Projecto de Lei n.º 157/X. Define regras de arrendamento rural aplicáveis a prédios rústicos do Estado

Documentos relacionados
ESTATUTO DO PROVEDOR DO CLIENTE

Briefing Laboral # 18 1

Respostas a questões das IC s sobre a Linha de Crédito PME Investe II / QREN

HASTA PÚBLICA PROGRAMA DO CONCURSO

CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA

TRATADO ENTRE A REPÚBLICA PORTUGUESA E O REINO DE ESPANHA PARA A REPRESSÃO DO TRÁFICO ILÍCITO DE DROGA NO MAR.

ARGANIL INVESTE MAIS REGULAMENTO DE APOIO A INICIATIVAS ECONÓMICAS DE INTERESSE MUNICIPAL. Nota Justificativa

Câmara Municipal de Mealhada

DIRECTRIZ CONTABILÍSTICA Nº 24 EMPREENDIMENTOS CONJUNTOS 1. OBJECTIVO 1 2. DEFINIÇÕES 2 3. TIPOS DE EMPREENDIMENTOS CONJUNTOS 2

Manual do Revisor Oficial de Contas. Recomendação Técnica n.º 5

PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS. Proposta de Lei n.º 18/XII. Exposição de Motivos

Estatuto dos Beneficios Fiscais

Linha de Crédito PME CRESCIMENTO 2014 (Condições da Linha)

ESTATUTOS DA FUNDAÇÃO DOS LIONS DE PORTUGAL (Despacho da Presidência Conselho de Ministros de )

Programa de Desenvolvimento Rural para a Região Autónoma dos Açores

Programa Gulbenkian de Língua e Cultura Portuguesas REGULAMENTO DO CONCURSO DE APOIO A CONGRESSOS NOS DOMÍNIOS DA LÍNGUA E DA CULTURA PORTUGUESAS

CALHETA D ESPERANÇAS

Portaria n.º 1323-B/2001

Portaria n.º 1458/2009. de 31 de Dezembro

Capítulo I Disposições Gerais

ASSOL Outubro 2013 Caderno de Encargos Ajuste Directo

Regime fiscal das fundações. Guilherme W. d Oliveira Martins FDL

ORIENTAÇÃO DE GESTÃO N.º 01.REV2/POFC/2013

MINUTA DE PROPOSTA DE RESOLUÇÃO RESOLUÇÃO XXX/2013

ENQUADRAMENTO DO VOLUNTARIADO NA UNIVERSIDADE DE AVEIRO

APROVA AS LINHAS FUNDAMENTAIS PARA A ELABORAÇÂO E EXECUÇÃO DO PROGRAMA NACIONAL DE SIMPLIFICAÇÃO ADMINISTRATIVA E DESBUROCRATIZAÇÃO SIMPLEX II

ESTATUTOS. (Nova redação dos artigos 9º, 10º, 11º, 12º e 16º)

REGULAMENTO ELEITORAL. Artigo 1.º (Objecto)

PROJECTO DE LEI N.º 1/VIII AUMENTO DO SALÁRIO MÍNIMO NACIONAL

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA FINANÇAS E TRABALHO, SOLIDARIEDADE E SEGURANÇA SOCIAL Diário da República, 1.ª série N.º 64 1 de abril de 2016

ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2008

Manual do Revisor Oficial de Contas. Directriz de Revisão/Auditoria 810

Formação-ação no domínio da competitividade e internacionalização -Portugal Maria José Caçador 15.abril.2016

CONTRATO PARA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ASSITÊNCIA TÉCNICA ANO CIVIL 2015

JESSICA NO ORDENAMENTO JURÍDICO PORTUGUÊS. José Brito Antunes Lisboa, 18 de Fevereiro de 2008

Gestão da Qualidade. Aula 5. Prof. Pablo

REGULAMENTO DA ORGANIZAÇÃO E CONCESSÃO TRANSPORTES ESCOLARES NOTA JUSTIFICATIVA

A REFORMA TRIBUTÁRIA EM ANGOLA

Certidão Permanente Código de acesso:

