TUBERCULOSE NA PESSOA IDOSA: CARACTERÍSTICAS IMPORTANTES PARA O CONTROLE DA DOENÇA E PROCESSO DO CUIDAR EM ENFERMAGEM

Documentos relacionados
O ENVELHECIMENTO NAS DIFERENTES REGIÕES DO BRASIL: UMA DISCUSSÃO A PARTIR DO CENSO DEMOGRÁFICO 2010 Simone C. T. Mafra UFV sctmafra@ufv.br Emília P.

REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL MINISTÉRIO DA JUSTIÇA DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL

Anexo III Metas Fiscais III.8 Avaliação da Situação Financeira e Atuarial dos Benefícios Assistenciais da Lei Orgânica de Assistência Social LOAS

Gastos com medicamentos para tratamento da asma pelo Ministério da Saúde,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE - UNICENTRO CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM MÍDIAS NA EDUCAÇÃO JULIANA LEME MOURÃO ORIENTADOR: PAULO GUILHERMETI

Indicadores Sociais Municipais Uma análise dos resultados do universo do Censo Demográfico 2010

I ENCONTRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA ÍNDICE DE ABANDONO DO TRATAMENTO CONTRA TUBERCULOSE PULMONAR: AVALIAÇÃO DO CENÁRIO DE PORTO VELHO, RONDÔNIA.

1 Introdução Objeto do estudo e o problema de pesquisa

IDOSOS VÍTIMAS DE ACIDENTES DE TRÂNSITO E VIOLÊNCIA ATENDIDOS POR UM SERVIÇO PRÉ-HOSPITALAR MÓVEL

c) Aplicar os princípios de pesquisa operacional mediante:

mercado de cartões de crédito, envolvendo um histórico desde o surgimento do produto, os agentes envolvidos e a forma de operação do produto, a

ESTUDO TÉCNICO N.º 12/2014

Projeto 10Envolver. Nota Técnica

ORGANIZAÇÃO TECNOLÓGICA DO TRABALHO DA EQUIPE DE SAÚDE DE UMA UNIDADE HOSPITALAR DE ATENDIMENTO ÀS URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS *

Estudos. População e Demografia

A PREVALÊNCIA DE CÁRIE DENTÁRIA EM 1 MOLAR DE CRIANÇAS DE 6 A 12 ANOS: uma abordagem no Novo Jockey, Campos dos Goytacazes, RJ

Características do professor brasileiro do ensino fundamental: diferenças entre o setor público e o privado

Bem-estar, desigualdade e pobreza

Boletim epidemiológico HIV/AIDS /11/2015

CONTROLE DA TUBERCULOSE: REVISÃO DE LITERATURA

Avaliação Econômica do Projeto de Microcrédito para a população da Zona Norte de Natal/RN

Implantação de um serviço de limpeza terminal a vapor em salas operatórias

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: CONHECIMENTO DOS AGRICULTORES DO ASSENTAMENTO SANTA CRUZ, NO MUNICIPIO DE CAMPINA GRANDE - PB

Natália de Oliveira Fontoura. Diretoria de Estudos e Políticas Sociais Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Brasília, março de 2014

Registro Hospitalar de Câncer Conceitos Básicos Planejamento Coleta de Dados Fluxo da Informação

Experiência: Gestão Estratégica de compras: otimização do Pregão Presencial

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA MEC

PERCEPÇÃO DE APOIO SOCIAL PARA A PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA EM INDIVÍDUOS OBESOS

FATORES ASSOCIADOS À ADESÃO E ABANDONO DO TRATAMENTO DA TUBERCULOSE

TUBERCULOSE E AS POLÍTICAS DE CONTROLE DA DOENÇA NO BRASIL: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Conduta Frente a Casos de Tuberculose Eletânia Esteves de Almeida Infectologista

INSTRUÇÕES PARA INSCRIÇÕES CONGRESSISTAS

CICLO DE MELHORIA NACIONAL DA QUALIDADE DA PREVENÇÃO E CONTROLE DE INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE (IRAS) 2015/2016

Auditoria de Meio Ambiente da SAE/DS sobre CCSA

RELAÇÕES ENTRE ESTRESSE EM CUIDADORES DE PESSOAS COM DOENÇA DE ALZHEIMER E DISTÚRBIOS COMPORTAMENTAIS DOS PACIENTES

O comportamento recente da taxa real de juros no Brasil: existe espaço para uma queda maior da taxa de juros?

