COMPARAÇÃO DAS ALTERAÇÕES AUDITIVAS COM A QUEIXA DE PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM EM ESCOLARES DE 1º GRAU



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1 Título: COMPARAÇÃO DAS ALTERAÇÕES AUDITIVAS COM A QUEIXA DE PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM EM ESCOLARES DE 1º GRAU Área Temática: Psicologia da Educação Autores: LUCIANA LOZZA DE MORAES MARCHIORI (1) E LUCIA HELENA TIOSSO MORETTI (2) Instituição: Universidade Estadual de Londrina Introdução Há muito tempo se conhece a importância da audição para o desenvolvimento da linguagem e a comunicação do indivíduo com seus semelhantes. Uma vez que é através do feed-back estabelecido entre a fala e a audição que o indivíduo adquire as suas referências auditivas, as quais somadas aos símbolos linguísticos, ajudam a formar os conceitos básicos à construção da linguagem, função cerebral que apresenta um caráter eminentemente social. Esta linguagem, organizada em inúmeros processos neuropsicológicos orgânicos (especialmente o auditivo) e afetivos, propicia o aprendizado do simbólico, sendo assim de imensa importância durante todo o processo educacional. Nos casos em que existe alguma alteração auditiva, porém, este aprendizado do simbólico verbal e consequentemente o processo educacional do indivíduo pode ser alterado. No entanto, a maioria dos problemas auditivos não é detectado pelos responsáveis pelo aluno, isto ocorre principalmente quando não há uma deficiência auditiva considerável. Nestes casos, principalmente no ambiente escolar, onde existem inúmeros sons e ruídos, que servem para mascarar a mensagem advinda do meio, pode ocorrer uma dificuldade no que se refere à aprendizagem dos conteúdos educacionais. Frente a todas essas constatações formulou-se o seguinte problema: Até que ponto as alterações auditivas podem estar relacionadas com a queixa dos problemas de aprendizagem em escolares de 1º grau? Neste trabalho pretende-se portanto:

2 através da Metodologia da Problematização proporcionar aos professores a oportunidade de tomarem conhecimento de tópicos referentes tanto às dificuldades de aprendizagem quanto às alterações auditivas, além de buscar o auxílio dos mesmos na identificação e intervenção junto às crianças que apresentarem algum tipo de alteração; verificar a incidência de alterações auditivas nos alunos com queixa de dificuldades de aprendizagem através da triagem audiológica nesta população e da avaliação audiológica nos alunos que apresentarem alguma suspeita de alteração auditiva durante a execução da triagem; a partir dos dados coletados alertar a população e principalmente os professores, quanto à necessidade de se estar atento às dificuldades apresentadas por seus alunos durante o processo educacional, além de enfatizar a necessidade de um trabalho efetivo no que se refere à detecção de alterações auditivas em escolares. Material e método Como sujeitos da pesquisa central, serão caracterizados os alunos de 1ª a 4ª série com queixa de dificuldade de aprendizagem. Será aberto, porém, um espaço para mais duas caracterizações: a) dos professores envolvidos na pesquisa, devido ao fato dos mesmos constituirem-se, primeiramente em alvo de coleta de dados e de intervenção, para posteriormente se tornarem os responsáveis pelo encaminhamento dos alunos com a citada queixa à triagem auditiva; b) da escola escolhida para a pesquisa. Fizeram parte da pesquisa, a princípio, 247 alunos matriculados no 1 grau de uma escola da rede municipal de ensino da cidade de Londrina - Paraná. Após a intervenção sobre temas relacionados à audição e à aprendizagem, junto às professoras da escola, porém, foi realizada uma triagem dos alunos com suspeita de dificuldades de aprendizagem, pelas mesmas. A partir daí obtive-se um total de 81 crianças de 7 a 14 anos de idade, as quais foram submetidas à triagem auditiva.

