FILOSOFIA. 1. O nascimento da Filosofia 1.1 Do pensamento mitológico ao filosófico



Documentos relacionados
O Surgimento da filosofia

Aula 03 Filosofia 3 Colegial

Leucipo de Mileto e Demócrito de Abdera. Pércio Augusto Mardini Farias

3ª Filosofia Antiga (Pensadores antigos)

A origem dos filósofos e suas filosofias

Questão (1) - Questão (2) - A origem da palavra FILOSOFIA é: Questão (3) -

LEGADOS / CONTRIBUIÇÕES. Democracia Cidadão democracia direta Olimpíadas Ideal de beleza Filosofia História Matemática

MITO: vem do vocábulo grego mythos, que significa contar ou narrar algo.

Filosofia na Antiguidade Clássica Sócrates, Platão e Aristóteles. Profa. Ms. Luciana Codognoto

Era considerado povo os cidadãos de Atenas, que eram homens com mais de 18 anos, filhos de pais e mães atenienses.

GRUPO IV 2 o BIMESTRE PROVA A

3ª. Apostila de Filosofia A origem e o nascimento da Filosofia e sua herança para o mundo ocidental.

Breve Histórico do Raciocínio Lógico

Colégio Cenecista Dr. José Ferreira

Tales de Mileto. Tudo é água. Tales

HISTÓRIA DA FILOSOFIA

UNIDADE I OS PRIMEIROS PASSOS PARA O SURGIMENTO DO PENSAMENTO FILOSÓFICO.

John Locke ( ) Colégio Anglo de Sete Lagoas - Professor: Ronaldo - (31)

Lista de Exercícios:

Como surgiu o universo

As formas de vida grega que prepararam o nascimento da filosofia

INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO PRÉ-SOCRÁTICO 1. Carlos Copelli Neto

DO MITO A RAZÃO: O NASCIMENTO DA FILOSOFIA

GABARITO - FILOSOFIA - Grupo L

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA ESPÍRITA E ESPIRITISMO

OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES

PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO OU COSMOLÓGICO

A FILOSOFIA HELENÍSTICA A FILOSOFIA APÓS A CONQUISTA DA GRÉCIA PELA MACEDÔNIA

Uma volta no tempo de Atlântida

Mitos gregos. Prof. Ms. Fábio Medeiros

INTERATIVIDADE FINAL CONTEÚDO E HABILIDADES DINÂMICA LOCAL INTERATIVA. Aula 1.2 Conteúdo:

LINGUAGEM, LÍNGUA, LINGÜÍSTICA MARGARIDA PETTER

Ação dos Espíritos na Natureza

A CIVILIZAÇÃO CLÁSSICA: GRÉCIA. Profº Alexandre Goicochea História

RESOLUÇÕES DE QUESTÕES SÓCRATES 9º ANO ENSINO FUNDAMENTAL II PROFESSOR DANILO BORGES

IGREJA DE CRISTO INTERNACIONAL DE BRASÍLIA ESCOLA BÍBLICA

LISTA DE EXERCÍCIOS RECUPERAÇÃO. 1. Quais foram as principais características da escolástica? Cite alguns de seus pensadores.

5 Equacionando os problemas

DATA: VALOR: 20 PONTOS NOME COMPLETO:

1. (1,0) APONTE o nome da região em que foi desenvolvida a civilização grega.

A Busca. Capítulo 01 Uma Saga Entre Muitas Sagas. Não é interessante como nas inúmeras sagas que nos são apresentadas. encontrar uma trama em comum?

Pressupostos e diferenciações em relação ao senso comum

ESPIRITUALIDADE E EDUCAÇÃO

"Ft L.OSD Flfi ~RÇ)"". CR~S

FILOSOFIA E OS PRÉ-SOCRÁTICOS TERCEIRÃO COLÉGIO DRUMMOND 2017 PROF. DOUGLAS PHILIP

AGOSTINHO, TEMPO E MEMÓRIA

Os períodos da Filosofia grega.

