O DESAFIO DO ENSINO RELIGIOSO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA REFLEXÃO SOBRE A FORMAÇÃO E A PRÁTICA DO EDUCADOR.



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Transcrição:

O DESAFIO DO ENSINO RELIGIOSO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA REFLEXÃO SOBRE A FORMAÇÃO E A PRÁTICA DO EDUCADOR. Cornélia Fantini Kucek¹ Kizzy Feldkirker² Resumo A Educação Infantil é a primeira etapa do desenvolvimento escolar da criança e sendo nela que toda a base de formação acontece, independente da área do conhecimento a que nos referimos, não é possível deixar de atentar para a importância de uma formação com qualidade para o Ensino Religioso entre estes educandos. O presente texto aborda as dificuldades que os educadores desta faixa etária podem encontrar para desenvolver seu trabalho, no que se refere à falta de formação específica do docente, sendo que em sua maioria, os que trabalham nesta área são professores generalistas; bem como a restrição de materiais didáticos adequados para este ensino. Buscamos levantar polêmica sobre a formação dos professores e ao mesmo tempo evidenciar a necessidade de uma busca de material adequado ao trabalho que deve ser desenvolvido. Palavras-chave: Educação Infantil, Ensino Religioso, formação de professores, prática pedagógica e material didático.

¹ Graduada em Pedagogia pela Universidade Tuiuti do Paraná e Pós Graduada em Psicopedagogia pelo Instituto Ibepex, Professora de 1ª série do Ensino Fundamental e Professora de Ensino Religioso do Ensino Fundamental 5ª a 8ª série e Ensino Médio no Colégio Vicentino São José. ² Graduada em Pedagogia pela Universidade Tuiuti do Paraná e Pós Graduada em Psicopedagogia pela Universidade Tuiuti do Paraná, Professora de 1ª Série do Ensino Fundamental na rede Municipal de Ensino de Curitiba e Professora do 1º Ano do Ensino Fundamental no Colégio Marista Paranaense. Introdução Este trabalho pretende levar a uma reflexão da importância do Ensino Religioso na primeira infância, partindo do pressuposto que a Educação Infantil é base de toda a formação, onde se sabe que a criança necessita ser estimulada de forma integral. Até os seis anos de idade é o período no qual mais se desenvolvem as habilidades e competências, e o que vem depois disso é apenas reflexo e maturação do que foi construído. Na Educação Infantil acontecem as primeiras relações sociais da criança, que oportunizarão com que ela perceba os espaços sociais aos quais pertence e outros aos quais poderá estar participando eventualmente, interagindo e aprendendo assim o respeito ao outro e as diferenças. Este aprendizado dar-se-á de dentro para fora, ou seja, primeiro a criança tende a acreditar que tudo que está ao seu redor lhe pertence fase do egocentrismo - depois destes primeiros contatos, onde o outro também aprende a respeitá-la, é que compreenderá o seu espaço, o espaço social e a necessidade de interagir para que o mesmo ocorra em relação a ela. É fundamental que nesta fase seja oportunizado o primeiro contato com o universo religioso, tendo como base o saber de si para que a criança consiga reconhecer as diferenças do contexto social que a cerca, pois através deste processo é que ela conseguirá crescer em seu aspecto social e cognitivo, sem carga de preconceito. Inspiradas em nossa prática pedagógica, na Educação Infantil e Séries iniciais, nossas dificuldades e conquistas, decidimos pesquisar o funcionamento do Ensino Religioso na Educação Infantil, em diferentes realidades, mas nos deparamos com empecilhos que fizeram com que a nossa pesquisa tomasse outro direcionamento: a falta de fontes bibliográficas de pesquisa, específicas para este segmento da educação.

