Novas perspectivas na educação infantil: Projeto Integrado de Música, Teatro e Artes 1



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Transcrição:

Novas perspectivas na educação infantil: Projeto Integrado de Música, Teatro e Artes 1 Cynthia Geyer 2 Paula Pecker 3 Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS Estação Musical Porto Alegre/RS O presente relato aborda uma nova proposta curricular estruturada na escola Estação Musical, espaço de música e arte, em Porto Alegre (RS). A partir de uma necessidade da escola de se aprimorar em cursos que pudessem explorar a estética de óperas e musicais enquanto prática pedagógica, surgiu o desejo de criar um espaço apropriado para experimentação e vivência das artes de forma interdisciplinar. A partir desse novo desafio, começou a se estabelecer uma colaboração de diferentes áreas artísticas, na qual se constatou a importância do desenvolvimento destas desde a primeira infância. Sendo assim, o Projeto Integrado da Estação Infantil foi criado em 2006, com o objetivo de estabelecer conexões entre as áreas de música, teatro, e artes, visando o desenvolvimento da criança em sua totalidade. Esse desenvolvimento se processa através da aquisição de habilidades específicas, da educação da sensibilidade e gerenciamento estético, e das vivências artísticas em processo colaborativo das áreas mencionadas, gerando uma maior integração dos alunos com a escola e com os seus colegas. Educação Infantil; Interdisciplinaridade; Projeto Integrado; Musicalização; Artes. Introdução A Escola Estação Musical - espaço de música e arte é considerada atualmente um centro de referência em educação musical na cidade de Porto Alegre, em suas mais variadas formas e concepções. Em 2005, realizou sua primeira incursão no espaço cênicomusical, com a produção da ópera barroca Dido e Enéas, de Henry Purcell, integrando em seu elenco alunos e professores. Nesse primeiro desafio, enfrentamos algumas dificuldades, como a falta de uma vivência da expressão corporal e artística nos alunos, o que levou ao surgimento da necessidade de uma complementação do ensino da música. 1 Trabalho apresentado no XVI Encontro Anual da ABEM e Congresso Regional da ISME na América Latina 2007 2 Bacharel em Piano e mestre em Educação Musical pela UFRGS, dirige e coordena pedagogicamente a escola Estação Musical (www.estacaomusical.art.br). Desenvolve trabalhos na área de musicalização através do piano, piano em grupo e formação de professores de música. E-mail: cynthia@estacaomusical.art.br. 3 Licenciada em Música e mestranda em Educação pela UFRGS, é professora da escola Estação Musical em Porto Alegre/RS e desenvolve trabalhos na área de musicalização infantil, com crianças de 0 a 6 anos de idade. E-mail: paulapecker@via-rs.net.

Dentro da perspectiva da performance musical, e contando com profissionais qualificados na área do ensino das artes, surgiu o desejo de criar um espaço apropriado para experimentação e vivência pedagógica interdisciplinares. A partir dessa nova formatação, começamos a estabelecer uma colaboração de diferentes áreas artísticas, na qual se constatou a importância do desenvolvimento destas desde a primeira infância. Além disso, a freqüência dos alunos na escola, que anteriormente era de uma hora-aula semanal (musicalização infantil), passou para três horas-aula, gerando uma maior integração dos alunos com a escola e com os seus colegas. Sendo assim, o Projeto Integrado da Estação Infantil foi criado em 2006, destinado a atender crianças de 2 a 12 anos, com o objetivo de configurar novas conexões entre as áreas de música, teatro, e artes, visando o desenvolvimento da criança em sua totalidade. Esse desenvolvimento se processa através da aquisição de habilidades específicas, da educação da sensibilidade e gerenciamento estético, e das vivências artísticas em processo colaborativo das áreas mencionadas. Justificativa Na cidade de Porto Alegre, não encontramos outros trabalhos que possam traduzir essa integração das artes na educação infantil, pois não existem escolas especializadas no ensino artístico integrado. De acordo com o educador Darcy Ribeiro (1996), entre os princípios pedagógicos que estruturam as áreas de conhecimento, destaca-se como eixo articulador, a interdisciplinaridade, e que a consciência da realidade se constrói num processo de interpenetração dos diferentes campos do saber. Paralela à questão da interdisciplinaridade, há a abordagem construtivista da educação, já presente na proposta curricular original da escola. Sobre este caminho, Piaget recorre a uma alternativa para as saídas da ciência inata e empírica, acreditando que o sujeito deve laboriosamente conquistar este conhecimento. Esta idéia vem ao encontro de nosso principal objetivo, que é oferecer às crianças uma proposta que articule de modo interdependente duas tarefas: integrá-las na sociedade adulta (aprender conceitos, informações, regras e atitudes valorizadas em uma dada cultura ou grupo social, etc.) e, ao mesmo tempo, favorecer o desenvolvimento de sua autonomia (MACEDO, 2005). Piaget também considera que um dos aspectos importantes da educação pré-escolar é o processo de desenvolvimento das habilidades de comunicação, no qual as atividades sensório-motoras e as de natureza representativa (jogo simbólico, dramatização, linguagem, memória, imagem mental, desenho) integram este processo. 2