Para onde vou Senhor?

Processo de compreensão da realidade. Não é lenda Verdade Explicação do misterioso Expressão fundamental do viver humano

A Escola de Pitágoras

Educação Matemática. Prof. Andréa Cardoso 2013/2

CONHECIMENTO DA LEI NATURAL. Livro dos Espíritos Livro Terceiro As Leis Morais Cap. 1 A Lei Divina ou Natural

Idealismo - corrente sociológica de Max Weber, se distingui do Positivismo em razão de alguns aspectos:

Rousseau e educação: fundamentos educacionais infantil.

Weber e o estudo da sociedade

Avaliação de História 6º ano FAF *Obrigatório

Lista de Recuperação de Arte 6º ANO

Associação Catarinense das Fundações Educacionais ACAFE PARECER DOS RECURSOS

Resumo Aula-tema 01: A literatura infantil: abertura para a formação de uma nova mentalidade

PLATÃO. Consta-se que antes de ter sido discípulo de Sócrates, seguiu as lições de Crátilo.

Pré-socráticos - Questões de Vestibulares - Gabarito

INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ IFPR ASSIS CHATEAUBRIAND GRUPO DE PESQUISAS FILOSOFIA, CIÊNCIA E TECNOLOGIAS IF-SOPHIA ASSIS CHATEAUBRIAND

PARA A CIÊNCIA PARA A TECNOLOGIA PARA A SOCIEDADE

O CONCEITO DE DEUS NA DOUTRINA ESPÍRITA À LUZ DO PENSAMENTO ARISTOTÉLICO

Elaboração e aplicação de questionários

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO - IED AULAS ABRIL E MAIO

Mito, Razão e Jornalismo 1. Érica Medeiros FERREIRA 2 Dimas A. KÜNSCH 3 Faculdade Cásper Líbero, São Paulo, SP

Docente: Gilberto Abreu de Oliveira (Mestrando em Educação UEMS/UUP) Turma 2012/

Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais Campus VII - Unidade Timóteo - Engenharia da Computação. Filosofia Antiga

A Física na Grécia Antiga Primeira Parte: Os Pré-Socráticos. Antônio Roque USP Ribeirão Preto

Panorama dos pré-socráticos ao helenismo

A IMPRENSA E A QUESTÃO INDÍGENA NO BRASIL

Estudos bíblicos sobre liderança Tearfund*

Deus criou o universo do nada! E o ponto de partida é:

Os encontros de Jesus. sede de Deus

A ÉTICA DAS VIRTUDES. A ética e a moral: origem da ética As ideias de Sócrates/Platão. Prof. Dr. Idalgo J. Sangalli (UCS) 2011

Profa. Andréa Cardoso UNIFAL-MG MATEMÁTICA-LICENCIATURA 2015/1

Roteiro VcPodMais#005

Aula 8: Modelos clássicos da análise e compreensão da sociedade e das instituições sociais e políticas: A Sociologia de Max Weber (I).

MITO E FILOSOFIA 1 SÉRIE DO ENSINO MÉDIO COLÉGIO DRUMMOND 2017 PROF. DOUGLAS PHILIP

1 O número concreto. Como surgiu o número? Contando objetos com outros objetos Construindo o conceito de número

Orientação de estudo semanal turma 231 Filosofia II

I OS GRANDES SISTEMAS METAFÍSICOS

A Palavra PENTATEUCO vem do grego e significa cinco livros. São os cinco primeiros livros da Bíblia. Esses livros falam da formação do mundo, da

Assim, estabeleceu-se um acordo: ela passaria metade do ano junto a seus pais, quando seria a eterna adolescente cheia de vida, e o restante do ano

GRUPO I Escolha múltipla (6 x 10 pontos) (circunda a letra correspondente à afirmação correcta)

AGOSTINHO DE HIPONA E TOMÁS DE AQUINO (3ª SÉRIE, REVISÃO TESTÃO)

Prefácio. Departamento de Publicação

ESCALAS. Escala numérica objeto. é a razão entre a dimensão gráfica e a dimensão real de um determinado. d/d = 1/Q

Desvios de redações efetuadas por alunos do Ensino Médio

Fonte:

Lev Semenovich Vygotsky, nasce em 17 de novembro de 1896, na cidade de Orsha, em Bielarus. Morre em 11 de junho de 1934.

