, H. , M Trabalho realizado nos Serviços de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Anatomia Patológica do Hospital Heliópolis, S. Paulo, SP.

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Transcrição:

Artigo Original DENSID ENSIDADE MICROVASCULAR NO CARCINOMA DE LÍNGUA, A LAN F. G, M ARILENE P. R, H ITOMI O. Y ALI AMAR MAR,, ALAN F. GIOVANINI IOVANINI,, MARILENE P. ROSA OSA,, HITOMI O. YAMASSAKI AMASSAKI,, MARCOS B. DE CARVALHO ARVALHO,, ABRÃO RAPOPORT APOPORT*., M Trabalho realizado nos Serviços de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Anatomia Patológica do Hospital Heliópolis, S. Paulo, SP. B., A *. RESUMO OBJETIVO BJETIVO. Avaliar a densidade microvascular no carcino- ma epidermóide de língua oral, no sítio primário e em suas metástases linfáticas. MÉTODOS ÉTODOS. Foram avaliados retrospectivamente 30 pacientes com carcinoma epidermóide restrito à língua oral, submetidos a tratamento cirúrgico incluindo esvaziamento cervical. A densidade microvascular foi avaliada por imunohistoquímica empregando o anticorpo anti-cd3 e quantificada à microscopia óptica, no tumor primário e em suas metástases linfonodais. Foi avaliada a relação entre a densidade microvascular, as variáveis clínicas e histológicas e o prognóstico. RESULTADOS ESULTADOS. A densidade microvascular apresentou media- na de 15, vasos/campo (5,5 a 25,3) nos tumores primários e, vasos/campo ( a 32,2) nas metástases linfáticas. Foi observada uma relação inversa entre a densidade microvascular no tumor primário e na respectiva metástase linfática (r= -0,6 e p=0,0). A densidade microvascular não apresentou relação com outras variáveis histológicas ou com o prognóstico. CONCLUSÃO ONCLUSÃO. Há uma relação inversa entre a densidade micro- vascular no sítio primário e na metástase linfonodal, sugerindo um controle regional ou sistêmico da angiogênese. UNITERMOS: Câncer. Angiogênese. Metástase. Linfonodo. Língua. INTRODUÇÃO Os carcinomas epidermóides da língua são as neoplasias malignas mais freqüentes na boca. Quando operados em estádio avançado, esses tumores apresentam maior índice de margens comprometidas e, nestas circunstâncias, menor resposta ao tratamento radioterápico adjuvante 1,2. No momento, não existem meios de identificar os pacientes que, ainda que estejam com doença em estádio inicial, precisam de tratamento mais agressivo, ou aqueles com doença em estádio avançado que não se beneficiam com as alternativas terapêuticas disponíveis. A neoangiogênese é um processo essencial para o desenvolvimento tumoral e tem sido relacionada com a capacidade de metastatização e o prognóstico em neoplasias malignas de diversos sítios anatômicos. Embora a metastatização seja a característica mais marcante das neoplasias malignas, os resultados de diferentes estudos realizados em carcinomas de boca têm se *Correspondência: Praça Amadeu Amaral, 7 cj. 2 Paraíso CEP 01327-010 - São Paulo SP E-mail: cpgcp.hosphel@attglobal.net mostrado conflitantes quanto à importância da densidade microvascular e sugerem que o método, desenvolvido em outras neoplasias, necessita de adaptação,5,6. Este estudo tem por objetivo avaliar a densidade da neoangiogênese nos carcinomas epidermóides de língua, (tumor primário e metástases linfonodais), relacionando estes achados com a presença de metástase ou recidiva. MÉTODOS Foram revisados os prontuários de 10 pacientes com carcinoma epidermóide de língua oral submetidos a tratamento cirúrgico no Hospital Heliópolis entre 1979 e 199. Todos os pacientes haviam sido submetidos ao esvaziamento cervical. Foram selecionados os 30 pacientes que tiveram seguimento superior a meses (exceto dois pacientes com seguimento entre 1 e meses), cujos blocos parafinizados apresentavam condições adequadas para a revisão histológica e realização de imuno-histoquímica. A radioterapia adjuvante foi empregada nos pacientes que apresentaram margens cirúrgicas