Boletim Científico. Eur J Cardiothorac Surg 2014;46: doi: /ejcts/ezu366.

Documentos relacionados
Rua Afonso Celso, Vila Mariana - São Paulo/SP. Telefone: (11) Fax: (11)

Boletim Científico SBCCV

IMPLANTE PERCUTÂNEO DE PRÓTESE AÓRTICA (TAVI)

Boletim Científico SBCCV

Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular Boletim Científico Número

Programa dia AMBIENTE PROGRAMA PERÍODO ATIVIDADE TÓPICO

ONTARGET - Telmisartan, Ramipril, or Both in Patients at High Risk for Vascular Events N Engl J Med 2008;358:

Boletim Científico SBCCV

QUAL O NÍVEL DE PRESSÃO ARTERIAL IDEAL A SER ATINGIDO PELOS PACIENTES HIPERTENSOS?

FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA DE CARDIOLOGIA UNIDADE DE ENSINO INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL / DISTRITO FEDERAL

Surgical or Transcatheter Aortic Valve. Replacement in Intermediate Risk Patients

Implantação de Válvulas Aórticas Transcateter. Válvulas aórticas transcateter. Médicos do Sistema de Saúde

Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular SBCCV Boletim Científico Número

1. A TAVI é realizada em Hospitais com Cardiologia de Intervenção e Serviço de Cirurgia Cardíaca. (Nível de evidência B, grau de recomendação I).

Uso do AAS na Prevenção Primária de Eventos Cardiovasculares

Sociedade Brasileira decirurgia Cardiovascular SBCCV. Boletim Científico Número

Estratificação de risco cardiovascular no perioperatório

CURSO NACIONAL DE RECICLAGEM EM CARDIOLOGIA - REGIÃO SUL - 20 a 24 de setembro de 2006 TRATAMENTO DAS VALVOPATIAS. Dr. Luiz Eduardo K.

Há mais de uma lesão grave, como definir qual é a culpada? Devemos abordar todas ao mesmo tempo ou tentar estratificar? O papel do USIC, OCT e FFR

Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular SBCCV. Boletim Científico. Número

Vasos com Diâmetro de Referência < 2,5 mm

DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA

Atualizações em Hemodinâmica e Cardiologia Invasiva. Dr. Renato Sanchez Antonio HCI São Sebastião do Paraíso

14 de setembro de 2012 sexta-feira

Lesões de Tronco de Coronária Esquerda

Artículo de Revision Sistemas de proteã Ã o cerebral em TAVI

DIAGNÓSTICO E MANEJO DO PACIENTE PORTADOR DE ESTENOSE AÓRTICA

Doença Arterial Coronária: O Valor do Tratamento Clínico na Era da Maturidade da ICP

Indicadores Estratégicos

O Centro de Referência de Cardiologia de Intervenção Estrutural centra a sua ação na assistência diferenciada aos doentes com necessidade de

BENEFIT e CHAGASICS TRIAL

CURSO NACIONAL DE RECICLAGEM EM CARDIOLOGIA DA REGIÃO SUL ANGINA ESTÁVEL. Estudos Comparativos Entre Tratamentos ABDOL HAKIM ASSEF

Avaliação da segurança e eficácia do stent coronário de cromo-cobalto recoberto com sirolimus desenvolvido no Brasil ESTUDO INSPIRON I

1969: Miocardiopatia - IECAC

Choque hipovolêmico: Classificação

ENDOCARDITE DE VÁLVULA PROTÉSICA REGISTO DE 15 ANOS

Analgesia Pós-Operatória em Cirurgia de Grande Porte e Desfechos

Fui diagnósticado com Estenose Aórtica, e agora doutor? Paulo Victor Borge Pinto

PROGRAMAÇÃO PRELIMINAR

Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências

Declaração de possíveis conflitos de interesses

Síndrome Coronariana Aguda no pós-operatório imediato de Cirurgia de Revascularização Miocárdica. Renato Sanchez Antonio

16º Fórum de Fisioterapia em Cardiologia Auditório 12

SCA Estratificação de Risco Teste de exercício

Síntese do Trabalho ANGINA REFRATÁRIA NO BRASIL O DESAFIO DA BUSCA POR NOVAS ESTRATÉGIAS TERAPÊUTICAS E PELA MELHORIA NA

Condutas no IAM com Instabilidade Hemodinâmica

PROGRAMAÇÃO DE ESTÁGIO CARDIOLOGIA

Unidade de Internação Cardiológica (UIC)