Metodologia Superados os desafios relacionados ao estabelecimento de um novo programa curricular, com suas bases pedagógicas, foi necessário elaborar os objetivos gerais e específicos para cada disciplina do projeto. Sobre essa demanda, Darcy Ribeiro (ibid., pg.2) argumenta que para haver um planejamento conjunto, precisa existir um compromisso entre os professores envolvidos para que sejam consideradas as especificidades, as necessidades e as demandas para congregar disciplinas que possam estabelecer um diálogo produtivo tanto do ponto de vista pedagógico como do diálogo entre si enquanto áreas. Portanto, apesar de haver uma autonomia de conteúdos em cada área, precisou acontecer uma organização conjunta de idéias dos professores para que a integração realmente acontecesse. Para tanto, cada professor especializado organizou seu programa, e nas reuniões de equipe foi escolhido um tema em comum para as três áreas. Neste ano, a equipe multidisciplinar que atua no projeto chegou a um consenso a respeito da temática a ser tratada conjuntamente durante o ano letivo: primeiramente surgiram idéias sobre temas ligados ao cuidado com a natureza, bem como vivências naturais. O desenvolvimento destas idéias levou-nos à escolha de referências vindas do filme O Mágico de Oz, pois já vinha sendo aludido pelas crianças em várias ocasiões. Nosso intuito é fazer uma adaptação desse tema, contemplando seu rico universo de cores, música, imagens, expressão corporal e elementos plásticos. Considerando as necessidades de haver um conteúdo programático para cada disciplina, e ao mesmo tempo um fio condutor (foco) para que estas fizessem parte de um projeto integrado, foi estruturado um programa curricular básico para este projeto e das disciplinas como um todo, idealizando um ensino artístico. 3

Programa Curricular ELEMENTAR I 2 A 4 ANOS ELEMENTAR II 5 A 7 ANOS BÁSICO 8 A 12 ANOS - Musicalização Infantil - Jogos Teatrais - Arteterapia - Iniciação ao instrumento (flauta doce, piano ou violino) - Jogos Teatrais - Arteterapia - Instrumento - Prática Instrumental (grupo) - Coral Infantil - Teatro - Artes Neste relato, vamos fazer um recorte do trabalho do nível Elementar I, destinado às crianças de 2 a 4 anos. Neste nível, os alunos, divididos em turmas de até oito crianças (de acordo com a faixa etária) freqüentam um turno semanal na escola (manhã ou tarde) nos seguintes horários: Exemplo da articulação das aulas em um turno de atividades: Musicalização Arteterapia Jogos Teatrais 9h às 9h50 P1 P2 P3 9h50 às 10h10 Horário reservado para descanso e lanche coletivo 10h10 às 11h P2 P3 P1 11h às 11h50 P3 P1 P2 P1 Crianças de 2 anos; P2 Crianças de 3 anos; P3 Crianças de 4 anos Musicalização: A musicalização infantil tem por objetivo proporcionar uma vivência lúdica às crianças para desenvolver-lhes habilidades gerais e específicas ligadas à área da música. Valendo-se de jogos e brincadeiras, em momentos coletivos e individuais, são inseridos durante a aula os diversos conteúdos musicais em acordo com o que as crianças são capazes de assimilar e acomodar, conforme sua faixa etária. Para tanto, tem-se estado atento às mais recentes pesquisas no que diz respeito ao desenvolvimento geral dos indivíduos entre dois e quatro anos de idade e os paralelos a esse desenvolvimento, em termos musicais. Sobre nossa abordagem, endossamos os escritos de Maffioletti (2005), que versa sobre voltar o olhar para a observação dos processos de pensamentos, dando espaço para a criança se expressar naturalmente, e, mesmo na situação de grupo, permitirse ao professor e aos alunos admitir e prever suas individualidades, buscando o meio mais eficaz para todos expressarem sua forma de pensar. Há uma preocupação em respeitar o meio sócio-cultural que as crianças estão inseridas, fazendo dele parte de nosso trabalho. Assim, as colaborações, em forma de canções, novas descobertas musicais, instrumentos, 4