Max Weber. Sociologia Compreensiva

Carta de Paulo aos romanos:

Palavras chave: Direito Constitucional. Princípio da dignidade da pessoa humana.

LIDERANÇA, ÉTICA, RESPEITO, CONFIANÇA

APRENDER A LER PROBLEMAS EM MATEMÁTICA

A EDUCAÇÃO PARA A EMANCIPAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE: UM DIÁLOGO NAS VOZES DE ADORNO, KANT E MÉSZÁROS

Parece claro que há uma, e uma só, conclusão a tirar destas proposições. Esa conclusão é:

A CRIAÇÃO DO MUNDO-PARTE II

Transcrição:

FILOSOFIA 1. O nascimento da Filosofia 1.1 Do pensamento mitológico ao filosófico A Filosofia se constitui por meio de uma passagem do mito ao logos (razão). Mas como a Filosofia chegou a se tornar um saber desinteressado, universal e crítico? Antes do surgimento da Filosofia, a explicação para as questões humanas eram fornecidas pelos mitos. Podemos conhecer essas explicações lendo obras como a Odisséia ou Ilíada, de Homero. Essas explicações eram sagradas, ou seja, diziam a respeito dos Deuses. Sem a força dos Deuses, a explicação humana precisou de provas. A Filosofia busca fornecer continuamente essas provas, como explica Marilena Chauí: O mito não se importava com contradições, com o fabuloso e o incompreensível,não só porque esses eram traços próprios da narrativa mítica, como também porque a confiança e a crença no mito vinham da autoridade religiosa do narrados. A filosofia, ao contrario, não admite contradições fabulação e coisas incompreensíveis,ms exige que a explicação seja coerente, lógica e racional; além disso, a autoridade da explicação não vem da pessoa do filósofo,mas da razão, que é a mesma em todos os seres humanos. 1 1.2Mito e Logos Mito: narrativa lendária, pertencente à tradição cultual de um povo, que explica, através do apelo ao sobrenatural, ao divino e ao misterioso, a origem do Universo, o funcionamento da natureza e a origem e os valores básicos do próprio povo. O surgimento do pensamento filosóficocientífico na Grécia antiga visto como uma ruptura com o pensamento mítico, já que a realidade passa a ser explicada com base na consideração da natureza pela própria, a qual pode ser conhecida racionalmente pelo homem, podendo essa explicação ser objeto de crítica e reformulação; daí a oposição tradicional entre mitos e logos. Logos: conceito de Filosofia grega que possui inúmeras acepções em diferentes correntes filosóficas, variando às vezes no pensamento de um mesmo filósofo. Na língua grega equivale a palavra, verbo, sentença, discurso, pensamento, inteligência, razão, definição, etc. Supõe-se que em seu sentido originário de reunir, estaria contido o caráter de combinação, associação e ordenação do logos, que daria assim, sentido às coisas. 1 CAHUÍ, Marilena. Filosofia. São Paulo:Ática, 2005.p.25