Decidimos então, buscar e analisar materiais didáticos produzidos para este nível de escolaridade e para esta área do conhecimento, que atendessem aos objetivos reais e possíveis da disciplina para a Educação Infantil. Após esta busca, encontramos a coleção Redescobrindo o Universo Religioso, que por seu caráter pedagógico, bastante adequado à faixa etária e também fundamentado dentro dos princípios contemplados na proposta desta área do conhecimento enquanto currículo - mesmo esta não sendo contemplada nos Referenciais de Educação do nosso país - serviu como ponto de partida para nossa pesquisa. Partimos então para uma entrevista pré-elaborada com uma das autoras e a editora deste projeto, para que elas pudessem nos contar sua experiência, a trajetória percorrida no desenvolvimento da coleção, bem como facilidades e dificuldades encontradas. UMA REFLEXÃO SOBRE A FORMAÇÃO E A PRÁTICA DO EDUCADOR. O Ensino Religioso na Educação Infantil acontece principalmente nas escolas confessionais, e por não ser obrigatório na LDB e nos Referenciais Curriculares de Educação, ainda encontra-se muito relacionado ao carisma de cada instituição de ensino. Quando pensamos na Educação Infantil, temos que ter uma visão bastante interdisciplinar, pois a principal característica dos profissionais que atuam neste segmento é serem na maioria generalistas. Também os conteúdos interligam-se entre si,pelo fato de que na maioria das propostas pedagógicas utilizadas, nas diferentes instituições de ensino, um dos aspectos mais encontrados é o trabalho com projetos de aprendizagem, que englobam todas as disciplinas a partir de um mesmo tema. Tendo em vista que o Ensino Religioso assim como as outras áreas necessita de um conhecimento mais específico, voltamo-nos para a formação deste profissional que, por exemplo, nos cursos de Pedagogia, é muito nova ainda esta área, e poucas são as instituições que ofertam esta disciplina em sua formação, e um curso superior específico de Ensino Religioso ainda é inexistente em nosso estado. Sendo assim o professor que vai atuar na Educação Infantil normalmente tem o seu primeiro contato com esta disciplina quase que no momento de sua prática, não estando preparado e tendo que se

tornar um autodidata para que dê conta do que o espera. Isto se torna praticamente inviável, pelo fato de ter uma formação de generalista e estar atuando simultaneamente em todas as áreas. Este mesmo profissional, se ainda com todos esses fatores, quiser buscar uma formação não acadêmica, mas como pesquisador, então neste momento ele se depara com um novo problema: a falta de referenciais bibliográficos relacionados especificamente a esta faixa etária, onde possa se pautar. Depois de nos darmos conta deste contexto, podemos pensar numa terceira opção, que é o material didático. Embora ele seja opcional, se for utilizado é capaz de servir de formador não só do educando como também de seu educador, pois ao preparar suas aulas ele estará, ao mesmo tempo, ampliando o seu conhecimento. Precisamos refletir também que quando o professor, especialista, ou não, precisa rever também as suas concepções religiosas pessoais, pois se a proposta da disciplina não for internalizada e aceita pelo educador, isto também pode vir a ser um obstáculo, pois para algumas pessoas a falta de informação e aceitação acarreta numa má compreensão da disciplina como ciência. Faz-se necessário também mencionar que o Ensino Religioso nas escolas confessionais tem passado por uma transição, entre catequético e interconfessional, e que este entendimento está se dando aos poucos, através de cursos ofertados pelas mantenedoras, nas próprias escolas, debates entre os professores e coordenadores desta área e troca de experiências entre diferentes instituições, e que há dificuldade em separá-lo das aulas de Pastoral Escolar, as quais, por serem trabalhadas há tanto tempo nas escolas confessionais, estão de certa forma internalizadas e garantem a continuidade do carisma da instituição. O DESAFIO DO ENSINO RELIGIOSO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Como primeira reflexão, é necessário mencionar um breve histórico de alguns aspectos do Ensino Religioso no Brasil, e também sobre o perfil destas crianças freqüentadoras da Educação Infantil, para que então se possa compreender melhor o motivo da pouca oferta de materiais desta área para este nível de escolaridade e também das dificuldades encontradas por estes profissionais.

