gerais de bom gerenciamento e tem por objetivo a integração da gestão da Saúde Ocupacional e Segurança (SOS) com o sistema global de gerenciamento das empresas. Tendo em vista a trajetória de outros referenciais britânicos anteriores como a BS 5750 e a BS 7750 que foram a base, respectivamente, para as normas internacionais séries ISO 9000 (Garantia da Qualidade) e ISO 14000 (Gerenciamento Ambiental), transparece a intenção dos britânicos de que o guia BS 8800 venha a embrionar, também, um futuro modelo internacional normativo de Sistema de Gestão de Saúde Ocupacional e Segurança (SGSOS). Assim, de forma insólita, o guia em questão apresenta, simultaneamente, duas alternativas para a estruturação de um sistema de gestão. Uma primeira, é baseada no guia do Health and Safety Executive de Gerenciamento bem sucedido de Saúde Ocupacional e Segurança HS(G)65 e destinada a organizações que desejem dispor de um sistema de gestão que é referência para a maioria das empresas no Reino Unido (FIG 1). Uma segunda abordagem destinase à empresas que queiram implementar um SGSOS apoiado/baseado na norma ISO/DIS 14001 (FIG 2). As duas abordagens possuem a mesma numeração de páginas de tal forma que o descarte, pelo usuário, da versão indesejada não comprometerá o restante do conteúdo do Guia que permanecerá "completo", com todas as páginas. Das duas, a versão de maior interesse, para os usuários não britânicos, é aquela baseada na estrutura da norma ISO/DIS 14001, por terem as normas ISO reconhecimento internacional. É por esta razão que esta alternativa será, também, a referência para este trabalho. Deve ser destacado que, por não tratar-se de uma "especificação", os elementos do Guia BS 8800 não são denominados "requisitos", como ocorre com as normas BS 7750, ISO/DIS 14001.2, ISO/DIS 9001, 9002 e 9003, por exemplo. As FIGURAS 1 e 2 apresentam as duas abordagens propostas pela BS 8800. 1 Consultores do BUREAU VERITAS DO BRASIL - Divisão de Qualidade, Segurança e Meio Ambiente.
O modelo gerencial proposto pelo guia BS 8800, apresentado na FIGURA 2, está estruturado no clássico ciclo de gerenciamento PDCA (Plan, Do, Check, Act), dando ênfase à Política de Segurança e de Saúde Ocupacional e à necessidade de uma "Análise Crítica Inicial" como ferramenta "suporte" para implementação do Sistema. Seguidos os estágios, apresentados na mesma figura, as organizações terão condições de estabelecer procedimentos para definir sua política de SOS (Saúde Ocupacional e Segurança), seus objetivos, a implementação do SGSOS e de demonstrar sua conformidade contra critérios que elas tenham definido. O guia para um SGSOS, baseado na abordagem da ISO 14000, está estruturado conforme apresentado a seguir: 1. Escopo 2. Referências Informativas 3. Definições 4. Elementos do SGSOS 4.0 - Introdução 4.0.1 - Geral 4.0.2 - Análise Crítica da Situação Inicial 4.1 - Política de SOS 4.2 - Planejamento 4.2.1 - Geral 4.2.2 - Análise de Risco 4.2.3 - Legislação outos requisitos 4.2.4 - Arranjos para o gerenciamento de SOS 4.3 - Implementação e Operação 4.3.1 - Estrutura e Responsabilidade 4.3.2 - Treinamento, conscientização e competência 4.3.3 - Comunicações 4.3.4 - Documentação do SGSOS 4.3.5 - Controle da Documentação 4.3.6 - Controle Operacional 4.3.7 - Prontidão e Resposta a Emergências 4.4 Verificação e Ação Corretiva 4.4.1 - Monitoramento e Medições 4.4.2 - Ação Corretiva 4.4.3 - Registros 4.4.4 - Auditoria 4.5 - Análise Crítica pela Administração O anexo A indica as ligações entre este guia e a norma ISO 9001 para assistir aquelas organizações que operam ou planejam operar de acordo com as normas de Gestão da Qualidade para integrar SOS ao sistema de gerenciamento existente. Os anexos seguintes dão orientações sobre a organização (Anexo B); planejamento e implementação (Anexo C); análise de risco (Anexo O); medição de desempenho (Anexo E) e auditoria (Anexo F) que são necessários um sistema de gerenciamento eficiente de saúde ocupacional e de segurança. A itemização dos elementos do Guia para SGSSO apresenta a mesma sequência dos requisitos da Norma ISO 14001/ OIS 95, o que facilita, sobremaneira, a integração do SGSOS ao SGA. Na seqüência deste trabalho são apresentadas discussões dos elementos do Guia BS 8800 e uma abordagem de como utilizá-io para integrar, de forma sistêmica, as Normas Regulamentadoras e outros requisitos legais, afeitos à Saúde Ocupacional, Higiene Industrial e Segurança no Trabalho, com os modelos gerenciais das normas ISO série 9000 e ISO/OIS 14001.2. 