1 - Instituto de Macromoléculas Professora Eloisa Mano, IMA,Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, Rio de Janeiro RJ

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Transcrição:

AVALIAÇÃO DA CRISTALINIDADE DE BLENDAS DE POLIHIDRÓXIBUTIRATO E POLICAPROLACTONA Maxwell P. Cavalcante 1* (IC), Elton Jorge R. Rodrigues 1 (D) e Maria Inês B. Tavares 1 1 - Instituto de Macromoléculas Professora Eloisa Mano, IMA,Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, Rio de Janeiro RJ *maxdpc@gmail.com Resumo: O polihidróxibutirato, PHB, é um biopolímero obtido através de via bacteriana ou sintética. Ele vem sendo empregado na área biomédica como matriz para liberação de fármacos, em implantes médicos e como arcabouço para engenharia tecidual. Apresenta alta organização estrutural, o que o torna altamente cristalino e quebradiço, dificultando sua biodegradação e reduzindo sua empregabilidade. Com o objetivo de melhor as propriedades mecânicas e biológicas do PHB, blendas com outros polímeros, biocompatíveis ou não, são pesquisadas e produzidas. Neste sentido, foram sintetizadas blendas de PHB e policaprolactona, PCL, outro biopolímero largamente empregado no ramo biomédico, via solução e caracteriza-las por difração de raios X (DRX), por calorimetria diferencial de varredura (DSC) e ressonância magnética nuclear de baixo campo (RMN-BC). Os resultados demonstraram a dependência do valor do índice de cristalinidade do PHB com a quantidade de PCL utilizada nas blendas. Palavras-chave: Blenda, PHB, PCL, Cristalinidade, Biopolímeros Crystallinity evaluation of polyhydroxybutyrate and polycaprolactone blends Abstract: Polyhydroxybutyrate, PHB, is a polymer obtained through bacterial or synthetic pathways. It has been used in the biomedical field as a matrix for drug delivery, medical implants and as scaffold material for tissue engineering. PHB has high structural organization, which makes it highly crystalline and brittle, making biodegradation difficult, reducing its employability. In order to enhance the mechanical and biological properties of PHB, blends with other polymers, biocompatible or not, are researched and produced. In this regard, blends of PHB and polycaprolactone, PCL, another biopolymer widely used in the biomedical industry, were obtained via solution casting and were characterized by X-ray diffraction (XRD), differential scanning calorimetry (DSC) and low field nuclear magnetic resonance (LF- NMR). Results have shown a dependence between PHB's crystallinity index and PCL quantitity employed to obtain the blends. Keywords: Blends, PHB, PCL, crystallinity, Biopolymers Introdução Os polímeros potencialmente empregados como biomateriais tem sido o escopo de diversos estudos, em virtude da sua ampla capacidade de aplicação como em fármacos, implantes médicos, scaffolds para regeneração tecidual, portanto desenvolvem-se materiais biodegradáveis com propriedades controladas [1]. O polihidróxibutirato, PHB, é um poliéster natural produzido por vários microrganismos sob a forma de grânulos intracelulares, que agem como material de reserva de carbono e energia para os mesmos. Sua aplicação é restrita, pois este material possui cristalinidade alta, janela de processamento estreita quando comparada a de outros polímeros, e, além disso, a morfologia da fase cristalina e a cristalização secundária ocorrem depois do processamento levam a pobres propriedades mecânicas [2]. Dentre as muitas possibilidades de melhoria das propriedades desses materiais, existe o método de desenvolvimento blendas, sendo este rápido e acessível. Com esse intuito pode ser investigado o uso da policaprolactona, PCL. O PCL é um polímero semi-cristalino, também muito utilizado como