3 Os critérios para seleção destes sujeitos, então, foram: estarem regularmente matriculados em uma das séries do 1º grau, terem sido indicados pelas professoras para a triagem auditiva e apresentarem baixo rendimento acadêmico nos primeiros bimestres do ano letivo, observado pelas mesmas através da atuação em sala de aula, das tarefas e provas efetuadas, bem como queixa das professoras de alguma dificuldade na aprendizagem acadêmica. Participaram da pesquisa 13 professoras caracterizadas quanto à idade, sexo, nível de escolaridade e tempo de atuação no magistério. Tais dados foram coletados através de entrevista realizada pela autora com o corpo docente da escola. Toda a população de professores da escola em questão é do sexo feminino, com idade variando entre 31 e 54 anos e têm de 6 a 22 anos de magistério, sendo que a maioria atua há mais de 15 anos em escolas de 1º grau. Com relação à formação superior de 3º grau, constatou-se que mais da metade das professoras têm curso superior, (entre eles Pedagogia, Matemática, Licenciatura em Ciências, Educação Artística e Educação Física), sendo que as demais tem o curso de Magistério. Foi selecionada para a presente pesquisa a Escola Municipal Carlos Costa Branco, devido a vários fatores, tais como, localização, número de alunos, turmas e séries, além de ser uma escola da rede pública de ensino. Sua localização, ao lado da UNOPAR (Universidade Norte do Paraná), facilitou o acesso dos alunos à triagem e, principalmente, dos alunos acompanhados de seus pais ou responsáveis às avaliações audiológicas, uma vez que por ser uma escola de bairro, a maior parte de sua população pertence ao próprio bairro e proximidades. O número de alunos matriculados na escola, era uma boa amostra para a pesquisa a ser realizada. As turmas, separadas em duas ou três de cada série, possibilitou à autora o contato com mais professores. Além disso, por ser uma escola primária, com turmas de 1ª à 4ª séries, adequou-se ao trabalho. Como foi visto na revisão bibliográfica com LIMA (apud RUSSO e SANTOS, 1993), há uma maior incidência de alterações auditivas em crianças do ensino público com menor nível sócio-econômico, além das mesmas não

4 terem as iguais possibilidades de desfrutarem de serviços particulares de detecção destas alterações, sendo assim de mais valia um trabalho voltado à população deste tipo de escola. A escola foi caracterizada considerando-se a localização geográfica, recursos didático - pedagógicos e método de ensino, com intuito de oferecer uma visão geral do contexto e das condições nas quais as crianças mencionadas na pesquisa e seus professores estão inseridos. Situada na principal avenida de um bairro de classe média, a escola Carlos Costa Branco atualmente atende um total de 288 alunos, distribuídos em 12 turmas de pré-escola a 4ª série do 1º grau. A clientela da escola, de modo geral, é composta por alunos predominantemente de classe média baixa e, em menor escala por alunos de classe baixa, residentes no próprio bairro ou em vilas próximas, os quais, em sua maioria, não têm acesso aos seviços de saúde particulares, sendo encaminhados ao Serviço Minicipal de Saúde, quando é detectada alguma alteração. Tal constatação é confirmada por MARCHIORI, (1995) que cita que todas as crianças da Escola Municipal Carlos Costa Branco que apresentaram rolha de cerume após triagem auditiva no ano de 1994 tiveram de ser encaminhadas ao Serviço Municipal de Saúde de Londrina- Pr. Além das adequadas condições físicas, a escola possui material didático satisfatório (livros de literatura infantil, jogos pedagógicos, cartazes, alguns materias audiovisuais, e outros). Possui também um corpo docente estável, formado, na maioria, por professores efetivos e o método utilizado nas séries iniciais é o Ciclo Básico, como nas demais escolas municipais de Londrina (Pr.). A metodologia escolhida para a intervenção com as professoras foi a da Problematização, proposta por MAGUERES (apud BERBEL, 1996). Trata-se de uma metodologia que toma como ponto de partida e como ponto de chegada a realidade social, concretizando-se por um processo criativo de ação e reflexão sobre dado aspecto extraído, observado ou vivido, neste caso pelos professores da escola selecionada. Os resultados obtidos devem ser traduzidos em ações futuras, mais informadas e elaboradas, que possam provocar de forma intencional algum tipo de transformação na porção da realidade em questão.

