Grupo de Trabalho nº 10



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Transcrição:

EXPANSÃO URBANA E ÁREAS DE PROTEÇÃO PERMANENTE (APP): O CASO DA LAGOA GRANDE EM FEIRA DESANTANA BAHIA Paula Leilane Oliveira Celestino Universidade Federal da Bahia Resumo O presente trabalho tem por objetivo analisar as conseqüências sociais e ambientais da expansão urbana em áreas de preservação permanente tomando como referência a Lagoa Grande, em Feira de Santana. Dessa maneira, propõe-se uma discussão sobre a ocupação irregular da Lagoa Grande, em Feira de Santana, e que também se constitui em uma Área de Preservação Permanente (APP). Para a realização da pesquisa a metodologia utilizada priorizou uma revisão teórico-conceitual, pesquisa documental, pesquisa de campo e discussão dos resultados. Palavras-Chave: Espaço Urbano; Áreas de Preservação Permanente; Lagoa Grande. Grupo de Trabalho nº 10 A problemática urbano-ambiental www.simpurb2013.com.br

1. Introdução Pretende-se, no presente artigo, analisar as consequências sociais e ambientais da expansão urbana em áreas de preservação permanente tomando como referência a Lagoa Grande, em Feira de Santana. Destarte, faz-se necessário pontuar que Feira de Santana é a segunda maior cidade do Estado da Bahia com uma população de 556, 642 e com uma área de 1.338 km 2, de acordo com dados do IBGE (2010), além de apresentar uma posição geográfica estratégica como principal entroncamento rodoviário entre o Norte e o Nordeste do país e de sua relevância urbano-regional. Entretanto, segundo Santo (2003), por apresentar uma localização geográfica privilegiada e características físicas importantes como aspectos geomorfológicos e geológicos que favorecem o surgimento de lagoas e nascentes Feira de Santana tornou-se um atrativo para a ocupação humana desencadeando uma expansão urbana sem planejamento até meados de 1968, além de sérias implicações ambientais. A cidade, apesar de poder utilizar algumas de suas lagoas como centro de lazer, vem utilizando-as como depósito de lixo ou áreas alternativas para ocupação humana, sendo que diversas dessas lagoas foram ocupadas, aterradas e loteadas para abrigar a população de baixa renda (SANTO, 2003, p. 14). Desse modo, a situação das lagoas de Feira de Santana merece uma atenção especial, pois além de apresentar um número considerável destes corpos hídricos também se destaca pelos problemas ambientais relacionados à apropriação irregular das áreas de lagoa decorrentes da ocupação do espaço urbano, em que: Recentemente, os ambientalistas constataram que, em apenas uma década, das 68 (sessenta e oito) lagoas existentes em Feira de Santana, 28 (vinte e oito) delas desapareceram. Hoje, apenas 40 (quarenta) lagoas existem na cidade, restando apenas 8 (oito) no perímetro urbano, o que representa uma redução de 40% (quarenta por cento) na quantidade de lagoas da cidade (MONTEIRO SOBRINHO, 2007 apud VARGAS, 2008, p. 9). Para a realização da presente pesquisa foi delimitado como objeto de estudo a Lagoa Grande que se constitui em uma Área de Preservação Permanente (APP), localizada em Feira de Santana. Sendo que, a ocupação nas adjacências da referida lagoa ocorreu a partir de 1970 e que posteriormente deu origem ao Bairro Lagoa 2

