COACHING COMO METODOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO DO EDUCADOR LÍDER



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Transcrição:

COACHING COMO METODOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO DO EDUCADOR LÍDER STEPHANIE BARROS BATISTA 1 RESUMO Este trabalho discute a importância do coaching como ferramenta para melhoria do processo de ensino-aprendizagem na educação superior. Para tanto, elencam-se o papel e os desafios do educador no ensino superior, discute-se a necessidade deste profissional ser um educadorlíder, que trabalha seu auto-conhecimento, identifica suas necessidades, transforma-as em objetivos realizados e investe em sua formação continuada. Com essa postura, o educador contribuirá para a formação de cidadãos éticos, questionadores e condutores de suas vidas, futuros educandos-líderes. Para a realização desse estudo, recorreu-se à revisão de literatura das áreas de educação, liderança e de coaching, tais como Ausubel (1980), Freire (1996), Outhwaite e Bottomore (1996), Chiavenato (2004), Pollard (1999) Marques (2013) e Zaib (2013). PALAVRAS-CHAVE: Educador. Ensino Superior. Educador-Líder. Coaching. 1 INTRODUÇÃO Vive-se numa sociedade marcada pela globalização, na qual as informações são transmitidas com agilidade e eficiência. Para compreender este cenário, as pessoas necessitam investir em leituras e pesquisas, além de assistir a telejornais diversos, pois este contexto exige que se elejam informações significativas para que se desenvolva o pensamento crítico. Ao refletir-se sobre a educação superior neste contexto, constata-se que a responsabilidade do processo de ensino-aprendizagem não é exclusiva dos professores. No entanto, não se pode excluir estes profissionais da análise deste processo de educação, haja vista que, ao falar de educação, todos os olhares se voltam para sua prática, para sua postura, para o seu pensar, ou seja, para o ser educador. Constantemente, vive-se à expectativa de um novo perfil para o educador do ensino superior, que deve adequar-se às características e necessidades de diferentes alunos, em suas diversas fases de seu desenvolvimento. Espera-se, portanto, que o professor desperte a atenção dos alunos, garantindo o seu sucesso profissional e a participação social num mundo cada vez mais exigente. Mas como o professor, com tantas atribuições e responsabilidades, pode contribuir para que o aluno ultrapasse os limites da universidade com seus 1 Administradora, pela Universidade Federal do Piauí UFPI. Tecnóloga em Gestão de Recursos Humanos, pelo Instituto Federal do Piauí IFPI. Especialista em Gestão de Pessoas Universidade Estadual do Piauí UESPI. Especializanda em Docência do Ensino Superior Faculdade Maurício de Nassau FAP. e-mail: stephaniebarros1@hotmail.com

2 aprendizados? Qual o real papel do professor no ensino superior e que desafios precisa enfrentar? É consenso que, na arte e desafio de educar, o professor possui um papel de suma importância no que se refere à transmissão de conhecimentos e formação intelectual de seus educandos. Entretanto, sabe-se também que a formação intelectual vai além do mero repassar conhecimentos. No processo de ensino-aprendizagem, a teoria discutida precisa ser aliada à prática, e, para isso, a postura do profissional na sala de aula interfere significativamente na eficácia da aplicação dos conteúdos. O educador, assim como todo ser humano e profissional que busca se destacar na sua missão, precisa também ser um líder, alguém que como um maestro conduz os seus alunos rumo ao aprendizado e os influencia positivamente na busca da obtenção dos objetivos estabelecidos. Isso posto, pretende-se com esta pesquisa, de natureza qualitativa, discutir a importância do uso do coaching como ferramenta para melhoria do ensinoaprendizagem no ensino superior. Para a obtenção desse objetivo, realizou-se um estudo bibliográfico a respeito dos obstáculos enfrentados pelo professor e do perfil que se deseja que ele tenha, bem como sobre a liderança e a possibilidade do uso do coaching no campo educacional. Ressalta-se que o interesse por este tema nasceu após a participação em um curso de formação de coaching. A partir daí, passou-se a refletir sobre as possibilidades de uso desta estratégia na educação superior, em busca de melhores resultados no ensino, haja vista que esta é a atividade fim de qualquer instituição de ensino, independentemente de que nível trabalhe. Faz-se necessário registrar que a utilização do coaching na educação no Brasil é uma novidade. Entretanto, o coaching educacional já é bastante difundido na Europa, EUA e América do Sul, conforme informa Zaib (2013, p. 1). No Brasil, a criação da Escola Brasileira de Coaching Educacional (EBCE), e o lançamento do Manual de Coaching Educacional, na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), constituem importantes eventos de difusão do uso dessa estratégia no campo educacional. O referido manual foi lançado em 2013, no Rio de Janeiro, São Paulo, Equador e Portugal. A seguir discute-se algumas ideias de estudiosos das áreas de educação, liderança e de coaching.