3. Interrelações entre a Norma B5 8800 e a Norma 150/015 14001.2 Como já mencionado, para as discussões deste trabalho, optou-se pelo modelo gerencial, apresentado pela a Norma BS 8800, baseado na Norma ISO 14001/ OIS 95. Procedendo-se à uma comparação, constata-se uma extrema similaridade entre a gestão de Saúde Ocupacional e Segurança e a de Meio Ambiente. Dentre as diversas semelhanças, destacam-se: A) A inter-relação, a complementação e até mesmo a sobreposição de diversos aspectos ambientais e de Saúde Ocupacional e Segurança. por exemplo, o ruído é objeto de análise dentro dos dois sistemas. do ponto de vista do Meio Ambiente, o ruído de interesse é aquele que possa incomodar à vizinhança da organização. Este mesmo agente fisíco, do ponto de vista da Higiene Ocupacional, está relacionado, essencialmente, à exposição de funcionários (dose). Outro exemplo, é o risco de explosão que também é objeto de interesse dos dois sistemas de gerenciamento. B) Ambas as áreas (Meio Ambiente e Saúde Ocupacional e Segurança) não constituem "atividades fim", não sendo gerenciadas, até o momento, de forma integrada aos negócios centrais, na maioria das organizações e têm por objetivo proteger o homem e o meio essencial à sua sobrevivência.
C) Tanto para Meio Ambiente como para Saúde Ocupacional e Segurança, a maioria dos controles existentes são decorrentes, fortemente, da legislação vigente e da fiscalização de órgãos públicos. A partir destes e de outros pontos comuns, a implementação de Sistemas de Gestão de Saúde Ocupacional e Segurança, em organizações que já disponham de Sistema de Gerenciamento Ambiental, dar-se-á de maneira sensivelmente facilitada, integrando-se o SGSOS à estrutura já existente do SGA. Para esta otimização pode-se aproveitar: a ferramenta de avaliação de aspectos/impactos ambientais, levando-se em consideração as recomendações do Anexo O da BS 8800; o procedimento para identificação e acesso a requisitos legais e outros; a sistemática para definição de objetivos, metas e programa de gestão ambiental; a sistemática para a definição de responsabilidades e recursos, complementando-se com os requisitos recomendados pela na BS 8800, em seu Anexo B; a sistemática de treinamento e conscientização ambiental, complementada com os requisitos adicionais da área de segurança & saúde (Anexo B); os procedimentos de comunicação ambiental, complementando os canais de consulta, representação e envolvimento dos funcionários; o formato do manual de gestão ambiental, adaptando-o às necessidades do SGSOS; os procedimentos de controle de documentos do SGA, considerando-se a recomendação de desenhar um sistema de documentação que seja um instrumento para o gerenciamento e não um fim em si mesmo; os procedimentos operacionais de controle ambiental, inserindo, nos mesmos, os controles de rotina e de prevenção da Saúde Ocupacional e da segurança e garantindo a sua integração aos controles de processos da organização; o plano de emergência ambiental, formado-se um único plano de ação de emergência; OS procedimentos de monitoramento e medição, cobrindo, também, as avaliações de ruído, de agentes químicos, entre outros, incluindo, também, as recomendações para a avaliação de desempenho em saúde ocupacional e segurança (Anexo E); os procedimentos para definição de não conformidades e ações corretivas; os procedimentos para controle de registros; os procedimentos para auditorias e para qualificação de auditores ambientais, incluindo-se os requisitos específicos para as auditorias de SOS. Tais auditorias podem vir a ser, inclusive, realizadas em conjunto; a sistemática de análise crítica pela alta administração, incorporando os ítens pertinentes ao SGSOS. Levando-se em conta que a Norma ISOIDIS 14001.2 é uma especificação, ela contém os requisitos mínimos para a certificação de um sistema de gestão ambienta!. Por outro lado, a Norma BS 8800 é um guia que contém recomendações para a implementação de um sistema efetivo de gestão de saúde e segurança não sendo, porém, certificáveis. Feita esta ressalva, no que tange à natureza e aplicação distintas das referidas normas, o QUADRO A apresentado, a seguir, destaca os ítens comuns entre as mesmas e aqueles que cada uma delas aprofunda/explora de forma diferenciada.
