Introdução à Física Computacional 2. Joniel Alves Departamento de Física, Universidade Federal do Paraná, Curitiba

Documentos relacionados
O Método de Monte Carlo

Interpolação polinomial: Polinômio de Lagrange

Universidade Federal do Pampa UNIPAMPA. Teoria Cinética do Gases

Geralmente, fazemos simplificações e desenvolvemos modelos. A matéria é composta por átomos e moléculas

Funções de Correlação. Com isso, nossa amplitude de transição fica em uma forma bastante reveladora: Paremos aqui um momento para notar duas coisas:

Notas de aula - Profa. Zélia Aulas 07,08,09 e 10. Capítulo 3 Relações formais e sistemas amostrais (exemplares)

ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE UM GÁS POR DINÂMICA MOLECULAR.

Mecânica I (FIS-14) Prof. Dr. Ronaldo Rodrigues Pelá Sala 2602A-1 Ramal 5785

Análise de dados em Fisica de Particulas

Introdução aos Números Pseudo-aleatórios. Profa. Dra. Soraia Raupp Musse

Entropia e a Segunda Lei da Termodinâmica III. Entropia e Pressão. Marcos Moura & Carlos Eduardo Aguiar

ESTUDO COMPARATIVO DE MODELOS DE COEFICIENTES DE ATIVIDADE DA FASE LÍQUIDA PARA SEPARAÇÃO DA MISTURA ETANOL-ÁGUA

MODELAGEM E SIMULAÇÃO

Comprimento de Arco. 1.Introdução 2.Resolução de Exemplos 3.Função Comprimento de Arco 4.Resolução de Exemplo

Exemplos de Aplicações das Funções Exponencial e Logarítmica em Biologia (com uma introdução às equações diferenciais)

DCBD. Avaliação de modelos. Métricas para avaliação de desempenho. Avaliação de modelos. Métricas para avaliação de desempenho...

2 Metodologia. Simulação de defeitos pontuais em um sólido de Lennard-Jones

Instituto de Física USP. Física Moderna I. Aula 4. Professora: Mazé Bechara

étodos uméricos ZEROS DE FUNÇÕES Prof. Erivelton Geraldo Nepomuceno PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

SME Cálculo Numérico. Lista de Exercícios: Gabarito

Para ajudar a interpretar os resultados, o Cartão de Relatórios do Assistente do teste de % de defeituosos para 1 amostra exibe os seguintes

Dados no R n. Dados em altas dimensões 29/03/2017

Biologia Estrutural. Cálculo da Densidade Eletrônica. Prof. Dr. Walter Filgueira de Azevedo Jr. wfdaj.sites.uol.com.br

Partícula em um Poço de Potencial Infinito e o Método Variacional de Monte Carlo

Introdução à Modelagem Molecular

Testes de Hipóteses Paramétricos

Conteúdos 5, 6 e 7 de Fundamentos do Eletromagnetismo

x exp( t 2 )dt f(x) =

Equações diferenciais ordinárias

5 Análise Experimental

4 Cálculo de Equivalentes Dinâmicos

Instituto de Física - UFF Profissional - 11 de Dezembro de 2009 Resolva 6 (seis) questões, com pelo menos uma questão de cada uma das

Aula 02 : EM-524. Capítulo 2 : Definições e Conceitos Termodinâmicos

Ferromagnetismo. 2 Modelo de Ising

f(h) δ h p f(x + h) f(x) (x) = lim

Intervalos Estatísticos para uma única Amostra - parte I

Análise de Algoritmos

E03 - CAMPO ELÉTRICO E MAPEAMENTO DE EQUIPOTENCIAIS. Figura 1: Materiais necessários para a realização desta experiência.