3 2 O PAPEL E DESAFIOS DO EDUCADOR NO ENSINO SUPERIOR Seria fácil relatar o papel do educador como responsável pelo processo de aprendizagem de determinados conteúdos na sala de aula, no entanto, muito mais do que o ensino, o seu papel é também criar uma relação harmoniosa com seus alunos, acompanhar de perto o desempenho deles, entusiasmá-los, por meio da didática utilizada, bem como tentar fazer com que se apaixonem pela profissão pela qual optaram. A vocação, o conhecimento e a postura na sala de aula deste educador são fundamentais para que o seu papel dentro da sala de aula seja cumprido com maestria e eficácia. Comumente depara-se com salas de aula, nas quais o conhecimento é trabalhado pelos educadores como verdades absolutas, que não podem ser questionadas, quando na realidade deveria ser trabalhado com discussões, para assim possibilitar a formação de alunos críticos que, ao entrarem em contato com a realidade, interagem, discutem, agregam e cocriam os diversos saberes. Em contrapartida, muitos de nossos alunos também não questionam a realidade em que vivem e isso, muitas vezes, é resultado do tipo de educação trabalhada pelos professores, que não oportunizaram a esses alunos uma formação capaz de desenvolverem uma postura reflexiva, crítica diante da realidade. A esse respeito, Freire (1996) é contundente em defender que: ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. (FREIRE, 1996, p. 12) Reforça a defesa por uma formação crítica, o exposto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 1996), no que se refere ao Ensino Superior, em seu capítulo IV, art. 43, onde expressa as finalidades deste nível de educação, dentre as quais destacamos: I Estimular a criação cultural e o desenvolvimento de espírito científico e do pensamento reflexivo; II formar diplomados nas diferentes áreas do conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. (LDB, 1996, p. 43).

4 Como afirma a Lei, constitui um dos objetivos do Ensino Superior colaborar para a formação de um profissional crítico e competente, em síntese, formar um cidadão. O desafio do educador, principalmente no ensino superior, de onde deverão sair profissionais cidadãos, é fazer com que os alunos expressem seus pontos de vista, construam visões críticas do mundo e produzam conhecimentos. Uma vez que o educador é o principal contato do aluno, passa a ser um dos maiores responsáveis por sua mudança, não podendo ficar acomodado com o repasse de conhecimento de forma fechada, sem interdisciplinaridade, pelo contrário, deve assumir uma postura de intermediador, criando condições para que seus alunos reflitam, critiquem e construam novos saberes. A defesa sobre a importância de se considerar os conhecimentos prévios dos discentes para construção dos conteúdos a serem trabalhados em sala de aula é unanimidade por parte de grandes teóricos das mais variadas áreas do conhecimento, em especial, da área de educação e da psicologia da educação, a exemplo de Freire, Piaget e Ausubel. De acordo com o autor americano Ausubel (1980, apud, Fernandes, 2011, p. 72), o fator isolado mais importante influenciando a aprendizagem é aquilo que o aprendiz já sabe. Descubra isso e ensine-o de acordo. Desse modo, valorizando o conhecimento prévio dos educandos, o professor pode conquistá-los a participarem ativamente das aulas, despertando neles o interesse em aprender os conteúdos. O pensamento de Freire sobre a relevância de o educador levar em conta o conhecimento prévio do aluno vai ao encontro do ponto de vista de Ausubel. Para Freire (1996, p. 12), o conhecimento que os alunos possuem constitui um amplo esquema de ressignificação, devendo ser mobilizado durante todo o processo de ensino-aprendizagem, pois a partir deles o indivíduo interpreta o mundo. Assim, entende-se que o conhecimento só se torna significativo para o aluno quando é construído na ação participativa e não quando é recebido de maneira passiva. Para facilitar o processo de construção do conhecimento, o professor precisa criar um ambiente interessante, propício à investigação, planejar as atividades com estratégia adequadas, incentivar as pesquisas e a curiosidade e criar oportunidades para a participação de todos. Soma-se a esses aspectos a importância de conhecer as experiências de vida dos alunos, a realidade em que estão inseridos, ouvi-los e respeitá-los, demonstrando amor à sua profissão, pois a postura do professor na sala de aula, o relacionamento, baseado no respeito, a ser construído com seus alunos, também tem papel fundamental nesse processo. Acredita-se que o educador que assume esta postura diante de seus alunos é um líder, haja vista que entende que sua função de educador é estar a serviço da aprendizagem do