são trazidas e celebradas nos encontros. O dançar, cantar e tocar são exemplos de atividades que permeiam este ensino. Além dessas, contar e sonorizar histórias, reconhecer timbres, alturas e melodias são possibilidades para a sala de aula de música do Projeto Integrado. Jogos Teatrais: Segundo Japiassu (1998, pg. 3), os jogos teatrais são procedimentos lúdicos com regras explícitas, que foram sistematizados pioneiramente como uma proposta para o ensino do Teatro em contextos formais e não-formais de educação pela educadora Viola Spolin. Japiassu coloca que segundo ela, os jogos teatrais são intencionalmente dirigidos para o outro. Os objetivos do processo estão intimamente ligados ao desenvolvimento cultural e o crescimento pessoal dos alunos (jogadores) através do domínio e do uso interativo da linguagem teatral, sem nenhuma preocupação com resultados estéticos cênicos pré-concebidos ou artisticamente planejados e ensaiados. Sendo assim, podemos dizer que o princípio do jogo teatral é o da comunicação que emerge a partir da criatividade e espontaneidade das interações entre sujeitos mediados pela linguagem teatral, que se encontram engajados na solução cênica de um problema de atuação. Essa proposta vem ao encontro dos objetivos propostos para o projeto integrado, trazendo o gesto espontâneo do aluno envolvido, para que este possa compreender e decodificar seu significado até utilizálo de modo consciente, estabelecendo uma nova comunicação com o mundo que o cerca e, futuramente, com a platéia. Arteterapia: Para a faixa etária de 2 a 4 anos, optamos pela disciplina de arteterapia. Segundo Ciornai (2005) arteterapia é o termo que designa a utilização de recursos artísticos, tais como, a música, artes plásticas, atividades dramáticas, entre outros em diferentes contextos e diversos modos de trabalhar. O processo do fazer artístico acontece quando o aluno constrói com o arteterapeuta uma relação que facilita a ampliação da consciência e do autoconhecimento, buscando um desenvolvimento pessoal, possibilitando mudanças, dando espaço para os sonhos e a imaginação de novas formas do fazer. A arteterapia pode ser desenvolvida tanto em contextos terapêuticos, sociais e de saúde (integrando abordagens e equipes interdisciplinares de tratamento), quanto como atividade promotora de lazer, autoconhecimento, desenvolvimento do potencial criativo e crescimento pessoal. Sendo assim, o objetivo dessa disciplina dentro do projeto integrado é proporcionar o contato do aluno com vários materiais de expressão plástica (papéis 5

variados, cola, tesoura, lápis de cera, lápis de cor, canetinhas, tintas, pincéis, revistas, sucatas, materiais da natureza...) promovendo um contato destes com seu próprio universo imaginário e simbólico, possibilitando desta forma, novas descobertas e o desenvolvimento de seu potencial criativo. Público-alvo Acreditando nas definições para o desenvolvimento infantil postuladas por Jean Piaget, nosso público-alvo é definido por crianças de dois a quatro anos que se encontram, normalmente, iniciando o nível das operações concretas, onde elas começarão a trilhar um caminho não só no plano sensorial e sim no plano da representação (PIAGET, 2003). A principal aquisição da criança que atinge o terceiro ano de vida é a capacidade da evocação representativa de um objeto. Com isto, ela começara um jogo (simbólico) de descobertas infindável para esquematizar estas novas ações inteligentes. A respeito da aquisição da linguagem musical, Beyer (1988) comenta: Obviamente será necessária muita ação por parte da criança até esta conseguir cantar uma canção simples de forma completa, mas o processo de construção e aquisição de todo este mundo novo de informações entre os dois e os quatro anos de idade, é tão ou mais importante para o sujeito que seu resultado. E se a principal característica desta fase é a criança esboçar significantes diferenciados de seus significados, através do jogo imitativo, há então um perfeito encaixe para a aquisição da linguagem verbal e de outras, como a musical, a visual e a explorada através de movimentos e dramatizações, sendo essas essencialmente simbólicas. Especialmente falando da linguagem corporal, Patricia Stokoe (1967) resume o trabalho que, analogamente em música e em artes, estamos desenvolvendo: O ensino da expressão corporal procura que a criança alcance um domínio físico tal que lhe seja cada vez mais fácil manifestar-se através do movimento, ao mesmo tempo que em nenhum momento o esforço técnico impeça o prazer da aprendizagem do movimento em si. Se tenta levar a cada um dos indivíduos a possibilidade de descarregar suas energias e através do prazer do jogo corporal e a encontrar na união orgânica do gesto, da música, da palavra, do silêncio, os meios autênticos de expressão criadora correspondentes a sua idade; estimular o desejo de descobrir, conhecer e utilizar cada vez melhor suas aptidões nesta disciplina e aplicá-las, como conseqüência, em sua vida diária. 6