SAÚDE NA TERCEIRA IDADE: UMA REVISÃO DE LITERATURA

Ministério da Cultura Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) Dados das organizações:

Análise Qualitativa no Gerenciamento de Riscos de Projetos

Cadastro metas para Indicadores de Monitoramento e Avaliação do Pacto pela Saúde - Prioridades e Objetivos Estado: GOIAS

Estudo sobre a dependência espacial da dengue em Salvador no ano de 2002: Uma aplicação do Índice de Moran

PROPOSTAS PARA IMPLANTAÇÃO DO PISO SALARIAL DO MAGISTÉRIO E REESTRUTURAÇÃO DAS CARREIRAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA 17 DE ABRIL DE 2015

Ciências atuariais aplicadas à previdência

Tabela 1 Taxa de Crescimento do Produto Interno Bruto no Brasil e em Goiás: (%)

REQUERIMENTO. (Do Sr. ADALBERTO CAVALCANTI)

Palavras-chave: Segurança, sons, tranquilidade, transgressor, transtornos. Hudson Gonçalves Neves 2,Luciene da Silva Dias 3.

SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVO DE NOTIFICAÇÃO. DICIONÁRIO DE DADOS - SINAN NET - Versão 4.0

ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR FIXO: Uma análise do nível de conhecimento dos enfermeiros de PSF, à luz da Portaria 2048/GM (2002).

PROPOSTA DE PROJETO MANUAL DE PREENCHIMENTO

Incidência e mortalidade por tuberculose e fatores sócios. cio-econômicos em grandes centros urbanos com altas cargas da doença Brasil,

Minuta de Instrução Normativa

Cotas raciais nas universidades, a contradição do Brasil!

PESQUISA DO MERCADO IMOBILIÁRIO EM BELO HORIZONTE: ALUGUÉIS

RESPOSTA RÁPIDA 430/2014 Informações sobre Depressão: Clo e Frontal

PROGRAMA DE PO S-GRADUAÇA O EM PROMOÇA O DA SAU DE

NOTIFICAÇÃO DOS CASOS DE TUBERCULOSE DO MUNICÍPIO DA SERRA-ES

Inclusão de pessoas com deficiência no mercado trabalho: implicações da baixa escolarização

ÁREA: Estudos Técnicos e Saúde TÍTULO: Parâmetros referente a quantidade de Agentes de Combate à Endemias (ACE) por Município.

Hospital Geral de São Mateus

EDITAL Nº 14/2013 PROGRAMA AMAZÔNIA 2020 SANTANDER/PROPEG/ACI-UFAC

SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE PELOTAS

Prof. José Maurício S. Pinheiro - UGB

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO CONSELHO SUPERIOR DA JUSTIÇA DO TRABALHO

INFORME ETENE. INVESTIMENTOS EM INFRAESTRUTURA NO NORDESTE 2ª Edição 1. INTRODUÇÃO

A DISCIPLINA DIDÁTICA NOS CURSOS DE LETRAS DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS DE MATO GROSSO DO SUL

ESTUDO DA EFETIVIDADE E DA ACEITABILIDADE DO TRATAMENTO DA TUBERCULOSE COM ESQUEMA 4 EM 1 DFC (DOSE FIXA COMBINADA)

Sustentabilidade no Setor Público, A3P e Planos de Logística Sustentável

O AMAMENTAR PARA MÃES COM NECESSIDADES ESPECIAIS

PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA NO BRASIL: UM MAPEAMENTO DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL NOS INSTITUTOS FEDERAIS DE EDUCAÇÃO

A visão empresarial da nova institucionalidade

VIVER BEM ÂNGELA HELENA E A PREVENÇÃO DO CÂNCER NEOPLASIAS

Introdução. Parte do Trabalho de Conclusão de Curso do Primeiro Autor. 2

DESIGUALDADE DE RENDA E POBREZA RURAL NO BRASIL SEGUNDO O GÊNERO: UMA ABORDAGEM REGIONAL COM OS RESULTADOS DA PNAD 2009

Modelagem De Sistemas

O PAPEL DA ESCOLA E DO PROFESSOR NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM EM CRIANÇAS COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH) Introdução

Garantir o direito de aprender, para todos e para cada um.