5 aluno. E não de uma aprendizagem qualquer, mas de um modo de aprender a ver as coisas com olhar crítico, reflexivo, o que o possibilitará a tornar-se, de fato, um agente transformador. Como visto, os desafios do professor são muitos e não tão fáceis de serem enfrentados, caso analisem-se as dificuldades pelas quais, há décadas, passa a educação brasileira. Entretanto, mesmo entendendo o quanto é relevante a infraestrutura das escolas e o salário dos professores, estes temas não serão discutidos, uma vez que não constituem objeto desta pesquisa. 3 EDUCADOR-LÍDER Não há como duvidar que o modo como ocorre a interação professor-aluno influencia sobremaneira na motivação ou na falta desta no aluno. A fala de Freire ilustra bem esse pensamento: o professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca. (FREIRE, 1996, p. 66) Ao refletir-se sobre essa afirmação de Freire (1996), percebe-se uma estreita semelhança entre a esfera educacional e a esfera organizacional, isto é, entre o professor como gestor de sua sala de aula, no dia a dia com seus alunos, e um gerente ou diretor de uma empresa, relacionando-se com seus subordinados. Assim, como o responsável por um determinado setor de uma empresa precisa influenciar seus colaboradores a desenvolverem suas atividades com responsabilidade, o professor, como já foi mencionado, necessita influenciar seus alunos a ter sucesso na vida acadêmica e, consequentemente, na vida profissional. A palavra influência relaciona-se diretamente à palavra liderança desde o surgimento desta. De acordo com Outhwaite e Bottomore (1996), liderança é a qualidade que permite a um indivíduo comandar outros, o que implica relação mútua entre líder e liderado. O Educador invariavelmente é o líder. Fazendo uma relação com o conceito de liderança mais popularmente difundido, ser líder é ter capacidade de influenciar as pessoas a alcançarem um determinado objetivo neste caso específico dentro da sala de aula. Nesse sentido, a

6 maneira como o professor se comporta, lida com seus alunos e compartilha seus conhecimentos pode influenciar na definição dos perfis profissionais a serem formados. Chiavenato reforça ainda, que a liderança é imprescindível em todos os tipos de organização humana, nas empresas ou em cada um de seus departamentos. O administrador precisa conhecer a natureza humana e saber conduzir as pessoas, isto é, liderar. (CHIAVENATO, 2004, p. 100). Sendo a universidade uma organização, mesmo que com suas especificidades, torna-se também importante que se pense quais aspectos da liderança podem contribuir para o maior aprimoramento de seus educadores dentro da sala de aula. Para as teorias comportamentais, que estudam a liderança no que diz respeito ao estilo de comportamento para liderar, há, de acordo com Barros (2013), três estilos de liderança, a saber: liderança autocrático-burocrática: estilo no qual o líder é centralizador; é ele quem fixa as diretrizes, sem nenhuma participação do grupo, do mesmo modo que determina as providências técnicas para a realização das tarefas. É o estilo no qual os líderes só mandam, não co-mandam; qualquer questionamento sobre as ordens recebidas é considerado insubordinação. liderança liberal ou laissez-faire: este estilo é caracterizado pela liberdade total para as decisões grupais ou individuais, assim, a participação do líder é mínima. Nesse estilo, não há estrutura ou supervisão; as metas e padrões de desempenho são definidos pelos próprios membros, portanto, o líder não tem autoridade, é simplesmente alguém à disposição do grupo. (ENGSTROM; MACKENZIE,1974, apud ALABY, 2011, p. 31). liderança democrático-participativa: nessa abordagem, o líder é o condutor e orientador do grupo, incentivando a participação democrática das pessoas. Líder e subordinados desenvolvem comunicações espontâneas, francas e cordiais. Em síntese: o líder democrático delega autoridade, incentiva a participação, confia nos subordinados e usa o poder de referência para a obtenção dos resultados almejados. (LACOMBE, 2009, apud BARROS, 2013). Analisando os estilos de liderança, entende-se que dentro do contexto atual da docência do ensino superior não há lugar para líderes autocrático-burocrático, que não consideram a participação de seus alunos e nem incentivam a formação de seu senso crítico, assim como um líder liberal também se torna inviável, seria massacrado pelos alunos, não conquista autoridade e não os conduzirá a nenhum objetivo, uma vez que a sua participação é elementar nesse estilo. Um verdadeiro educador-líder deve se inspirar na liderança democrático-participativa, agindo como um motivador, criando condições que facilitem o

