FICHA TÉCNICA OS JOVENS

Documentos relacionados
BARÓMETRO DE OPINIÃO PÚBLICA: Atitudes dos portugueses perante Leitura e o Plano Nacional de Leitura

Guia Sudoe - Para a elaboração e gestão de projetos Versão Portuguesa Ficha 7.0 Auxílio estatal

O COMBATE À POBREZA E ÀS DESIGUALDADES É UM DESAFIO IMEDIATO PARA PORTUGAL

Programa: Enquadramento; Dinâmicas e processos associados à violência conjugal; A lei e o combate à violência doméstica questões legais.

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DO ENSINO BÁSICO

BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE ALJEZUR

RELATÓRIO FINAL - INDICADORES - DOCENTES ENGENHARIA AMBIENTAL EAD

SISTEMA DE INCENTIVOS À I&DT

Hóspedes, dormidas e proveitos mantêm crescimento significativo

Circulação. Automóveis ligeiros, motociclos. Contra-Ordenação. Até 20 km/h 60 a 300 euros Leve. 20 a 40 km/h 120 a 600 euros Grave

PROJECTO FUNDAMENTAÇÃO

Portaria n.º 1098/2008

Hotelaria com aumentos nas dormidas e proveitos

CIÊNCIA, CIDADANIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES DO 1º CICLO

JOVEM AGRICULTOR/JOVEM EMPRESÁRIO RURAL

Acidentes de origem eléctrica em Portugal

CPCJ P E N A C O V A C O M I S S Ã O D E P R O T E C Ç Ã O D E C R I A N Ç A S E J O V E N S REGULAMENTO INTERNO

EMPREENDEDORISMO FEMININO

PROJECTO DE RESOLUÇÃO N.º 95/VIII COMBATE À INSEGURANÇA E VIOLÊNCIA EM MEIO ESCOLAR

Regulamento Municipal de Remoção e Recolha de Veículos

Concurso de fotografia Somos todos peões REGULAMENTO 1. ENQUADRAMENTO

GRUPO 4 MOBILIDADE E TRANSPORTES

Indicadores Sociais Municipais Uma análise dos resultados do universo do Censo Demográfico 2010

FICHA TÉCNICA. Presidente António dos Reis Duarte

Subsistema de Incentivos para o Fomento da base económica de exportação

Postfacio: E agora? Maria Emília Brederode Santos

Contas Económicas da Silvicultura

Principais resultados do estudo de avaliação do nível de satisfação dos turistas no Município de Bragança

Natália de Oliveira Fontoura. Diretoria de Estudos e Políticas Sociais Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Brasília, março de 2014

Unidade Funcional de Estudos e Planeamento de Recursos Humanos

Regulamento Interno Férias Desportivas Verão 15

Adotada Total / Parcial. Fundamento da não adoção. Recomendação. Não adotada. 1. Princípios Gerais

MEXA-SE. Não fique parado Pela sua saúde ESCOLA SECUNDÁRIA HENRIQUE MEDINA. Secundária Henrique Medina, Esposende Uma Escola Ativa

DIA MUNDIAL DO CANCRO: 4/2/2015 ONCOLOGIA NA RAM - RELATÓRIO INFOGRÁFICO

GUIA PRÁTICO RESPOSTAS SOCIAIS INFÂNCIA E JUVENTUDE CRIANÇAS E JOVENS EM SITUAÇÃO DE PERIGO

Nota de Informação Estatística Lisboa, 21 de outubro de 2013

CIRCULAR RELATIVA À AVALIAÇÃO E VALORIZAÇÃO DE PROJETOS DE CONSTRUÇÃO DESENVOLVIDOS POR ORGANISMOS DE INVESTIMENTO IMOBILIÁRIO

CERTIFICAÇÃO. Sistema de Gestão

UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO PELAS FAMÍLIAS 2001

CURSO INTENSIVO DE BANCA PARA RECÉM-LICENCIADOS

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE EMPRESAS PETROLÍFERAS

Comissão avalia o impacto do financiamento para as regiões e lança um debate sobre a próxima ronda da política de coesão