comprometidas ou linfonodos metastáticos confirmados histologicamente. Quanto ao sexo, 26 pacientes eram masculinos e quatro femininos. A idade média foi de 5 anos. Dois casos apresentavam estadiamento T1, 1 casos T2, 13 casos T3 e 1 caso T. O material foi submetido à revisão anatomopatológica convencional considerando os seguintes fatores: grau de diferenciação, padrão de invasão, presença de necrose, infiltrado inflamatório e desmoplasia. Nesta análise foram selecionados os cortes mais significativos do tumor primário e de suas metástases linfonodais, para realização de reação imuno-histoquímica com anticorpo anti- CD3 (Figura 1). Os cortes histológicos com 3 mm de espessura passaram por processo de desparafinização. O processo de recuperação antigênica empregou ácido cítrico 10 mm (ph 6,0) e forno microondas em três sessões de cinco minutos. A incubação das lâminas com o anticorpo primário foi realizada em câmara úmida, à temperatura ambiente, durante 60 minutos. O anticorpo anti-cd3 (fornecido pela Dako A/S Dinamarca) foi diluído em BSA na proporção de 1:50. Foi realizada a Rev Assoc Med Bras 02; (3): -

DENSIDADE MICROVASCULAR NO CARCINOMA DE LÍNGUA incubação com o anticorpo secundário e terciário do complexo streptavidinabiotina, kit LSAB (DAKO número KO 690) durante minutos, revelados pela diaminobenzidina e contra-corados por hematoxilina de Mayer. A mensuração da densidade microvascular foi realizada em três áreas de maior imuno-marcação: hot spots intra-tumorais. A contagem de vasos foi realizada à microscopia de luz com magnificação de 250 vezes, após sua individualização pelo software Imagelab-Softium. A análise estatística empregou o teste exato de Fisher para avaliar a diferença entre variáveis qualitativas, o teste de Mann-Whitney para variáveis quantitativas e o teste de Spearman para correlação entre variáveis. Foram considerados significativas as diferenças com erro alfa inferior a 5%. Este estudo foi realizado com apoio financeiro da FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. RESULTADOS A densidade microvascular apresentou mediana de 15, vasos/campo (5,5 a 25,3) nos tumores primários e, vasos/campo ( a 32,2) nas metástases linfáticas (Figura 2). Avaliando a densidade microvascular no sítio primário e na respectiva metástase, foi observada uma relação inversa nestes dois sítios, r= -0,6 e p=0,0, sendo que a densidade vascular mediana no tumor primário se relacionou com densidade vascular mediana nas metástases (Figura 3). Não houve relação significativa entre a densidade microvascular no sítio primário e as variáveis histológicas avaliadas rotineiramente, ou seja, grau de diferenciação, padrão de invasão, infiltrado inflamatório, necrose edesmoplasia (Tabela 1). As lesões iniciais (T1 e T2) apresentaram densidade microvascular mediana de 15,3 vasos/campo (11 a,6) e as lesões avançadas (T3 e T) apresentaram mediana de vasos/ campo (5,5 a 25,3), p=0,1 (Figura ). Os tumores primários com maior densidade microvascular não apresentavam metástases linfáticas. Os casos sem metástases (pn0) apresentaram mediana de vasos/ MICRO Figura 1 Vasos marcados pelo anticorpo anti-cd3. Aumento 00X Figura 2 Densidade microvascular no sítio primário e nas metástases linfonodais 3 32 26 1 2 Tumor Primário Metástase Linfática Min-Max 25%-75% Mediana Figura 3 Relação entre a densidade microvascular no sítio primário e nas respectivas metástases Metástase Linfática (vasos / campo) r = -0.6 p=0,0 3 30 26 22 1 1 10 2 (vasos / campo) Tumor Primário Rev Assoc Med Bras 02; (3): - 5