TRATAMENTO DAS SINDROMES CORONARIANAS AGUDAS

22 de Junho de :00-10:30 AUDITÓRIO 6 AUDITÓRIO 7

Click to edit Master title style

CRONOGRAMA CARDIOAULA TEC 2019 INTENSIVO. ABRIL A SETEMBRO. PROVA: OUTUBRO. 360 horas/aulas. EM 25 SEMANAS

Atualização Rápida CardioAula 2019

Publicações de impacto no último ano em: Hipertensão

julho A SETEMBRO. PROVA: OUTUBRO. 360 horas/aulas. EM 14 SEMANAS

Evolução da Intervenção Percutânea para o Tratamento da Doença Coronária Multiarterial

Estenose Aórtica. Ivanise Gomes

DR. CARLOS ROBERTO CAMPOS INSUFICIÊNCIA MITRAL (I.M.I)

Registro Brasileiros Cardiovasculares. REgistro do pacientes de Alto risco Cardiovascular na prática clínica

Resultados Demográficos, Clínicos, Desempenho e Desfechos em 30 dias. Fábio Taniguchi, MD, MBA, PhD Pesquisador Principal BPC Brasil

Programa MÓDULO 1: DEFINIÇÃO, EPIDEMIOLOGIA E PROGNÓSTICO (28-29 SETEMBRO 2018) Coordenador: Brenda Moura Sexta-feira


Registros Brasileiros Cardiovasculares

Resultados 2018 e Novas Perspectivas. Fábio P. Taniguchi MD, MBA, PhD Investigador Principal

Ressonância Magnética Cardíaca & Angiotomografia Cardíaca

AUSÊNCIA DE EFEITO DE COMPLEXOS POLIVITAMÍNICOS NA PREVENÇÃO DAS DOENÇAS CARDIOVASCULARES

ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO CARDIOVASCULAR

Protocolo de Prevenção Clínica de Doença Cardiovascular e Renal Crônica

Engenharia Biomédica - UFABC

Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências. Avaliação de Tecnologias em Saúde. Assunto: XIENCE TM V: Stent coronariano revestido por Everolimus

20 de Junho de Programa Preliminar 40º Congresso da SOCESP

UFRGS DO RIO GRANDE DO SUL. Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde: Cardiologia e Ciências Cardiovasculares

Programação Científica do Congresso 10 de setembro, quarta-feira

Hipertensão Arterial e a Prevenção Quaternária

Artículo de Revision Doenà a do Tronco da artéria Coronária Esquerda e Doenà a de Múltiplos Vasos. Novas evidãªncias 2015

10:30 12:00 Abertura 11:30 12:00 Conferência Magna: Avanços terapêuticos na evolução da cardiologia

Projeto BPC: Conceitos Gerais. Sabrina Bernardez Pereira, MD, MSc, PhD

Estudo Courage. A Visão do Cardiologista Intervencionista. Pós Graduação Lato - Sensu Hospital da Beneficência Portuguesa Abril/2008

Desmistificando a ecocardiografia

CATETERISMO CARDÍACO. Prof. Claudia Witzel

Como selecionar o tipo de stent e antiplaquetários para cirurgias não cardíacas. Miguel A N Rati Hospital Barra D Or - RJ

Preditores de lesão renal aguda em doentes submetidos a implantação de prótese aórtica por via percutânea

RICARDO D OLIVEIRA VIEIRA

Papel dos Betabloqueadores e Estatinas

INDICAÇÃO CIRÚRGICA X VALVULOPATIA

RCG 0376 Risco Anestésico-Cirúrgico

Programação Preliminar do 71º Congresso Brasileiro de Cardiologia

Sumário das Evidências e Recomendações para o Fechamento Percutâneo de Forâmen Oval Patente na Prevenção Secundária de Eventos Cerebrovasculares

Boletim Científico SBCCV

DÚVIDAS FREQUENTES NO EXAME CARDIOLÓGICO NO EXAME DE APTIDÃO FÍSICA E MENTAL

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doença Cardiovascular Parte 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

XIX CONGRESSO NACIONAL DO DERC PROGRAMAÇÃO CIENTÍFICA

1969:Estado da Guanabara IECAC Comunicação Inter-Ventricular com Hipertensão Pulmonar-13/08/1969

Velhas doenças, terapêuticas atuais

Cardiologia Estrutural O Santo Graal da década? R. Seabra Gomes Congresso Novas Fronteiras em Cardiologia Ericeira, 9 de Fevereiro 2013

JANEIRO A SETEMBRO PROVA: SETEMBRO 257 AULAS E PROVAS EM 34 SEMANAS CRONOGRAMA CARDIOAULA TEC 2018 EXTENSIVO

1973:Certificado Escola de Pós-Graduação Médica Carlos Chagas Curso 1ª Semana de Atualização em cardiologia-23/11/1973