5 Através da utilização de dois questionários contendo questões referentes à audição, à aprendizagem e suas alterações, bem como uma questão a respeito do que é a fonoaudiologia, objetivou-se atingir o primeiro passo da metodologia proposta, a Observação da Realidade. A partir dos dados coletados nos questionários a respeito do conhecimento das professoras e de suas dúvidas sobre os assuntos propostos, passou-se para o segundo passo da metodologia proposta, levantar os Pontos-chaves que se constituiram em tópicos a serem trabalhados com as professoras durante a intervenção ou Teorização que faz parte do terceiro passo da metodologia proposta. Com base no estudo a respeito de cada um dos assuntos abordados através de leitura, exposição e discussão, as professoras foram questionadas sobre as Hipóteses de Solução, que se referem ao quarto passo da citada metodologia. Posteriormente, as professoras colocaram o que de concreto acreditam e se comprometem a fazer em sua prática diária, chegando assim ao quinto passo da metodologia, denominado, Aplicação à realidade. Neste passo, cada professora participante preencheu listas dos alunos com problemas de aprendizagem para a triagem auditiva. A partir daí, foram encaminhados bilhetes aos pais ou responsáveis solicitando-lhes a autorização para que as crianças pudessem comparecer ao setor de Audiologia da Clínica de Distúrbios de Comunicação Humana da UNOPAR para a realização da triagem auditiva Foi escolhido para a triagem auditiva com os alunos com queixa de problemas de aprendizagem, o método proposto por QUINTANILHA RIBEIRO (1987) denominado Um método prático para a avaliação de comportamento do aparelho auditivo em crianças, devido à sua praticidade e eficiência. O mesmo, que é realizado em média em 2 minutos por criança, consiste em:- Otoscopia, Impedanciometria, Reflexo estapediano e Audição do tom puro A avaliação audiológica, realizada no Setor de Audiologia da Clínica de Distúrbios da Comunicação Humana da Universidade do Norte do Paraná (UNOPAR) com os alunos que apresentaram alteração em alguma das etapas da triagem auditiva,constou de anamese, audiometria tonal, por via aérea e via óssea (quando necessário), logoaudiometria e impedanciometria.

6 Resultados Todas as professoras da escola responderam aos questionários em um tempo máximo de 40 minutos, na própria escola e de forma individual. Quanto a audição, no total, 3,85% das perguntas foram respondidas corretamente, 67,31% foram respondidas de forma negativa e 28,84% foram respondidas de forma parcial ou incorreta, o que revela um conhecimento muito pequeno a respeito das questões que forma colocadas às professoras. Quanto a aprendizagem, no total das questões (67,69%) foram respondidas de forma negativa e (32,31%) delas foram respondidas parcialmente, pelas professoras. Como foi exposto anteriormente, foi usada a Metodologia da Problematização para a execução da intervenção com as professoras da escola, sendo que após o passo da Teorização, é sugerido que sejam explicitadas as Hipóteses de Solução e a Aplicação a Realidade, neste caso, pelos professores. Como hipóteses de solução para a prevenção e detecção de alterações auditivas, as professoras sugeriram que: há necessidade de uma maior conscientização dos pais a respeito destas alterações; sejam realizadas periodicamente triagens auditivas nos alunos da escola; sejam feitos trabalhos de conscientização com os pais sobre as alterações auditivas e seu prejuízo no processo ensino-aprendizagem. Posteriormente as professoras explicitaram o que de concreto se comprometem a fazer em sua prática diária (Aplicação à realidade), para previnir e detectar problemas auditivos, além de minimizar as consequências dos mesmos, colocando que: vão sugerir aos pais que levem o aluno para uma avaliação audiológica, caso seja percebida alguma alteração auditiva; vão auxiliar o aluno portador de deficiência auditiva em sala de aula, na medida do possivel; e efetuarão mais leituras sobre o assunto proposto. Foram expostas pelas professoras as seguintes hipóteses de solução para as questões referentes à aprendizagem e suas dificuldades : melhor preparo para os professores a respeito do assunto proposto através de cursos de atualização na área, oferecidos periodicamente pelas universidades e pela prefeitura; maior base para os alunos, por meio de uma estimulação adequada; conscientização dos pais, por pessoal especializado, a respeito de atitudes que