ESTADO DA PARAÍBA SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE EDITAL Nº. 02 /2015/SES/CEFOR-PB

ANEXO 2 - TERMO DE REFERÊNCIA PLANO DE CONTROLE AMBIENTAL SIMPLIFICADO PCAS I. CONTEÚDO MÍNIMO DO PLANO DE CONTROLE AMBIENTAL SIMPLIFICADO PCAS

Avaliação Econômica Projeto de Inclusão Digital. Naercio Aquino Menezes Filho Centro de Políticas Públicas Insper FEA-USP e Fundação Itaú Social

POLÍTICA DE INVESTIMENTO PEIXE PILOTO PARA CLUBES DE INVESTIMENTOS Vitória, 26 de agosto de 2009.

Política de Responsabilidade Socioambiental - (PRSA) Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA).

Centro de Promoção do Desenvolvimento Sustentável. BOLETIM ESTÁTISTICO DE VIÇOSA (Atualizado em julho de 2013)

Mercados emergentes precisam fazer mais para continuar a ser os motores do crescimento global

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR 1

Formulário da OPAS/OMS para o resumo de caso de influenza humana pelo vírus da Influenza A (H1N1)

PEQUENAS EMPRESAS E PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS TENDÊNCIAS E PRÁTICAS ADOTADAS PELAS EMPRESAS BRASILEIRAS

ESTUDO DE VIABILIDADE TÉCNICA, ECONÔMICA E AMBIENTAL DE PROJETOS DE TRANSPORTE URBANO COLETIVO

Ismênia Pires. Obra - Operários Tarsila do Amaral 1933

A Agenda de Desenvolvimento pós-2015 e os desafios para os Governos Locais. Belo Horizonte 26 de Agosto de 2015

GESTÃO DO AGRONEGÓCIO

POPULARIDADE DA INTERNET

Metodologias de PETI. Prof. Marlon Marcon

PESQUISA DE ENDIVIDAMENTO E INADIMPLE NCIA DO CONSUMIDOR - PEIC

PERFIL DA CATARATA EM IDOSOS DA REGIÃO DA BORBOREMA

Auxílio Estudantil Fase de análise

PREVENÇÃO DO HIV/AIDS NO INÍCIO DA RELAÇÃO SEXUAL: CONDUTA DOS ADOLESCENTES FRENTE À TEMÁTICA

Transcrição:

TUBERCULOSE NA PESSOA IDOSA: CARACTERÍSTICAS IMPORTANTES PARA O CONTROLE DA DOENÇA E PROCESSO DO CUIDAR EM ENFERMAGEM Thaynara Eloise Baracho de Albuquerque Farias (1); Aline de Paula Rêgo Graciano Luz (2); Rayanne Oliveira Carneiro (3) ; Mairla Rhayana Bezerra do Nascimento (4); Talina Carla da Silva(5) 1 Universidade Estadual da Paraíba - narabaracho@gmail.com 2 Universidade Estadual da Paraíba - alinegracluz@gmail.com 3 Universidade Estadual da Paraíba rayanneoliveira@hotmail.com 4 Universidade Estadual da Paraíba mairlarhayana16@hotmail.com 5 Universidade Estadual da Paraíba talinacarla@hotmail. RESUMO Estudo epidemiológico, transversal e quantitativo, que objetivou identificar as características da tuberculose em idosos no Brasil, no período de 2003 a 2013. A população do estudo foi composta de 125.140 casos de idosos com mais de 60 anos notificados no Sistema de Informação de Agravos e Notificação. As variáveis estudadas foram: sexo, raça, escolaridade, tipo de entrada e forma da tuberculose, situação de encerramento. Foi utilizado Microsoft Excel 2010 para tabulação dos dados e elaboração das tabelas. Na população estudada identificou-se respectivamente um predomínio da doença em idosos: do sexo masculino, com 65,9%; quanto à raça destacou-se a cor branca (36,1%); para escolaridade prevaleceu ignorado/ branco (29,9%) seguido do ensino fundamental (1ª a 4ª série) incompleto, com 21,9%. A forma clínica de maior prevalência foi a pulmonar com 84,5%; no tipo de entrada 85,4% deram inicio ao tratamento como casos novos; na situação de encerramento, apenas 64,6% obtiveram cura e 5,8% abandonaram o tratamento. Esses resultados evidenciam a importância de considerar os idosos como um grupo vulnerável à tuberculose. Sendo essencial conter profissionais capacitados na equipe de enfermagem, a fim de efetivar as políticas de controle da tuberculose e o processo do cuidar à saúde da pessoa idosa, garantindo uma assistência holística ao idoso. Palavras-chave: Tuberculose, Idoso, Saúde Pública, Enfermagem. ABSTRACT Epidemiological, transversal and quantitative study aimed to identify the characteristics of tuberculosis in the elderly in Brazil, from 2003 to 2013. The study population consisted of 125 140 cases of people over 60 reported in the Information System and notification. The variables studied were: sex, race, education, input type and form of tuberculosis and closing situation. It used Microsoft Excel 2010 for data tabulation and preparation of tables. The study population was

