DIREITO CIVIL CONTRATOS Rosivaldo Russo FORMAÇÃO DOS CONTRATOS Vontade contratual e consentimento das partes: a) CONCEITO: mais que mero elemento contratual, a vontade representa pressuposto à relação contratual; b) DIVISÃO: vontade externa (direta elemento material, exterioriza a vontade Ex. Palavra, gestos, escrita, imagem, sons, etc.), vontade interna (indireta elemento psíquico); c) CONSENTIMENTO: quando há convergência das vontades dos contratantes = consentimento; d) OUTROS ELEMENTOS: objeto e forma (livre art. 107, expressa ou tácita). Período Pré-Contratual 1 A FASE DE UM CONTRATO: NEGOCIAÇÃO: período de formação da vontade contratual; são tratativas (bilaterais), sob forma livre (oral, escrita, etc.), que não obrigam as partes contratantes (minuta contratual esboço de futuro contrato); 2 A FASE DE UM CONTRATO: OFERTA OU PROPOSTA (art 427): período após as negociações, que GERA VINCULAÇÃO JURÍDICA OBRIGACIONAL. a) CONCEITO: declaração de vontade, pelo qual uma das partes (PROPONENTE) propõe a outra (OBLATO) os termos detalhados para contratação; b) CARACTERÍSTICAS: deve ser clara e objetiva (vincula o proponente); c) CONSEQÜÊNCIAS: a proposta vincula o proponente e lhe confere obrigação civil (extracontratual) d) EXCEÇÕES A RESPONSABILIDADE DO PROPONENTE: d1) se estiver expresso na proposta que ela não vincula; d2) natureza do negócio (tipo do negócio) não indique que a proposta seja firme (ex. alta flutuação mercadológica; d3) circunstâncias do negócio (forma em que está sendo tratado comportamento das partes nas tratativas indiquem mera negociação); e) PROPOSTA NO CDC (art 31 CDC): há vinculação com responsabilização contratual (garantia de preço, características do produto ou serviço, quantidades disponíveis na oferta); f) FORÇA VINCULANTE: no campo civil, há a vinculação do proponente com responsabilidade extracontratual (perdas e danos arts. 186, 187 e 927), no CDC a responsabilidade já é contratual (fornecedor deve garantir suas condições e seu cumprimento; 1
g) RESPONSABILIDADE DOS SUCESSORES PELA PROPOSTA: o código trata da proposta como verdadeira obrigação assumida, impondo responsabilidade de herdeiros e sucessores (art. 428), nada consta como causa excludente). 3 A FASE DE UM CONTRATO: h) ACEITAÇÃO DA PROPOSTA: h1) Conceito: é o ato de aderência do oblato à oferta recebida (a partir daqui já existe contrato = responsabilidade será contratual); h2) Forma: livre desde que a lei não exija forma do ato (art. 107); h3) Duração: não pode ter eficácia indefinida deve ter prazo determinado ou determinável ENTRE PRESENTES, aqueles em que as partes estão frente-a-frente inclusive por telefone, MSN, videoconferência (deve ser aceita imediatamente), ENTRE AUSENTES, sistema de declaração geral art. 434 teoria da expedição fechado no momento em que o oblato expede a aceitação; h4) Aceitação tardia: se aceitação do oblato chegar tarde ao conhecimento do proponente foi expedida no prazo de validade da oferta, mas chegou nas mãos do proponente após o prazo (proponente deve comunicar imediatamente ao oblato sob pena de responsabilização (art. 430); h5) Aceitação condicionada, modificada ou alterada, ou extemporânea (expedida pelo oblato fora do prazo de validade da oferta): não configura aceitação nem contrato, mas nova proposta (art. 431); h6) Retratação da oferta para proponente: será possível, desde que esta retratação seja recebida antes da aceitação ou junto com ela mesma regra vale para aceitação expedida (exige mesma forma, mesmo destaque e mesmo instrumento); CONTRATOS VIA INFORMÁTICA: a) Relevância = é necessário saber se o moldem e o software dão condições de colocar frente-a-frente os contratantes (art. 428, I) implica nas regras acima de presentes; b) Prova da proposta: impressão gráfica das comunicações trocadas, gravadas e de dados decodificados em papel) ou via assinaturas eletrônicas (Vide Méd. Provisória 2.200-1/2001 criou infra-estrutura de chaves públicas brasileiras ICP-Brasil) LUGAR DE CELEBRAÇÃO DO CONTRATO: ART. 435 aquele em que foi proposto, não onde foi aceito. CONTRATOS SOLENES (instrumento público): Qual a implicação da proposta e da aceitação em contrato solene (aquele que a lei exige forma)? Depende: a) Contrato preliminar: este representará substituto à proposta e à aceitação (gera força vinculante, gera responsabilidade civil contratual e possibilidade suprimento judicial de vontade); b) Contrato particular (com cláusula de irrevogabilidade e irretratabilidade expressa): também um substituto, gerará responsabilidade contratual específica de contrato definitivo (outorga de instrumento público), com possibilidade de suprimento judicial; 2
c) Contrato particular (sem cláusula de irrevogabilidade e irretratabilidade expressa): não gerará força vinculante contratual, tratando-se de responsabilidade civil extracontratual (vide responsabilidade précontratual). CONTRATO SOBRE HERANÇA DE PESSOA VIVA: Vedação expressa legal (objeto ilícito) arts. 426 e 104, II. Exceção: art. 2018 NCC. IMPOSSIBILIDADE DA PRESTAÇÃO X VALIDADE DO CONTRATO: Art. 106 Se a impossibilidade for absoluto, aplicável a qq pessoa, o contrato será Nulo, nos termos dos arts. 166 e 167. Se for relativa, o inadimplente responderá pela responsabilidade contratual desde que ausentes as causas justificadoras do art. 393 do NCC. ÍNDICE 9 EXTINÇÃO DOS CONTRATOS (DESFAZIMENTO DOS CONTRATOS) As relações contratuais (obrigações contratuais) = transitórias por natureza (diferente das relações de família, de propriedade, etc.) FORMA NORMAL DE EXTINÇÃO = cumprimento do contrato (cumprimento da obrigação) a) Espécies (doutrina) extinção, resolução, resilição, rescisão, revogação b) EXTINÇÃO: decorrente de nulidade (ex tunc desde o ato contratual) ou anulabilidade (ex nunc desde constatação da nulidade) c) RESILIÇÃO: término do contrato por vontade das partes (bilateral ou unilateral) vide 473; c1) Resilição unilateral: causas justificadas (ex. quebra de confiança = comodato, mandato, depósito), c2) Resilição Bilateral = Distrato vide 472 não tem forma definida em lei, é livre, aceitando até instrumento particular. d) RESCISÃO: desfazimento do contrato por sentença judicial. e) Resolução: (cláusula resolutiva ou pacto comissório: termo usado para hipóteses de inexecução do contrato por uma das partes (inadimplemento), culposa ou não (dolo ou culpa) confunde-se com rescisão; e1) Outras hipóteses: onerosidade excessiva, pacto comissório (cl. Resolutiva), tácita (se estipula que as partes podem optar por resilição diante do descumprimento da obrigação da outra) ou expressa (se estipula que o descumprimento de qq de suas cláusula gera automaticamente sua resolução) = notificação à outra parte (indispensável na cl. Tácita, indicada na cl. Expressa) e2) Resolução por inexecução involuntária (causas justificadoras art. 393 caso fortuito ou força maior); e3) Resolução por inadimplemento antecipado: antes mesmo da obrigação tornar-se exigível, já se verifica que haverá seu descumprimento (manifestação clara do devedor, ou frustração indireta por seus atos praticados = meras suspeitas não autorizam aplicação desta teoria vide 333. VÍCIOS REDIBITÓRIOS (DEFEITOS OCULTOS) 3