biomaterial, que apresenta boas propriedades mecânicas e temperatura de fusão em 55 C, menor que o do PHB (175 C). Dessa maneira esse polímero passa a ser uma boa opção no desenvolvimento de blendas com o PHB [2, 3]. O objetivo do presente estudo foi obter blendas de PHB e PCL via solução e caracteriza-las por difração de raios-x (DRX), calorimetria diferencial de varredura (DSC) e ressonância magnética nuclear de baixo campo (RMN-BC). Experimental Quantidades suficientes de PHB (Biocycle, PHB Industrial S/A, Mn: 6 x 10 5 g.mol -1 ) e PCL (Sigma-Aldrich, Mn: 10.000 g.mol -1 ) para formar blendas de que variavam de 10/90 a 90/10 (m/m) de cada polímero foram pesadas e adicionadas a um volume de clorofórmio (P.A., Sigma-Aldrich), tipicamente 8 ml e deixadas sob agitação magnética em temperatura ambiente (23 C) por 24 h. Em seguida, os sistemas foram aquecidos em banho de silicone até a dissolução do PHB, permanecendo sob agitação por mais 1 h. A massa total de cada amostra foi de 1 g. Soluções de PHB e PCL puros também foram obtidas. Com o aquecimento desligado, as soluções filmogênicas foram arrefecidas até a temperatura ambiente naturalmente e vertidas em placas de petri, que foram deixadas em capela de exaustão de gases até a formação do filme polimérico. Antes de submetê-los às análises, os filmes foram deixados por 24 h numa estufa a vácuo a 40 ºC para forçar a saída retirada do solvente residual. Para todos os fins apenas as blendas 50/50, 70/30 e 90/10 (PHB/PCL) foram utilizadas nas análises subsequentes. Aquelas com quantidade de PCL maior do que 50% (m/m), incluindo a de PCL puro, apresentaram-se quebradiças e não formaram filmes com qualidade suficiente para serem empregadas nas análises. Portanto, foram descartadas. Os materiais foram caracterizados por difração de raios X em altos ângulos (DRX) em um difratômetro Rigaku, mod. Miniflex; calorimetria diferencial de varredura (DSC), num calorímetro TA, mod. Q1000 e Ressonância Magnética Nuclear de Baixo Campo (RMN-BC), em um espectrômetro 0,54 T (23 MHz para o 1 H) Maran, mod. Ultra. Resultados e Discussão Na Fig. 1 observam-se os difratogramas das blendas obtidas com sucesso. A curva relativa ao PCL foi obtida por análise do polímero em pó. O PCL é um polímero semicristalino, cuja célula unitária apresenta forma cristalina ortorrômbica. Esta organização leva ao aparecimento de dois picos cristalinos de reflexão, que aparecem centrados em 2θ = 23,4 o e 26,8 o, os quais correspondem, respectivamente, aos planos cristalinos (110) e (220) do cristal ortorrômbico [4]. Em outros espectros do mesmo polímero disponíveis na literatura é comum observar esses mesmos picos. Todavia, sua posição mais frequente é ligeiramente deslocada para ângulos menores, centrados em 2θ = 21-22 o e 23-24 o [4]. Neste caso, o deslocamento desses picos de sua posição mais comum indica que o PCL utilizado neste trabalho apresenta uma menor distância entre seus cristalitos. Sugeriu-se que, neste material, houve a formação de cristais ligeiramente menores que os relatados na literatura. Tal fato pode dar-se devido à baixa massa do PCL utilizado, dando origem à formação de cristais menores e/ou mais imperfeitos [5]. A curva de difração do PHB, por sua vez, demonstra sua elevada cristalinidade e evidencia os picos cristalinos característicos deste polímero, centrados em 2θ =13,1º; 17,3 º; 22,5 º e 25,1 º que correspondem respectivamente aos planos cristalinos (020), (110), (101) e (121) característicos da organização célula unitária também ortorrômbica do PHB [2,7]. Os difratogramas das blendas exibem uma diminuição na intensidade dos picos de difração referentes ao PHB à medida que a proporção do PCL é elevada nas blendas poliméricas. Já nas proporções de 70/30 e 50/50 (PHB/PCL), observa-se o aparecimento dos picos de PCL no difratograma, demonstrando que nessa quantidade o processo de cristalização do PCL ocorreu em extensão suficiente para der detectado pela análise.

Figura 1: Difratogramas das amostras obtidas neste trabalho. O efeito da adição do PCL ao PHB pode ser percebido em nas blendas onde aquele está em maior quantidade. Com base no exposto, pode-se inferir que a presença do PCL de baixa massa serviu de empecilho à cristalização do PHB devido, possivelmente, à sua ação como plastificante. Isso pode ter dificultado o processo de empacotamento e organização das cadeias de PHB por levar a uma redução das interações intermoleculares de suas cadeias. Destaca-se ainda, para a amostra 90/10 (PHB/PCL), não é possível observar de maneira clara alguns picos do PHB, mesmo diante do fato deste polímero apresentar uma majoritária quantidade na composição dessa blenda. Uma boa dispersão do PCL pela matriz polimérica, face à sua baixa quantidade na amostra, pode ser a possível justificativa desse fenômeno. De acordo com estudos anteriores, a composição das blendas PHB/PCL exerce uma forte influência no processo e capacidade de cristalização de ambos os polímeros [7, 8]. Há uma tendência à redução da cristalinidade destas blendas em relação aos polímeros puros. As alterações sofridas nas blendas de PHB/PCL demonstram-se promissoras por permitirem alterações das características quebradiças do PHB e alterar a degradação dos sistemas e por possibilitar a obtenção de materiais para liberação de fármacos com diferentes características de liberação controlada. Esses resultados estimulam a aplicação destas blendas em dispositivos intra-corporais [6]. As amostras também foram avaliadas por RMN-BC, observando os mecanismos de relaxação transversal e longitudinal, para sondar sua dinâmica molecular [7, 9]. Desta forma, na Fig. 2 podem ser observadas as proporções da fração rígida e da fração cristalina de cada blenda versus a proporção de cada polímero nas blendas. O PHB puro apresentou uma rigidez estrutural bem superior ao PCL puro, o que decorre do elevado índice de cristalinidade do PHB, que limita a mobilidade de seu sistema. O raciocínio inverso pode ser aplicado ao PCL. Seu baixo índice de cristalinidade, produto da possível formação de cristais de qualidade inferior, confere alta mobilidade às cadeias macromoleculares desse polímero [10]. As blendas poliméricas, por sua vez, apresentaram mobilidades intermediárias entre os polímeros puros, com dependência com a fração de PCL utilizada em sua obtenção. A ação da presença das cadeias de PCL entre as de PHB pode ter limitado o processo de cristalização do último, levando a uma queda no valor do seu índice de cristalinidade, conforme elucidado pela técnica de DRX.