7 aprendizado do aluno, bem como sua interação com seus colegas, educadores e com o próprio conteúdo a ser trabalhado. Prosseguindo as discussões sobre os estilos de liderança, observa-se que as teorias evoluem, modificam-se, o que também acontece com os estudos sobre liderança. Atualmente muito se fala sobre a liderança transformacional ou carismática, cuja noção aproxima-se muito do que alguns autores denominam liderança servidora. Pollard (1999) define o líder servidor como: um líder com intenção de servir pode proporcionar esperança, em vez de desespero, e pode servir de exemplo para aqueles que estão em busca de direção e objetivo para suas vidas e que desejam realizar e colaborar. (POLLARD, 1999, p. 242). Desse modo, líderes servidores devem ser pessoas compromissadas e não simples expectadores ou detentores de cargos ou funções. Esses líderes ouvem e aprendem com seus liderados. Estes líderes não se consideram detentores da verdade. Percebe-se que essa concepção de líder assemelha-se às palavras de Freire (1996) quando este se refere ao professor amoroso da vida e das gentes. Na próxima seção, apresentam-se algumas discussões sobre o coaching, como uma ferramenta estratégica que pode ser utilizada na educação superior, para auxiliar o professor no processo ensino-aprendizagem. 4 COACHING COMO FILOSOFIA DE LIDERANÇA E FERRAMENTA EDUCACIONAL O coaching é uma ferramenta de desenvolvimento, mundialmente conhecida, considerada como uma filosofia de Liderança. Marques (2013) concebe o coaching como um processo que objetiva aumentar o desempenho de um indivíduo, grupo, ou empresa, gerando resultados positivos, por meio de metodologias, ferramentas e técnicas guiadas por um profissional, denominado coach, em uma parceria coesa e dinâmica com o cliente, chamado coachee. Esta relação de parceria é reforçada por Gallwey (2013, apud MARQUES, 2013, p.155), ao destacar que o coaching é uma relação de parceria que revela/liberta o potencial das pessoas de forma a maximizar o desempenho delas. É ajudá-las a aprender ao invés de ensinar algo a elas. Portanto, analisando os desafios que o professor precisa enfrentar em sala de aula, bem como as exigências sobre o seu perfil para que ele desempenhe com eficácia o seu papel de