- JUSTIFICATIVA (social e doutrinária): boa fé do alienante (dá garantia ao adquirente) - IMPLICAÇÕES: não importa se alienante conhece ou não o defeito, sempre se responsabilizará por ele; - ABRANGÊNCIA: abrange não só a compra e venda e a doação (transferência de domínio), como também relações com transferência de posse, como comodato, locação, arrendamento, etc.. - CONCEITO (441): É garantia por defeitos ocultos, assumida pelo alienante em favor do adquirente de uma coisa, imposta pela lei, em contratos comutativos e onerosos (não se fala em vício redibitório em contratos aleatórios e nem gratuitos). OBS1: Presume-se que o negócio não teria sido realizado, ou teria sido realizado de forma diferente, se houvesse conhecimento do defeito; OBS2: Não é qq defeito que implica na aplicação da lei só aqueles que impedem utilização da coisa ou diminuem seu valor (ex. cavalo com problemas respiratórios será para corrida ou abate) OBS3: Não se confunde com erra sobustancial quanto ao objeto no erro, o adquirente quer uma coisa e recebe outra no vício, quer e recebe a mesma coisa, mas com defeito (ex. quadro falsificado (erro), quadro com fungos (vício). REQUISITOS DO VÍCIO: 1. Vício deve ser oculto: não se pode falar em aplicação da regra quando o vício for nítido para adquirente, aos olhos do chamado homem médio = os vícios (defeitos) que poderiam ser verificados por qq um diante de um exame atento e cuidadoso, não poderão ser alegados (o direito não socorre quem dorme). OBS1: Importa a condição pessoal do adquirente para verificação da possibilidade jurídica de verificar ou não o defeito (ex. mecânico, veterinário, etc) OBS2: Não se poderá reclamar vício nos contratos com determinação de recebimento do bem no estado em que se encontra. 2. Defeito deve existir ao tempo do contrato: os defeitos ou vícios devem existir ao tempo do contrato (proposta e aceitação + transferência ou tradição) vícios posteriores correm por conta do adquirente. EFEITOS DO VÍCIO: Serão 02 efeitos basicamente: a ação redibitório (rejeição da coisa, com sua devolução e restituição do preço pago, corrigido = valor pago + despesas do contrato), ou ação chamada de quanti minoris (abatimento no preço pago, com devolução parcial, corrigido) = a opção é exclusiva do adquirente. OBS1: Não esquecer que o vício redibitório subsiste, mesmo que o defeito não seja do conhecimento do alienante (desconhecimento não serve como defesa). OBS2: Presente o dolo do alienante, responderá além do vício, também por perdas e danos. OBS3: Exclusão em hastas públicas (decorrentes de execução judicial) = existia no códig de 1916, neste não mais existe = logo, aplica-se também em caso de hasta (teoricamente). 4
PRAZOS DECADENCIAIS DO VÍCIO (445): a) Bens móveis: 30 dias a partir da tradição. Imóveis: 01 ano. b) Se o adquirente já estava na posse do bem: prazo reduzido pela metade (ex. locatário que comprou o imóvel) c) Vício perceptível posteriormente: contar-se os prazos a partir da ciência do defeito (com limite de 180 dias da tradição para móveis e 01 ano para imóveis. d) Venda de animais (semoventes): caberá ao judiciário, pelos costumes do local, estabelecer o prazo decadencial, ou aplicar as regras de bens móveis. OBS: Cláusula apartada de garantia (art. 446 impedem contagem do prazo decadencial do CC mas existe prazo decadencial próprio de 30 dias para adquirente informar alienante do defeito = Art. 446. Não correrão os prazos do artigo antecedente na constância de cláusula de garantia; mas o adquirente deve denunciar o defeito ao alienante nos trinta dias seguintes ao seu descobrimento, sob pena de decadência. ÍNDICE 10 VÍCIOS NO CDC (1.8.078/1990) (CONTINUAÇÃO) a) FUNDAMENTO JURÍDICO: assunto tratado de forma apartada conforme visão de vulnerabilidade do consumidor perante o mercado. b) BASE LEGAL: previsão legal nos arts. 18, 19, 20, 26 