7 contribuam para uma boa aprendizagem. Como compromisso - aplicação à realidade - as professoras afirmam ser viável: encaminhar as crianças com problemas de aprendizagem para uma avaliação; auxiliar estas crianças através de aulas de reforço, além de motivá-las para que não percam o interesse pela aprendizagem; orientar os pais, na medida do possível, para contribuirem com o processo ensino-aprendizagem; e solicitar, através de cartas, trabalhos periódicos de triagem para os alunos. Dos 288 alunos da escola, 247 fizeram parte da pesquisa por constituirem-se nos alunos de 1ª à 4ª série do 1º grau. Destes, 81 foram encaminhados para a triagem auditiva, pelas professoras, por terem queixa de problemas de aprendizagem. Destas 81 crianças, 43 meninos e 38 meninas, 77 (95,06%) puderam participar da triagem, sendo que 4 crianças (4.94%) não participaram por falta de autorização dos pais e 13 crianças (16,88%) por apresentarem obstrução no conduto auditivo externo, unilateral ou bilateral, ficando impossibilitadas de passar para os próximos passos da triagem proposta e, devido a isto, encaminhadas para avaliação e conduta otorrinolaringológica. Das 64 crianças que puderam comparecer à triagem e seguir todos os passos da mesma, 50 (78,12%) foram consideradas negativas, ou seja, não apresentaram nenhuma alteração durante toda a bateria de testes; e 14 crianças (21,88%) apresentaram alteração em um ou mais testes da triagem e, portanto, encaminhadas para posterior avaliação audiológica, sendo que destas crianças 9 tinham menos de 9 anos de idade e 5 tinham idade entre 9 e 14 anos. - 4 crianças (28,57%) apresentaram curva do tipo B unilateral e 1 (7,14%) apresentou curva do tipo B bilateral. - 3 crianças (21,43%) apresentaram curva do tipo C unilateralmente e 4 (28,57%) bilateralmente. - 5 crianças (35.7%) apresentaram reflexos ausentes na frequência testada unilateralmente e 3 (21, 43 %), bilateralmente. - 4 crianças (28,57%) não apresentaram respostas ao tom puro em 30 db na frequência testada unilateralmente e 6 (42,86%) bilateralmente. Das 128 orelhas testadas, no que se refere à timpanometria, 111 orelhas (86,72%) apresentaram curva timpanométrica do tipo A; 6 orelhas

8 (4,69%) apresentaram curva do tipo B; 11 orelhas (8,59%) apresentaram curva do tipo C. Quanto ao reflexo, 111 orelhas (91,40%) apresentaram presença na frequência testada e 11 orelhas (7,64%) tiveram ausência de reflexo acústico na citada frequência. No que se refere ao tom puro, 112 orelhas (87,50%) responderam ao tom puro de 30 db em 4000 Hz e 16 (12,50%) não responderam ao mesmo. A partir destes dados observamos um total de 103 (80,47%) orelhas normais e 25 (19,53%) com suspeita de algum tipo de alteração. Os resultados das avaliações auditivas serão descritos levando em conta o número de crianças participantes, a história clínica das crianças, a porcentagem de crianças encaminhadas em que a perda auditiva foi confirmada, tipo e grau da deficiência auditiva e encaminhamentos após a avaliação. Das 14 crianças avaliadas, 9 (64,28 %) apresentaram algum tipo de alteração no aparelho auditivo e 5 (35,71%) não apresentaram nenhuma alteração no citado aparelho. Porém, das 9 crianças que apresentaram alteração no aparelho auditivo, 2 apresentaram apenas disfunção tubária bilateralmente, sem perda auditiva. Este número de falsos positivos, 35,71% dos alunos encaminhados a avaliação audiológica, após a realização da triagem auditiva, deve-se tanto às três crianças que durante a citada triagem apresentaram curva do tipo C, pertinente à disfunção tubária, alteração que pode aparecer concomitantemente a gripes e infecções das vias aéreas superiores, sendo assim reversível de forma espontânea, como às duas crianças que não responderam ao tom puro, provavelmente devido a outras alterações, como por exemplo a desatenção, pois como citam RUSSO e SANTOS (1989), muitas vezes as crianças com distúrbio de aprendizagem apresentam respostas inconsistentes para tom puro em exames convencionais. Levando em conta as 77 crianças com queixa de dificuldade de aprendizagem que iniciaram a triagem auditiva, ou seja, as 13 que puderam participar apenas da otoscopia (1º passo da triagem escolhida) e as 64 que puderam ser submetidas a todos os passos da triagem, observamos que:

9 as 13 crianças que puderam participar apenas da otoscopia apresentaram obstrução no conduto auditivo externo, considerada uma alteração no aparelho auditivo. das 64 crianças que participaram de todos os passos da triagem escolhida, 14 foram consideradas com suspeita de alguma alteração auditiva e encaminhadas à avaliação audiológica. Após a citada avaliação, no entanto, foi confirmada alguma alteração auditiva em 9 destas crianças. A partir daí, vemos que do total de crianças que iniciaram os testes da triagem auditiva, 77 crianças, 22 (28,57%), apresentaram alguma alteração de ouvido. Discussão Os resultados obtidos pela pesquisa puderam promover uma série de questões, acerca da prática do diagnóstico audiológico em escolares com queixa de problemas de aprendizagem, além de produzir outras questões sobre o conhecimento dos professores à respeito da fonoaudiologia e de tópicos relacionados à audição e à aprendizagem. Estes aspectos são importantes, pois, como expõe SANTOS (1996), as crianças consomem aproximadamente 45% de suas atividades escolares diárias engajadas em atividades auditivas, sendo, sem dúvida, a audição uma das bases para o aprendizado escolar. No que se refere aos métodos escolhidos tanto para a intervenção com as professoras como para a triagem auditiva dos escolares com queixa de problemas de aprendizagem, constatou-se que: A Metodologia da Problematização, proposta por MAGUEREZ (apud BERBEL, 1996), utilizada na intervenção com as professoras foi de grande valia, pois possibilitou a aquisição de dados à respeito do conhecimento das mesmas sobre os tópicos abordados, fazendo com que cada uma extraí-se de sua realidade o problema a ser estudado. Através desta coleta, permitiu-se uma maior interação com o assunto a ser abordado, o que conseqüentemente propiciou mais motivação, uma vez que, como coloca BARISON (apud BERBEL, 1996), a busca de solução para o problema passa a ser uma meta, algo que ao ser solucionado trará satisfação as necessidades individuais reais.

10 Após a teorização observou-se uma modificação na realidade das professoras quanto a forma de abordar os tópicos propostos, pois, mesmo aquelas, que a princípio exitaram em colaborar, tomaram conhecimento do assunto e se comprometeram a aplicar em sua realidade as sugestões eleitas ao término da intervenção. Como coloca BATISTA (apud BERBEL, 1996), a Metodologia da Problematização nos dá uma experiência muito rica, pois você vai á realidade, levanta o problema, vive este, busca soluções e a prática delas. O método escolhido para a triagem auditiva dos escolares em questão, denominado Um método prático para a avaliação de comprometimento do aparelho auditivo em crianças, que engloba otoscopia, impedânciometria e audição de tom puro, mostrou ser um instrumento de triagem bastante válido, uma vez que como explicitam NORTHERN e DOWNS (1989) a validade de um processo de triagem é fraca se ele não percebe anormalidades naqueles indivíduos que realmente as têm. A otoscopia foi de grande valia e fidedignidade na constatação de obstruções do conduto auditivo externo. A impedânciometria, dada à sua facilidade de execução e interpretação, principalmete no que diz respeito aos diagnósticos de disfunção tubária e otites, pareceu ser o teste usado separadamente, mais indicado para avaliar por meio de uma triagem, pacientes em idade escolar. Observou-se porém, que há alta sensibilidade de seleção da impedânciometria em identificar corretamente os indivíduos com doenças do ouvido médio, contudo, como colocam NORHERN e DOWNS (1989), a principal crítica da seleção da impedância se relaciona à sua baixa especificidade, ou à falsa identificação de crianças que não têm comprometimento de ouvido médio ou que têm uma alteração que resolve espontaneamente. Sendo que, neste trabalho 3 dos 11 escolares considerados suspeitos de comprometimento de ouvido médio durante a impedância, se constituiram em falsos positivos durante a avaliação audiológica. A medida do tom puro apesar de consistir em um dado importante do instrumento de triagem, apresenta suas limitações, pois como colocam NORTHERN e DOWNS (1989), algumas crianças falharão neste teste e produzirão limiares normais da audição na avaliação audiológica, além disso como explicitam RUSSO e SANTOS (1989), crianças com distúrbios de