1.3 Deuses Gregos 2 A mitologia grega é bastante rica em termos de contos e explicações da origem do mundo, a tudo atribuindo os poderes dos deuses gregos, que segundo a crença geral, moravam no Monte Olimpo. Dizem as lendas gregas, que no princípio havia somente o grande Caos, do qual surgiram os Velhos Deuses, ou Titãs, dirigidos pelo deus Cronos que chefiou a rebelião da nova geração dos deuses chamados Deuses Olímpicos que dominaram a Grécia em toda a sua época clássica. Os principais deuses olímpicos são: 1. Zeus: é o deus principal, governante do Monte Olimpo, Rei dos Deuses e dos homens, era o sexto filho de Cronos. 2. Palas Atena ou Atenéia: deusa virgem, padroeira da artes domésticas, da sabedoria e da guerra. 3. Apolo: deus do sol e patrono da verdade, da música, da medicina e da profecia. 4. Artemisa: deusa-virgem da lua, irmã gêmea de Apolo, poderosa caçadora e protetora das cidades, dos animais e das mulheres. 5. Afrodite: deusa do amor e da beleza. 6. Hera: esposa de Zeus, protetora do casamento, das mulheres casadas, as crianças e dos lares. Era irmã de Zeus. 7. Deméter: era a deusa doas colheitas, dispensadora dos cereais e dos frutos. 8. Hermes: filho de Zeus e mensageiro dos mortais, era também protetor dos rebanhos e do gado, do ladrões e guardião dos viajantes e protetor dos oradores e escritores. 9. Poseidon: é o deus do mar e dos terremotos. Era considerado um deus traiçoeiro, pois os gregos não confiavam nos caprichos do mar. 10. Dionísio: era o deus do vinhos e da fertilidade. Símbolo da vida dissoluta. 11. Ares: Deus guerreiro por excelência, tendo o abutre como símbolo. 12. Hefaisto ou Hefesto: deus ferreiro, do fogo e dos artífices. Além desses deuses, que junto a muitos outros surgiam em grande quantidade no Olimpo, havia heróis, semideuses, faunos, sátiros e uma infinidade de entidades mitológicas que explicavam por lendas todos os fenômenos da natureza. 2.História da Filosofia: o início 3 2 SIBRAC Sistema Brasileiro de Consultas. Pronac. Vol.2, p.824-825.

Se compreendermos a Filosofia em um sentido amplo como concepção de vida e do mundo podemos dizer que sempre houve filosofia. De fato, ela responde a uma exigência da própria natureza humana; o homem, imerso no mistério do real, vivo a necessidade de encontrar uma razão de ser para o mundo que o cerca e para os enigmas de sua existência. Neste sentido, todo povo, por primitivo que seja, possui uma concepção do mundo. Mas se compreendermos a Filosofia em um sentido próprio, isto é, como o resultado de uma atividade da razão humana que se defronta com a totalidade do real, torna-se impossível pretender que a Filosofia tenha estado presente em todo e qualquer tipo de cultura. O que a História nos mostra é exatamente o contrário: a Filosofia é um produto da cultura grega, devendo-se reconhecer que se trata de uma das mais importantes contribuições daquele povo antigo ao mundo ocidental. A Filosofia teve seu início nas colônias gregas da Grécia, nos séculos VI e V a.c. Assim, a Filosofia grega se desenvolve da periferia para o centro, concentrando-se em Antenas somente mais tarde, com os sofistas e com os filósofos chamados socráticos. E aqui devemos acenar a um primeiro problema importante: o da origem da filosofia grega e a influência do Oriente. A florescente navegação e a rica atividade comercial das colônias jônicas da Ásia Menor punham-nas em contato com com os povos do Egito, da Fenícia e da Mesopotâmia, e a influência destes povos vizinhos sobre o processo de formação da filosofia grega não pode ser ignorada. Sem dúvidas, os gregos sofreram a influência de outros povos. Todo povo desenvolve certas ideias sobre a vida e o mundo, desdobra certas ideias sobre a vida e o mundo, desdobra certas concepções sobre a alma, sobre a origem do mundo a partir do caos, sobre os ciclos cósmicos e a unidade do universo, etc. Estas ideias, sob a forma de mitos, estão presentes nas mais antigas religiões. Povos mais adiantados chegaram a desenvolver uma matemática, astronomia, medicina. Que o contato com todos estes ovos não poderia deixar os gregos imunes é óbvio. Muitos dos temas que vão ocupar os filósofos gregos estão longe de poderem ser considerados originais. Mas a despeito disto, pode-se dizer que os gregos constituem uma exceção e que nos legaram uma cultura altamente original. 2.1Filosofia nascente - Características principais A mitologia é uma história que, por meio de alegorias, tenta compreender o universo. Sua característica própria é o que a limita. Por alegórica e metafórica, é preciso que se escolha acreditar em sua história. É necessária adesão ao mito para que esse faça sentido. Por outro lado, a linguagem filosófica tenta adquirir um conhecimento de caráter lógico, 3 BORNHEIM, Gerd A (org). Os filósofos pré-socráticos. São Paulo:Cultrix, 1993.p.7-10