e 27. c) CONCEITO: alargamento da responsabilidade legal do fornecedor de produtos e serviços, d) EFEITOS NO CDC ($1b do art. 18): d1) exigência de reparos pelo fornecedor (prazo legal de 30 dias) não sendo respeitado, caberá (a escolha do consumidor); d2) substituição do produto por outro de mesma espécie; d3) restituição imediata da garantia paga + perdas e danos (independentemente de dolo); d4) abatimento proporcional do preço; d5) substituição do produto por outro não idêntico, mais abatimento proporcional do preço. e) VÍCIO DE IMAGEM (PROPAGANDA MENSAGEM PUBLICITÁRIA): além dos vícios do produto e serviços, produtor e comerciante respondem solidariamente pelos vícios de imagem (art. 20). f) PRAZO DECADENCIAL (art. 26): f1) vícios aparentes: o CDC responsabiliza até por vícios aparentes (de fácil constatação) prazo de 30 dias para produtos/serviços não duráveis ou 90 dias para duráveis (inicia contagem a partir da entrega/tradição; f2) vícios ocultos: O CDC também trata deles mesmos prazos acima (inicia contagem a partir da constatação do defeito; ATENÇÃO: O prazo decadencial não corre até reclamação do consumidor com resposta negativa do fornecedor - $2 art. 26 (início do prazo decadencial somente começa correr após resposta do fornecedor não se fala em interrupção de prazo decadencial). 5
g) PRAZO PRESCRICIONAL: a partir da resposta negativa do fornecedor, começa a fluir o prazo decadencial e também o prazo prescricional (da ação de perdas e danos decorrentes dos defeitos dos produtos e serviços). EVICÇÃO - CONCEITO: arts. 447 e 448 como nos vício red., trata-se de garantia do alienante ao adquirente em decorrência de perda da coisa (posse ou propriedade), total ou parcial, para terceiros (segurança que o título é bom o sufuciente e que ninguém mais tem qq direito sobre aquela coisa); evictor = vencedor, evicto = perdedor. - REQUISITOS: 1. PERTURBAÇÃO DE DIREITO DO ADQUIRENTE (turbação de uso, gozo ou possibilidade de disposição); 2. VÍCIO DEVE SER PRÉ-EXISTENTE OU CONCOMITANTE ao contrato de transferência do bem, ou formalização do contrato (transferência da posse ou propriedade); 3. Existência de uma sentença que determine perda do bem(só sentença? E apreensão por autoridade policial = decreto exproprietório; - INTERVENÇÃO DO ALIENANTE (denunciação a lide): Como pressuposto legal para exercício do DIR. MATERIAL de evicção (em ação específica), há a necessidade de denunciação a lide feita pelo adquirente ao alienante, durante a ação que está a responder perante o terceiro (art. 70, inc. I do CPC). - EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE (art. 448): Trata-se de direito disponível (aquele sobre o qual se pode negociar, diminuir, desistir, renunciar), mas o alienante somente se eximirá da responsabilidade de o adquirente tiver conhecimento dos riscos que cercam a coisa (contrato aleatório). - MONTANTE DO DIREITO DO EVICTO (art. 450): A ação do direito de evicção confere os seguintes direitos ao adquirente: restituição integral do preço do bem (corrigido e com valorização da coisa), despesas de contrato, benfeitorias que perdeu (úteis e necessárias), frutos que restituiu e perdeu, custas judiciais e honorários advocatícios. - EVICÇÃO PARCIAL (art. 455): Pode ocorrer perda de parte da coisa; caberá escolha para evicto de duas ações: ou de evicção, ou de indenização pela perda (desfalque); para que seja a evicção, a lei exige que a perda seja considerável (acima de 5%). - EVICÇÃO NAS AQUISIÇÕES JUDICIAIS (art. 447): É possível nas arrematações judiciais ação será contra o credor (aquele que moveu a ação de execução), ou contra o executado se este recebeu saldo remanescente da hasta pública. 6