6 Tabela 1 Densidade microvascular no tumor primário Mediana NECROSE Q 25-75% Presente 15,3 11,0-19,6 Ausente 15,6 1,6-1,1 INFILTRADO INFLAMATÓRIO Discreto 15,5 11,0 -,3 Intenso 15,3 1,6-1,1 DESMOPLASIA Discreta,5 11,0-1,1 Intensa 15,3 13,9-1,1 DIFERENCIAÇÃO Grau I 15,0 1,6-19,6 Grau II - III 15,6 13,3-1,0 Figura Densidade microvascular no tumor primário em relação ao estadiamento T 2 2 T1-T2 pn0 R=0,6 p=0,0 ESTÁDIO T Figura 5 Densidade microvascular no tumor primário na presença de metástase ESTÁDIO pn campo (7 a 25,3) no tumor primário e os tumores metastáticos (pn+) apresentaram mediana de 1,6 vasos/campo (5,5 a 19,6), p=0, (Figura 5). T3-T pn+ A densidade microvascular do tumor não apresentou diferença significativa entre os pacientes que apresentaram recidiva da doença e aqueles assintomáticos por oca- sião da última consulta, com medianas de 15,1 vasos/campo (5,5 a,6) e 15, vasos/ campo (9,6 a 25,3) respectivamente, p=0,7 (Figura 6). O seguimento dos pacientes assintomáticos apresentou média de 6 meses, com o mínimo de 1 meses. DISCUSSÃO A relação inversa entre a densidade microvascular no sítio primário e nas metástases linfonodais sugere a existência de mecanismos de controle da disseminação da neoplasia maligna para o pescoço (regional) ou órgãos à distância (sistêmica). Modelos matemáticos explicam a ação mais significativa dos inibidores da angiogênese nos sítios distantes do tumor, em parte devido à meia-vida mais longa destas substâncias 7. Em modelo experimental, foi confirmado o efeito supressor e esclerosante das irradiações sobre a angiogênese tanto na lesão primária quanto nas metástases linfonodais. Não foi encontrada diferença significativa na densidade microvascular entre tumores metastáticos e nãometastaticos, semelhante ao observado por Leedy et al. Isto contrasta com o resultado de outros estudos, em que é relatado maior potencial de metastatização nos tumores mais vascularizados 3,9. A disseminação metastática depende de diversos fatores além da angiogênese, pois a maior metastatização poderia ser contrabalançada pela inibição do desenvolvimento das metástases nos tumores primários mais angiogênicos. Williams et al. 9, em pacientes com carcinoma epidermóide de boca sem metástases linfonodais clinicamente identificáveis, relataram maior índice de recidivas regionais entre os pacientes com tumores primários mais angiogênicos 9. A angiogênese no sítio primário poderia auxiliar na identificação dos pacientes com pescoço falso-negativo (ausência de metástase linfonodal clínica - N 0 e presença de metástase linfonodal histológica - pn+), supondo que os tumores mais angiogênicos possam manter as metástases linfonodais quiescentes, com maior probabilidade de exames clínicos falso-negativos. Cabe ressaltar que os linfonodos, no presente estudo foram submetidos à avaliação rotineira (2 cortes), com menor probabilidade de detecção das micrometástases. Neste contexto, a avaliação da angiogênese pode auxiliar a elucidar o significado clínico das micrometástases, fazendo a diferenciação entre focos neoplásicos Rev Assoc Med Bras 02; (3): -

DENSIDADE MICROVASCULAR NO CARCINOMA DE LÍNGUA Figura 6 Densidade microvascular no tumor primário e recidiva da doença 2 ASSINTOMÁTICO com crescimento suprimido e células em trânsito. São necessárias amostras maiores para confirmação desta hipótese e para definição de um ponto de corte adequado, não se descartando a possibilidade da feitura de cortes seriados. Diante de um possível efeito supressivo variável exercido pelo tumor primário, é difícil interpretar a angiogênese nas metástases. As medianas da densidade vascular foram semelhantes em ambos locais, embora as maiores densidades vasculares tenham sido observadas nas metástases (Figuras 2 e 3). Seria esperada maior propensão à metastatização entre os clones mais angiogênicos, mas a densidade vascular nas metástases pode refletir tanto as características dos clones originários como as diferenças no microambiente do linfonodo. A possibilidade de que metástases volumosas bem vascularizadas inibam a angiogênese no tumor primário também deve ser considerada. As células CD3 positivas, que podem representar células dendríticas imaturas ou precursores endoteliais, têm sido encontradas em maior número no sangue periférico