O primeiro contato inter-religioso em nosso país nos remete à chegada dos portugueses, pois ao dominarem os indígenas que aqui já viviam há muito tempo, quiseram evangelizá-los, uma vez que em sua errônea compreensão, acreditavam que os mesmos não possuíam nenhuma religiosidade. Mesmo enfrentando este fato com muita resistência, a evangelização aconteceu e mudou profundamente a cultura de muitos indígenas. Porém, com o tempo e com a chegada de outros povos e suas tradições religiosas diferentes, houve a formação de uma pluralidade bem visível. A sociedade brasileira começou então a se desenvolver em vários aspectos, com uma caminhada longa, mas que nem sempre foi justa em relação a educação. Num primeiro momento, a formação educacional do nosso povo, era de responsabilidade da igreja, e mais tarde quando passou para o poder público, atingiu apenas as classes mais favorecidas, cabendo ao povo em geral apenas o trabalho que utilizava muito mais a força física do que a força cognitiva. A primeira conquista do Ensino Religioso no Brasil, como área de conhecimento e com respeito, se é que se pode assim dizer, para a diversidade religiosa de nosso país, veio apenas em 1934, no artigo 153 que diz: O Ensino Religioso será de freqüência facultativa e ministrado de acordo com os princípios da confissão religiosa do aluno, manifestada pelos pais e responsáveis, e constituirá a matéria dos horários nas escolas públicas primárias, secundárias, profissionais e normais Depois desta constituição, poucas mudanças realmente significativas se deram, principalmente devido ao uso da palavra facultativa, e até a nova constituição de 1988, onde uma discussão que antecede o texto da constituição se dá, pensando no papel que se quer para este Ensino Religioso como disciplina curricular. De 1988 até os dias de hoje foi que houve uma maior reflexão a respeito do Ensino Religioso dentro das escolas. Foram promovidos muitos debates para um maior entendimento da proposta, e como conseqüências algumas conquistas. No Estado do Paraná, normalmente tido como pioneiro nesta área de conhecimento, já tem como lei, a obrigatoriedade desta disciplina, como parte do currículo escolar do Ensino Fundamental, segunda fase, de 5º a 8ª séries. Porém, uma batalha ainda não vencida e que gera muitas discussões é a matricula facultativa do aluno nesta disciplina, e

compreender que, mesmo sendo considerada como ciência, ela pode ser facultativa, faz com que a seriedade desta disciplina seja um pouco incompreendida, deixando o professor desfavorecido em relação a outras áreas. Também com a nova LDB 9394/96 artigo 33, alterado lei 9475/97, houve um novo enfoque, um fio condutor, pode-se assim dizer, para o trabalho com o Ensino Religioso dentro das escolas. Nesta nova LDB, o Ensino Religioso trata-se de parte integrante na formação básica do cidadão, assegura o direito à diversidade cultural religiosa e são vedadas quaisquer formas de proselitismo. Porém, ainda nada se fala sobre este Ensino Religioso na Educação Infantil. Sabe-se, no entanto que ainda há uma grande divisão de opinião, com pessoas contra e a favor desta inserção na educação básica. Esta integração da disciplina com o currículo formal e padronizado difere muito também de escola para escola. Algumas adotam o professor especialista para este trabalho, com o critério de ter alguém com formação específica para esta atuação, mas na grande maioria dos casos, são os educadores generalistas que atuam nesta área. Também devemos pensar no histórico de nossa Educação Infantil, que durante muitos anos teve caráter assistencialista, onde o cuidar era o mais importante valor que poderia estar sendo ofertado. Ainda hoje podemos encontrar esta situação em algumas instituições, porém já existem muitos estudos e livros a respeito desta faixa etária, traduzidos para o português. Mas a maior conquista veio apenas recentemente, na nova LDBEN nº. 9.304/96 Lei de diretrizes e bases da educação nacional onde pela primeira vez a Educação Infantil foi vista como parte integrante e de real importância para a educação, sendo a primeira etapa da educação básica. Em seguida uma nova luz, o Referencial Curricular para a Educação Infantil, documento que pela primeira vez, determina um conteúdo mínimo para ser adotado pelas escolas desta faixa etária no país inteiro, respeitando as potencialidades da criança nesta idade, porém dentre as muitas áreas contempladas, infelizmente não está presente o Ensino Religioso.... O referencial pretende apontar metas de qualidade que contribuam para que as crianças tenham um desenvolvimento integral de suas identidades, capazes de crescerem como cidadãos, cujos direitos à infância são reconhecidos. Visa,

