ESTUDO DO COMPORTAMENTO DA CONSTANTE DIELÉTRICA EM CONDIÇÕES SUPERCRÍTICAS ENVOLVENDO CO 2, HIDROCARBONETOS E ÁGUA

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Transcrição:

ESTUDO DO COMORTAMENTO DA CONSTANTE DIELÉTRICA EM CONDIÇÕES SUERCRÍTICAS ENVOLVENDO CO 2, HIDROCARBONETOS E ÁGUA R. C. MIRRE 1, F.. do NASCIMENTO 1, E. R. A. LIMA 2, M. L. L. AREDES 2 e F. L.. ESSOA 3 1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Química, rograma de ós-graduação em Engenharia Química 2 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Química, Departamento de Físico-Química 3 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Química, Departamento de Engenharia Química E-mail para contato: reinaldomirre@hotmail.com RESUMO Um dos maiores desafios da exploração de petróleo e gás da camada de présal brasileiro está no conhecimento das características dos compostos presentes nas condições dos reservatórios. Neste caso, altos teores de gases corrosivos presentes no óleo, como o CO 2, em altas temperaturas e pressões, levam à necessidade de se prever o comportamento de sistemas nos quais estes compostos estão presentes. Uma importante propriedade é a constante dielétrica, que reflete o poder de solvatação do solvente, sendo influenciada pela temperatura e pela densidade. Neste trabalho, avalia-se a influência da constante dielétrica para sistemas envolvendo hidrocarbonetos, CO 2 e água, de modo a indicar condições representativas de reservatórios. São utilizados modelos empíricos da literatura que correlacionam a constante dielétrica para componentes puros e misturas. Observa que para os sistemas CO 2 + hidrocarbonetos avaliados o aumento da pressão leva ao aumento da constante dielétrica, enquanto que o aumento da temperatura diminui esta propriedade. A adição de pequenas quantidades de água ao sistema CO 2 + Metano + ropano influi de modo não usual na constante dielétrica até 15 Ma, acima da qual tem-se um aumento da propriedade com o aumento da pressão. Análises deste tipo têm sua importância na previsão de processos corrosivos ocasionados pela dissolução de sais na fase supercrítica. 1. INTRODUÇÃO As perspectivas de exploração e produção das reservas de petróleo e gás em águas profundas na camada do pré-sal impõem a necessidade de se vencer grandes desafios tecnológicos. Além dos desafios da perfuração de rochas com características geológicas diferentes, como as rochas carbonáticas, a exploração e produção devem considerar um ambiente com temperaturas que chegam a 150ºC e pressões da ordem de 400 bar (etrobras, 2015). Adicionalmente, altos teores de gases corrosivos presentes no petróleo do pré-sal, como o CO 2 e o H 2 S, podem levar à corrosão dos equipamentos, o que traz a necessidade de se utilizar materiais que resistam a este problema.