De modo geral, a Norma BS 8800 dá um ênfase maior ao ciclo de melhoria (política, objetivos e metas, programa, avaliação de desempenho) além de destacar e detalhar mais aspectos relacionados à estrutural responsabilidade; treinamento, conscientização e capacitação. Por outro lado, a Norma ISO/OIS 14001.2 é mais rigorosa, do que a BS 8800, no que tange aos ítens de documentação e registros, controle operacional, monitoramento e ações preventivas. Uma hipótese para justificar o fato das duas normas não adotarem o mesmo grau de aprofundamento, para itens análogos, poderia ser a possibilidade de poder-se ter um grau maior de exigência para os controles de rotina do Sistema Ambiental, enquanto que para o Sistema de Gerenciamento de SOS depende-se mais de ações preventivas relativas a situações elou riscos potenciais. 4. A Legislação e os modelos de Gerenciamento Observando-se a legislação trabalhista brasileira, na área de Segurança e Medicina do Trabalho, a linguagem de ordem atual é "Programa". Hoje tem-se: "Programa de Prevenção de Riscos Ambientais" (PPRA), NR 9 "Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional' (PCMSO), NR 7
"Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria de Construção" (PCMAT), NR 18 "Programa de Proteção Respiratória" (PPR), a partir da Instrução Normativa no 01 de 11/04/94 sobre "EPR" "Programa de Prevenção da Exposição Ocupacional ao Benzeno" (PPEOB), Instruções Normativas nos 01 e 02 de 20/12/95, além do "Programa de Conservação Auditiva" (PCA), que tem sido desenvolvido em inúmeras organizações, a partir da NR 15 (Anexos 1 e 2), do controle audiométrico e do controle de ruído industrial, como ferramentas de trabalho. É neste momento que, para os profissionais do setor Segurança e Medicina do Trabalho, precisam viabilizar-se opções para o gerenciamento de suas necessidades e ações, de forma sistematizada, permitindo a inserção destes temas da dentro da gestão global das empresas. Observando-se tanto a norma BS 8800 como a ISO/OIS 14001.2, fica evidente que o atendimento à legislações aplicáveis é o mínimo que poderia prever dentro destes sistemas de gerenciamento (sistema reativo). Nesse sentido, inclusive, a norma britânica prevê dois tipos de planejamento e estabelecimento de objetivos: o pró ativo e o reativo. Independentemente do tipo escolhido pela organização, a norma BS 8800 em seus sub-itens 4.2.1- Geral e 4.2.3 - Requisitos Legais e outros permite a integração do atendimento das exigências legais, de forma sistematizada, e dentro da abordagem de Gerenciamento Global da organização. Complementarmente, o Anexo C - Planejamento e Implementação também contempla tudo o que se relaciona aos requisitos do PPRA, PCMSO, PCA,PPEOB, PPR, PCMAT, entre outros assuntos. Na ordem natural dos acontecimentos, estas novas exigências se fazem refletir sobre os profissionais de Segurança e Medicina do Trabalho que, de repente, num curto espaço de tempo, deparam-se com siglas como PPRA, PCMSO, PCA,PPEOB, PPR, PCMAT, etc. Que bombardeio! Mas, o que significam conceitualmente? O que é um "Programa"? Qual a sua diferença para os monitoramentos, medições, exames médicos que eram executados quando possível? Como atender a tantas exigências e novidades ao mesmo tempo? Por onde começar? Superado o atordoamento inicial, percebe-se aí que, no Brasil, está havendo uma evolução conceitual técnica que entende que "programas" são atuações/ações integradas e multidisciplinares que permitirão a obtenção de melhoria dos ambientes e das condições de trabalho. Está desaparecendo a antiga e ultrapassada rotina de "juntar" peças de quebra-cabeças, de diferentes donos, que algumas vezes se encaixavam mas, quase nunca se completavam. É, em outras palavras, a harmonização com a principal característica e tendência moderna: a "globalização", sentida não só nos campos econômico e político como, também, na área tecnológica. É, sobretudo, o reflexo da sintonia e da sensibilidade técnica e legislativa para que se esteja em compasso com os rumos do mundo de hoje. Além disto, no último parágrafo da introdução da referida norma britânica, é enfatizado que pequenas organizações devem garantir, em primeiro lugar, o atendimento de requisitos legais antes de almejarem a melhoria contínua ao longo do tempo. Em resumo, o grande desafio para os profissionais e para suas empresas é aprender a identificar os aspectos fundamentais de seu negócio e a gerenciá-ios.