30 DE SETEMBRO DE 2013 SEGUNDA-FEIRA

COMISSÃO DE CULTURA E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Transcrição:

Boletim Científico SBCCV 01/09/2014 Número 05 Novas Diretrizes de Revascularização Miocárdica, da Sociedade Européia de Cardiologia, reafirma papel preponderante da cirurgia de revascularização, como intervenção de escolha na doença multiarterial. 2014 ESC/EACTS Guidelines on myocardial revascularization: The Task Force on MyocardialRevascularization of the European Society of Cardiology (ESC) and the European Association for Cardio-Thoracic Surgery (EACTS)Developed with the special contribution of the European Association of Percutaneous Cardiovascular Interventions (EAPCI).. Eur J Cardiothorac Surg 2014;46:517-92. doi:10.1093/ejcts/ezu366. A versão de 2014 do Guidelines de Revascularização Miocárdica da ESC já encontrase publicada. Nesta edição, são abordados todos os cenários clínicos, desde doença estável até choque cardiogênico, enfocando-se ferramentas diagnósticas, tratamento clínico e intervenção coronariana. Principais pontos envolvendo cirurgia x angioplastia: - Nova recomendação aponta a necessidade de discussão com o paciente antes de qualquer cinecoronariografia eletiva, de preferência pelo Heart Team. - Reafirma-se a proscrição da angioplastia ad hoc (angioplastia eletiva realizada no mesmo momento do cateterismo diagnóstico). - Recomendação baseada no resultado de 5 anos do estudo Syntax, determina a incorporação do Syntax Score, para decisão de revascularização do TCE ou multiarterial - Nova recomendação específica para pacientes diabéticos, baseada nas evidências dos ensaios BARI-2D, MASS II e FREEDOM aponta CRM para todos os casos de doença estável multiarterial (classe I). - Balão intraórtico no choque cardiogênico pósangioplastia, em casos de IAM, passa a receber classe III, sendo substituída a indicação para dispositivos de assistência circulatória por curto tempo (classe IIB). - Passa a existir a recomendação de volume mínimo do hemodinamicista e/ou do hospital, em casos de angioplastia coronária, em patamares de: 75 por operador e 400 por centro, por ano, em casos de síndrome coronária aguda, e de 75 por operador e 200 por centro, por ano, em casos de doença estável. Abaixo, as principais recomendações:

French-2 Registry: implante de TAVI sob anestesia local é factível, mas determina maior incidência de leak paravalvar, após o procedimento. Clinical outcomes and safety of transfemoral aortic valve implantation under general versus local anesthesia: subanalysis of the French Aortic National CoreValve and Edwards 2 registry. Circ Cardiovasc Interv 2014;7:602-10. doi: 10.1161/CIRCINTERVENTIONS.113.000403. O implante de TAVI sob anestesia local vêm se tornando cada vez mais freqüente, e este estudo traz dados do registro francês, comparando os resultados de curto prazo entre esta abordagem, e o implante sob anestesia geral. Foram avaliados 2.326 implantes realizados entre janeiro de 2010 a outubro de 2011 (1.377 an. geral e 949 an. Local), nos quais o percentual de casos sob anestesia local subiu de 14% no início do registro, para 59% ao final do mesmo. Na comparação entre os 2 grupos, o uso de ecocardiograma trans-esofágico (TEE) foi menor quando a anestesia foi local (16,9% vs 76,3%; p<0,001), embora não tenha havido diferença na taxa de sucesso do implante e na sobrevida em 30 dias (97,6% vs 97,0%; p=0,41 e 91,6% vs 91,3%; p=0.69, respectivamente). No entanto, a taxa de regurgitação aórtica (leak paravalvar) no mínimo média, foi maior com a anestesia local (19% vs 15% ; p=0,015). Os autores concluem que o implante transfemoral de válvula aórtica sb anestesia local é seguro, não apresenta diferença de sobrevida precoce, em relação à anestesia geral, mas determina maior taxa de insuficiência aórtica paravalvar, possivelmente pelo menor uso de TEE, durante o procedimento.