Figura 2: Relação entre a fração de alta e de baixa mobilidade das amostras estudadas neste trabalho. A dependência da quantidade relativa de fração móvel com a quantidade de PCL nas blendas é claramente identificável. As curvas de DSC dos polímeros e das blendas podem ser observadas na Fig. 3. No caso do PCL puro, apenas um pico endotérmico intenso e afilado, relacionado com o processo de fusão cristalina, se apresenta em torno de 57 C. Não foi detectada, dentro dos limites do aparelho, a temperatura de transição vítrea (T g ) desse polímero. Observando-se ainda a curva de PCL é possível avaliar que não foram observar picos referentes à sua cristalização, indicando que o PCL não é capaz de atingir a sua cristalização máxima durante o passo de arrefecimento utilizado na análise [6]. Na curva referente ao PHB puro, sua T g pode ser identificada próxima a 1 ºC e existe um pico de cristalização por volta de 48 C, além de um pico endotérmico, relacionado com o processo de fusão cristalina, com início em 175 C. Foi possível verificar um segundo evento de fusão cristalina do PHB em temperaturas menores, o que indica que nesta matriz ocorreu a formação de duas populações de cristalitos, alguns mais perfeitos ou de tamanho maior que fundem a temperaturas mais elevadas e outros de volume mais reduzido ou apresentando maiores imperfeições na estrutura, que levam a sua fusão em temperaturas menores [2, 9]. Figura 3: Curvas de DSC das amostras. O efeito da adição de PCL é verificado pelo aparecimento de eventos térmicos típicos desse polímero. Analisando os resultados das curvas de DCS das blendas, foi possível verificar que elas são imiscíveis, já que não há deslocamento da T g do PHB com a adição de PCL [11].

A correlação entre a quantidade de PCL e a intensidade do pico endotérmico do PHB torna-se evidente, contando ainda com o aparecimento e intensificação paulatina do pico referente ao PCL. Nota-se ainda que o pico de fusão em temperaturas menores ligados à existência de duas populações cristalinas no PHB não pode mais ser nitidamente observado nas blendas 70/30 e 50/50 (PHB/PCL), indicando que a presença do PCL atrapalhou a formação desta população de cristalitos. Quanto ao pico endotérmico do PCL, contrariamente ao ocorrido com o PHB, verifica-se um alargamento de sua base e surgimento de um ombro em 55 o C. A mistura entre PHB e PCL parece formar novas populações de cristalitos com características distintas daquelas encontradas no polímeros puros. A alteração das características destes picos e formação de uma nova população cristalina pode representar o resultado de da influência das cadeias poliméricas do PCL sobre as do PHB, muito embora os resultados de DSC e RMN-BC tenham demonstrado que as blendas são imiscíveis. Conclusões Com base nos resultados obtidos, pode-se observar que a presença do PCL utilizado nesse trabalho nas blendas PHB/PCL leva a uma redução da organização cristalina do PHB conforme elucidado pelos resultados de DRX e RMN-BC. As blendas formadas são imiscíveis nas proporções estudadas, como pode ser verificado pelas análises de DSC e RMN-BC. A redução no índice de cristalinidade do PHB pela adição de quantidades pequenas de PCL (10%) é interessante do ponto de vista tecnológico, já que a alta rigidez desse material ainda é um empecilho para seu emprego como biomaterial. Agradecimentos Ao suporte provido pela CNPq e CAPES. Referências Bibliográficas: [1] MBR, Bruno; MIB, Tavares; LM, Motta; et al. Mat. Res., 2008, 11, 483. [2] RMDSM, Thiré; LC, Arruda; LS, Barreto. Mater. Res. 2011, 14, 342. [3] MCM, Antunes; MI, Felisberti. Polím. 2005, 15, 134. [4] T, Miyata; T, Masuko. Polym. 1997, 38, 4007. [5] KA, Moly; HJ, Radusch; R. Androsh; et al. Euro. Polym. 2005, 41, 1415. [6] MCM, Antunes; MI, Felisberti. Polímer. 2005, 15, 136. [7] AC, Silvino; JC da Silva. Polym. Test. 2015, 42, 144. [8] B. Imre; B. Pukánszky. Eur. Polym. J. 2013, 49, 1215. [9] MBR Silva; MIB Tavares; EO Silva; RPC Neto. Polym. Test. 2013, 32, 165. [10] MSSB Monteiro; FV Chávez; PJ Sebastião; MIB Tavares. Polym. Test. 2013, 32, 553. [11] WM Pachekoski; C. Dalmolin; JAM Agnelli. Polím., 2015, 25, 76.