identified respectively a predominance of the disease in elderly male, with 65.9%; as to race stood out white (36.1%); for schooling prevailed ignored / white (29.9%) followed by elementary school (1st to 4th grade) incomplete, with 21.9%. The clinical form of lung highest prevalence was 84.5%; in 85.4% input type given early treatment as new cases; in the situation of closing, only 64.6% were cured and 5.8% abandoned treatment. These results highlight the importance of considering older people as a vulnerable group tuberculosis. It is essential to contain trained professionals in the nursing team in order to carry out the tuberculosis control policies and the process of care for the health of the elderly, ensuring a holistic care to the elderly. Keywords: Tubeculosis, Elderly, Public, Health,Nursing. INTRODUÇÃO A tuberculose (TB) caracteriza-se como um sério problema mundial de saúde pública. Estando o Brasil inserido no grupo dos 22 países priorizados pela OMS, os quais concentram 80% da carga mundial de TB, além disso, ocupa a 16ª posição mundial em número absoluto de casos. Apesar de ser uma doença evitável e curável, no período de 2005 a 2014 foram diagnosticados anualmente, média de 73 mil novos casos de TB no país, e em 2013 ocorreram 4.577 óbitos 1. Sabe-se que, no Brasil, o número de idosos tem aumentado consideravelmente a cada ano. De acordo com World Health Organization (WHO) 3, até o ano de 2050, o Brasil será o sexto país do mundo em números de idosos, o que aponta uma tendência de envelhecimento da população. Seguindo essa tendência, destaca-se a Tuberculose, como sendo uma doença que tem atingido e aumentado sua incidência nessa parcela da população³. No ano de 2007, por exemplo, foram notificados um total de 72.140 casos de TB no Brasil, e destes 7.862 (9%) ocorreram entre pessoas idosas com idade igual ou superior 60 anos 2. Esse crescimento está associado ao aumento da expectativa de vida, porém os poucos avanços que permitem melhorias da qualidade de vida dessa população, tornaram-se uma preocupação de relevância social, principalmente no que tange a questões de saúde pública 3.