também, contribuir para que possa realizar, nas instituições, o objetivo socializador dessa etapa educacional, em ambientes que propiciem o acesso e a ampliação, pelas crianças, dos conhecimentos social e cultural. Referencial curricular nacional para a educação infantil/ Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. _ Brasília: MEC/SEF, 1998 página 05. Sendo assim, podemos compreender que mesmo não estando contemplado na LDBEN, o Ensino Religioso, dentro de uma visão onde a criança deverá ter acesso ao conhecimento social, é de extrema importância para esta faixa etária, pois não podemos negar de forma alguma que as manifestações religiosas, sejam quais forem, influenciam a sociedade. Retornamos então à problemática do nosso trabalho: onde encontrar materiais bibliográficos que subsidiem a disciplina do Ensino Religioso para os educadores da Educação Infantil? Qual a formação possível e necessária para estes profissionais? Depois de muitas pesquisas e buscas por este conhecimento, resolvemos nos apoiar no material didático que acreditamos ser o mais adequado dentro da visão do Ensino Religioso com a perspectiva que procuramos e para a criança que acreditamos poder formar: A Coleção Redescobrindo o Universo Religioso. Partimos para uma análise e estudo deste material. Surgiu então a curiosidade de conhecer o processo pelo qual ele foi pensado e realizado. Elaboramos um questionário com as nossas dúvidas e que possivelmente também são as mesmas de outros educadores, com o objetivo de estimular os profissionais do Ensino Religioso a buscarem caminhos e soluções para a sua prática, contribuindo assim para o trabalho deles na Educação Infantil. Agradecemos as duas profissionais pela gentileza de ceder seu tempo para a nossa pesquisa, pela forma atenciosa com que nos atenderam, e salientamos que são pessoas com essa visão de partilha que fazem com que a educação seja um caminho valioso e significativo para a humanização e pela busca da Paz, pois saber para si é muito digno, mas saber dividir o conhecimento é um dom.

ENTREVISTADAS Marilac Loraine Olenike, Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Licenciada em Pedagogia com Habilitação em Orientação Educacional pela Universidade Tuiuti do Paraná, especialista em Psicopedagogia pela Universidade Tuiuti do Paraná. Consultora editorial e pedagógica Praemium Consultoria Ltda, Membro do grupo de pesquisa : Educação e Religião do Programa de pós graduação Mestrado PUC PR, Coordenadora do Centro de Orientação para Pais Praemium Consultoria Ltda, Professora de Metodologia do Ensino Religioso no curso de pós-graduação da Faculdade Bagozzi, Assessora Cursos de capacitação docente e para catequistas. Viviane Mayer Daldegan, formada Pedagogia, pela Universidade Federal do Paraná, Pós Graduada em Administração Escolar com Ênfase em Ensino Religioso. Professora de Ensino Religioso do Colégio Bom Jesus de Curitiba. PERGUNTAS SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL Observação: usaremos V quando a resposta estiver relacionada ao depoimento da autora Viviane Mayer Daldegan, e M para a editora Marilac Loraine Olenike. 1 Qual é a intenção social do Ensino Religioso na Educação Infantil? V e M - A Intenção social do Ensino religioso na Educação Infantil é promover a descoberta de si e do outro por meio de atividades lúdicas, compreendendo que as

pessoas são diferentes: pensam, agem e também utilizam maneiras diferentes para falar com o Transcendente, mas que isso não as separa e sim pode as unir. 2 Como podemos avaliar o Ensino Religioso na Educação Infantil? V e M - A avaliação acontece por meio da oralidade e também dos registros realizados pelos educandos na construção individual do conhecimento. 3 Que conteúdos vocês acreditam ser adequados para a Educação Infantil? Por quê? V e M - O educando da educação Infantil é um ser em construção, que está em uma fase totalmente concreta, aprendendo o que pode ou não fazer, percebendo-se a si e ao outro. Para isso, é necessário explorar com ele o seu próprio universo, bem como a sua convivência e relação com as pessoas que o cercam e com o Transcendente que constituem esse universo. Portanto o conteúdo deve permear essa convivência para ajudá-lo a descobrir desde a tenra idade que as diferenças não devem ser empecilhos para a convivência, ao contrário, a diversidade enriquece a vida, pois assim temos a oportunidade de aprender e também de ensinar. 4 Qual a participação da família no processo de ensino aprendizagem do Ensino Religioso na Educação Infantil? V e M - A família é fonte de pesquisa, pois é nela que os educandos irão buscar conhecer mais sobre a identidade religiosa de seus pais e também a sua. O resultado desse trabalho é o fortalecimento das famílias que professam sua fé e o despertar das famílias que estão adormecidas para a dimensão religiosa. PERGUNTAS SOBRE A COLEÇÃO