Grande. Entretanto, tal ocupação ocorreu de forma irregular o que ocasionou uma forte degradação da mesma, pois, uma parte considerável da população deste bairro vive em uma área conhecida como Favela da Rocinha que se estabeleceu na área da planície de inundação da lagoa e posteriormente avançou para o interior da mesma através do processo de soterramento do corpo hídrico para a edificação de novas moradias, além da alocação de lixo e esgotos domésticos provocando danos ambientais e configurando um espaço com acentuada antropização. Desse modo, cabe pontuar que em 2008 a Lagoa Grande foi contemplada por ações do Programa de Aceleração do Crescimento 2007-2010 com o projeto de requalificação urbana que se encontra execução. Sendo que, esta ação de requalificação urbana está inserida no Eixo de Infraestrutura Social e Urbana do PAC que visa à recuperação de áreas degradadas e implementação de ações relacionadas à habitação, saneamento e inclusão social principalmente em áreas de assentamentos subnormais como favelas. Para tanto, é necessário salientar que este estudo representa alguns dos esforços de uma pesquisa iniciada em 2010 que teve como objeto de estudo o Bairro Lagoa Grande onde localiza-se a Lagoa Grande, e devido a complexidade desta investigação foi dado prosseguimento a este estudo de caso em um trabalho de dissertação em desenvolvimento no programa de Pós-Graduação em Geografia na Universidade Federal da Bahia. Este estudo julga-se necessário, pois busca abordar um tema relevante que é a expansão urbana e os rebatimentos sociais e ambientais desse processo destacando que o espaço urbano é dinâmico, complexo, híbrido e reflete a produção do espaço em diferentes momentos históricos, ou seja, as mudanças sociais não se restringem somente a um aspecto (o social), mas no espaço em que está inserida. É nesse contexto que cabe pontuar os desafios relativos à questão ambiental a partir da abordagem das Áreas de Proteção Permanente (APP) em áreas urbanas. 2. Procedimentos metodológicos Para alcançar o objetivo da pesquisa, o primeiro passo foi à realização de um levantamento bibliográfico através de consulta a livros e artigos que serviram de base para a elaboração do referencial teórico em que foram utilizados os conceitos de Espaço Urbano e Área de Preservação Permanente. A segunda etapa foi o desenvolvimento de 3

uma pesquisa documental que consistiu na obtenção de dados secundários a partir do acesso a informações de instituições que serviram de base para a realização da pesquisa através de documentos. Estes dados foram obtidos junto à Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER), responsável pela execução das obras inerentes à ação de requalificação urbana da Lagoa Grande. E a terceira etapa referiu-se à pesquisa de campo que consistiu no reconhecimento, caracterização da área de estudo e registro fotográfico. E como última etapa à análise e discussão dos resultados. 3. Um olhar teórico: Estado, Espaço urbano e área de preservação permanente 3.2 Espaço Urbano O conceito de espaço urbano de acordo com a concepção de Carlos (1999) pode ser compreendido como o (...) produto, condição e meio do processo de reprodução da sociedade urbana (p. 90). Desta maneira, a relação homem-natureza através do trabalho gera um produto que é o espaço, o qual é ao mesmo tempo, condição e meio para que esta relação aconteça, uma vez que funciona como instrumento para a realização do trabalho. Dessa forma, o espaço urbano é resultado da produção da sociedade urbana, ou seja, na medida em que a sociedade adquire hábitos urbanos, é o espaço urbano que se está construindo. A mesma autora salienta também que O espaço urbano é o espaço de reprodução das relações sociais que envolvem várias dimensões da vida humana (CARLOS, 1999, p.91). Nessa perspectiva é no espaço urbano que se desencadeia uma série de relações sociais dos mais variados tipos, como relações de trabalho, culturais comerciais, econômicas e políticas, dentre outras. Logo o espaço urbano abarca um conjunto de relações, cada vez maior de complexização. Dessa forma, tomando por base a abordagem de Corrêa (1989): O espaço urbano capitalista fragmentado, articulado, reflexo, condicionante social, cheios de símbolos e campo de lutas é um produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo, 4

