ANÁLISE DA FLEXIBILIDADE COGNITIVA DE JOGADORES DE FUTEBOL DA CATEGORIA SUB-15 DE DIFERENTES POSIÇÕES Adeilton dos Santos Gonzaga / NUPEF-UFV Maicon Rodrigues Albuquerque / NUPEF-UFV Leandro Fernandes Malloy-Diniz / LIN-UFMG Israel Teoldo da Costa / NUPEF-UFV adeiltongonzaga@bol.com.br ոո Palavras-chave: Flexibilidade cognitiva, Futebol, Posição. INTRODUÇÃO O desempenho em alto nível no Futebol requer dos jogadores habilidades para identificar e selecionar as informações relevantes do ambiente e tomar as decisões adequadas aos constrangimentos do jogo (WARD; WILLIAMS, 2003; ROCA et al. 2011). Para tomar decisões eficientes, os jogadores devem apresentar, dentre outras habilidades, capacidade para inibir os comportamentos inadequados e adaptar as suas respostas às configurações da partida (CANAS et al. 2003; VESTBERG et al. 2012). R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 9, p. 1127-1132, 2013 1127
A flexibilidade cognitiva se refere à capacidade que o indivíduo possui para se adaptar às mudanças no ambiente e modificar as suas respostas em função dos acontecimentos, sendo, portanto, essencial no desempenho de tarefas variáveis e imprevisíveis, como o jogo de futebol (SPIRO et al. 1988; CANAS et al. 2003). A flexibilidade cognitiva é considerada um dos componentes essenciais das Funções Executivas (DIAMOND, 2013). Estas representam um conjunto de processos cognitivos essenciais para a realização de tarefas que demandam raciocínio, planejamento e resolução de problemas (BANICH, 2009). Estudos têm apontado que jogadores de diferentes posições apresentam variações físicas, técnicas e táticas (SOUSA; GARGANTA; GARGANTA, 2003; DI SALVO et al. 2007; GIACOMINI; GRECO, 2008). No que refere ao aspecto cognitivo, estas informações são desconhecidas. É possível que jogadores de diferentes posições apresentem habilidades cognitivas distintas. Assim, o objetivo do presente estudo é comparar a flexibilidade cognitiva de jogadores de futebol da categoria Sub-15 de diferentes posições. MÉTODOS Amostra Foram analisados os dados de 160 jogadores de futebol da categoria Sub-15, sendo 54 defensores, 73 meio campistas e 33 atacantes. Todos os jogadores realizavam treinamentos regulares, com no mínimo três sessões semanais, e participavam de competições em nível estadual e nacional. Instrumentos Para a coleta dos dados foi utilizada a versão reduzida do teste neuropsicológico Wisconsin Card Sorting Test (WCST). Este teste computadorizado é composto por quatro cartas-chave dispostas na tela do computador e 64 cartas- -respostas de figuras geométricas que variam de acordo com a cor, o formato e o número. A tarefa requer que os avaliados associem a carta resposta com uma das cartas-chave disponível. Cada escolha realizada é seguida por um feedback 1128 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 9, p. 1127-1132, 2013
certo ou errado. Após 10 sequências associadas corretamente, a combinação é mudada. O teste termina quando o avaliado realizar as 64 associações. Cuidados Éticos A realização deste estudo foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Viçosa (Of. 132/2012/CEPH/01-12-11) e atende às normas do Conselho Nacional de Saúde (CNS 466/2012) e do Tratado de Ética de Helsinque (1996) para pesquisas com seres humanos. Os participantes e seus responsáveis legais assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido autorizando a realização das coletas e a utilização dos dados para fins de pesquisa. Procedimentos Para a realização do teste, os participantes, individualmente, foram convidados a entrar em uma sala silenciosa e sentar em uma cadeira confortável em frente a um computador. Antes da aplicação do teste, o avaliador leu cuidadosamente as instruções da tarefa para o participante. O teste era iniciado após o avaliado afirmar que entendera os procedimentos da tarefa e terminava após completadas as 64 associações. Os resultados do teste eram gerados pelo output do programa e salvos em uma pasta para análises posteriores. Análise Estatística Foram aplicadas estatística descritiva (média e desvio padrão) e teste de normalidade (Kolmogorov-Smirnov). Para comparação entre os grupos foi utilizado o teste não paramétrico Kruskall-Wallis. A análise estatística foi realizada através do software SPSS, versão 18.0. O nível de significância adotado foi p<0.05. RESULTADOS E DISCUSSÃO A tabela 1 apresenta os valores de média e desvio padrão obtidos pelos jogadores das diferentes posições analisadas nas categorias que compõem o teste WCST. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 9, p. 1127-1132, 2013 1129
Tabela 1 - Valores de média e desvio padrão do desempenho dos jogadores no WCST. WCST Defensores Meias Atacantes p Acertos 34,54 (11,22) 35,33 (8,98) 34,70 (9,63) 0,952 Erros 29,46 (11,22) 28,67 (8,98) 29,30 (9,63) 0,952 Respostas Perseverativas 13,65 (5,91) 13,78 (6,00) 14,80 (5,40) 0,533 Erros Perseverativos 12,24 (4,71) 12,22 (4,75) 13,00 (4,20) 0,558 Erros Não Perseverativos 17,24 (10,85) 16,45 (8,34) 16,30 (9,14) 0,930 Categorias Completadas 1,87 (1,35) 1,84 (1,07) 1,85 (1,03) 0,999 Respostas de Nível Conceitual 26,33 (14,82) 26,89 (12,49) 26,55 (12,67) 0,984 Tentativas Primeira Categoria 27,48 (21,58) 24,07 (19,05) 21,45 (16,72) 0,851 Os resultados apresentados na tabela 1 revelaram que os jogadores de diferentes posições não apresentaram diferenças estatisticamente significativas no desempenho do Wisconsin Card Sorting Test (WCST). Estes