Resolução de sistemas de equações lineares: Método dos Gradientes Conjugados

Teoria dos Jogos Algorítmica Maximização de Lucros no Design de Mecanismos

SSC643 -Avaliação de Desempenho de Sistemas Computacionais Sarita Mazzini Bruschi

4 Modelagem Numérica. 4.1 Método das Diferenças Finitas

Note que este funcional gerador agora tem sempre potências ímpares de J, de forma que as funções de n pontos serão nulas para n par:

INFERÊNCIA ESTATÍSTICA. ESTIMAÇÃO PARA A PROPORÇÃO POPULACIONAL p

CONDUÇÃO DE CALOR APLICADO AO ESTUDO DE CONCEITOS MATEMÁTICOS DO ENSINO MÉDIO. Douglas Gonçalves Moçato*** Luiz Roberto Walesko*** Sumário

Avaliação Quantitativa de Sistemas

Unidade: Risco e Retorno. Unidade I:

NOTAS DE AULAS DE FÍSICA MODERNA

Modelos de Regressão Linear Simples - Análise de Resíduos

A Estrutura Eletrônica dos Átomos. Prof. Fernando R. Xavier

étodos uméricos AJUSTE DE FUNÇÕES Prof. Erivelton Geraldo Nepomuceno PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

A Radiação do Corpo Negro e sua Influência sobre os Estados dos Átomos

Cálculo Numérico / Métodos Numéricos. Solução de equações polinomiais Briot-Ruffini-Horner

Métodos Quantitativos para Ciência da Computação Experimental

PROBABILIDADE E ESTATÍSTICA. Profa. Dra. Yara de Souza Tadano

Variáveis Aleatórias Contínuas e Distribuição de Probabilidad

PROBABILIDADE E ESTATÍSTICA. Profa. Dra. Yara de Souza Tadano

CF372 Mecânica Quântica I Os Postulados da Mecânica Quântica

Capítulo 7 Transformadas de Fourier. definimos a sua transformada de Fourier

PROBABILIDADE E ESTATÍSTICA. Profa. Dra. Yara de Souza Tadano

Modelos de teias tróficas e seleção de modelos. Mathias M. Pires

Determinação de raízes de polinômios: Método de Briot-Ruffini-Horner

Taxa Interna de Retorno (TIR)

AULA 07 Distribuições Discretas de Probabilidade

- identificar operadores ortogonais e unitários e conhecer as suas propriedades;

Medida do Tempo de Execução de um Programa. Bruno Hott Algoritmos e Estruturas de Dados I DECSI UFOP

SOLUÇÃO ANALÍTICA E NUMÉRICA DA EQUAÇÃO DE LAPLACE

Resolução de problemas com apenas restrições lineares de igualdade

Resolução de sistemas de equações lineares: Fatorações de matrizes

Aula 10 Produto interno, vetorial e misto -

A Importância do Desenho Amostral. Donald Pianto Departamento de Estatística UnB

Cap. 4 - Capacitância e Dielétricos

Instrumentação Industrial. Fundamentos de Instrumentação Industrial: Introdução a Metrologia Incerteza na Medição

Integrais Triplas em Coordenadas Polares

Prof. Fernando Carneiro Rio de Janeiro, Outubro de 2015

Simulação de Sistemas. Adaptado de material de Júlio Pereira Machado (AULA 17)

Eletrostática: Capacitância e Dielétricos

Cálculo Numérico Noções básicas sobre erros

Universidade Federal do Paraná Seminário de Bioestatistica. Teste de Wilcoxon. Danielle Pierin Olivia Cleto

1 a PROVA Gabarito. Solução:

ANOVA - parte I Conceitos Básicos

CURSO DE CIÊNCIAS EXATAS HABILITAÇÃO: BACHARELADO EM CIÊNCIAS EXATAS INGRESSANTES 2009

PROJETO E ANÁLISES DE EXPERIMENTOS (PAE) INTRODUÇÃO AOS MÉTODOS ESTATÍSTICOS EM ENGENHARIA

META Estudar o comportamento de reações químicas que envolvem mais de uma etapa.

Lei de Gauss Φ = A (1) E da = q int

Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) Segunda prova de seleção para ingresso em 2012/2. Nome: Data: 13/08/2012

Inteligência Artificial

Apresentar os conceitos fundamentais da termodinâmica estatística e como aplicá-los as propriedades termodinâmicas vista até então.