ara auxiliar na previsão do comportamento termodinâmico de sistemas representativos, tornase necessário o conhecimento de propriedades físico-químicas dos componentes. A constante dielétrica (ou permissividade relativa) é uma importante propriedade para a termodinâmica de soluções eletrolíticas, sendo fundamental para a compreensão dos efeitos de polarização e de interações moleculares em fluidos. Ela é definida como a razão entre a permissividade de um meio e a permissividade do vácuo, e reflete o poder de solvatação do solvente. A polarizabilidade é uma característica de orientação da molécula quando submetida a um campo elétrico, levando à indução de um momento de dipolo. Assim, quanto maior a polarizabilidade do solvente, maior a constante dielétrica, que, neste caso, favorece a dissolução dos íons, pois as forças de atração íon-solvente são maiores que as forças de atração entre os íons (retículo cristalino). Em uma dada pressão, a constante dielétrica diminui com o aumento da temperatura; da mesma forma, há uma tendência de aumento da constante dielétrica com o aumento da densidade, para uma dada temperatura. Diferentes modelos têm sido desenvolvidos para correlacionar dados experimentais e calculados para a constante dielétrica, conforme mostram os estudos de Harvey e rausnitz (1987), Archer e Wang (1989), Dombro, Jr. et al. (1991), Hourri et al. (1998), Wang e Anderko (2001), Moriyoshi et al. (1993), Harvey e Lemmon (2005), Liu et al. (2011). Os modelos utilizados para componentes puros polares ou apolares podem ser estendidos para misturas, sendo calculada como uma função da temperatura, densidade e composição. Neste sentido, a proposta deste trabalho é avaliar a influência da constante dielétrica em sistemas envolvendo CO 2, hidrocarbonetos e água, em uma faixa de temperatura e pressão típicas para as condições de extração em reservatórios de petróleo da camada de pré-sal. São utilizados modelos empíricos da literatura que permitem simular a constante dielétrica para misturas envolvendo tais sistemas. 2. METODOLOGIA Harvey e Lemmon (2005) desenvolveram um método para calcular a constante dielétrica para misturas de componentes de gás natural, como função da temperatura, da densidade e da composição; a densidade foi obtida a partir de uma equação de estado. No presente trabalho, utilizou-se a metodologia adotada por Harvey e Lemmon (2005) para simular a constante dielétrica para os sistemas estudados. ara compostos puros, uma boa aproximação para fluidos apolares é dada pela clássica expressão de Clausius-Mossotti (Harvey e Lemmon, 2005), que relaciona a polarização elétrica CM com a constante dielétrica conforme mostra a Equação 1. 1 CM (1) 2 ara fluidos polares, utiliza-se frequentemente a expressão desenvolvida por Kirkwood (1939) relaciona a polarização K com a constante dielétrica, conforme a Equação 2.

( 1)(2 1) K (2) 9 ara fluidos apolares, pode-se utilizar uma expansão virial para calcular a razão entre a polarização e a densidade molar ρ, considerada constante em uma primeira aproximação, de acordo com a Equação 3. A B C 2... (3) onde A é o primeiro coeficiente virial dielétrico, proporcional à polarizabilidade molecular α; o segundo coeficiente virial, B, está relacionado com as interações entre os pares de moléculas, e que, para o caso de moléculas sem dipolo permanente, exibe maior influência sobre multipolos, como por exemplo o CO 2, que possui momento quadrupolo; C é um parâmetro empírico. No caso de moléculas com momento dipolo permanente µ, incorpora-se um termo na expressão para a polarização molar, conforme a Equação 4. A 2 N A 2 B C... (4) 9 k T 0 B onde N A é a constante de Avogadro, é a permissividade do vácuo, e k B a constante de Boltzmann. onde ara altas densidades, a expressão assume a forma da Equação 5. A D A B C (5) T A 0 N A 2 9 k B define a contribuição do momento dipolar da Equação 4; o expoente D é independente da temperatura. Os parâmetros dependentes da temperatura, A, B e C, são dados pela Equação 6. T T0 T0 A a 1 0 a1 ; B b0 b1 1 ; C c0 c1 1 (6) T0 T T onde T 0 é uma temperatura de referência, adotada aqui como 273,16 K. Os parâmetros a 0, a 1, b 0, b 1, c 0, c 1 e D para metano, etano, propano e CO 2 encontram-se tabelados em Harvey e Lemmon (2005). ara a água, os valores utilizados são: a 0 = 322,703 cm 3 /mol; a 1 = -0,30268 cm 3 /mol; b 0 = 30,3176 cm 6 /mol 2 ; b 1 = 68,4551 cm 6 /mol 2, c 0 = 14,2841 cm 3(D+1) /mol (D+1) ; c 1 = 317,798; D = -0,113. O cálculo da constante dielétrica envolvendo misturas realiza-se a partir de um procedimento detalhado no estudo de Harvey e Lemmon (2005).

