MEMORANDO AOS CLIENTES ANTICORRUPÇÃO E COMPLIANCE FEVEREIRO/2014. Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013 Lei Anticorrupção.



Documentos relacionados
CONTADOR JOSE LUIZ VAILATTI. Lei /2013 LEI ANTI CORRUPÇÃO EMPRESARIAL

Um programa de compliance eficiente para atender a lei anticorrupção Lei /2013

PENALIDADES E RESPONSABILIDADE DE TERCEIROS LEI Nº /13

AGEOS Associação Gaúcha de Obras de Saneamento. Giovani Agostini Saavedra Saavedra & Gottschefsky Advogados Associados

LEI Nº /2013 A LEI ANTICORRUPÇÃO. S e m i n á r i o r e a l i z a d o n o F e l s b e r g A d v o g a d o s e m 0 5 / 0 2 /

"FCPA e a Lei / Lei Anticorrupção" São Paulo, 05 de setembro de Fabyola Emilin Rodrigues Demarest Advogados

A LEI ANTICORRUPÇÃO E AS POLÍTICAS DE COMPLIANCE. Agosto, 2014

São Paulo - SP Av. Nove de Julho, º Andar (55 11)

LEI ANTICORRUPÇÃO - RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL E ADMINISTRATIVA DAS PESSOAS JURÍDICAS.

Cenário Mundial - Corrupção

São Paulo - SP Av. Nove de Julho, º Andar (55 11)

Lei Anticorrupção CMI- SINDUSCON RJ - 09/09/14

LEI ANTICORRUPÇÃO E PRÁTICAS DE COMPLIANCE PARA PESSOAS JURÍDICAS

PROJETO DE LEI CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

MEDIDA: RESPONSABILIZAÇÃO DOS PARTIDOS POLÍTICOS E CRIMINALIZAÇÃO DO CAIXA 2

RESPONSABILIDADE DOS ADMINISTRADORES/ACIONISTAS À LUZ DA NOVA LEI ANTICORRUPÇÃO. Caroline B. Brandt

Miguel Ângelo Salles Manente

LEI /2013 (Lei Anticorrupção LAC)

Lei Anticorrupção: principais aspectos e como se preparar para este novo cenário

Índice de Percepção da Corrupção 2013

LEI DECRETO 8.420

Presidente sanciona Nova Lei Anticorrupção

Decreto Federal Regulamentador da Lei Anticorrupção

Regulamentação e Aplicação da Lei Anticorrupção: uma visão do MPF

BRASIL SALOMÃO E MATTHES ADVOCACIA

I - Legislação aplicável antes do advento da Lei /13

Anticorrupção e Compliance Empresarial

MMK EDITORIAL. Ética Corporativa e Compliance CGU LANÇA DIRETRIZES SOBRE PROGRAMAS DE INTEGRIDADE PARA EMPRESAS PRIVADAS

COMPLIANCE COMO BOA PRÁTICA DE GESTÃO NO ENSINO SUPERIOR PRIVADO

Trade Compliance na Lei Brasileira Anticorrupção

Lei da Empresa Limpa (Lei /2013) Carlos Higino Ribeiro de Alencar Secretário- ExecuGvo CONTROLADORIA- GERAL DA UNIÃO

LEI ANTICORRUPÇÃO BRASILEIRA: A NOVA DIRETRIZ ANTICORRUPÇÃO NO BRASIL

NOVA LEI ANTICORRUPÇÃO

Nova Lei Anticorrupção Brasileira: Desafios e Oportunidades

Pesquisa Política de Divulgação e Negociação

Medidas de Combate à Corrupção e à Impunidade

PROJETO DE LEI Nº DE 2011

Legislação Anticorrupção

FID - Fraudes, Investigações e Disputas A Nova Lei Brasileira Anticorrupção /13 Câmara de Com. e Ind. Japonesa do Brasil

DIREITO ADMINISTRATIVO

Treinamento de Prevenção a Fraudes BTG Pactual Resseguradora e BTG Pactual Vida e Previdência

Lei /13 Lei Anticorrupção - Aplicação para casos tributários. Camila Abrunhosa Tapias ctapias@tozzinifreire.com.