engendrada por agentes que produzem e consomem espaço (CORRÊA, 1989, p. 11). Segundo o autor, o espaço urbano é articulado e fragmentado de acordo com interesses de seus agentes refletindo e reproduzindo a situação da sociedade capitalista, levando-se em consideração as relações sociais de produção e de maneira específica o modo de produção capitalista, que além da divisão social em classes consiste na formação desigual do espaço onde os diversos grupos sociais lutam por poder e por espaço. Além disso, o espaço urbano reflete a produção do espaço em diferentes momentos históricos, pois, as mudanças sociais não se restringem somente a um aspecto (o social), mas no espaço em que está inserida. Assim, para enfatizar os agentes responsáveis pela (re)produção do espaço urbano pode-se destacar segundo Correa (1989), os proprietários dos meios de produção, proprietários fundiários, promotores imobiliários, o Estado, além dos grupos sociais excluídos. Portanto, ao se analisar a produção do espaço urbano pode-se perceber que o mesmo é o resultado das relações desenvolvidas por um conjunto de agentes que perpassam as mais variadas escalas e instâncias sociais, sendo que, a regulação, as normas que regem o espaço urbano são cada vez mais híbridas, devido ao crescimento da organização da sociedade civil e das empresas, no entanto o Estado possui uma relevante influência no estabelecimento das normas e disponibilização da infraestrutura. 3.3 Áreas de Preservação Permanente As Áreas de Preservação Permanentes (APP) de acordo com a legislação ambiental brasileira são previstas pelo Código Florestal, lei 4.771/65 e regulamentadas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) a partir da resolução 302 e 303 do ano de 2002 e pela resolução 369 mais recente de 2006. De acordo com as legislações citadas e segundo Servilha (2003) destaca que as áreas de preservação permanente se tratam de instrumentos criados com o objetivo de assegurar a proteção de parcelas do território com o intuito de preservá-los. Assim as áreas definidas como de preservação permanente são previstas pelo Código Florestal Lei n o 4.771/65 especificamente no artigo 2 o e 3 o e que foi alterado com a Medida Provisória (2.166) em 2001, em que definiu estas áreas como coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a 5

paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. O Código Florestal busca proteger estas áreas ambientais focando preservar não só elementos referentes aos recursos hídricos ou geológicos, mas leva em consideração a biodiversidade como um todo, além de englobar a situação das populações humanas. A Resolução CONAMA nº 303 de 2002 apresenta os parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente. Tal resolução define como Áreas de Preservação Permanente, como nos casos das nascentes e lagoas onde está previsto que a metragem mínima será de trinta metros, para os que estejam situados em áreas urbanas consolidadas e cem metros, para as que estejam em áreas rurais, exceto os corpos d água com até vinte hectares de superfície, cuja faixa marginal será de cinqüenta metros. No que se refere à Resolução CONAMA nº 369 de 2006, a mesma trata dos casos excepcionais, de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental, que possibilitam a intervenção ou supressão de vegetação em Área de Preservação Permanente-APP. Desse modo, a referida resolução define sobre as atividades de pesquisa e extração de substâncias minerais, implantação de área verde de domínio público em área urbana, regularização fundiária sustentável de área urbana e intervenção ou supressão eventual e de baixo impacto ambiental de vegetação em APP. Desse modo, cabe pontuar uma questão relevante para esta discussão que se refere sobre as APP em áreas urbanas que de acordo com a concepção de Servilha (2003): As áreas de preservação permanente as APP, reguladas pelas Resoluções CONAMA, com suas metragens definidas, encontrarão, principalmente nos perímetros urbanos das cidades suas áreas e a maioria dos leitos dos cursos d águas cimentados, sua vegetação praticamente destruída e desconsiderada pelas autoridades municipais e pela comunidade, que assim como os primeiros colonizadores, as consideram como local insalubre, devendo ser destruídas (p. 105). As APP situadas nos espaços urbanos merecem atenção especial como destacado por Servilha (2003), pois muitas vezes, as leis não são efetivadas nestes locais onde observa-se corpos hídricos em situação degradante como no caso das lagoas em Feira de Santana, em que apesar de serem consideradas como áreas de proteção permanente, algumas como a Lagoa Grande destacada nesse estudo, serviram para construção de moradias, alocação de lixo e esgoto ocasionados pela deficiência de uma política 6