passo a passo, mais lento e seguro. A Filosofia abre mão da referência metafórica, da associação e da comparação. Ela quer conhecer as coisas exatamente como elas são, sem nenhuma interferência de terceiros e sem que haja a necessidade de se acreditar naquilo. Não é mais preciso acreditar ou eica de acreditar simplesmente porque faz sentido. É claro que os deuses com forma humana aproximam-se mais da compreensão dos mortais. Contudo, as características dos homens são atribuídas aos deuses, levando ao mundo divino não só a razão humana, mas também suas paixões e atitudes nem sempre morais. A Filosofia vai se perguntar, então, se o universo poderia ser controlado por entidades tão inconstantes em seus sentimentos e ações como o próprio homem. A antropomorfização dos deuses foi, portanto, um passo necessário, mas não suficiente para que os filósofos gregos compreendessem o mundo. Para a Filosofia, a origem de tudo deve ser impessoal, lógica, estável e compreensível, e a linguagem deve buscar essa origem. De forma geral, a Filosofia toma estas posturas: 1. Caráter crítico: não se deve tomar nada como verdade antes da investigação. O caráter crítico não quer dizer criticar a tudo e a todos sem distinção mas sim nunca aceitar uma suposta sem averiguar racionalmente a questão. 2. Racionalidade: a razão é o critério de verdade, acima da crença ou da revelação mística/poética e da tradição. Ela deve provar o que diz. 3. Conclusões: a razão não deve ser imposta, mas explicada. Deve-se convencer por argumentos e não por imposições. 4. Respeito ao argumento racional: se um argumento é racional, deve ser aceito, mesmo que sua opinião não concorde. A razão é o critério de verdade e não nossa opinião. 5. Inexistência de pré-conceitos: nada pode ser colocado como sabido antes que se faça uma investigação racional. 6. Generalização: a Filosofia quer encontrar uma resposta geral, que sirva para o todo. Uma resposta que deve ser até mesmo universal, servindo para todos e para qualquer época. A própria delimitação dessas características para a Filosofia é assunto de discussão filosófica. Neste momento, contudo, é importante saber que há uma aceitação de que esses princípios indiquem parte fundamental da postura filosófica, principalmente daquela que nasce na Grécia.