Lei Anticorrupção Desafios do Compliance

RGIS POLÍTICA ANTICORRUPÇÃO

ALERT. Governo Federal publica Decreto que regulamenta a Lei Anticorrupção

SISTEMA DE GESTÃO INTEGRADO Página: 1/5 Tipo: PROCEDIMENTO Data: 29/08/2015 Título: CLÁUSULA ANTICORRUPÇÃO

Mesa-redonda "Governança Corporativa" - IFHC e Grant Thornton

COMPLIANCE NO BRASIL

A nova Terceirização. Aspectos contratuais e repercussões da Lei Anticorrupção. Evento

Responsabilidade Objetiva dos Administradores

A Lei Anticorrupção: Panorama geral e visão de sua aplicação

Prevenção a Corrupção

Marco Civil da Internet

A implementação da Lei Anticorrupção no Brasil

POLÍTICA DE PREVENÇÃO E COMBATE À CORRUPÇÃO E OUTROS ATOS LESIVOS

Garrastazu Advogados

Conflitos entre o Processo Penal E o Processo Administrativo sob O ponto de vista do médico. Dr. Eduardo Luiz Bin Conselheiro do CREMESP

Compliance e Legislação Tributária: Desafios para as empresas em 2015

PUBLICADO EM 01/08/2015 VÁLIDO ATÉ 31/07/2020

CARTILHA DA LEI ANTICORRUPÇÃO /13. Principais tópicos e orientações de ações a serem adotadas

Como as instituições financeiras estão mitigando o risco de conduta? Giovanni Falcetta giovannifalcetta@aidarsbz.com

Adequação de Contratos Comerciais e Trabalhistas

PROJETO DE LEI N.º 5.236, DE 2013 (Do Sr. Jovair Arantes)

D&O e LEI ANTICORRUPÇÃO. Tiradentes, 01 de julho de 2015

LEI Nº /2013 Aspectos da Regulamentação Federal. Valdir Moysés Simão Ministro Chefe da Controladoria-Geral da União

O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO P NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE

Responsabilidade Civil dos Administradores das Sociedades. Profª. MSc. Maria Bernadete Miranda

BRUNO AUGUSTO VIGO MILANEZ FELIPE FOLTRAN CAMPANHOLI COMPLIANCE CRIMINAL

FCPA, UK Bribery Act e Lei /13 Avanços e desafios AMCHAM Rio Novembro de 2013

COMPLIANCE RICARDO BREIER PRIVADO. Advogados Associados. breier.adv.br

Treinamento Anual Prevenção à Lavagem de Dinheiro e Lei Anticorrupção

MANUAL DE BOAS PRÁTICAS

AUTORIZAÇÃO DE USO DE BEM PERMANENTE EM AMBIENTE EXTERNO A UFRB

ENVIO DE CONTRIBUIÇÕES REFERENTE À AUDIÊNCIA PÚBLICA Nº 004 /2011. NOME DA INSTITUIÇÃO: Excelência Energética Consultoria Empresarial

Política de Integridade


LEI ANTICORRUPÇÃO (LEI DE ) IMPORTANTES EFEITOS SOBRE AS EMPRESAS E OS AJUSTES INTERNOS EXIGIDOS DORAVANTE!

A IMPLANTAÇÃO DE CONSELHO CONSULTIVO EM SOCIEDADES LIMITADAS COMO FORMA DE GOVERNANÇA CORPORATIVA

Programa de Compliance

Conceito. Responsabilidade Civil do Estado. Teorias. Risco Integral. Risco Integral. Responsabilidade Objetiva do Estado

Deputada Estadual Vanessa Damo LEI DA ENTREGA COM HORA MARCADA - SP

Seminário a Nova Lei Anticorrupção. Procedimentos Internos de combate a Corrupção e Gestão de Riscos. Rogéria Gieremek

RESOLUÇÃO N II - endereços residencial e comercial completos; (Redação dada pela Resolução nº 2.747, de 28/6/2000.)