Resolução de sistemas de equações lineares: Fatorações de matrizes

Teste de hipótese de variância e Análise de Variância (ANOVA)

Noções de Simulação. Ciências Contábeis - FEA - Noturno. 2 o Semestre MAE0219 (IME-USP) Noções de Simulação 2 o Semestre / 23

Problemas de Física Estatística e Termodinâmica

Análise da Regressão múltipla: Inferência. Aula 4 6 de maio de 2013

Zeros de Polinômios. 1 Resultados Básicos. Iguer Luis Domini dos Santos 1, Geraldo Nunes Silva 2

Estudo Físico-Químico dos Gases

NOTAS DE AULAS DE FÍSICA MODERNA

A variação de qualquer dimensão linear de um corpo com a temperatura se chama dilatação térmica.

As variáveis de rotação

Relações de massa. Situando-se ao assunto...

Transcrição:

Introdução à Física Computacional 2 Joniel Alves Departamento de Física, Universidade Federal do Paraná, Curitiba jcfa06@fisica.ufpr.br Fevereiro 2014

2

Capítulo 1 Introdução A técnica de Monte Carlo (MC) que vamos discutir pode ser usada para calcular propriedades de equilíbrio de sistemas de muitos corpos. Nesse contexto, a palavra clássico significa que o movimento das partículas constituintes obedecem as leis da mecânica clássica. Antes de descrevermos o método de MC, é importante entender o papel da simulação computacional em geral. Antes do advento do computador eletrônico, a única forma de prever o resultado de um experimento era através de teorias, que forneciam uma descrição aproximada do sistema que estava sendo estudado. A razão pela qual as teorias aproximadas eram quase sempre usadas é que existem muito poucos modelos para os quais as propriedades de equilíbrio podem ser calculadas de forma exata, e ainda um número menor de modelos no caso de propriedades de transporte. Segue que, muitas propriedades de materiais reais foram preditas com base em teorias aproximadas (alguns exemplos são a equação de van der Waals para gases desnsos, teoria de Debye-Huckel para eletrólitos e a equação de Boltzmann para propriedades de gases diluídos). Dadas informações suficientes a respeito da interação intermolecular, essas teorias fornecem uma estimativa das propriedades de interesse. Infelizmente, nosso conhecimento sobre as interações intermoleculares, mesmo das moléculas mais simples, é muito limitado. Isso nos leva a um grande problema se estamos interessados em testar a validade de uma dada teoria por comparação direta com experimento. Se a teoria e o experimento não estão de acordo, pode significar que a teoria está errada, ou que temos uma estimativa errada das interações intermoleculares, ou ambos! Certamente seria muito bom se pudéssemos obter resultados exatos para um dado modelo de um sistema, sem depender de teorias aproximadas. Simulação computacional nos permite exatamente isso. Por um lado, nós podemos agora comparar e calcular propriedades de um modelo com os experimentos desse tal sistema; se eles não estão de acordo, o modelo é inadequado, i.e. nós temos que melhorar nossa estimativa das interações intermoleculares. Por outro lado, nós podemos comparar o resultado de uma simulação de um dado modelo com previsões de um modelo analítico aproximado para o mesmo sistema. Se teoria e simulação não estão de acordo, nós sabemos que a teoria está errada. Perceba que, nesse caso, a simulação computacional faz as vezes de um experimento projetado para testar a teoria. Isso é conhecido como um experimento computacional, e são rotineiros em ciências. Em 1953 quando os computadores eletrônicos começaram a ser usados em pesquisas não militares, a simulação numérica de líquidos densos foi um dos primeiros problemas abordados. A primeira simulação de um líquido foi executada por Metropolis e seu grupo em Los Alamos, usando (e introduzindo) o método de MC. Desde de então, a metodologia da técnica de MC tem sido desenvolvida, mas os algoritmos basicos pouco mudaram desde aquela época. 3