3. Os Filósofos Pré-Socráticos 4 3.1 Tales de Mileto 5 Mileto a a mais importante cidade da Jônia. Berço dos epos homéricos, tornara-se famosa pela atividade comercial de seus navegantes, que percorriam quase toda a cabia do Mediterrâneo. Nela encontramos os mais antigos filósofos pré-socráticos, Tales, Anaximandro e Anaxímenes. Sobre a vida de Tales, pouco se sabe. Um feito notável a previsão feita pelo filósofo do eclipse total do Sol de 28 de maio de 585 a.c. permitiu estabelecer como data provável seu nascimento em 624 a.c. e sua morte em 547 a.c. Participou ativamente da vida política e militar de sua cidade. De suas ideias quase nada é conhecido, e é pouco provável que tenha escrito um livro. Aristóteles chama-o de fundador da Filosofia, e lembra a sua doutrina que a água é o elemento primordial de odas as coisas, e que a terra flutua sobre a água. Atribui-se a Tales a afirmação de que todas as coias estão cheias de Deuses, o que talvez possa ser associado à ideia de que o ímã tem vida, porque move o ferro. Além disso, elaborou uma teoria para explicar as inundações do Nilo, e atribui-s a ele a solução de diversos problemas geométricos. 3.2 Anaximandro de Mileto 6 Discípulo e sucessor de Tales, Anaximandro desenvolve a seu modo as doutrinas do mestre. Natural de Mileto, supõe-se que tenha vivido de 547 a 610 a.c. De sua vida nada é conhecido. Parece ter sido o primeiro a publica escritos de ordem filosófica; escreveu em prosa. A maioria dos autores têm como certo que Anaximandro usou a palavra arké (origem, princípio). O princípio de todas s coisas é o ilimitado (apeiron). O seu fragmento refere-se a uma unidade primordial, da qual nascem todas as coisas e a qual retornam todas as coisas. Recusa-se a ver a origem do real em um elemento particular; todas as coisas são limitadas, e o ilimitado não pode ser, se injustiça, a origem de todas as coisas; deve haver um princípio que lhes seja anterior e que permita compreender tudo o que é ilimitado. Do ilimitado surgem inúmeros mundos, e estabelece-se a multiplicidade: a gênese s coisas a partir do ilimitado é explicada através da separação dos contrários (como quente e frio, úmido e seco, etc) em consequência do movimento 4 BORNHEIM, Gerd A (org). Os filósofos pré-socráticos. São Paulo:Cultrix, 1993 5 Ibidem, p.22 6 Ibidem, p.24

eterno; ciclicamente, o que está separado volta a integrar-se à unidade primordial, restabelecendo-se a justiça. Com a doutrina do ilimitado, Anaximandro pretende corrigir Tales, embora a água continue a desempenhar um papel importante em sua doutrina. Assim, afirma que a água cobria o início toda a Terra, que os seres vivos surgiram do mar e que o homem deriva dos peixes. 3.3 Anaxímenes de Mileto 7 Anaxímenes nasceu, provavelmente, em 585 a.c., e sabe-se que morreu durante a 63a. Olimpíada (528 e 525 a.c.). De sua vida nada mais é conhecido. O ar, segundo ele, é o elemento original de todas as coisas; elemento vivo que constitui as coisas através de condensação ou rarefação. Assim, o fogo é ar rarefeito, as nuvens, água, a terra e finalmente a pedra. Anaxímenes foi o primeiro a afirmar que a Lua recebe a sua luz do Sol. 3.4 Xenófanes de Cólofon 8 Um dos mais longevo filósofos pré-socráticos, Xenófanes, nasceu entre 580 e 577 a.c. e continuava a escrever aos 92 anos de idade; deve ter morrido por volta de 460 a.c. Escreveu exclusivamente em versos, e tornou-se famoso tanto por seus ataques aos poetas e filósofos, como também por suas doutrinas filosóficas. O elemento primordial é a terra. A partir desse elemento, Xenófanes desenvolve sua cosmologia. Mas foi a sua teologia que lhe deu um lugar de destaque. Combate acirradamente a concepção antropomórfica dos deuses, e defende um Deus único, distinto do homem, não gerado, eterno, imóvel, puro pensamento e que age através de seu próprio pensamento. Os intérpretes costumam ver em Xenófanes um antecessor de Parmênides. 3.5 Heráclito de Éfeso 9 As datas do nascimento e da morte de Heráclito são desconhecidas. Sabe-se, porém, que atingiu o acme de sua existência na época da 69a. Olimpíada, entre 504 e 500 a.c. Isto é suficiente para situá-lo uma geração após Xenófanes, ao qual se opôs e uma geração antes de Parmênides, o seu principal opositor. De sua vida pouco conhecemos. Aspectos fundamentais de sua doutrina: 7 Op,cit., p.28 8 Ibidem, p.30 9 Ibidem, p.35