Os componentes selecionados neste estudo são: CO 2, metano, etano, propano e H 2 O; e os sistemas estudados são: (1) CO 2 ; (2) CO 2 + Metano; (3) CO 2 + Etano; (4) CO 2 + Metano + Etano; (5) CO 2 + Metano + ropano; (6) CO 2 + Metano + ropano + H 2 O. ara o cálculo da densidade molar dos componentes puros e das misturas foi utilizada a equação de estado C-SAFT (Karakatsani e Economou, 2006; Karakatsani et al., 2006), que adiciona a contribuição do efeito multipolo na equação de estado C-SAFT (Gross e Sadowski, 2001). ara componentes puros associativos a equação de estado necessita de cinco parâmetros ajustáveis: o número de segmentos, m; o volume característico, v 00 ; a energia de dispersão, u/k B ; a energia de associação, AB /k B e o volume de associação, AB. ara misturas binárias, o modelo necessita de um único parâmetro binário ajustável (k ij ). Os parâmetros característicos dos componentes puros são apresentados na Tabela 1. Nesta tabela, µ, Q e α representam o momento de dipolo, o momento de quadrupolo, e a polarizabilidade, respectivamente. Tabela 1 arâmetros característicos do modelo C-SAFT para os componentes puros Molécula v 00 (cm 3 /mol) u/k B (K) m AB AB /k B (K) (D) Q (DÅ) (Å 3 ) CO 2 2 9,5 154,01 2,042 0 0 0 4,3 0 Metano 21,638 1 150,03 1 1 1 0 0 0 3 0 3 2,448 3 Etano 18,582 1 191,42 1 1,6069 1 0 0 0 3 0,673 3 4,226 3 ropano 20,174 1 208,11 1 2,0020 1 0 0 0,08 3 0 3 5,921 3 Água 2, 4 6,6 169,53 1,749 0,2001 1131,0 1,85 2,69 1,49 1 Gross et al. (2001); 2 Karakatsani e Economou (2006); 3 NIST (2015); 4 A água segue o esquema associativo do tipo 4C Os parâmetros de interação binária utilizados com o modelo C-SAFT são: k 0,100, k 0, 130, k 0, 135, k 0, 122, k 0, k 0, CO 2 CH 4 CO2 C 2H6 CO2 C 3H8 CO 2 H 2O k 0,500, k 0, k 0, 500, k 0, 480. CH4 H2O C2H6 C3H8 C2H6 H 2O 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO C3H8 H 2O CH 4 C 2H6 CH 4 C 3H8 Como não se dispõe de dados experimentais de constante dielétrica para as condições de interesse dos sistemas estudados, este trabalho assume um viés de simulação desta propriedade nas condições esperadas em um reservatório da camada de pré-sal. Desta forma, são estabelecidas como temperaturas de estudo a faixa de 353,15 K a 423,15 K e pressões de 10 Ma a 40 Ma. Adicionalmente, a análise está voltada para os sistemas envolvendo CO 2, em função de sua quantidade significativa nos reservatórios.

A Figura 1 ilustra os resultados de estimativa da constante dielétrica em função da pressão, representada para os sistemas envolvendo CO 2, metano e etano. Na Figura 1(a), observa-se o efeito da pressão na constante dielétrica do CO 2, nas temperaturas de 353,15 K, 373,15 K, 393,15 K e 423,15 K. Nota-se o aumento da constante dielétrica de acordo com o aumento da pressão; para um dado valor de pressão, a constante dielétrica diminui com o aumento da temperatura. Em pressões baixas, observa-se uma menor variação da propriedade com a temperatura; já em maiores pressões, ocorre um aumento da variação da propriedade com a temperatura. (a) (b) (c) (d) Figura 1 erfil da constante dielétrica para: (a) CO 2 ; (b) CO 2 (1) + Metano (2); (c) CO 2 (1) + Etano (2) e (d) CO 2 (1) + Metano (2) + Etano (3). A Figura 1(b) mostra o efeito da composição do CO 2 (fração molar) no sistema CO 2 + Metano, na temperatura de 393,15 K. ara composições fixas de CO 2 há um aumento da constante dielétrica com o aumento da pressão. or outro lado, para uma pressão fixa, conforme aumenta a composição do CO 2 ocorre um aumento da constante dielétrica. Em pressões baixas, há uma menor variação da