resultados sugerem que a flexibilidade cognitiva dos jogadores não variou em função da sua posição na equipe. Portanto, os jogadores, independente da sua posição, mostraram capacidade de adaptação às mudanças nos contingentes ambientais similares. Esta capacidade cognitiva é muito importante para o desempenho no jogo de futebol, no qual os jogadores estão suscetíveis a estímulos aleatórios, imprevisíveis e variáveis (GARGANTA; GRÉHAIGNE, 1999). A importância da flexibilidade cognitiva para o desempenho dos jogadores de futebol já foi demonstrada no estudo desenvolvido por Vestberg et al. (2012). Estes autores constataram que os jogadores de alto nível competitivo apresentam melhor flexibilidade cognitiva (e outras Funções Executivas) do que jogadores de níveis competitivos inferiores. Além disso, foi constatado que os jogadores com melhor desempenho das Funções Executivas possuem mais chances de obterem sucesso na modalidade. No presente estudo, os jogadores são nível competitivo similar. Por jogarem em posições diferentes havia a possibilidade de apresentarem níveis de flexibilidade cognitiva distintos. No entanto, isto não foi verificado. Deve-se considerar o fato destes jogadores estarem num período de formação, denominado por Greco, Benda e Ribas (1998) de fase de direção, que é caracterizado pela necessidade de aperfeiçoamento e especialização técnica na modalidade. Nesta fase, recomenda-se a transmissão e aplicação de regras gerais de ação tática. É comum, nesta fase de formação, os jogadores não 1130 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 9, p. 1127-1132, 2013
possuírem ainda uma posição fixa, de modo a atuarem em mais de uma posição. Assim, é possível que devido ao pouco tempo de prática na posição específica, em função do processo de formação generalizado, eles ainda não tenham adquiriram experiência suficiente na posição, de modo a diferenciarem-se significativamente dos jogadores das demais posições. Segundo Cañas et al. (2003), as pessoas desenvolvem diferentes estratégias para adaptar-se aos constrangimentos da tarefa e cada estratégia dependeria das características particulares do ambiente. Neste sentido, é possível que jogadores com maior tempo de experiência na modalidade e de prática em posições específicas apresentem diferenças entre si, uma vez que poderão estar mais aptos para interpretar as informações captadas no ambiente e utilizá-las de acordo com as necessidades da sua tarefa. Portanto, estudos entre jogadores de diferentes posições nas categorias maiores, inclusive os profissionais, são recomendados. CONCLUSÃO A partir dos resultados analisados é possível afirmar que não foram verificadas diferenças na flexibilidade cognitiva entre os jogadores de Futebol da categoria Sub-15 de diferentes posições. AGRADECIMENTOS Este trabalho teve o apoio da FAPEMIG, da SEEJMG através da LIE, da CAPES, do CNPq, da FUNARBE, da Reitoria, Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós- -Graduação e do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal de Viçosa. REFERÊNCIAS BANICH, M. T. Executive Function. The Search for an Integrated Account. Current Directions in Psychological Science, v.18, n.2, p.89-94. 2009. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 9, p. 1127-1132, 2013 1131
CANAS, J., QUESADA, J., ANTOLÍ, A., FAJARDO, I. Cognitive flexibility and adaptability to environmental changes in dynamic complex problem-solving tasks. Ergonomics, v.46, n.5, p.482-501. 2003. DI SALVO, V., BARON, R., TSCHAN, H., CALDERON MONTERO, F., BACHL, N., PIGOZZI, F. Performance characteristics according to playing position in elite soccer. International Journal of Sports Medicine, v.28, n.3, p.222. 2007. DIAMOND, A. Executive Functions. Annual Review of Psychology, v.64, p.135-168. 2013. GARGANTA, J., GRÉHAIGNE, J. F. Abordagem sistêmica do jogo de futebol: moda ou necessidade? Movimento, v.5, n.10, Jan, p.40-50. 1999. GIACOMINI, D. S., GRECO, P. J. Comparação do conhecimento tático processual em jogadores de futebol de diferentes categorias e posições. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, v.8, n.1, p.126-136. 2008. GRECO, P. J., BENDA, R. N., RIBAS, J. Estrutura temporal. In: P. J. Greco e R. N. Benda (Ed.). Iniciação Esportiva Universal. Belo Horizonte: Editora UFMG, v.1, 1998, p.63-76. ROCA, A., FORD, P. R., MCROBERT, A. P., WILLIAMS, A. M. Identifying the processes underpinning anticipation and decision-making in a dynamic time-constrained task. Cognitive Processing, v.12, n.3, p.301-310. 2011. SOUSA, P., GARGANTA, J., GARGANTA, R. Estatuto posicional, força explosiva dos membros inferiores e velocidade imprimida à bola no remate em Futebol. Um estudo com jovens praticantes do escalão sub-17. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, v.3, n.3, p.27-35. 2003. SPIRO, R. J., COULSON, R. L., FELTOVICH, P. J., ANDERSON, D. K. Cognitive Flexibility Theory: Advanced Knowledge Acquisition in Ill-Structured Domains. Technical Report Nº.441. Champaing, Illinois. 1988 VESTBERG, T., GUSTAFSON, R., MAUREX, L., INGVAR, M., PETROVIC, P. Executive functions predict the success of top-soccer players. PloS one, v.7, n.4, p.e34731. 2012. WARD, P., WILLIAMS, A. M. Perceptual and cognitive skill development in soccer: The multidimensional nature of expert performance. Journal of Sport and Exercise Psychology, v.25, n.1, p.93-111. 2003. 1132 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 9, p. 1127-1132, 2013