habitacional capaz de acompanhar a dinâmica populacional da cidade juntamente com ineficiência dos aparatos jurídicos para conter a ocupação dessas áreas de preservação permanente. 4. O lócus da pesquisa A ocupação da Lagoa Grande foi iniciada na década de 1970, localizada dentro do Anel de Contorno 1 e a leste do centro comercial da cidade de Feira de Santana e se destaca por abrigar um dos maiores assentamentos subnormais de Feira de Santana com aproximadamente 11.362 habitantes (CONDER, 2008). Tal ocupação foi impulsionada pela implantação de um loteamento criado pelo Plano Municipal de Habitação Popular (PLANOLAR). O loteamento denominado de Parque Arnold Silva foi inicialmente fruto de uma ação planejada do governo municipal através da doação de lotes e material para a construção das casas na tentativa de amenizar os problemas habitacionais pela falta de uma política de habitação voltada para a população de baixa renda (OLIVEIRA, 2010). No entanto, esta iniciativa acabou se transformando em um atrativo para as famílias que viviam em moradias de aluguel e assim começaram ás invasões e aglomerações da população nessa área a partir da apropriação irregular, nas proximidades do loteamento criado pelo PLANOLAR, para construção de moradias de forma desordenada, em que, a expansão de tais construções acarretou o soterramento de parte considerável da Lagoa Grande, conhecida como Invasão da Rocinha (CONDER, 2008). Desse modo, fica evidente a necessidade de uma intervenção com o objetivo de não somente fornecer uma infraestrutura adequada para os moradores que vivem de forma precária na área da lagoa, mas principalmente por se tratar de uma Área de Proteção Permanente (APP), pois de acordo com Maricato (2000): As áreas ambientalmente frágeis beira de córregos, rios e reservatórios, encostas íngremes, mangues, áreas alagáveis, fundos de vale que, por essa condição, merecem legislação especifica e não interessam ao mercado legal, são as que sobram para moradia de grande parte da população. As conseqüências são muitas: poluição dos 1 Destinado à circulação de veículos na periferia das áreas urbanas, de modo a evitar ou minimizar o tráfego no seu interior, circundando completamente a localidade. 7

recursos hídricos e dos mananciais, banalização de mortes por desmoronamentos, enchentes, epidemias, etc. (p. 163). Assim a poluição do corpo hídrico é apenas um dos elementos que denunciam a falta da efetivação de determinadas legislações ambientais principalmente em áreas urbanas. 5. Lagoa Grande: Expansão urbana x área de proteção permanente (APP) No período de construção do Centro Industrial do Subaé (CIS), em Feira de Santana, 1970 e 1980, de acordo com Oliveira (2010) registrou-se um aumento do contingente populacional, mas a iniciativa pública, em relação à questão habitacional, foi pontual e insuficiente, pois os investimentos públicos se limitavam em fornecer infraestrutura necessária para a implantação do CIS e na criação de conjuntos habitacionais para atender à população de baixa renda e que também serviria de mãode-obra para o centro industrial. No entanto, esta ação foi pontual, pois uma parcela da população não recebeu assistência e em conseqüência começaram a ocupar áreas para a construção de habitações sem planejamento (desordenada). O governo municipal também realizou algumas iniciativas para tentar amenizar a falta de uma política habitacional com a criação do Plano Municipal de Habitação Popular (PLANOLAR), o qual foi instituído pela Lei 825/77, que buscava facilitar o acesso à habitação para a população de baixa renda a partir da doação de lotes e da implantação de serviços essenciais, como o fornecimento de água e energia elétrica para a população. Entretanto o Planolar não conseguiu levar suas ações à frente devido a uma série de acontecimentos e limitações relatados por Oliveira (2010): O programa enfrentou grandes problemas, como a escassez de recursos; o clientelismo histórico instituído no poder público, com a falta de critérios rígidos para a prática; o fato de o trabalhador situarse numa faixa miserável da população, o que o levava a vender o lote e o material de construção, e a elevada valorização dos terrenos mais ao centro da cidade, fatores que determinaram o fim do PLANOLAR (OLIVEIRA, 2011, p. 94). A escassez de programas e investimentos por parte dos governos federal e estadual, além da tentativa frustrada do poder municipal em tentar reduzir o problema 8