propriedade com o aumento da quantidade de CO 2, e a variação com a composição aumenta em pressões mais altas. A Figura 1(c) mostra efeito da composição do CO 2 (fração molar) no sistema CO 2 + Etano, na temperatura de 393,15 K. Neste caso, observa-se que, para pressões baixas, ocorre aumento da constante dielétrica com a diminuição da composição de CO 2. Conforme aumenta a pressão, observase a ocorrência de crossing over em torno de 20 Ma, quando a constante dielétrica do CO 2 puro passa a ser maior que a do sistema CO 2 (0,750) + Etano (0,250). Em pressões mais altas, há uma tendência de que este efeito ocorra para composições maiores de etano. A Figura 1(d) apresenta o perfil da propriedade calculada para o sistema CO 2 + Metano + Etano, na temperatura de 393,15 K. Considera-se, neste caso, uma fração equimolar entre os hidrocarbonetos. O comportamento observado é análogo ao do sistema CO 2 + Metano. Embora presente nos reservatórios, a água encontra-se em menor quantidade em relação aos demais componentes, podendo, neste caso, alterar o perfil da constante dielétrica nos sistemas estudados. Deste modo, verifica-se a influência da água na constante dielétrica do sistema CO 2 + Metano + ropano. Os resultados são apresentados na Figura 2. Na Figura 2(a), observa-se o aumento da constante dielétrica com o aumento da pressão, na temperatura de 393,15 K, para o sistema CO 2 + Metano + ropano. Novamente, neste caso, considera-se uma fração equimolar entre os hidrocarbonetos. O aumento da quantidade de CO 2 leva a uma diminuição da constante dielétrica, na faixa de pressão estudada. No entanto, observa-se uma tendência para ocorrer crossing over em pressões elevadas, acima das aqui avaliadas, fazendo com que a presença de CO 2 aumente a constante dielétrica. Nas Figuras 2(b) e 2(c), avalia-se a influência de pequena quantidade de água no sistema CO 2 + Metano + ropano + H 2 O, na temperatura de 393,15 K. Na Figura 2(b), o sistema é avaliado na presença de 1% (molar) de água. Nestas condições, até 15 Ma, na ausência de CO 2, há uma diminuição da constante dielétrica com o aumento da pressão, acima da qual ocorre aumento desta propriedade, o que sugere transição de fases de sistema heterogêneo para homogêneo, nas proximidades de 15 Ma. A adição de CO 2 favorece a solubilidade da água no sistema, tornando-o homogêneo, de maneira que a constante dielétrica aumente com a pressão de modo monotônico. ara uma dada pressão, o aumento da quantidade de CO 2 diminui a constante dielétrica. Já na Figura 2(c), o sistema é avaliado na presença de 5% (molar) de água. Novamente, observa-se um efeito não usual em pressões abaixo de 15 Ma; porém, neste caso, este efeito se dá em todas as composições avaliadas, sugerindo novamente transição de fases na região próxima a 15 Ma, acima da qual ocorre aumento da constante dielétrica. Em ambos os casos (Figuras 2(b) e 2(c)), em pressões elevadas, fora da faixa estudada, há uma tendência para ocorrer crossing over.