RELAÇÃO DOS PONTOS DE CONTROLE COM AS TABELAS DE BD

GUIA PRÁTICO MEDIDAS ESPECÍFICAS E TRANSITÓRIAS DE APOIO E ESTÍMULO AO EMPREGO

Estado do Rio de Janeiro Prefeitura Municipal de Mangaratiba Gabinete do Prefeito

CIRCULAR RELATIVA À AVALIAÇÃO E VALORIZAÇÃO DE PROJETOS DE CONSTRUÇÃO DESENVOLVIDOS POR ORGANISMOS DE INVESTIMENTO IMOBILIÁRIO

Comissão avalia o impacto do financiamento para as regiões e lança um debate sobre a próxima ronda da política de coesão

REGULAMENTO ESPECÍFICO DE BASQUETEBOL DESPORTO ESCOLAR

Módulo 6: Desenho Industrial

MUNICIPIO DE MESÃO FRIO

ESCOLA DE DIREITO DO RIO DE JANEIRO DA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS FGV DIREITO RIO FGV LAW PROGRAM

J.I.T. - Just In Time

Certificado de Recebíveis Imobiliários CRI

Institui, na forma do art. 43 da Constituição Federal, a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia SUDAM, estabelece a sua composição, natureza

3. BENEFICIÁRIOS Podem ser beneficiários dos apoios previstos na acção 3.1.3, Pessoas singulares ou colectivas de direito privado.

!"# $% A pressão para o Estado mínimo e direitos mínimos estão a marcar, na Europa e em Portugal, os caminhos sobre o futuro do modelo social.

EMISSOR: Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social

As novas regras de tributação de rendimentos de capitais, mais-valias e de tributação do património

1. Objectivo. 2. Destinatários. 3. Localização. 4. Horário de funcionamento. 5. Montagem e desmontagem. 6. Condições. 7.

TÍTULO I Diário da República, 2.ª série N.º de Julho de Disposições Gerais. CAPÍTULO IV Disposições finais

PROJETO DE LEI Nº 7.412, DE 2010 COMPLEMENTAÇÃO DE VOTO

Instruções para o cadastramento da Operação de Transporte e geração do Código Identificador da Operação de Transporte CIOT.

CATÁLOGO DE APLICAÇÕES Rateio CC Contas a Pagar

TESOURO DIRETO TÍTULOS PÚBLICOS

REGULAMENTO ESPECÍFICO DE BASQUETEBOL

INFORMAÇÃO FISCAL. IVA - Imposto sobre o valor acrescentado. Despesas em que o IVA é dedutível. Despesas em que o IVA não é dedutível

Lei n.º 23/2010, de 30 de agosto. Artigo 1.º Alterações à Lei n.º 7/2001, de 11 de maio

Sumário PROGRAMA CEVAR - CONSERVAÇÃO DE ESPAÇOS VERDES DE ÁREA REDUZIDA (PROTOCOLOS DE COOPERAÇÃO PARA CONSTRUÇÃO/REQUALIFICAÇÃO E PARA A MANUTENÇÃO)

Assunto: Consulta Prévia para Prestação de Serviços de Consultoria-formativa e formação no âmbito do Programa CONVITE. Exmos. Senhores.

PROSPECTO INFORMATIVO Depósito Indexado - Produto Financeiro Complexo

RENDIMENTOS DE CAPITAIS

Microcrédito e Comércio Justo

Edital nº Impressão de produtos editoriais

INSTITUTO DA HABITAÇÃO E DA REABILITAÇÃO URBANA, IP

UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA Faculdade de Ciências Médicas Conselho Executivo

CONDIÇÕES GERAIS DOS LEILÕES LEILÃO PÚBLICO DE IMÓVEIS DEFINIÇÕES

PROJETO DE REGULAMENTO DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO DE ALENQUER

Financiamento e Empreendedorismo Cultural

Educação a distância dissensos e consensos

PARECER Nº 008/ MPC

Publicado no Diário da República n º 72, I série, de 18 de Abril. DECRETO PRESIDENCIAL N.º 64/11 de 18 de Abril

Conselho Local de Ação Social de Figueira de Castelo Rodrigo

Prof. José Maurício S. Pinheiro - UGB

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE GOIÁS EDITAL Nº 001/2015 LEIA ATENTAMENTE AS INSTRUÇÕES

Unidade II. No ativo, a disposição das contas obedece ao grau decrescente de liquidez dos elementos nelas registrados.