de déficit habitacional do município, de forma que pudesse acompanhar a dinâmica populacional, agravaram ainda mais a situação da classe menos favorecida que encontrou como alternativa para morar a ocupação de lugares tidos como inadequados e irregulares como as áreas do entorno da Lagoa Grande, objeto de investigação da presente pesquisa. Assim, a ocupação foi acompanhada de sérios danos ambientais porque uma parte considerável da população deste bairro que vive na Favela da Rocinha se estabeleceu na área da planície de inundação da lagoa e posteriormente avançaram para o interior da mesma através do processo de soterramento do corpo hídrico para a edificação de novas moradias e para alocação de lixo e esgotos domésticos configurando um espaço acentuadamente antropizado provocando danos ambientais como prejuízos a fauna e a flora local e contaminação da água que pode atuar como vetor de doenças entre outros problemas. A partir da pesquisa de campo pode-se observar condições de moradias precárias dentro da área da lagoa com esgotos a céu aberto e que seguem diretamente para o corpo hídrico (Figura 01) e da utilização do mesmo para a alocação de lixo (Figura 02). Figura 01: Bairro Lagoa Grande esgoto a céu aberto. Figura 02: Bairro Lagoa Grande alocação de lixo na lagoa. Fotografia: Banco de dados da autora, 2012. Fotografia: Banco de dados da autora, 2012. Outro fator importante observado diz respeito à abertura de ruas próximas a Lagoa Grande (Figura 03), como também a presença de algumas ruas pavimentadas que se encontram inundadas o que demonstra a atuação do poder público municipal em pavimentar determinados lugares dentro da planície de inundação da lagoa (Figura 04), 9

desrespeitando o que foi estabelecido pelas normas jurídicas que regem as áreas de preservação permanente. Figura 03: Bairro Lagoa Grande ruas sem pavimentação. Figura 04: Bairro Lagoa Grande rua alagada. Fotografia: Banco de dados da autora, 2012. Fotografia: Banco de dados da autora, 2012. Também, observou-se que uma parte dos moradores retiram material do lixo e os separam como uma forma de obter renda. Todo o material separado é alocado em uma área improvisada, tal como mostra as figuras 05 e 06. Figura 05: Bairro Lagoa Grande alocação de material para reciclagem Figura 06: Bairro Lagoa Grande alocação de material para reciclagem Desta forma, notou-se que o bairro Lagoa Grande principalmente nas áreas mais Fotografia: Banco de dados da autora, 2012. Fotografia: Banco de dados da autora, 2012. próximas da lagoa apresentam problemas decorrentes da ocupação irregular juntamente com a falta estruturas e de serviços essenciais a população e da presença de moradias precárias que se encontram em áreas aterradas do corpo hídrico (figura 08). 10

Figura 08: Bairro Lagoa Grande moradias em áreas aterradas da lagoa grande Fotografia: Banco de dados da autora, 2012. De acordo com dados do Cadastro Socioeconômico da CONDER (2008), o referido bairro apresenta disparidades, pois, em uma parte, é composto por residências, com ruas pavimentadas e um pequeno comércio e dispõe de serviços essenciais como rede elétrica, água encanada e coleta de lixo. No entanto, nas proximidades da lagoa, onde se localiza a Invasão da Rocinha, verificou-se que há sérios problemas infraestruturais de serviços, com ruas sem pavimentação e ausência de rede de esgoto e quando chove aproximadamente 40% das casas ficam alagadas, além da alocação do lixo em terrenos baldios e grande parte das habitações se encontram em estado precário. Para recuperação ambiental da Lagoa Grande e como também garantir uma melhor qualidade de vida para os moradores que estão situados dentro da área de Proteção Permanente, dentre as ações do PAC 2007-2010 previstos para Feira de Santana a Lagoa Grande foi contemplada com a ação de requalificação urbana (Figura 02) a ser executado pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER). Esse projeto resulta da parceria entre o governo Estadual e Federal previsto no Eixo de Infra-Estrutura Social e Urbana que busca a partir de estratégias que visam beneficiar principalmente os aglomerados subnormais (favelas) com ações de melhorias habitacionais, saneamento, inserção social e recuperação de áreas degradadas (CONDER, 2008). 11