Os idosos são particularmente mais susceptíveis à infecção pelo Mycobacterium tuberculosis 5. Devido aos fatores biológicos comuns no envelhecimento que tornam os idosos vulneráveis ao adoecimento por TB, como a nutrição deficitária, o sistema imunológico comprometido e a presença de comorbidades 6. Além disso, o adoecimento por TB está associado à qualidade de vida dos indivíduos, visto que a tuberculose é conhecida tradicionalmente como um marcador de condições de vida precárias da população e como uma doença de países em desenvolvimento 4,5. Para Oliveira 2, um dos principais problemas enfrentados pelos idosos acometidos por TB é o retardo no diagnóstico, que por sua vez, acentua a gravidade da doença. Fato que ocorre devido a aspectos inerentes ao sistema de saúde, dentre os quais se destacam: dificuldade do acesso aos serviços de saúde; acolhimento inadequado, baixo nível de suspeição diagnóstica de TB; baixa prioridade na procura de Sintomáticos Respiratórios (SR), entre outros fatores. Esses são importantes desafios a serem enfrentados pelos profissionais de saúde para que se possam alcançar as metas propostas pela OMS em sua estratégia pós-2015: Um mundo livre da tuberculose: zero mortes, adoecimento e sofrimento causados pela doença 7. A Enfermagem tem papel fundamental na execução das ações para o controle da TB, tanto na busca ativa de SR quanto na realização do Tratamento Diretamente Observado (TDO), visando o diagnóstico precoce, prevenção de novos casos, de intercorrências durante o tratamento, assim como recidivas, abandono e falência do tratamento; garantindo a adesão dos pacientes e o desfecho positivo 8. Portanto, considerando a importância da atuação eficiente deste profissional e o alto número de casos de TB em idosos, o estudo objetivou identificar as características da tuberculose em idosos no Brasil, no período de 2003 a 2013, tendo em vista a necessidade da Enfermagem conhecer os aspectos peculiares da doença e a forma como esta tem se manifestado, a fim de desenvolver as ações de controle com eficácia e alcançar os objetivos traçados.

METODOLOGIA Estudo com delineamento transversal e abordagem quantitativa. O cenário do estudo foi o Brasil, país da América do Sul, o qual está entre os 22 países responsáveis por 80% da carga mundial de TB. A população estudada compreendeu os idosos com mais de 60 anos, que foram diagnosticados com TB e notificados através do Sistema de Informação de Agravos e Notificação online (SINAN/Net), no período de 2003 a 2013. A coleta de dados ocorreu nos meses de junho e julho de 2015, no portal do SINAN/Net. As variáveis estudadas foram: sexo, raça, escolaridade, tipo de entrada da TB, forma da TB e situação de encerramento da TB. Foi utilizado o Microsoft Excel 2010 para a tabulação dos dados e elaboração das tabelas. Na análise dos dados, foram considerados os valores das distribuições de frequências (absoluta e relativa) e em seguida, comparados a outros estudos realizados e publicados sobre a mesma temática. Como trata-se de uma pesquisa com dados secundários, disponibilizados na internet, não houve necessidade de aprovação prévia do comitê de ética em pesquisa com seres humanos, para a realização da pesquisa. RESULTADOS E DISCUSSÂO De 2003 a 2013, foram notificados no Brasil 125.140 casos de TB em idosos com mais de 60 anos. Conforme apresentado na Tabela 1, o perfil da tuberculose nos idosos é caracterizado por predominância no sexo masculino, na raça branca e em idosos com baixa escolaridade. Tabela 1- Número e proporção dos casos de tuberculose em idosos segundo sexo, raça, escolaridade, Brasil, 2003-2013.

VARIÁVEIS N % SEXO Masculino 82.432 65,9 Feminino 42.696 34,1 Ignorado 13 0,0 RAÇA Branca 45.156 36,1 Preta 13.568 10,8 Amarela 1.407 1,1 Parda 44.093 35,2 Indígena 1.555 1,2 Ignorado/Branco 19.360 15,5 ESCOLARIDADE Analfabeto 23.289 18,6 E.F. 1ª a 4ª série incompleto 27.383 21,9 4ª série completa 6.090 4,9 E.F. 5ª a 8ª série incompleto 15.151 12,1 E.F. completo 2.832 2,3 E.M. incompleto 4.517 3,6 E.M. completo 2.949 2,3 E.S. incompleto 705 0,6 E.S. completo 3.207 2,6 Não se aplica 1.512 1,2 Ignorado/Branco 37.505 29,9 TOTAL 125.140 100,0 FONTE: Secretária de vigilância em Saúde- SINAN/NET, 2015. A TB atinge de maneira desigual homens e mulheres, apresentando maior 9, 10, prevalência no sexo masculino. Esse resultado corrobora com estudos nacionais 11 e pode estar associado a vários fatores como econômicos, culturais e hábitos de vida não saudáveis que propiciam uma maior exposição ao bacilo de Koch 9 ; além do fato de que os homens não procuram os serviços de saúde como as mulheres 12. Em relação à raça, a mais acometida foi a Branca (36,1%) seguida da raça Parda (35,2%). Este resultado se relaciona com a caracterização racial da população brasileira, que de acordo com o Censo Demográfico 2010 realizado pelo Instituto de Geografia e Estatísticas (IBGE), a raça Branca representa maior parcela da população brasileira com 47,7% seguida da Parda com 43,1% 13.