(a) (b) (c) Figura 2 erfil da constante dielétrica para: (a) CO 2 (1) + Metano (2) + ropano (3); (b) CO 2 (1) + Metano (2) + ropano (3) + H 2 O (4) (1%); (c) CO 2 (1) + Metano (2) + ropano (3) + H 2 O (4) (5%). 4. CONCLUSÃO Este trabalho teve como objetivo avaliar o comportamento da constante dielétrica em sistemas que simulem as condições ambientais de reservatórios da camada de pré-sal. ara os sistemas avaliados, envolvendo CO 2 e hidrocarbonetos, observou-se que o aumento da pressão acarreta aumento da constante dielétrica, ao passo que o aumento da temperatura diminui esta propriedade. Quando se adicionam pequenas quantidades de água ao sistema CO 2 + Metano + ropano, observouse um comportamento não usual na constante dielétrica até 15 Ma, acima da qual tem-se um aumento da propriedade com o aumento da pressão. Adicionalmente, a composição do CO 2 no sistema pode acarretar o fenômeno de crossing over. Os resultados preliminares contidos neste estudo

são a base para a análise de misturas envolvendo soluções eletrolíticas, de modo que permitam prever a dissolução de sais na fase supercrítica. Espera-se que os resultados deste estudo contribuam para a previsão de processos corrosivos e a seleção de materiais adequados para os equipamentos empregados na extração do petróleo do pré-sal. 5. REFERÊNCIAS DOMBRO, JR., R.A.; MCHUGH, M.A., RENTICE, G.A.; WESTGATE, C.R. Dielectric constant behavior of carbon dioxide-methanol mixtures in the mixture-critical and liquid-phase regions. Fluid hase Equilibr., v. 61, p. 227-241, 1991. GROSS, J.; SADOWSKI, G. erturbed-chain SAFT: An equation of state based on a perturbation theory for chain molecules. Ind. Eng. Chem. Res., v. 40, p. 1244-1260, 2001. HARVEY, A.H.; LEMMON, E.W. Method for estimating the dielectric constant of natural gas mixtures. Int. J. Thermophys., v. 26, p. 31-46, 2005. HARVEY, A.H.; RAUSNITZ, J.M. Dielectric constants of fluid mixtures over a wide range of temperature and density. J. Solution Chem., v. 16, p. 857-869, 1987. HOURRI, A.; ST-ARNAUD, J.M.; BOSE, T.K. Solubility of solids in supercritical fluids from the measurements of the dielectric constant: application to CO2-naphthalene. Rev. Sci. Instrum., v. 69, p. 2732-2737, 1998. KARAKATSANI, E. K.; ECONOMOU, I. G. erturbed chain-statistical associating fluid theory extended to dipolar and quadrupolar molecular fluids. J. hys. Chem. B, v. 110, p. 9252-9261, 2006. KARAKATSANI, E. K.; KONTOGEORGIS, G. M.; ECONOMOU, I. G. Evaluation of the truncated perturbed chain-statistical associating fluid theory for complex mixture fluid phase equilibria. Ind. Eng. Chem. Res., v. 45, p. 6063-6074, 2006. KIRKWOOD, J.G. The dielectric polarization of polar liquids. J. hys. Chem., v. 7, p. 911-919, 1939. LIU, J.; WILDING, W.V.; ROWLEY, R.L. A local-composition model for the prediction of mixture dielectric constants. J. Chem. Eng. Data, v. 56, p. 2430-2437, 2011. MORIYOSHI, T.; KITA, T.; UOSAKI, Y. Static relative permittivity of carbon dioxide and nitrous oxide up to 30Ma. Eer. Bunsenges. hys. Chem., v. 97, p. 589-596, 1993. NIST Computational chemistry comparison and benchmark database. NIST Standard reference database number 101, Release 17b, Editor: R. D. Johnson III, 2015. Disponível em: <http://cccbdb.nist.gov/>, acesso em: 5 fev. 2016. ETROBRAS, 2015. Disponível em: <http://www.petrobras.com.br>. Acesso em: 28 dez. 2015. WANG,.; ANDERKO, A. Computation of dielectric constants of solvent mixtures and electrolyte solutions. Fluid hase Equilibr., v. 186, p. 103-122, 2001. WANG,.; ARCHER, D.G. The dielectric constant of water and Debye-Hückel limiting law slopes. J. hys. Chem. Ref. Data, v. 19, p. 371-411, 1990.