Sistemática dos seres vivos

ANEXO 12 EXTERNALIDADES. Parte I Penalidades por Externalidades Ambientais

Distrito - VIANA DO CASTELO. SINISTRALIDADE Dez de Observatório de Segurança Rodoviária Relatório - Distrito 1

GUIA PRÁTICO MEDIDAS ESPECÍFICAS E TRANSITÓRIAS DE APOIO E ESTÍMULO AO EMPREGO

Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto USP Departamento de Economia

Certificado Energético Edifício de Habitação IDENTIFICAÇÃO POSTAL. Morada RUA CONDE SABUGOSA, 27, 7º ESQ. Localidade LISBOA. Freguesia ALVALADE

Análise Qualitativa no Gerenciamento de Riscos de Projetos

FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA. Redes de Telecomunicações (2006/2007)

O JOVEM COMERCIÁRIO: TRABALHO E ESTUDO

Capítulo I Disposições Gerais

Perfil Profissional de Treinador

VIII Oficinas de Formação A Escola na Sociedade da Informação e do Conhecimento praticar ao Sábado. E-learning. 3 de Março de 2007

III SEMINÁRIO DE ATLETISMO JUVENIL III SEMINÁRIO DE ATLETISMO JUVENIL

POLÍTICA DE PREVENÇÃO E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSE DO BANCO ESPIRITO SANTO NO ÂMBITO DAS ACTIVIDADES DE INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA

CURSO LIVRE DE ECONOMIA

PEQUENAS EMPRESAS E PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS TENDÊNCIAS E PRÁTICAS ADOTADAS PELAS EMPRESAS BRASILEIRAS

André Urani

Boletim epidemiológico HIV/AIDS /11/2015

ANO de Sinistralidade Rodoviária. Observatório de Segurança Rodoviária Relatório - Anual

Orçamento Participativo. Carta de Princípios


Manual do Revisor Oficial de Contas. Recomendação Técnica n.º 5

Ciências atuariais aplicadas à previdência

Edital 97/95 Regulamento Geral dos Parques de Estacionamento Municipais. (Versão em vigor, com as alterações efectuadas pelo Edital n.

REGULAMENTO DAS FÉRIAS DESPORTIVAS DA JUNTA DE FREGUESIA DE PARANHOS

ADR. BASE e CISTERNAS. Matérias Perigosas. Página1

Regulamento das provas especialmente adequadas destinadas a avaliar a capacidade para a frequência do Curso de Licenciatura em Enfermagem da ESEL dos

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA À OPERAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO DO SISTEMA INFORMÁTICO

A Agenda de Desenvolvimento pós-2015 e os desafios para os Governos Locais. Belo Horizonte 26 de Agosto de 2015

CARTA INTERNACIONAL DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO DESPORTO DA UNESCO. Preâmbulo

Governação e Território: Conflitualidades e disfunções vistas através da imaginação do TGV

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE PÓVOA DE LANHOSO

JESSICA NO ORDENAMENTO JURÍDICO PORTUGUÊS. José Brito Antunes Lisboa, 18 de Fevereiro de 2008

3.2 Companhias de seguros

Regime fiscal das fundações. Guilherme W. d Oliveira Martins FDL

REGIME DE RESPONSABILIDADE AMBIENTAL, SINERGIAS COM A PÓS AVALIAÇÃO

Os veículos eléctricos na Alta de Coimbra

ENTENDENDO O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

O Brasil e os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

Despacho n.º /2015. Regulamento Académico dos Cursos de Pós-Graduação não Conferentes de Grau Académico do Instituto Politécnico de Leiria (IPLeiria)

Projecto Educativo. de Escola

Linha de Crédito PME CRESCIMENTO 2014 (Condições da Linha)

Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo Associação Empresarial das ilhas Terceira, Graciosa e São Jorge

GUIA DE ASSISTÊNCIA FLEX

Projeto 10Envolver. Nota Técnica

REGIMENTO DO CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE VILA FLOR

Parecer da DGAI sobre a Auto-Avaliação do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras relativa ao desempenho de serviço, em 2009

ROTEIRO DE EXPOSIÇÃO Índices inflacionários, evolução salarial da categoria e despesa de pessoal no Estado de São Paulo

Mobilidade Sustentável em Meio Urbano Quais as medidas para uma mobilidade sustentável?