Quanto à escolaridade, percebe-se que a maioria das notificações assinalou como ignorado ou foi deixado em branco (29,9%). Todavia, quando houve preenchimento, evidenciou-se que o grau de instrução da maioria dos idosos diagnosticados com TB apresenta baixa escolaridade. A baixa escolaridade representa um fator que contribui para a não adesão ao tratamento e para o aumento da taxa de abandono. Ressalta-se as dificuldades enfrentadas devido ao baixo nível de instrução, em evidenciar sinais e sintomas da TB e de entender a importância do tratamento 14. Tabela 1- Número e proporção dos casos de tuberculose em idosos segundo forma clínica, tipo de entrada e situação de encerramento, Brasil, 2003-2013. VARIÁVEIS N % TIPO DE ENTRADA Caso novo 106.866 85,4 Recidiva 8.646 6,9 Reingresso após abandono 3.057 2,4 Transferência 5.568 4,4 Não Sabe 835 0,7 Ignorado/Branco 168 0,1 FORMA CLÍNICA Pulmonar 105.767 84,5 Extrapulmonar 16.063 12,8 Pulmonar+Extrapulmonar 3.099 2,5 Ignorado/Branco 211 0,2 SITUAÇÃO DE ENCERRAMENTO Cura 80.801 64,6 Abandono 7.333 5,8 Óbito por TB 7021 5,6 Óbito por outras causas 13.608 10,9 Transferência 9.198 7,3 TB multirresistente 332 0,3 Ignorado/Branco 6.847 5,5 TOTAL 125.140 100,0 FONTE: Secretária de Vigilância em Saúde- SINAN/NET, 2015.

Através da Tabela 2, a qual descreve as variáveis clínico-epidemiológicas da TB em idosos: tipo de entrada, forma clínica e situação de encerramento, foi possível identificar predominância, respectivamente, em casos novos (85,4%), na forma pulmonar (84,5%) e a cura (64,6%) como situação de encerramento. Constatou-se que grande parte dos doentes iniciou o tratamento como caso novo (85,4%), o que indica que não tinham feito tratamento anterior. Esse resultado confirma o grande desafio que é a TB para os serviços de saúde e a necessidade de disseminar práticas preventivas em meio a essa população, como a identificação precoce de Sintomáticos Respiratórios e dos Contatos, que são as pessoas que convivem com o doente, a fim de interromper a cadeia de trasmissão 15. A forma clínica mais comum nesse estudo foi a pulmonar (84,5%), não diferindo da distribuição epidemiológica em geral 9, 11,16. Essa é a forma que merece maior atenção para as atividades de controle da TB, porque é a forma transmissível da doença. Sua disseminação ocorre pelas vias aéreas, através da tosse, fala ou espirro de uma pessoa infectada, o que aponta sua rápida transmissão 16. Com relação à situação de encerramento dos casos, foi verificado que o percentual de cura (64,6%) predominou sobre os demais, o que indica em parte um resultado positivo, pois a cura é o desfecho esperado do tratamento. Todavia está muito abaixo do estipulado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que recomenda um alcance mínimo de 85% da taxa de cura 15. Ressalta-se que a não aderência ao tratamento e o uso da medicação por tempo insuficiente e/ou de forma incorreta são fatores que impedem o alcance de cura por ampliar o tempo e o custo do tratamento 17. CONCLUSÃO O estudo permitiu a identificação das características dos idosos acometidos por TB no Brasil, no período de 2003 a 2013. Diante dos fragmentos discursivos