4 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

Capítulo 2 Mecânica Estatística Vamos descrever os princípios básicos do método de MC com foco em sistemas com um dado volume (V ), a uma temperatura (T ) e com um número de partículas (N), fixos. Comecemos pela expressão clássica para a função partição Z = c dp N dr N exp[ H /k B T ] (2.1) onde r N se refere às coordenadas de todas as N partículas, e p N seus correspondentes momenta. A função H é a hamiltoniana do sistema. A hamiltoniana expressa a energia total de um sistema isolado como função das coordenadas e momenta das partículas constituintes: H = K +U, onde K é a energia cinética do sistema e U a energia potencial. Finalmente, c é uma constante de proporcionalidade, escolhida de modo que a soma sobre os estados quânticos se aproxima da função partição clássica no limite ħ 0. Por exemplo, para um sistema de N átomos idênticos, c = 1/(h 3N N!). A equação clássica é A = dp N dr N Aexp[ βh ] dp N dr N exp[ βh ], (2.2) onde β = 1/k B T. Nesta esquação, o observável A é uma função das coordenada e momenta A = A(r N p N ). Como K é uma função quadrática dos momenta, a integração sobre os momenta pode ser feita analiticamente. Segue que, médias de funções que dependem apenas dos momenta são, em geral, fáceis de calcular. A dificuldade está em calcular A(r N ). Somente em alguns casos especiais a integral multidimensional sobre as coordenadas das partículas pode ser feita analiticamente. Em todos os outros casos, técnicas de cálculo numérico devem ser usadas. Agora que definimos a natureza do problema numérico que devemos resolver, vamos olhar para as posśiveis soluções. Pode parecer direto que a abordagem seja calcular A na equação 2 por quadratura numérica, usando por exemplo, o método de Simpson. É fácil de ver, entretanto, que este método é inapropriado mesmo que o número de coordenadas independentes DN (D é a dimensionalidade do sistema) seja pequeno O(100). Suponha que nós queiramos calcular, por quadratura, um integrando numa malha de pontos em um espaço configuracional DN-dimensional. Vamos asusmir que tomamos m pontos equidistantes ao longo de cada eixo coordenado. O número total de pontos nos quais o integrando deve ser avaliado é igual a m DN. Esse número se torna astronômico mesmo para muitos sistemas pequenos com m pequeno. Por exemplo, se consideramos um sistema tridimensional com 100 partículas, e m = 5, teremos que avaliar o integrando em 10 210 pontos! Cálculos dessa magnitude não podem ser feitos no universo conhecido. E isso é bom, por que a resposta obtida estaria sujeita a um erro estatístico muito grande. Quadratura numérica funciona bem para funções que são suaves à distâncias correspondentes ao tamanho da malha. Entretanto, para a maioria dos potenciais intermoleculares, o fator de Boltzmann 1 na equação 2 varia rapidamente com as coordenadas das partículas. Assim, para aumentar a precisão 1 O fator exponencial exp[ βh ] nas expressões dadas é chamado de fator de Boltzmann. 5