EIXO 3 CONECTIVIDADE E ARTICULAÇÃO TERRITORIAL AVISO DE ABERTURA DE CONCURSO PARA APRESENTAÇÃO DE CANDIDATURAS CONDICIONADO N.

PROJETO DE LEI Nº., DE DE DE 2012.

GRUPO DE TRABALHO (INCLUINDO ALTERAÇÃO): COMISSÃO DE PROTECÇÃO DE CRIANÇAS E JOVENS EM RISCO

NOÇÃO DE ACIDENTE E INCIDENTE

Projeto Educativo

RESULTADOS RELATIVOS A GONDOMAR INDICADORES DO «CIDADES»

Transcrição:

FICHA TÉCNICA OS JOVENS JULHO 2012

Enquadramento A abordagem da sinistralidade envolvendo jovens incide sobre os utentes com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos. Este critério baseia-se na idade mínima exigida para a obtenção da carta de condução de automóveis ligeiros e, por outro lado, no pressuposto geralmente aceite de que um condutor experiente é aquele que conduz há, pelo menos, 6 anos. Deste modo, o grupo em análise abrange peões, passageiros e, no que respeita aos condutores, inclui apenas os recém encartados e condutores sem experiência. O peso destes utentes no total das vítimas de acidentes de viação tem suscitado um grande interesse e preocupação na literatura de segurança rodoviária por ser excessivamente elevado na generalidade dos países. Em Portugal a situação não é muito diferente: em 2010, os jovens dos 18 aos 24 anos constituíram 8% da população e representaram 16% do total de vítimas resultante de acidentes rodoviários. A sobre-representatividade desta faixa etária verifica-se também em relação aos acidentes mais graves, uma vez que o risco de morte destes utentes é superior ao dos restantes grupos etários. Conforme ilustrado no gráfico, em 2010, registaram-se 88 mortos por um milhão de habitantes entre os jovens, enquanto no caso dos outros utentes este indicador foi igual a 68. 2

A investigação efectuada neste âmbito sugere que a causa dos acidentes observados neste estrato da população resulta, essencialmente, de uma conjunção de características relacionadas com a idade, designadamente, uma elevada apetência para o risco e insuficientes habilidades/competências de condução. Contudo, este não é um problema que se restrinja aos condutores, já que o maior número de passageiros vítimas em acidentes rodoviários pertence, igualmente, ao escalão dos 18-24 anos. De acordo com o último relatório publicado pela OMS (European Status Report on Road Safety, 2008), os acidentes de viação são a principal causa de morte dos jovens entre os 15 e os 29 anos e um grave problema de saúde pública. A morte prematura ou invalidez causadas pelos acidentes de viação são tanto mais inaceitáveis quanto mais vasto e diversificado é o leque de medidas de prevenção viáveis e eficazes. Prova disso são os excelentes resultados alcançados pelos países que têm investido na segurança rodoviária ao longo de décadas, expressos em reduções substanciais dos respectivos índices de sinistralidade. A nível da União Europeia, Portugal foi o país que, entre 1999 e 2008, apresentou a maior redução, relativamente às vítimas mortais com idades situadas entre os 18 e os 24 anos (-73%). 3

Ainda neste contexto, Portugal foi também o estado-membro onde a proporção destas vítimas, em relação ao total nacional registado em 2008, assumiu o valor mais baixo (13%), conforme representado no gráfico seguinte. Face ao exposto, considera-se que a posição do país é bastante satisfatória neste domínio específico, registando valores inferiores à média europeia. 4

Evolução Em termos da evolução das vítimas com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos, constata-se que nos últimos dez anos (2001 a 2010) o número de mortos e de feridos graves diminuiu 74% e 66%, respectivamente. Estas reduções foram superiores às que se observaram entre os restantes utentes, que apresentaram decréscimos na ordem dos 43% mortos e 52% feridos graves. Tendo em conta que para os resultados obtidos não são indiferentes as variações registadas pela população, em igual período, analisou-se a evolução das vítimas mortais ponderadas pelo número de habitantes de cada um dos grupos em causa (18-24 anos e outros grupos etários, respectivamente). Verifica-se, então, que entre 2001 e 2010 a taxa de mortalidade dos jovens se caracterizou por uma diminuição mais acentuada (-68% mortos por milhão de habitantes, comparativamente com -46% para os restantes utentes) o que vem confirmar os progressos significativos registados por esta faixa etária nos últimos anos. 5