11 aprendizagem muitas vezes apresentam respostas inconsistentes para o tom puro. Na presente pesquisa, 2 dos 9 alunos que não responderam ao tom puro durante a triagem, foram considerados falsos positivos por terem apresentado limiares dentro dos padrões de normalidade durante a avaliação audiológica formal. O citado método se mostrou também bastante prático devido: a) sua rapidez, pois o tempo médio gasto na avaliação correspondeu ao proposto por QUINTANILHA RIBEIRO (1987), em média 2 minutos, tempo muito inferior ao gasto em avaliações tradicionais; b) sua comodidade, não acarretando transtorno no funcionamento normal da escola e a fácil aceitação por parte dos alunos; c) o baixo custo, uma vez que a aparelhagem utilizada é de uso comum em clínicas audiológicas, além de, como diz o autor acima citado, haver a possibilidade da fabricação de uma aparelho simplificado e de custo ainda mais baixo; d) o pequeno número de profissionais, como pode-se observar no presente trabalho, onde o procedimento foi realizado por uma fonoaudióloga e duas estagiárias. Entre as questões promovidas após os resultados obtidos pela nossa pesquisa, a respeito da população envolvida na mesma estão as seguintes: Quanto aos professores, como expõe MARCHIORI (1998), espera-se que aqueles envolvidos com as séries iniciais, tanto de escolas particulares como públicas, tenham alguns conhecimentos de áreas afins, como por exemplo a Fonoaudiologia, pois é comum que durante a prática docente apareçam fatos e dificuldades que estejam sobremaneira relacionados a essas áreas. Grande parte dos cursos de magistério, porém, não apresentam em seus currículos disciplinas que abordem tais conteúdos, dificultando o desempenho dos futuros professores frente à performance adequada, principalmente no que se refere aos encaminhamentos devidos e atitudes a serem tomadas quanto a certos problemas. Já FREITAS e CARAÇA (apud FERREIRA e cols., 1985) colocam que a escola tem o compromisso de dar a melhor educação para cada criança e que para isso é necessário conhecê-la integralmente, considerando cuidadosamente todos seus aspectos perceptuais e cognitivos. Para que se chegue a este compromisso, porém, é necessário que o corpo docente esteja preparado, não apenas no que se refere à prática pedagógica, mas também

12 quanto aos vários processos pertinentes ao desenvolvimento infantil, como por exemplo o processo de comunicação, que se realiza à medida que a interação criança-meio se aprofunda e que a linguagem é desenvolvida. Especificamente, quanto à Fonoaudiologia, percebe-se que há uma dificuldade muito grande por parte dos professores, principalmente por não terem em mente o conceito da profissão em questão, sobre quais são seus objetos de estudo e quais os benefícios junto aos aspectos relacionados à voz, linguagem (oral e escrita) e audição. Isto é devido à deficiência curricular nos cursos de magistério no que se refere à informação de uma área de grande importância no âmbito social e educacional, além do reduzido número de fonoaudiólogos nos serviços públicos de nosso país (MARCHIORI, 1998). PAIVA (1995), ao consultar professores das escolas da Rede Pública dos estados de Minas Gerais, Amazonas, Mato Grosso do Sul, Ceará e Tocantins, sobre certas alterações na área da fonoaudiologia observou que houve um baixo interesse por parte dos mesmos, uma vez que dos 252 questionários descritos, apenas 127 foram respondidos, ocasionando questionamentos mesmo antes da conclusão de sua pesquisa: Que motivo impulsionou os professores a essa reação de passividade? Baixos salários? Falta de incentivo por parte da Secretaria de Educação? Falta de reciclagem? Empenho insuficiente por parte da equipe técnico - administrativa? Ausência do fonoaudiólogo na escola? Resistência à mudanças? e concluiu posteriormente que isto decorre da realidade educacional, que certamente necessita de incentivo e de valorização de cada profissional. Enfatizou também em seu trabalho que a maioria dos professores não apresentou conhecimento sobre a fonoaudiologia e tão pouco mantinham contato com fonoaudiólogos. SALVIA e YSSELDYKE (1991), abordam a questão da acuidade sensorial, explicitando que o primeiro aspecto a ser verificado quando uma criança mostra dificuldades acadêmicas ou sociais, é se ela está recebendo informações do ambiente de maneira adequada, uma vez que estas dificuldades interferem no processo educacional de um número significativo de alunos, e que os professores devem estar conscientes dos comportamentos que possam indicar dificuldades sensoriais, tendo conhecimento necessário a respeito dos tipos de alterações sensoriais que as crianças podem apresentar e das implicações educacionais decorrentes das mesmas. Salientam que a