6 CAPÍTULO 2. MECÂNICA ESTATÍSTICA na quadratura, precisamos de um pequeno espaçamento nas malhas, ou seja, m grande. Além disso, quando calculamos o integrando para sistemas como um líquido denso, encontramos que, para a maioria esmagadora de pontos o fator de Boltzmann é muito pequeno. Por exemplo, para um fluido de 100 esferas duras no ponto de congelamento, o fator de Boltzmann será não nulo apenas para 1 a cada 10 260 configurações! Como já discutimos, em geral não é possível resolver a integral dr N exp[ βu(r N )], por amostragem direta de MC. Entretanto, em muitos casos, não estamos interessados na parte configuracional da função de partição, mas em médias do tipo A = dr N A(r N )exp[ βu(r N )] dr N exp[ βu(r N. (2.3) )] Então, queremos conhecer a razão das duas integrais. O que Metropolis et al. mostraram é que é possível inventar um forma eficiente do método de MC para fazer amostragens dessa razão. Para entender o método de Metrópolis, vamos primeiro olhar mais de perto para a estrutura da equação 3. Vamos denotar a parte configuracional da função de partição por Z: Z = dr N exp[ βu(r N )]. (2.4) Note que a razão exp( βu)/z na esquação 3 é a densidade de probabilidade de encontrar o sistema em uma configuração em torno de r N. Vamos denotar essa densidade de probabilidade por N (r N ) = exp[ βu(rn ). (2.5) Z Claramente, N (r N ) é > 0. Suponha agora que nós somo capazes, de alguma forma, de geral pontos randomicamente no espaço de configurações de acordo com a distribuição de probabilidade N (r N ). Isto significa que, em média, o número de pontos n i gerados por unidade de volume em torno de r N é igual a LN (r N ), onde L é o número total de pontos que nós geramos. Em outras palavras, A 1 L L i=1 n i A(r N ). (2.6) Para facilitar o entendimento, vamos analisar um exemplo (veja a figura 1). Nesta figura, nós comparamos dois métodos de se medir a profundidade do rio Nilo, pela quadratura convencional (esquerda) e por amostragem de Metropolis; isto é, a construção de um passeio aleatório amostrado por importância (direita). No esquema da quadratura convencional, o valor do integrando é calculado em um conjunto de pontos pré-determinados. Como a escolha desses pontos não depende do valor do integrando, muitos pontos podem estar em regiões onde o integrando se anula. Em contraste, no método de Metropolis, um passeio aleatório é construído através da região do espaço onde o integrando é não desprezível (i.e. através do próprio Nilo). Nesse passeio aleatório, um movimento tentativa é rejeitado se leva a pontos fora do rio, e é aceito caso contrário. Após cada movimento tentativa (aceito ou não), a profundidade do rio é medida. A média (simples) de todas as medidas produz uma estimativa da profundidade média do Nilo. Esta é a essência do método de Metropolis. Em princípio, a quadratura convencional também pode fornecer a área total do Nilo. Na amostragem por importância, entretanto, a informação sobre a área total não pode ser obtida diretamente, já que se trata de uma quantidade similar a Z. Vamos considerar agora como gerar pontos no espaço de configurações com probabilidade proporcional ao fator de Boltzmann. O método consiste em preparar o sistema numa configuração r N, que nós

7 Figura 2.1: Medida da profundidade do Nilo: uma comparação entre a quadratura convencional (esquerda), com o método de Metropolis (direita). vamos denotar por o (old), que tem um fator de Boltzmann exp[ βu(o)] não nulo. Esta configuração, por exemplo, pode corresponder a uma rede cristalina sem sobreposições. Agora, nós geramos uma nova configuração tentativa r N, a qual denotamos por n (new), pela adição de um deslocamento aleatório a o. O fator de Boltzmann dessa configuração tentativa é exp[ βu(n)]. Nós devemos decidir agora se iremos aceitar ou rejeitar a configuração tentativa. Muitas regras para se tomar essa decisão satisfazem o vínculo de que, em média, a probabilidade de encontrar o sistema na configuração n é proporcional a N (n). Aqui vamos discutir apenas o método de Metropolis, por que é simples e de aplicação geral. Vamos derivar, de maneira pouco precisa, o método de Metropolis para determinar a probabilidade de transição π(o n) da configuração o para a n. Suponha que um grande número (digamos M) de simulações de Monte Carlo são feitas em paralelo, onde M é muito maior que o número de configurações acessíveis. Vamos denotar o número de pontos em qualquer configuração o por m(o). Nós queremos que, em média, m(o) seja proporcional a N (o). Os elementos de matriz π(o n) devem satisfazer uma condição óbvia: Eles não destroem uma distribuição de equilíbrio uma vez que este seja alcançado. Isto significa que, em equilíbrio, o número médio de movimentos tentativa aceitos que resultam no sistema saindo do estado o deve ser exatamente iguel ao número de movimentos tentativa aceitos de todos os outros estados n para o estado o. É importante impor uma condição mais forte, a saber, no equilíbrio o número de movimentos aceitos que levam o sistema de o para qualquer outro estado n é exatamente cancelado pelo número de movimentos reversos. Esta condição de balanço detalhado implica em: N (o)π(o n) = N (n)π(n o). (2.7) Muitas possíveis formas para a matriz de transição π(o n) satisfazem a equação (7). Vamos ver como π(o n) é construída na prática. Os movimentos de MC consistem em dois estágios. Primeiro, nós realizamos um movimento tentativa do estado o para o estado n. Vamos denotar a matriz de transição que determina a probabilidade de ralizar tal movimento tentativa por α(o n); onde α é usualmente referida como matriz subjacente da cadeia de Markov. O próximo estágio é a decisão de aceitar ou não o movimento tentativa. Vamos denotar a probabilidade de aceitar o movimento de o para n por acc(o n). Segue que, π(o n) = α(o n) acc(o n). (2.8) No método original de Metropolis, α é escolhida sendo uma matriz simétrica (acc(o n) = acc(n o)), entretanto, isso não é estritamente necessário. Se α é simétrica, podemos reescrever a equação (7) em