8 educador no contexto atual, observa-se que o coaching pode ser utilizado como uma nova metodologia de ensino dentro da sala de aula e como uma excelente ferramenta para o avanço do processo educacional no ensino superior. Para tornar-se um profissional Coach, é necessário que se faça um curso de formação em um dos institutos credenciados. No entanto, caso o educador não deseje ser um coach, pode participar do curso, e aproveitá-lo informalmente, utilizando-se de suas técnicas e ferramentas e potencializando os seus resultados através de seus alunos. Em sua essência, o coaching visa a identificar no indivíduo o seu estado atual (onde ele está, o que está fazendo) e qual o seu estado desejado (o que ele pretende alcançar, ou aonde quer chegar). O coach, nesse processo, age como um mediador, auxiliando o coachee a identificar suas necessidades, trabalhando com foco na disciplina e no comprometimento, ajudando-o na elaboração de planos de ação, que o façam sair da zona de conforto, acompanhando-o e despertando-o para a importância da efetivação do plano e auxiliando-o, por meio de um processo de mudança e transformação, a alcançar o seu estado almejado. Segundo o diretor do Instituto de Neurolinguística e Psicologia Aplicada - INEP, professor José Zaib, o coaching pode ser aplicado no processo educacional porque ele foca, em primeiro lugar, o auto-conhecimento, o auto-desenvolvimento, a melhoria do professor, do gestor educacional. Parte-se de um pressuposto universal: nada pode ser mudado; mas você pode mudar (ZAIB, 2013, p. 1). Para ele, a partir do momento em que você muda, é possível que o contexto em torno de você mude através de sua liderança. Desse modo, o primeiro passo para transformar o processo educacional é transformar o professor. O processo de coaching nos dá três elementos potenciais: consciência, responsabilidade e ação, afirma Zaib (2013). Prosseguindo sua defesa em favor do uso do coaching na educação, Zaib ( 2013) declara que esta é mais uma ferramenta para o professor. A educação tradicional nos dá a pedagogia, a didática e uma série de outras metodologias, desenvolvidas por pensadores que são colocadas em prática: temos Piaget, Vygotsky, Paulo Freire, Maria Montessori e muitos outros. O coaching é disponibilizado aos educadores como mais uma ferramenta que pode se tornar poderosa, uma vez que o profissional se aproprie dela e a utilize com proficiência. Para alcançar resultados excelentes, o docente precisa, inicialmente, ter habilidade para mudar seus comportamentos, para assim desenvolver habilidades específicas, isso é sair do estado atual para avançar ao estado desejado. O coaching auxilia-o nesse processo. A mudança deve começar no docente para só então ser replicada, inclusive, como filosofia de vida para os alunos.

9 As técnicas dessa ferramenta conduzem o sujeito, primeiramente, ao processo de reavaliação pessoal e profissional, fazendo com que as pessoas descubram seus pontos fortes, suas capacidades e habilidades, e aspectos a serem melhorados, bem como as competências que estimulam as pessoas a terem o melhor desempenho, de acordo com as suas aptidões e as funções exercidas na organização. (TRENDS, p. 10, 2005, apud DEMARCHI, [s.d.], p. 2). O processo de autoconhecimento proporcionado pelo coaching é o pontapé inicial. Uma vez adotado dentro da sala de aula, o educador poderá iniciar com os seus alunos este processo de autoconhecimento, fazê-los refletir sobre onde estão e aonde desejam chegar e fazê-los traçar, baseado em suas necessidades e potencialidades, o plano ou caminho a ser percorrido até o alcance de seus objetivos. Partindo do pressuposto que o coaching é um processo com início, meio e fim e que necessita da ação, ou vontade dos envolvidos, o êxito na sala de aula será percebido no fortalecimento da relação aluno-professor e, consequentemente, no avanço da eficácia de seu processo de ensino-aprendizagem. Os resultados alcançados com o coaching podem ser mensurados pela mudança de comportamento, a partir do momento em que os indivíduos, orientados por suas técnicas e ferramentas, começam a pôr em prática ações que antes não realizavam, aumentando assim a sua performance, seu desempenho e, por conseguinte, potencializando sua qualidade de vida e sua satisfação pessoal. Encerra-se essa seção concordando com o posicionamento de Zaib (2013) para quem o professor, após passar pelo processo de coaching, não se transforma em um super-herói. Porém, conscientiza-se de sua capacidade: descobre que seu potencial vai além daquele formatado pela educação tradicional. Esse profissional, como pessoa, assume que pode muito mais daquilo que vem fazendo. E quando o educador toma essa consciência, começa um processo de transformação poderoso. (ZAIB, 2013, p. 1). 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Constata-se, pelas discussões apresentadas, que muitas são as funções e os desafios que o professor enfrenta no dia a dia, cheio de adversidades. Estes desafios iniciam-se desde a tentativa de despertar o interesse de seus alunos, por meio de sua didática, de sua postura como educador, da criação de laços entre educador-aluno, até o desafio da formação de alunos questionadores, cidadãos éticos e agentes de transformação social. Desse modo, salienta-se que não se pretendeu esgotar este tema, mas sim proporcionar uma reflexão sobre o papel do professor de ensino superior, analisando se os princípios de liderança podem auxiliá-lo na obtenção de êxito no processo de ensino-aprendizagem, bem