Estudo PRIMA falha em demonstrar benefício com o fechamento percutâneo do forâmen oval patente (FOP), em pacientes com migraine. PFO Closure Fails Anew in Migraine: PRIMA. Medscape, Sep 16, 2014. http://www.medscape.com/viewarticle/831801 Apresentado no Transcatheter Cardiovascular Therapeutics (TCT) de 2014, o ensaio PRIMA não conseguiu demonstrar benefício do implante de Amplatzer para fechamento de FOP, em pacientes com enxaqueca tipo migraine. Foram avaliados 705 pacientes com migraine, considerada de difícil controle ou refratária ao tratamento clínico, randomizados a receberem implante de Amplatzer ou nenhuma intervenção, e seguidos por 1 ano. Em relação ao desfecho primário, redução na duração média da enxaqueca, mesmo podendo haver efeito placebo nos pacientes submetidos ao tratamento percutâneo, esta foi de 2,9 dias no grupo intervenção vs 1,7 dias no grupo controle (p=ns). Quando avaliados os desfechos secundários de satisfação do paciente e melhora da qualidade de vida, igualmente não houve diferenças entre pacientes intervidos, e medicamente tratados. Os resultados vem ao encontro do controverso MIST Trial, que em 2006 testou o implante do dispositivo Starflex em pacientes com migraine, e apresentou resultados também negativos. Os autores apontam a impossibilidade de cegamento e o conseqüente potencial de efeito placebo, como fator potencialmente envolvido nesses resultados desapontadore. Colchicina no manejo de derrame pericárdico pós-cirurgia cardíaca: resultados do POPE-2 trial. Colchicine 'Useless' for Postop Pericardial Effusion: POPE-2. Medscape. Aug 31, 2014. http://www.medscape.com/viewarticle/830728 Apresentado no Congresso Europeu de Cardiologia, em Barcelona, o estudo POPE-2 se propôs a avaliar o efeito da colchicina no derrame pericárdico pós-cirurgia cardíaca, em pacientes de alto risco. Pacientes com derrame pericárdico no mínimo de grau 2, e sem tamponamento cardíaco, foram randomizados a receber colchicina ou placebo (n=197). O desfecho primário foi o decréscimo do grau de Figura 1: derrame pericárdico após 14 dias de tratamento (graus de 2 a 4), e o desfecho secundário a taxa de tamponamento cardíaco, no mesmo período. Em relação à diminuição do derrame após 14 dias, não houve diferença entre os grupos (p=0,23 - figura 1). Similarmente, a taxa de tamponamento foi semelhante entre pacientes intervidos e controles (figura 2).

Figura 2: Estudo Symplicity HTN-3: resultados de 1 ano não demonstram benefício da denervação renal percutânea, no controle da hipertensão arterial resistente. SYMPLICITY HTN-3 at One Year: Still No BP Benefit vs Sham Control Arm. Medscape. Sep 05, 2014. http://www.medscape.com/viewarticle/831207 Resultados de 1 ano do ensaio Symplicity HTN-3, divulgados no Congresso ESC 2014, permanecem a demonstrar nenhum benefício da denervação renal por cateter, no controle da PA resistente ao tratamento clínico. Previamente, este estudo havia sido interrompido em 2013, após a avaliação de 6 meses de seguimento, em 535 pacientes randomizados; à época, a diferença de apenas 2,4 mmhg na PA sistólica, entre pacientes intervidos e controles, obviamente não significativa, foi responsável pelo cancelamento da randomização. Os dados atuais de 12 meses de acompanhamento, apontam que, embora seja um procedimento seguro, a denervação renal

percutânea não determinou qualquer queda significativa da PA sistólica, tanto medida em consultório, quanto a determinada por monitorização ambulatorial de 24 horas (Figura). Resultados com o implante transcateter de válvula aórtica em pacientes de risco intermediário: OBSERVANT study. TAVR vs Surgery in Intermediate-Risk Patients: Clues From OBSERVANT. Medscape. Sep 13, 2014. http://www.medscape.com/viewarticle/831676. O Registro OBSERVANT, apresentado no TCT 2014, comparou resultados de 1 ano com o implante de TAVI em pacientes de mais baixo risco do que testado nos ensaios prévios, com a cirurgia convencional. Com Euroscore médio de 9,8, foram avaliados os desfechos de 650 pacientes em cada grupo, pareados por propensão de risco, tendo sido utilizadas, no grupo TAVI, tanto Corevalve quanto a válvula Sapiens. Em 30 dias, como esperado, complicações vasculares e novos implantes de marcapasso foram maiores no grupo transcateter, enquanto a incidência de insuficiência renal e transfusões de sangue foram maiores entre os pacientes tratados cirurgicamente. Em um ano, no entanto, os pesquisadores não viram diferenças entre os dois grupos quanto a mortalidade, eventos cardíacos e cerebrovasculares adversos (MACCE), ou reinternações por causas cardíacas (Figura).