analisados, evidencia-se a importância de considerar os idosos como um grupo vulnerável à TB. Sendo assim, é indispensável que o planejamento das ações de enfermagem para o controle da TB seja baseado em estudos como esse, que apontem as características da doença. Dentre as quais, podemos destacar a predominância da forma pulmonar entre os casos, sendo esta um potente meio de transmissão da doença e necessita de ações que visam impedir a sua disseminação, como a busca ativa de sintomáticos respiratórios. Ressalta-se que a proporção de casos de TB curados, bem como, os que abandonaram o tratamento e os que obtiveram encerramento por óbito não alcançaram as metas estabelecidas pelo WHO, o que é preocupante e torna o controle da doença um desafio para os serviços de saúde, tendo em vista as vulnerabilidades individuais, sociais e programáticas associadas ao envelhecimento. Por isso, a equipe de enfermagem deve conter profissionais capacitados para evidenciar precocemente sinais e sintomas da doença para que possa contribuir efetivamente nas políticas de controle da TB, assim como garantir o cuidado integral dos públicos acometidos, a fim de reverter esse cenário. REFERÊNCIAS 1. Brasil. Boletim Epidemiológico. Secretaria de Vigilância em Saúde. Ministério da Saúde. 2015; 46(9). 2. Oliveira AAV, Sá LD, Nogueira JÁ, Andrade SLE, Palha PF, Villa TCS. Diagnóstico da tuberculose em pessoas idosas: barreiras de acesso relacionadas aos serviços de saúde. Rev. Esc. Enferm. USP. 2013; 47 (1): 145-151. 3. World Health Organization (WHO). Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Organização Pan-Americana da Saúde. 2005.

4. Fasca SF. Tuberculose e condições de vida: Uma análise do estado do Rio de Janeiro, Brasil, 2000 a 2002 [Dissertação]. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca; 2008 ago. 5. Teixeira EC, Costa JS. O impacto das condições de vida e da educação sobre a incidência de tuberculose no Brasil. Revista de Economia. 2011 maio-ago; 37(2): 106-123. 6. Lourenço RA, Lopes AJ. Tuberculose no idoso. Revista do Hospital Universitário Pedro Ernestro, UERJ. 2006 jul-dez; 5(2): 90-95. 7. World Health Organization (WHO). Global tuberculosis control: surveillance, planning, financing. Geneva; 2014. 8. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Tratamento diretamente observado (TDO) da tuberculose na atenção básica: protocolo de enfermagem. 2011. 9. Pereira JC, Silva MR, Costa RR, Guimarães MDC, Leite JCG. Perfil e seguimento dos pacientes com tuberculose em município prioritário no Brasil. Revista Saúde Pública. 2015; 49(6): 1-12. 10. Souza MSPL, Aquino R, Pereira SM, Costa MCN, Barreto ML, Natividade M. et al. Fatores associados ao acesso geográfico aos serviços de saúde por pessoas com tuberculose em três capitais do nordeste brasileiro. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro. 2015; 31(1). 11. Belo MTCT, Luiz RR, Hanson C, Selig L, Teixeira EG, Chalfoun T. et al. Tuberculose e gênero em um município prioritário no estado do Rio de Janeiro. Jornal Brasileiro Pneumologia. 2010 set- out; 36 (5). 12. Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção à Saúde do Homem (Princípios e Diretrizes). 2008 nov.

13. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Censo Demográfico 2010 [internet]. [Acesso em 2015 jun 10]. Disponível em http://ftp.ibge.gov.br/censos/censo/demografico/2010/caracteristicas/gerais/religia o/deficiencia/caracteristicas/religiao/deficiencia.pdf 14. Coêlho DMM, Viana RL, Madeira CA, Ferreira LOC, Campelo V. Perfil Epidemiológico da Tuberculose no Município de Teresina- PI, no período de 1995 a 2005. Epidemiologia e Serviços de Saúde. Brasília. 2010 jan-mar; 19(1): 33-42. 15. Brasil. Ministério da Saúde. Manual de Recomendações para o Controle da tuberculose no Brasil. Brasília. 2011. 16. Hino P, Cunha TN, Villa TCS, Santos CB. Perfil dos casos novos de tuberculose notificados em Ribeirão Preto (SP) no período de 2000 a 2006.Revista Ciência e Saúde Coletiva. 2011; 16(Supl.1): 1295-1301. 17. Basta PC, Marques M, Oliveira RL, Cunha EAT, Resendes APC, Santos RS. Desigualdades sociais e tuberculose: análise segundo raça/cor, Mato Grosso do Sul. Revista Saúde Pública. 2013; 47(5).