5 O que as levou a produzir um material didático de Ensino Religioso voltado para a Educação Infantil? V - O principal objetivo da produção do material didático específico para a Educação Infantil foi à ausência de materiais destinados a esta faixa etária, que estivesse de acordo com o art. 33 da LDB; aliada ao fato de que eu já estava desenvolvendo, para uso pessoal, em minha própria prática e de meus colegas de nível, um material mais rico, através de nossa reflexão sobre o ensino religioso, com o qual era montado um portfolio. M O material que estava sendo produzido e utilizado pela professora Viviane Mayer Daldegan, foi encaminhado para a editora na qual trabalho, que prontamente aceitou o desafio de transformá-lo numa coleção didática, específica, a ser divulgada em todo território nacional, como forma de auxiliar outros profissionais desta área em sua prática educativa. 6 Quais foram as dificuldades encontradas para produzir a coleção? M e V - Em 2000, tivemos muitas dificuldades. Inicialmente, romper com o modelo antigo de Ensino Religioso, que estava arraigado dentro de nós, expresso por meio de uma linguagem confessional e também pela ausência de materiais que oferecessem as informações necessárias para subsidiar o trabalho e transformar a linguagem religiosa em pedagógica, e adequada para cada segmento da coleção a qual estávamos nos propondo. 7 Qual foi o material utilizado para dar início a este projeto? V - Em nossa prática em sala de aula, eu e uma colega já sentíamos a necessidade de um material próprio para o trabalho do Ensino Religioso e construíamos ao longo do ano, um portfólio, que era aproveitado como material didático para o ano seguinte e que sempre era reelaborado e aprimorado. Este foi o primeiro boneco, que foi utilizado como base para a construção da coleção, mas que sofreu muitas alterações, embora possa ser considerado como o marco inicial. 8 Como vocês selecionaram os conteúdos da coleção Redescobrindo o Universo Religioso, dos volumes voltados para a Educação Infantil?

M e V - Partimos dos conteúdos elencados nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o 1º ciclo, adaptando-os a faixa etária, para que assim o material pudesse atingir de maneira mais expressiva a criança objetivada. 9 Qual o retorno da coleção enquanto material didático para vocês? M e V- Quando a coleção saiu, ela chocou o mercado com sua proposta inovadora, ao mesmo tempo em que foi aceita por ter um caráter desafiador. A metodologia inicial foi falar primeiramente da tradição religiosa, para então poder trabalhar como os seus valores; o que foi invertido na reformulação da coleção. É maravilhoso saber que o material que escrevemos, e já reeditamos, tem se expandido significativamente. Sua adesão é desafiadora, por isso, acreditamos que há ainda muitos profissionais que estão buscando atualização e formação e vêem o material como um apoio pedagógico de qualidade. CONCLUSÃO É muito comum que o professor da Educação Infantil continue sua formação profissional simultaneamente com a sua prática em sala de aula. Ao se tratar do Ensino Religioso, então esta constatação toma proporções ainda maiores, pela falta de formação específica. O que não justifica mas explica este fato. Outro aspecto relevante é que as instituições confessionais ainda se encontram, em sua maioria, em processo de aceitação e estruturação desta proposta de Ensino Religioso, fazendo com que a falta de estabilidade da disciplina um problema considerável. A falta de materiais, é outro ponto relevante, que proporciona insegurança e descomprometimento com o conhecimento a ser utilizado pelo professor e adquirido pelo aluno. Assim sendo podemos concluir que tanto o educador quanto a instituição, devem assumir juntos a responsabilidade de suprir as falhas apontadas, comprometerem-se com a proposta verdadeira e escolherem o material adequado para que o processo atinja mais eficazmente seus objetivos.

Deixamos como sugestão, que a escola e o educador busquem a formação especializada para a prática do Ensino Religioso na Educação Infantil, que haja uma formação permanente e continuada para esses educadores no ambiente escolar com troca de experiências, estudos de textos e planejamento conjunto de metodologias e recursos didáticos apropriados; reciclando, complementando e significando conteúdos, e que ainda seja feita uma opção pelo uso de material didático, que proporcione segurança ao educador, comprometimento com os conteúdos previstos pela lei, e um envolvimento maior e direcionado por parte do educando. Como consideração final, queremos lembrar que o bom desenvolvimento da educação pode ser alcançado pela harmonia existente entre a instituição, o educador, o educando e o material didático. Com esse equilíbrio entre os pilares citados, acreditamos que realmente o Ensino Religioso é capaz de trazer grandes transformações em nossa sociedade, oportunizando, pelo descobrimento de si e do outro, desde a Educação Infantil, a trilharem um caminho de paz. E numa utopia ainda maior, talvez ainda possamos ouvir falar de nosso país, como pioneiro de modelo de Ensino Religioso como referência para outros países, pois como disse Nelson Mandela: Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FERNANDES,Ir. Madalena, Afinal, o que é o Ensino Religioso?,Paulus, São Paulo, 2000. Revista Diversidade Religiosa e Direitos Humanos, URI Curitiba, Impressão da Gráfica da assembléia Legislativa do Estado do Paraná, 2005.