13 maneira mais eficaz de obter tais informações é a comunicação com especialistas. Concordou-se com todas estas colocações, uma vez que na pesquisa deparou-se tanto com o descaso quanto com o desconhecimento por parte da maioria dos professores. Porém, observou-se que o descaso inicial foi proveniente da falta de conhecimento sobre a área a ser abordada, proporcionando, desta forma, um certo receio, por parte dos mesmos, em responderem aos questionários de maneira inadequada. Quanto à fonoaudiologia constatou-se que, realmente, grande parte dos professores, não têm noção global sobre o campo de atuação dessa profissão, apresentando pouco conhecimento sobre tópicos referentes à audição e à aprendizagem. Após o trabalho de intervenção com os professores observou-se que os mesmos necessitam de maior amparo por parte dos orgãos competentes no sentido de que sejam concedidas mais opurtunidades de reciclagem e de incentivo, além de um convívio mais direto com profissionais de áreas afins, pois só assim terão maior motivação para interagirem com seus alunos de forma adequada, auxiliando aqueles que, por causas diversas, estão apresentando problemas na aprendizagem. Quanto aos sujeitos da pesquisa central, os quais se constituem nos alunos de 1ª à 4ª série com queixa de problemas de aprendizagem, observouse que: O grande número de crianças com queixa de problemas de aprendizagem (32,79%), apresentado pelas professoras participantes da presente pesquisa, faz com que se repense à respeito das oportunidades que vêm sendo oferecidas a estas crianças, lembrando do insucesso escolar colocado por FONSECA (1995), que se refere a toda e qualquer situação de aprendizagem em que, por motivos ligados à escola e aos fatores pedagógicos, são obtidos resultados diversos aos esperados. A elevada incidência de escolares com queixa de problemas de aprendizagem, que apresentou alterações auditivas confirmadas em nosso trabalho - (28,57%), é um fator bastante relevante, pois como explicita KATZ (1989), a perda auditiva permanente ou a inconsistência da função auditiva podem estar associadas a prejuízos educacionais, devendo portanto, a

14 acuidade sensorial e particularmente a auditiva,constituir-se no primeiro objeto de estudo quando o aluno apresenta problemas de aprendizagem (SALVIA e YSSELDYKE, 1991). Como coloca SANTOS (1996), porém, aproximadamente 80% das crianças nas idades pré-escolar e escolar sofreram uma perda auditiva temporária durante o ano escolar, sendo que em algum momento, 20 a 25% destes alunos falhariam em uma triagem auditiva, número este, inferior aos nossos 38,76% (16,88% com obstrução no conduto auditivo externo durante a otoscopia e 21,88% com falha em outros passos da triagem proposta) de alunos com queixa de problemas de aprendizagem que falharam durante a triagem de nosso estudo. Ao tomar como referência o total de alunos matriculados da 1ª à 4ª série na escola escolhida - 247 alunos, vê-se que a porcentagem de indivíduos com alterações auditivas confirmadas nesta pesquisa - 8,9% - 22 alunos (13 com obstruções no conduto auditivo externo, 1 com disacusia sensorioneural, 2 com disfunção tubária e 6 com hipoacusia condutiva), é inferior aos 10 a 15% de crianças em idade escolar que são portadoras de alterações auditivas (SOUSA e cols., 1996). Sendo assim, acredita-se que existam entre os alunos da escola, alguns que mesmo não tendo sido encaminhados pelas professoras para a triagem, por não apresentarem queixa de problemas de aprendizagem, possam estar com alguma alteração auditiva. Alteração esta, que pode vir a prejudicar o seu desempenho acadêmico, pois como relata SANTOS (1996), o nível de ruído de nossas salas de aula faz com que a relação sinal/ruído esteja bem abaixo do desejado para que a criança encontre um ambiente adequado ao aprendizado da linguagem e, sendo assim, qualquer alteração na acuidade auditiva desta, mesmo que leve, piora muito sua capacidade para perceber a fala em presença de ruído, o que prejudica o seu aprendizado. FREEMAN e PARKINS (apud RUSSO e SANTOS, 1989) mostraram em seu trabalho que havia uma incidência três vezes maior de timpanogramas anormais entre o grupo de crianças com distúrbio de aprendizagem, quando comparada com os achados timpanométricos de crianças normais., citando posteriormente a importância da bateria audiológica rotineira como fonte de informações sobre a integridade da audição periférica e como base para a