e no infiltrado inflamatório tumoral em portadores de câncer de cabeça e pescoço. Estas células causam imunossupressão local, podem estimular a angiogênese e têm sido associadas com pior prognóstico 10-. Embora estas células tenham sido identificadas no presente estudo, o CD3 é um marcador de membrana e o método imuno-histoquímico empregado não é adequado para a sua quantificação. Paradoxalmente, a necrose pode estar relacionada à maior angiogênese, STATUS RECIDIVA DA DOENÇA o que seria explicado pela resposta inflamatória desencadeada por este tipo de morte celular. Leek et al 13 apontam a presença de maior angiogênese em áreas adjacentes aos focos de necrose. A necrose, porém, também pode proporcionar a maturação das células dendríticas CD3+, diminuindo seus efeitos deletérios (enquanto imaturas) e proporcionando a apresentação antigênica 1. No entanto, não foi observada relação entre a necrose, o infiltrado inflamatório e a densidade microvascular no presente estudo. Uma outra forma de avaliar a angiogênese consiste na mensuração da distância entre os vasos, que pode ser um indicador mais fidedigno da oxigenação tumoral do que a densidade vascular, mas esta variável não foi avaliada 15. A relação de causa-efeito entre a necrose, a resposta inflamatória, a angiogênese e a proliferação do estroma ainda precisa ser esclarecida. As interleucinas e metaloproteinases que participam nestes processos também podem favorecer a invasão dos tecidos adjacentes pelas células neoplásicas, uma etapa importante no processo de metastatização -1. A interação dinâmica entre estes fatores, porém, impõe a realização de estudos in vivo. A angiogênese, isoladamente, não apresentou relação com a recidiva da doença em pacientes submetidos a tratamento cirúrgico. Para ter importância prognóstica individual, esta variável deveria apresentar resultado significativo mesmo em amostra pequena. Os resultados encontrados neste estudo sugerem que a angiogênese deva ser interpretada no contexto loco-regional. CONCLUSÕES 1. Não houve relação significativa entre a densidade microvascular no tumor primário e as variáveis histológicas avaliadas (grau de diferenciação, padrão de invasão, infiltrado inflamatório, necrose e desmoplasia). 2. Não houve diferença significativa entre a densidade microvascular nos pacientes sem metástase linfonodal clínica (pn0) e nos com metástase linfonodal histológica (pn+). 3. Não houve diferença significativa da densidade microvascular no período pós-operatório dos pacientes assintomáticos e nas recidivas.. Houve relação inversa da densidade microvascular no tumor primário e na respectiva metástase. S UMMARY MICROVASCULAR DENSITY IN MA OF THE TONGUE CARCINO- BACKGROUND. Assessment of microvascular density in squamous cell carcinoma of the oral tongue (primary lesion and metastasis). METHODS. Immunohistochemical analysis by anti CD-3 of neoangiogenesis density and its relation with clinical and histological data concerning the prognosis. After optic microscopy amplification, the relation between microvascular density, clinicohistological data and prognosis, was established. RESULTS. The microvascular density presented 15. vessels/field (5.5 to 25.3) in primary tumors and. vessels/field ( to 32.2) in lymph node metastases. It was observed an inverse relation between microvascular density in primary lesions and their lymph node metastasis (r= -0.6 and p=0,0). CONCLUSIONS. No evidence was detected between microvascular density, histological features and prognosis. There is an inverse relation between microvascular density in primary tumor and in lymphonode metastasis, suggesting a regional or systemic control of angiogenesis in squamous cell carcinoma of the oral tongue. [Rev Assoc Med Bras 02; (3): -] KEY WORDS: Cancer. Angiogenesis. Lymph node. Metastasis. Tongue. Rev Assoc Med Bras 02; (3): - 7

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