Requalificação Urbana de Lagoa Grande Implantação do projeto trabalho técnico social nas áreas de intervenção Implantação de esgotamento sanitário, drenagem pluvial, abastecimento de água, pavimentação e obras viárias Recuperação ambiental Regularização fundiária Implantação de módulo policial centro comercial, creche, galpão para reciclagem, posto de saúde Construção de quadra poliesportiva, campo society, centro comunitário, quadra de areia e parque infantil Construção de 690 unidades habitacionais, 550 melhorias habitacionais e 343 unidades sanitárias Figura 09: Requalificação Urbana da Lagoa Grande, em Freira de Santana. Inicialmente quando foi anunciado as obras de requalificação urbana prevista pelo PAC 2007-2010, o valor estimado para execução do projeto foi de 68 milhões, dos quais R$ 55,7 milhões seriam repassados pelo Governo Federal, através do PAC, e R$ 12,3 milhões de contrapartida do Governo do Estado. Sendo que, a previsão de conclusão dos serviços foi prevista para dezembro de 2010, (CONDER, 2008). No entanto, após quatro anos de inicio da implantação do projeto as obras ainda se encontram em fase de execução. Para que o processo de requalificação urbana fosse executado no bairro Lagoa Grande foi implantado o Projeto Integrado de Desenvolvimento Sócio-Ambiental com a adoção de medidas importantes como o conhecimento prévio da comunidade como uma forma de identificar características específicas daquele determinado lugar e as dificuldades e problemas enfrentados por seus moradores como também a situação ambiental da área. Estas iniciativas favoreceram para o delineamento dos objetivos e metodologia para as estratégias de intervenção a serem adotadas a partir da realidade local com o objetivo de: 12

Melhorar as condições sociais, ambientais e econômicas da população de Lagoa Grande através de um conjunto de ações sócio educativas que atenda as demandas da comunidade, estimulando a participação, o fortalecimento das organizações comunitárias, contribuindo para a construção e crescimento do desenvolvimento sustentável local (CONDER, 2008). Assim, dentre as medidas a serem tomadas para melhorar as condições ambientais e sociais foi o reassentamento de 690 famílias que se localizam em um assentamento subnormal conhecido como Favela da Rocinha conforme o Plano de Reassentamento que é parte integrante do Projeto Integrado de Desenvolvimento Socioambiental que visa nortear o processo de requalificação urbana da Lagoa Grande. Dessa maneira, o processo de relocação de parte das famílias do bairro Lagoa Grande, que se encontram em área de risco, é justificada da seguinte maneira, no Plano de Reassentamento: A intervenção na comunidade Lagoa Grande dentro do programa de Aceleração do Crescimento PAC apresenta no uso e ocupação do seu espaço as disparidades características de ocupações irregulares, tanto nas casas com a existência de imóveis em situação de habitabilidade precária, quanto nos problemas estruturais, onde inexiste qualquer infraestrutura, não comportando adequadamente as funções urbanas básicas de circulação, lazer e habitar (CONDER, 2008, p.48). Para tanto, foi definido a elaboração de um conjunto habitacional, pois como já citado anteriormente, a área ocupada pelos moradores, além das precariedades de habitabilidade apontadas também desrespeita os princípios do Código do Meio Ambiente, Lei Complementar Nº. 1.612/92. Sendo assim foi definido pelo Plano de Reassentamento que: [...] haja vista a existência de imóveis dentro de uma área aterrada da Lagoa Grande, onde todas as construções que estejam situadas a 50 m deveram ser relocadas e as famílias reassentadas para as unidades que serão construídas fora da área da poligonal em loteamento chamado Núcleo Conceição (CONDER, 2008, pg. 48). Assim, a construção do Conjunto Habitacional Núcleo Conceição (Figura10) constitui-se em uma das etapas de intervenção da requalificação urbana busca melhorar a qualidade de vida da população como também a recuperação ambiental da lagoa. O referido conjunto localiza-se há aproximadamente 2,2 km (em linha reta) da área de intervenção na Invasão da Rocinha, em uma área periférica da cidade, no Bairro Conceição e tem como principal via de acesso a Avenida Doutor Antônio Sérgio 13