15 aplicação de testes específicos para pesquisa da via auditiva central fica, desta forma, determinada. RUSSO e SANTOS (1989), colocam que é fundamental que crianças com problemas de aprendizagem sejam submetidas a uma avaliação da audição periférica antes da aplicação de outros testes, devido a três razões básicas: muitas vezes a criança tem problema de aprendizagem por ter uma patologia condutiva ou neurossensorial; os testes auditivos centrais podem apresentar resultados ambíguos quando associados a perda auditiva periférica; muitos dos testes a serem aplicados para pesquisar distúrbios no processamento auditivo central, são feitos em nível de sensação, sendo que para isso são necessários os limiares tonais. Como se constatou, embasados pelos dados da literatura consultada e pelo levantamento de dados adquirido através da citada pesquisa, verificou-se que a avaliação da audição periférica consiste em um procedimento primordial, principalmente quando tratamos de alunos portadores de problemas educacionais, porém há necessidade de se averiguar constantemente a audição dos escolares em geral, pois quanto mais cedo for encontrada e tratada a alteração auditiva, menores serão seus danos no processo educacional. Salienta-se o grande número de alunos que vêm apresentando tais alterações, o desconhecimento do problema pelos pais e professores, os danos educacionais e a facilidade das testagens da acuidade auditiva, como os fatores mais importantes para a viabilização de um programa contínuo e eficaz de prevenção e detecção de alterações auditivas em escolares, além de se reforçar que a primeira atitude a ser tomada ao se deparar com uma criança com problemas de aprendizagem, seja a de verificar sua acuidade auditiva. Sabe-se, no entanto, que a recepção dos sons da fala envolve um sistema de integração complexo, incluindo a recepção, a discriminação e o reconhecimento de diferentes sons dentro de determinado sistema linguístico, ultrapassando a realidade da simples detecção de sinais acústicos, como expõe RUSSO (apud KOZLOWSKI, 1997), além de que outros inúmeros fatores, tais como, baixa auto-estima, dificuldades no relacionamento interpessoal, dinâmica familiar conflituosa (MORETTI e cols, 1997), desmotivação. (MARCHIORI, 1997).

16 Notas (1) Mestre em Educação Docente do Deptº de Fonoaudiologia da UNOPAR Londrina (PR). (2) Orientadora Docente do Deptº de Fundamentos de Psicologia e Psicanálise UEL. Referências bibliográficas BERBEL, N. A. N. A metodologia da problematização no Ensino Superior e sua contribuição para o plano da praxis. Semina: Ci.Soc./Hum, Londrina, Edição Especial, nov, 1996. FELDMAN, J. Problemas de aprendizaje: algunas antinomiasconceptuales. Revista Lugar em Fonoaudiologia. Rio de Janeiro (5), julho, 1991. FERREIRA, L.P. et Al. Temas de Fonoaudiologia. São Paulo: Cortez, 1985. FONSECA, V. Introdução às dificuldades de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. KATZ J. Tratado de Audiologia Clínica. São Paulo: Manole, 1989. KOSLOWSKY, L. Percepção auditiva e visual da fala. Rio de Janeiro: Revinter, 1997. MARCHIORI, L.L.M. Detecção de alterações auditivas em escolares. Revista Científica e Cultural da UNOPAR. Londrina, (1), dez. 1995.. Problemas de natureza motivacional no desenvolvimento das ciranças com dificuldades de aprendizagem na escola. Pró- Fono Revista de Atualização Científica. São Paulo,9 (2), set. 1997.. A metodologia da problematização como alternativa para maior integração entre profissionais da área de fonoaudiologia e professores do 1º grau. In: BERBEL, N.A.N. (Org.). Temas sobre a metodologia da problematização. Londrina, UEL, 1998. MORETTI, L.H.T. e Cols. As potencialidades infantis observadas através de atividades mediadas: atendimentos psicoterápico e psicopedagógico. UEL. Projeto de Pesquisa concluído, 1997. NORTHERN, J.L. & DOWNS, M.P. Audição em crianças. São Paulo: Manole, 1989.

17 PAIVA, M.L.M. A capacidade do professor da rede pública estradual na identificação da disfonia infantil. Revista de Fonoaudiologia da FAMIH, 2(1), nov/abr. 1995. QUINTANILHA RIBEIRO, F. A. Um método prático para a avaliação de comprometimento do aparelho auditivo em crianças. Dissertação de Mestrado. Escola Paulista de Medicina, São Paulo, 1987. RUSSO, I.C.P. & SANTOS T.M.M. Audiologia infantil. São Paulo: Cortez,1989. RUSSO, I.C.P. Acústica e psicoacústica aplicada à fonoaudiologia. São Paulo: Lovise, 1993. SALVIA,J. & YSSELDYKE, J. Avaliação em educação especial e corretiva. São Paulo: Manole, 1991. SANTOS,T.M.M. Otite média implicaçòes para o desenvolvimento da linguagem. In: SCHOCHAT, E. Processamento auditivo. São Paulo: Lovise, 1996.