No que respeita à categoria de utentes, a contribuição dos condutores e passageiros para a melhoria observada até 2010 foi muito positiva: o número de condutores mortos e feridos graves diminuiu 79% e 67%, respectivamente, e o de passageiros 67% e 65%. A representatividade dos peões, por sua vez, é pouco relevante neste estrato da população, não ultrapassando, em média, 5% do total de jovens vítimas em acidentes. 6

Caracterização A caracterização da sinistralidade efectuada neste ponto tem como referência os valores registados na última década (2001-2010). Conforme referido anteriormente, os jovens dos 18 aos 24 anos são o grupo etário onde se observa um maior número de vítimas. Em 2010, estes utentes representaram 10% do total de mortos registado a nível nacional, e 16% dos feridos graves e dos feridos ligeiros, respectivamente. Os condutores constituem 65% dos jovens mortos e 63% dos feridos graves, de acordo com os gráficos abaixo, os passageiros correspondem a 1/3 destas vítimas e os peões representam, apenas, 3% das vítimas mortais e 5% dos feridos graves. A importância relativa dos passageiros e peões entre os jovens diverge bastante da que se verifica nos restantes grupos etários: o número de passageiros assume um peso superior (32% dos jovens mortos versus 19%, para os outros utentes, e 32% dos feridos graves versus 23%), e o de peões, pelo contrário, é muito inferior (3% dos jovens mortos contra 21%, no caso dos outros utentes, e 5% dos feridos graves contra 22%). 7

Aproximadamente 2/3 dos jovens condutores e passageiros circulam em automóveis ligeiros e 1/4 em motociclos, sendo que os ocupantes de outros veículos assumem pouco relevo, conforme evidenciam os gráficos referentes às vítimas mortais e feridos graves por categoria de veículo. A maioria das vítimas pertence ao sexo masculino: 83% do total de jovens mortos, 78% dos feridos graves e 63% dos feridos ligeiros. Claro que a maior taxa de mortalidade registada pelos homens não é alheia ao facto de estes serem mais numerosos, relativamente ao total de condutores, e de conduzirem com maior frequência. Assim, com o objectivo de proceder a uma análise isenta destas influências, calculou-se o número de condutores mortos por cada mil vítimas segundo o género, e constatou-se que entre os condutores do sexo feminino se verificam 6 mortes, por cada mil vítimas, enquanto para o sexo masculino este indicador é igual a 23 mortos. 8

Comprova-se, portanto, que os homens apresentam um risco de morte em acidentes rodoviários que é cerca de 4 vezes superior ao das mulheres. Em termos de localização, mais de metade das vítimas mortais dos 18 aos 24 anos resulta de acidentes que ocorrem fora das localidades (55%), principalmente em estradas nacionais, enquanto os feridos graves e ligeiros apresentam valores superiores nas zonas urbanas (57% e 66%, respectivamente). Os acidentes repartem-se, basicamente, em colisões e despistes, tendo em conta que o número de atropelamentos se situa entre os 4% e 6% (gráficos abaixo). 9

Comparando com os outros grupos etários, constata-se que os despistes são relativamente mais frequentes na sinistralidade que envolve os jovens: 49% do total de mortos e 44% dos feridos graves resultam de despistes, quando para os utentes de outras idades estes acidentes correspondem a 36% vítimas mortais e 29% feridos graves. Outra particularidade que diferencia os acidentes com jovens da sinistralidade em geral, e que decorre naturalmente do seu estilo de vida, prende-se com os dias da semana e as horas em que aqueles ocorrem. Com efeito, os acidentes registados ao sábado e domingo são responsáveis por 46% das mortes entre os jovens e 41% dos feridos graves, enquanto para os restantes grupos etários estas proporções são de 34% e 33%, respectivamente. Quanto ao período horário, 30% do total de jovens mortos e 25% dos feridos graves ocorrem entre a meia-noite e as 6 horas da madrugada, sendo que para os outros utentes estas percentagens são de 15% e 11%, respectivamente. 10