O Dever de Consulta Prévia do Estado Brasileiro aos Povos Indígenas.

RESPONSABILIDADE CIVIL DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Plano de Controle de Qualidade. Resolução 3.954

II Jornadas de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho

Reunião de Auditoria em Saúde SUS - CAP

Dispõe sobre a implementação de estrutura de gerenciamento do risco operacional.

Transcrição:

MEMORANDO AOS CLIENTES ANTICORRUPÇÃO E COMPLIANCE FEVEREIRO/2014 Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013 Lei Anticorrupção. Entrou em vigor no dia 29 de janeiro a Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, chamada Lei Anticorrupção, que dispõe sobre a responsabilidade civil e administrativa de pessoas jurídicas pela prática de atos ilícitos de corrupção contra a administração pública nacional ou estrangeira. A Lei Anticorrupção inspirou-se no FCPA (Foreign Corrupt Practices Act) dos EUA, tornando a responsabilidade das pessoas jurídicas objetiva, o que se contrapõe à responsabilidade subjetiva que pressupõe a necessidade de provas de culpa ou dolo (intenção, negligência, imprudência ou imperícia). A experiência internacional tem exemplos de penalidades milionárias aplicadas a empresas envolvidas em atos de corrupção, como, por exemplo, no caso da Control Componentes, Inc., que envolveu pagamentos de subornos no valor de US$ 6,85 milhões no período de 1998 a 2007 em 36 países (incluindo o Brasil), onde a multa alcançou o valor de US$ 18,2 milhões (2009). Introdução Uma das inovações mais polêmicas na lei brasileira diz respeito à adoção da responsabilidade objetiva, o que significa dizer que empresa deve responder pelo resultado (corrupção), ainda que tenha agido sem dolo (vontade/intenção) ou culpa (imprudência, imperícia ou negligência). Essa forma de responsabilidade se contrapõe à A v. P a u l i s t a, 1. 8 4 2, T o r r e N o r t e 2 1 º a n d a r - c j. 2 1 8 S ã o P a u l o - SP 01310-923 ( 1 1 ) 2 3 4 8-4433 WWW.LRNG.COM.BR

responsabilidade subjetiva, por meio da qual somente sofre sanção quem age com dolo ou culpa. Em termos práticos, na nova realidade, a empresa se responsabilizará pelos atos de corrupção praticados pelos seus colaboradores, independentemente da participação ou orientação da empresa em quaisquer desses atos. Quanto à responsabilidade das pessoas físicas, destaca-se que a Lei Anticorrupção é adicional às medidas existentes e não altera a responsabilidade individual dos dirigentes, administradores ou qualquer outro colaborador da pessoa jurídica que participe do ato ilícito. Como a responsabilidade das pessoas físicas não teve alteração, essa continua a ser subjetiva. Diante da nova realidade legislativa, é premente a adoção, por todas as empresas, de controles e políticas efetivas objetivando a prevenção (precaver que sejam adotadas práticas corruptivas por seus colaboradores) e o controle de danos (determinar um plano de ação a fim de minimizar as consequências da prática de corrupção quando detectada). (A). Prevenção: Além de visar a prevenção de colaboradores praticar um ato corruptivo, as medidas de prevenção poderão ser muito importantes quando da apuração de uma prática de corrupção por um funcionário, pois as autoridades levarão em consideração a diligência das pessoas jurídicas no sentido de impedir a prática de corrupção pelos seus colaboradores. Nesse sentido, há previsão expressa na lei, de que serão lavados em consideração na aplicação das sanções a existência de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica (art. 7º, VIII, da Lei). Desse modo, políticas de compliance, que antes eram uma realidade somente para grandes empresas multinacionais, torna-se uma recomendação para todas as pessoas jurídicas, de forma a prevenir atos de corrupção e assegurar o cumprimento de outras tantas obrigações legais relevantes do Brasil e exterior. 2