Ainda comentando sobre a ultrapassagem do nível sensório-motor e a chegada no plano representacional, Piaget constatou que as crianças, nesta fase, mostram-se egocêntricas, sendo esta a característica fundamental destes indivíduos. A criança reduz as perspectivas de outras pessoas à sua própria perspectiva, não diferenciando o sentimento e as vontades dela e do outro. Este fator é determinante para a escolha das atividades e formatação de grupos dentro do Projeto Integrado: a autonomia da criança é latente e se observa descobertas muito similares ao do nível sensório-motor. Resultados parciais Até o presente momento, observa-se que o engajamento das crianças e suas famílias na escola cresceu consideravelmente. Ao mesmo tempo, o acompanhamento do desenvolvimento dos alunos tem sido compartilhado entre os professores das disciplinas, possibilitando um olhar mais atento para o desempenho de cada criança, pois a preocupação da escola é com o processo de cada um e não com o seu produto final, levando em conta que a obra é única, tem a marca e significado para quem a faz. As múltiplas abordagens de cada conteúdo têm sido um caminho para a melhor compreensão por parte dos sujeitos, que através da repetição lúdica, a reincidência de mesmo tópicos nas três aulas, são capazes de aprender mais e com mais qualidade. Outro ponto observado foi a quantidade e qualidade de informações trocadas entre os docentes, que acabam inserindo conhecimentos das outras áreas em suas práticas, o que as têm tornado mais ricas e dinâmicas. Em suma, nosso trabalho, além do foco temático, diz respeito a um investimento pedagógico, artístico e cultural de procedimentos e vivências, especificamente voltadas para o desenvolvimento de hábitos, atitudes, habilidades e atividades relacionadas às artes em geral. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEYER, E. A abordagem cognitiva em música: uma crítica ao ensino da música, a partir da teoria de Piaget. Dissertação de Mestrado - Curso de Pós-Graduação em Educação, UFRGS, Porto Alegre, 1988. 7

CIORNAI, S.(org.), 2005. Percursos em Arteterapia: arteterapia e educação, arteterapia e saúde. São Paulo: Summus. Vol.64. JAPIASSU, Ricardo Ottoni Vaz. Jogos teatrais na escola públlica. Rev. Fac. Educ., São Paulo, v. 24, n. 2, 1998. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0102-25551998000200005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 15 Mai 2007. Pré-publicação. KESSELRING, T. Os quatro níveis de conhecimento em Jean Piaget. Educação e Realidade, São Paulo, v.15, n.1, p. 3-22, jan/jun.1990. MACEDO, Lino de. O ancestral do humano e o futuro da humanidade. In: Coleção Memória da Pedagogia, n. 1: Jean Piaget. Ed. Manuel da Costa Pinto. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005. p. 6-15. MAFFIOLETTI, Leda de A. Procedimentos didáticos: um olhar do professor. In: BEYER, Esther (org). O som e a criatividade: dimensões da experiência musical. Santa Maria: UFSM, 2005. PIAGET, J. INHELDER, B. A Psicologia da Criança. Rio de Janeiro: Difel, 2003. RIBEIRO, Darcy. Interdisciplinaridade. Textos da Fundação Darcy Ribeiro, 1996. Disponível em: <http://www.fundar.org.br/temas/texto_7.htm> Acesso em 10 Mar 2007. STOKOE, Patrícia. La expresión corporal y el niño. Capitulo 7. Ricordi: 1967. 8