A nível geográfico, Lisboa e Porto são os distritos onde se observa o maior número de vítimas entre os 18 e os 24 anos: 26% do total de mortos registado a nível nacional, 29% dos feridos graves e 36% dos feridos ligeiros. Nos distritos que se seguem (Santarém, Setúbal, Braga e Leiria) a média das vítimas não excede os 9%, qualquer que seja a gravidade da lesão (mortal, grave ou ligeira). 11

Medidas De uma apreciação global do exposto conclui-se que o risco de morte em acidentes é mais elevado para os jovens com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos, na sua maioria condutores, e para os homens, quando comparados com as mulheres do mesmo grupo etário. O elevado número de despistes, reflectindo a ocorrência frequente de perda de controlo do veículo é também outro aspecto a assinalar. A enorme apreensão causada pelo facto destes utentes serem as principais vítimas de acidentes rodoviários motivou a pesquisa e identificação de inúmeros factores, conforme já referido, dos quais se destacam a inexperiência e a idade. A condução é uma actividade extremamente complexa, que requer a elaboração de uma sucessão de operações/tarefas exigindo, por parte do condutor, a plena posse de todas as suas capacidades físicas e psicológicas. Embora muitas acções e manobras, ao fim de algum tempo, sejam executadas de forma automatizada, numa fase inicial o condutor precisa de exercer um controlo muito mais consciente sobre o veículo, tendo em conta que a sua capacidade de atenção e desempenho de uma série de tarefas em simultâneo é limitada. O tempo e a prática são, pois, imprescindíveis para adquirir um nível de competências adequado a uma condução segura. Acresce que os condutores mais novos tendem a desvalorizar a complexidade do trânsito e as situações de perigo, quer seja por desconhecimento, já que a condução de veículos motorizados é uma actividade recente para eles, quer porque os acidentes com vítimas, sobretudo os mais graves, são acontecimentos relativamente raros, cujas consequências fazem parte de uma realidade para a qual eles não se encontram suficientemente despertos. Sendo certo que a inexperiência é uma limitação, como se deduz do que atrás ficou dito, superá-la não é fácil - se, por um lado, existem aptidões (psicomotoras, perceptivas e cognitivas) indispensáveis a uma condução segura que só se adquirem com muita prática, por outro, a aprendizagem e a obtenção de experiência constituem um processo que acarreta, inevitavelmente, a exposição dos jovens ao risco de acidente. A idade é outra das explicações mais exploradas e defendidas neste contexto, sendo que a sua influência é evidenciada em estudos como o da OCDE, 2006 (Young Drivers: The Road to Safety), que comparam as taxas de acidentes de recém encartados com diferentes idades, concluindo que esta é superior para os mais novos devido à sua imaturidade física e emocional. Com efeito, a adolescência e o início da idade adulta representam um período da vida em que os jovens experienciam um aumento de liberdade e iniciam um processo de individualização, procurando a sua própria identidade. O seu comportamento é ditado, antes de tudo, pelas normas sociais e pela necessidade de auto-afirmação perante os amigos e pessoas da mesma idade. 12