Barradas Carneiro que corta o bairro Santo Antônio dos Prazeres. Por se tratar de uma grande construção as casas serão entregues para os moradores por etapas. Figura 10: Núcleo Habitacional Conceição Fotografia: Banco de dados da autora, 2012 Para construção do conjunto habitacional o terreno foi desapropriado e doado pela prefeitura constituindo-se em uma área de 271.877,47 m 2 e considerada como plenamente regularizada patrimonialmente, é uma Zona de Especial Interesse Social, conforme prevê a Lei 10.257/2001, e o Estatuto da Cidade (CONDER, 2008). Assim, pode-se verificar que a recuperação ambiental da Lagoa Grande que se constitui em uma Área de Preservação Permanente se deu através do processo de requalificação urbana tomando por base levando em consideração a legislação que incide sobre a mesma como previsto pelo Código Florestal lei 4.771/65 e pelo Código Municipal de Meio Ambiente de Feira de Santana, Lei Complementar nº 1 612/1992 que visa a administração da qualidade ambiental, proteção, controle e desenvolvimento do meio ambiente e uso, adequado dos recursos naturais no Município de Feira de Santana. Desse modo, o artigo 37 o Código Municipal de Meio Ambiente que trata das áreas de preservação permanente está previsto que para lagoas e lagos ou reservatório de origem natural ou artificial deve abarcar uma área mínima de 30 metros, já para nascentes ou olhos d águas foi instituído 50 metros. Assim, a requalificação urbana pretende beneficiar e proporcionar melhorias na qualidade de vida para os moradores que vivem neste local, a recuperação ambiental da Lagoa Grande através da desapropriação dos imóveis localizados na área de proteção permanente e a relocação dessas famílias, além de mecanismos para a despoluição do 14

corpo hídrico com obras de saneamento no local a fim de proibir a ocupação da área para construção de habitações. Pois, a ocupação da Lagoa Grande, além de causar danos à fauna e aflora existente, contribui para alteração da hidrodinâmica do local e contaminação de rios que possam ser integrados por este corpo hídrico como o Rio Pojuca resultando na poluição da água que se encontra na superfície e no lençol freático. 6. Considerações Finais Diante do que já foi exposto, pode-se perceber que a dinâmica populacional da cidade de Feira de Santana e a necessidade de políticas habitacionais foram refletidas tanto nos aspectos socais como condições de habitação e danos ao meio ambienta com a redução do número de lagoas e poluição destas. No estudo de caso da Lagoa Grande ficou evidente a necessidade de uma intervenção e, de maneira específica, na parte que está localizada a Favela da Rocinha que apresenta condições precárias de habitação e foi ocupada de forma irregular em uma área de proteção ambiental permanente, em que os moradores localizados nesta área foram submetidos a um processo de reassentamento como uma das etapas da ação de requalificação urbana. Desse modo, vale ressaltar que quando uma Área de Preservação Permanente é ocupada, ela deixa de cumprir sua função, e, portanto, de assegurar sua proteção e preservação provocando danos diretos à lagoa, causando malefícios não somente a mesma, mas também as populações que vivem nas suas proximidades, além de envolver a questão cultura, uma vez que, as lagoas e Feira de Santana remontam a sua história e estão sendo sucumbidas por ocupações irregulares e pela não execução e o desrespeito ao Código Florestal (Lei 4.771/65), as resoluções do CONAMA (302 e 303 do ano de 2002 e pela resolução 369 de 2006), além do Código Municipal de Meio Ambiente de Feira de Santana (Lei Complementar nº 1 612/1992). Desta forma espera-se que as intervenções do Estado através da requalificação urbana do Bairro Lagoa Grande possam favorecer a recuperação ambiental da lagoa e não seja apenas mais um empreendimento que busque melhorar a estética urbana da cidade de Feira de Santana, mas que possa refletir o comprometimento com a qualidade ambiental. 15

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