8 CAPÍTULO 2. MECÂNICA ESTATÍSTICA termos de acc(o n): N (o) acc(o n) = N (n) acc(n o). (2.9) Da equação (9) segue que acc(o n) acc(n o) = N (n) = exp β[u(n) U(o)]. (2.10) N (o) Novamente, muitas escolhas para acc(o n) satisfazem esta condição. A escolha de Metropolis et al. é acc(o n) = N (n)/n (o) se N (n) > N (o) = 1 se N (n) N (o). (2.11) Outras escolhas para acc(o n) são possíveis, mas a escolha original de Metropolis et al. resulta numa amostragem mais eficiente do espaço de configurações do que outras estratégias propostas. 2.1 O Algoritmo Básico de Monte Carlo É difícil falar do método de Monte Carlo em termos abstratos. A melhor forma de explicar como o método funciona é escrevendo o algoritmo explicitamente. Muitos programas que utilizam o método de MC podem ser extensos, dependendo da aplicação específica. Entretanto, a estrutura básica dos programas que usam MC, se não são idênticos, são no mínimo similares. O objetivo principal o método de MC que estamos interessados aqui é o cálculo de propriedades de equilíbrio de um sistema clássico de muitos corpos. Vejamos um programa simples de MC. Introduzimos o método de Metropolis como um processo de Markov no qual uma caminha aleatória é construída de modo que a probabilidade de visitar um ponto particular r N é proporcional ao fator de Boltzmann exp[ β[u(r N )]. Existem várias formas de contruir tal caminhada aleatória. Na abordagem introduzida por Metropolis et al., o seguinte esquema é proposto: 1. Selecione uma partícula aleatoriamente e calcule sua energia U(r N ). 2. Faça um deslocamento aleatório da partícula: r = r +, e calcule a nova energia U(r N ). 3. Aceite o movimento de r N para r N com probabilidade acc(o n) = min ( 1,exp β[u(r N ) U(r N )] ). (2.12) Uma implementação desse método básico de Metropolis é mostrado nas figuras Algorithm 1 e Algorithm 2. Comentários: 1. A subrotina mcmove tenta deslocar aleatóriamente a partícula selecionada (ver Algorithm 2). 2. A subrotina sample amostra as grandezas a cada nsamp-ésimo ciclo.

2.1. O ALGORITMO BÁSICO DE MONTE CARLO 9 Comentários: 1. A subrotina ener calcula a energia da partícula na posição dada. 2. Note que, se a configuração é rejeitada, a configuração antiga é mantida. 3. A função ranf() gera um número aleatório entre [0,1], uniformemente.

10 CAPÍTULO 2. MECÂNICA ESTATÍSTICA

Referências Bibliográficas [1] D.Frenkel e B.Smit Undestanding Molecular Simulations: from Algorithms to Applications, Academic Press, San Diego, 2 a edição (2002). [2] N.Metropolis,A.W.Rosenbluth,M.N.Rosenbluth, A.N.Teller, E.Teller, Equation od state calculations by fast computing machines. J.Chem.Phys.,21:1087-1092,1953. [3] T.Tomé e M.J.Oliveira Dinâmica Estocástica e Irreversibilidade, ERditora da Universidade de São Paulo, São Paulo, (2001). 11