Adicionalmente, a existência, extensão e aplicabilidade dos programas de compliance, que já eram consideradas no escopo de trabalho das auditorias legais prévias a uma operação de mercado de capitais ou de fusões e aquisições, passam a ter uma importância ainda maior. Neste trabalho, serão analisados os seguintes itens, dentre outros: (i) existência e descumprimento dos controles internos; (ii) operações com/em países com altos riscos de corrupção; (iii) relacionamento com entidades públicas na obtenção de autorizações, licenças e permissões. Diante da recomendação da lei de que as pessoas jurídicas mantenham programas de compliance, espera-se uma regulamentação adicional por parte do poder público. Nessa regulamentação, aguarda-se a definição de quais os parâmetros mínimos para que um programa de compliance seja considerado eficaz e capaz de abrandar os efeitos da constatação de corrupção. Ainda, fica pendente da citada regulamentação a criação do Cadastro Nacional de Empresas Punidas - CNEP, que consiste em um cadastro público com os nomes das pessoas jurídicas punidas e as sanções aplicadas a cada uma. (B). Controle de Danos: Uma vez constatada a prática de corrupção em uma pessoa jurídica, essa estará sujeita às seguintes penalidades, que poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente: B.1 Sanções Administrativas: (i) multas entre 0,1% e 20% sobre o faturamento anual bruto da pessoa jurídica, desde que nunca inferior à vantagem auferida, sendo que se tal limite for indeterminável, o juiz fixará valor entre R$ 6.000,00 e R$ 60.000.000,00; e (ii) maior publicidade da condenação. B.2. Sanções Cíveis: (i) perdimento dos bens, direitos ou valores obtidos direta ou indiretamente com o ato de corrupção, resguardando-se o direito do lesado e do terceiro de boa-fé; 3

(ii) suspensão ou interdição parcial compulsória das atividades da pessoa jurídica; (iii) proibição de receber recursos (subsídios, subvenção, doações ou empréstimos) de instituições financeiras ou controladas pelo Poder Público pelo período de 1 a 5 anos; (iv) proibição de participar de licitação e de contratar com o Poder Público durante o cumprimento da sanção; e (v) encerramento das atividades com a dissolução compulsória da pessoa jurídica. As sanções previstas em ambos os cenários (responsabilidade objetiva civil e administrativa), não excluem, em nenhuma hipótese, a obrigação de reparar integralmente o dano causado pelo ato ilícito. Da mesma forma, a própria Lei também prevê, para os casos onde há responsabilidade objetiva civil, a possibilidade de desconsideração da pessoa jurídica sempre que esta seja utilizada com abuso de direito para facilitar, encobrir ou dissimular a prática dos atos previstos na Lei ou para provocar confusão patrimonial, estendendo, assim, os efeitos de todas as sanções acima previstas aos seus administradores e sócios com poderes de administração da pessoa jurídica. Uma vez constatada a existência de um ato de corrupção dentro de uma pessoa jurídica, independentemente dessa constatação ser oriunda de um órgão público ou como consequência das políticas internas anticorrupção, torna-se premente a definição de estratégias de defesa a fim de evitar ou mitigar a aplicação das citadas sanções. Dentre as alternativas de defesa, a Lei prevê a possibilidade de celebração de acordo de leniência entre a autoridade máxima de cada órgão ou entidade pública e a pessoa jurídica responsável pelos atos de corrupção, o que pode isentar a pessoa jurídica das sanções de publicação da sanção administrativa (item B.1.(ii) acima), e da proibição de receber recursos de instituições financeiras ou controladas pelo Poder Público (item B.2.(iii) acima), além de reduzir em até 2/3 (dois terços) o valor de multa aplicável, sem prejuízo da reparação integral do dano causado pelo ato de corrupção. 4

Por fim, ressalta-se a ampla abrangência da lei, responsabilizando todas as sociedades que sejam controladoras, controladas, coligadas ou consorciadas. Ficamos à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos adicionais. Ronaldo Bassitt Giovannetti ronaldo@lrng.com.br Rogerio Padua Nakano rogerio@lrng.com.br Fabricio Vanoni Matta fabricio@lrng.com.br Ricardo Mählmann de Almeida ricardo.mahlmann@lrng.com.br Henrique Nascimento Fernandes henrique@lrng.com.br 5