10 como apresentando a ferramenta coaching como mais uma metodologia a ser utilizada em prol da eficácia no processo educacional. Defende-se que a liderança democrático-participativa, servidora ou transformacional é a mais adequada a essa nova realidade da educação superior. Necessita-se de educadores que sejam exemplos a serem seguidos, que motivem seus alunos, dando- lhes reforço positivo em suas habilidades e despertando o que possuem de melhor, isto é, precisa-se de educadoreslíderes. Sendo assim, o coaching torna-se uma ferramenta estratégica neste processo. Suas técnicas e ferramentas, uma vez interiorizadas pelos educadores e posteriormente replicadas para seus alunos, podem auxiliá-los no que se acredita ser a formação de uma nova geração de educandos: questionadores, agentes de transformação, motivados e motivadores, que transformam adversidades em oportunidades e que estão totalmente comprometidos com o alcance de suas metas e objetivos. COACHING AS A METHODOLOGY DEVELOPMENT LEADER EDUCATOR ABSTRACT Stephanie Barros Batista This paper aims to discuss the importance of coaching as a tool to be used to improve the process of teaching and learning in higher education. To do so, we list the role and challenges of the educator in higher education, as well as discusses the need this person to be a teacher leader, working his self-knowledge, identify their needs, transforms them into goals made and invests in their continuing education. With this attitude, and intellectual trainer through the sharing of knowledge, the educator will contribute to the formation of ethical citizens, and questioning drivers of their lives, future-educated leaders. To conduct this study, we used the literature review authors in the areas of education, leadership and coaching, such as Ausubel (1980), Freire (1996), Outhwaite and Bottomore (1996), Chiavenato (2004), Pollard (1999 ) Marques (2013) and Zaib (2013). KEYWORDS: Educator. Higher Education. Educator-Leader. Coaching. REFERÊNCIAS ALABY, José Assan. Líderes devem ser filósofos? In: Marinho, Robson M.; Oliveira, Jair Figueiredo de. (org.). Liderança: uma questão de competência. 1ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2011. BARROS, Francisca da Rocha. Do comandar ao servir: noções de poder nos discursos sobre liderança. Recife: UFPE, 2013. Tese (Doutorado em Letras-Linguística).

11 BRASIL, Lei Nº 9.394. Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Promulgada em 20 de dezembro de 1996. Brasília: Editora do Brasil, 1996. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. 3ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. DEMARCHI, Marcos Tadeu. Coaching educacional uma abordagem transformadora capaz de alterar a prática educativa e o papel do docente. Disponível em: http://www.ebah.com.br/content/abaaagpp8af/coaching-educacional-abordagemtransformadora-capaz-alterar-a-pratica-educativa-papel-docente. Acesso em: 25/07/2014. FERNANDES, E.; IWASZKO, T. B. M.;SCARPA, R. Revista Nova Escola, ano XXVI, nº 240. Fundação Victor Civita. São Paulo, abril, 2002. 90 p FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. MARQUES, José Roberto. Leader Coach Coaching como Filosofia de Liderança. São Paulo: Ser Mais, 2013. OUTHWAITE, William e BOTTOMORE, Tom. Org.). Dicionário do pensamento social do séc. XX. Rio de Janeiro: Zahar,1996. POLLARD, C. William. O líder Servidor. In: HESSELBEIN, Frances; GOLDSMITH, Marshall; BECKHARD, Richard. O líder do futuro. São Paulo: Futura, 1999. ZAIB, José. Coaching: uma ferramenta para transformar educadores em líderes. 26/ 06/2013. Folha Dirigida. Entrevista concedida a Alessandra Moura Bizoni.Disponível em:http://www.meirafernandes.com.br/site/noticias-e-artigos/?id=2458. Acesso em: 25/07/2014.