1. A afirmação da unidade fundamental de todas as coisas. 2. Todas as coisas estão em movimento. 3. O movimento se processa através de contrários. 4. O fogo é gerador do processo cósmico. 5. O Logos é compreendido como inteligência divina que governa o real. 6. A sabedoria humana liga-se ao Logos. 7. O conhecimento sensível é enganador e deve ser superado pela razão. 3.6 Pitágoras de Samos 10 O que se conhece da figura de Pitágoras pertence mais ao mundo da lenda que à realidade. Atingiu o acme de sua existência e 530 a.c. Pessoa de difícil acesso, fundou uma escola para iniciados, e defendia uma doutrina mais religiosa que filosófica. Parece que o ponto central de sua doutrina religiosa é a crença na transmigração das almas, alia a uma forma de vida altamente ascética. Também é difícil estabelecer os aspectos da doutrina atribuíveis ao próprio Pitágoras e distingui-los dos seus discípulos. Contudo, em três pontos parece não haver dúvida: 1. A ideia de que o Número é o primeiro princípio; o Número e suas relações ou Harmonias são os elementos de todas as coisas; o estudo do Número reflete também no comportamento humano. 2. A forma dualista da teoria dos opostos. 3. A descoberta de verdades de ordem matemática, sobretudo do famoso teorema que lhe é atribuído. 3.7 Alcmeão de Cróton Nascido em Cróton, o mais importante centro pitagórico, Alcmeão é dos principais discípulos de Pitágoras. Foi jovem quando seu mete já era avançado e anos; deve por isto ter atingido o acme de sua existência no início do século V a.c. Há autores que afirmam não ter pertencido propriamente à escola pitagórica, mas mesmo aceita tal hipótese, é certo que recebeu dela uma grande influência. Seu interesse principal dirigia-se à Medicina, de que resultou a sua doutrina sobre o problema dos sentidos e da percepção, descrita posteriormente por Aristóteles. 10 Op.cit., p.

3.8 Parmênides de Eléia Pouco se sabe sobre a vida de Parmênides. Alguns autores colocam o acme de sua existência no ano 500 a.c.; outros em 475 a.c. Natural de Eleia, no sul da Itália, parece ter pertencido a uma família rica e de alta posição social. Segundo a tradição, seus primeiros contatos filosóficos foram com a escola pitagórica. O poema de Parmênides nos oferece a doutrina mais profunda de todo o pensamento présocrático. Mas é também a de mais difícil interpretação. O poema divide-se em três partes: prólogo, o caminho da verdade e o caminho da opinião. 3.9 Zenão de Eleia Atingiu o acme de sua existência entre 464 e 461 a.c. Foi, com certeza, discípulo de Parmênides. Parece que o seu livro foi escrito na juventude. Defensor apaixonado da doutrina de Parmênides, defende-a contra seus opositores. Espírito polêmico, introduz um novo método: em vez de refutar diretamente a posição dos seus adversários, aceita-a aparentemente para mostrar então suas contradições. Se o múltiplo e suas implicações forem aceitos, a contradição das consequências mostra-se em toda a sua força, por uma redução ao absurdo. Parece que Zenão elaborou quarenta destas deduções, o que fez Aristóteles chamá-lo de fundador da dialética. 3.10 Melisso de Samos Melisso atingiu o acme de sua vinda na 84a. Olimpíada, em 444-441 a.c. De sua vida sabese apenas que comandou a esquadra de Samos que derrotou os atenienses em 440 a.c. De seu poema Sobre o Ser, conhecemos apenas escassos fragmentos, que mostram o seu autor empenhado em defender e desdobrar de modo pessoal o pensamento de Pamênides. 3.11 Empédocles de Agrigento O acme de sua existência é situado por volta de 450 a.c. Tanto sua vida como sua doutrina tiveram enorme repercussão. Natural de Agrigento, membro de uma família influente, sabe-se que participou ativamente na preservação da democracia e sua cidade natal e que recusou-se a assumir as funções de rei. De seus dois poemas, Sobre a Natureza e Purificações, numerosos fragmentos chegaram até