Algumas características - como sejam a sobrevalorização das capacidades pessoais, a procura de sensações e a predisposição para correr riscos resultante da sua tendência em valorizar mais os benefícios do que os custos - embora habituais nesta idade, principalmente nos rapazes, favorecem atitudes/acções que concorrem para a ocorrência de acidentes, designadamente, a realização de manobras perigosas, o desprezo pelas regras de trânsito e a pouca atenção dispensada ao uso de acessórios de protecção, como o cinto de segurança. Estes aspectos são agravados por um estilo de vida propício à exposição a situações menos seguras. Conforme foi oportunamente evidenciado, os jovens conduzem regularmente à noite, quando a visibilidade é reduzida e a propensão para praticar velocidades elevadas é maior, bem como aos fins-de-semana, regra geral acompanhados por amigos, que podem ser uma fonte de distracção, e, muitas vezes, depois de terem ingerido álcool ou outras substâncias. Alguma investigação refere que a condução sob a influência de álcool é menos frequente entre os jovens. Contudo, o facto de eles ingerirem bebidas alcoólicas apenas ocasionalmente (fins-desemana, festas, ) leva a que sejam afectados com baixos níveis de álcool no sangue sendo precisamente por este motivo que a probabilidade de sofrerem acidentes é maior do que para os condutores que possuem hábitos de consumo moderado e regular de álcool, mesmo que tenham uma taxa de álcool igual ou superior. Dos resultados apresentados, depreende-se que são vários os factores que explicam a elevada sinistralidade envolvendo o grupo dos 18-24 anos, por vezes com consequências trágicas, e também que grande parte deles são próprios da juventude e absolutamente naturais, especialmente nos momentos de lazer. Importa, por isso, encontrar soluções que permitam minimizar o risco de acidente inerente a estes utentes sem os penalizar injustamente, até porque há que ter em conta a sua heterogeneidade, isto é, que nem todos os jovens são intervenientes em acidentes. Neste âmbito, é claro e indiscutível que o sistema de formação e avaliação de condutores instituído é determinante, uma vez que a preparação inicial dos novos condutores, seja ao nível dos comportamentos, seja em relação aos conhecimentos e competências técnicas, depende da sua estrutura e funcionamento. Porém, não cabe aqui aprofundar esta matéria, mas sim proceder a uma breve apresentação das medidas recomendadas para reduzir o risco de acidente dos jovens a partir do momento em que são titulares de carta de condução. Estas classificam-se em dois tipos: as medidas proteccionistas e as que visam desencorajar comportamentos de transgressão e/ou inadequados. As primeiras assentam no princípio de que os jovens não devem ser expostos a riscos que ainda não estão aptos a gerir e, como tal, há que protegê-los, evitando que conduzam em circunstâncias 13

comprovadamente arriscadas. Integram-se neste grupo de medidas a proibição de conduzir à noite ou de transportar passageiros do mesmo escalão etário durante um certo tempo após a obtenção da carta de condução, o estabelecimento de um limite de álcool mais baixo para os recém-encartados (0,20 g/l), etc. Estas e outras intervenções idênticas, no entanto, não devem ser implementadas sem primeiro efectuar uma avaliação rigorosa da realidade nacional, uma vez que a imposição de restrições à liberdade de conduzir e adquirir experiência, bem como às oportunidades que a condução de veículos motorizados proporciona, em termos de mobilidade, tem custos sociais que não podem ser ignorados. No que respeita às acções destinadas a induzir uma condução segura referem-se, nomeadamente, a fiscalização, a criação de recompensas/sanções (incentivos fiscais, prémios de seguros, etc.) e a educação e comunicação. Com efeito, embora até agora não se tenha abordado o papel das acções de formação, informação e sensibilização, este é essencial como meio de consciencializar os jovens para os riscos relacionados com a condução. Apesar da sua inexperiência e das características intrínsecas a esta etapa do desenvolvimento humano estarem na origem de muitos comportamentos preocupantes, e, ainda, de nestas idades os pares ocuparem um lugar primordial na sua vida, é nosso dever e obrigação alertar e afastar os jovens dos principais perigos, e também orientá-los de maneira a que, em momentos complicados, saibam reagir adequadamente. Nesta perspectiva, a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) desenvolveu uma campanha destinada ao grupo etário dos 18 aos 24 anos, intitulada SOU O MAIOR Conduzo com Segurança, em parceria com as Entidades Fiscalizadoras (GNR e PSP), a Associação Nacional dos Industriais do Ensino de Condução Automóvel (ANIECA), a Associação dos Industriais do Ensino de Condução Automóvel de Portugal (ANORECA), a Associação de Profissionais do Ensino da Condução (APDEC), a Associação Portuguesa de Escolas de Condução (APEC), a Fundação da Juventude e o Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ). Considera-se que é fundamental promover a interiorização de uma atitude de preocupação com a segurança rodoviária junto dos jovens, tendo em conta que as mudanças de comportamento requerem, desde logo, que se conheçam e compreendam os perigos, bem como a razão de ser das normas de segurança. 14