nós. Supõe-se que tenha sofrido forte influência dos eleatas e dos pitagóricos. Há quatro elementos originais, e estes elementos compõem-se a formação de todos os entes: fogo, terra, água e ar. Estes e todo o processo do real são determinados pelas forças do Amor e do Ódio, que regem, ciclicamente, o cosmos. Coerente com estas opiniões e de grande repercussão é também a explicação que dá Empédocles ao conhecimento e ao processo do pensamento. 3.12 Filolau de Cróton Pitagórico, do sul da Itália, nascido em Cróton, Filolau floresceu na parte final do século V a.c. Foi discípulo de Lísis. Defensor da tirania, parece que a defesa desta lhe custou a própria vida. Diz-se que expôs em um livro a doutrina pitagórica, fato que deu a Filolau uma importância muito grande, pois os fragmentos que vieram até nós são os mais antigos escritos sobre a doutrina pitagórica. Este livro exerceu muita influência sobre o pensamento de Platão. 3.13 Arquitas de Tarento Arquitas nasceu em Tarento e viveu na primeira metade do século IV a.c. Foi, portanto, um contemporâneo de Platão e os dois encontraram-se no sul da Itália. Filiado à doutrina pitagórica, foi político e dedicou-se às ciências da Matemática, Mecânica e da Música. Numerosas obras lhe são atribuídas: com certeza, sabe-se que escreveu uma Ciência Matemática, uma Harmonia e, possivelmente um livro sobre mecânica. Os pouco fragmentos que se conhecem ocupam-se sobretudo de problemas de Matemática e de Música. 3.14 Anaxágoras de Clazomena Anaxágoras nasceu, provavelmente, no ano 500 a.c. Escreveu um livro, e o seu desprendimento do mundo e sua concentração em problemas astronômicos tornaram-no famoso. Contra os que afirmavam a impossibilidade de pensar o múltiplo, Anaxágoras procura explicar a natureza do múltiplo, dizendo em em cada coisa há uma porção de cada coisa. Exceção é o Espírito, que é ilimitado e autônomo; ao contrário das coisas, não misturado com nada. 3.15 Diógenes de Apolônia Da vida de Diógenes nada se sabe. Viveu na segunda metade do século V a.c. Contemporâneo de Anaxágoras é um dos últimos que desenvolve uma filosofia de tradição jônica.

Sabe-se que escreveu diversas obras: Meteorologia, Da Natureza do Homem, um ataque aos sofistas e um livro Sobre a Ciência Natural; a esta última obra pertencem os fragmentos que vieram até nós. Possivelmente contra Melisso, procura explicar a multiplicidade. E Diógenes o faz através daquilo que os homens chamam de ar, que ele toma por Deus, que atinge tudo, dispõe de tudo e está em tudo. 3.16 Leucipo de Abdera Provavelmente nascido em Abdera, Leucipo é a personalidade mais obscura de todos os présocráticos. Aristóteles refere-se a ele, associando-o frequentemente a Demócrito. Sua ascendência filosófica prende-se possivelmente a Melisso de Zenão de Eleia. Segundo Aristóteles, Leucipo seria o criador da teoria dos átomos, doutrina posterior elaborada por Demócrito. Atribui-se-lhe um livro, A Grande Ordem do Mundo; o único fragmento conhecido de Leucipo deriva de um capítulo deste livro, intitulado, Sobe o Espírito. 3.17 Demócrito de Abdera Demócrito nasceu provavelmente em 460 a.c. E morreu em 370 a.c., mas há muita incerteza em relação a estas datas. Desenvolve a teoria dos átomos de seu mestre. A realidade é composta de átomos e de vazio; a combinação dos átomos, que são infinitos em número e imperceptivelmente pequenos, explica formação de todos os fenômenos. Pelos átomos Demócrito explica também a percepção e o conhecimento. Grande parte de seus fragmentos prende-se a problemas de ética, política e educação.