Despacho n.º /2015. Regulamento Académico dos Cursos de Pós-Graduação não Conferentes de Grau Académico do Instituto Politécnico de Leiria (IPLeiria)

FREGUESIA DE QUIAIOS NIPC

Acordo entre o Ministério da Saúde e a Associação Nacional das Farmácias sobre a implementação de programas de Saúde Pública

PROJETO DE LEI N.º./XIII/1.ª ALTERA O CÓDIGO CIVIL, ATRIBUINDO UM ESTATUTO JURÍDICO AOS ANIMAIS

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE MINISTÉRIO DO TRABALHO, EMPREGO E SEGURANÇA SOCIAL

REGIMENTO DO CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE VILA FLOR

Pequenas e Médias Empresas no Paraguai. Pequenos Negócios Conceito e Principais instituições de Apoio aos Pequenos Negócios

FICHA DOUTRINÁRIA. Diploma: CIVA. Artigo: Art. 12º; D. L. 21/2007. Assunto:

REGULAMENTO DO AUTOCARRO E CARRINHA

ORÇAMENTO PARTICIPATIVO 2015

Manual. Alambique. A Engenharia nos Empreendimentos. Anexo VIII

ANEXO I INVESTIMENTOS EXCLUÍDOS E DESPESAS CONDICIONADAS

Laboratório de Sustentabilidade Sessão 6: A planificação estratégica. Maio de 2015

Parecer Jurídico Recibos Verdes e Progressão na Carreira no Ensino Particular e Cooperativo

Transcrição:

Projecto de Lei n.º 157/X Define regras de arrendamento rural aplicáveis a prédios rústicos do Estado Ao apresentar o presente Projecto de Lei o Grupo Parlamentar do PCP tem como objectivo resolver uma situação que incompreensivelmente se arrasta ao longo dos anos e que sucessivos governos se propuseram resolver sem que entretanto tal se tenha verificado. Trata-se de clarificar e resolver a situação em que agricultores e trabalhadores agrícolas exploram, alguns há mais de 25 anos, parcelas de terra do Estado ou por este detidas e que se vêem impossibilitados de fazer investimentos estratégicos indispensáveis à modernização, diversificação e rentabilização das explorações agrícolas em seu poder devido ao carácter precário do seu estatuto face à posse e uso da terra. Caso paradigmático desta situação é o caso dos cerca de 100 agricultores a quem o Estado fez entrega, há 25 anos, de parcelas de terra de cerca de 33 hectares, na Herdade dos Machados, concelho de Moura, e que há 25 anos vivem em permanente sobressalto pois os contratos de arrendamento que o Estado lhes fez não lhes dão as garantias necessárias e suficientes para poderem encarar o futuro com a tranquilidade e segurança a que têm direito. Não é aceitável que, a cada mudança de governo ou que de cinco em cinco anos, centenas de famílias sejam confrontadas com a incerteza quanto ao seu futuro de agricultores. Não é aceitável que centenas de famílias de agricultores e trabalhadores agrícolas, empenhadas em arrancar da terra o seu sustento, não desfrutem das garantias necessárias, por parte do Estado, para poderem investir com segurança na 1

modernização, diversificação e rentabilização das suas explorações agrícolas devido ao carácter precário que caracteriza o seu vínculo à terra que trabalham. Não é aceitável que seja o Estado o primeiro a negar o cumprimento de importantes desígnios constitucionais como os de promover a melhoria da situação económica, social e cultural dos agricultores e trabalhadores agrícolas e o acesso à propriedade ou à posse da terra e demais meios de produção directamente utilizados na sua exploração por parte daqueles que a trabalham (artigo 93º da Constituição da República Portuguesa) ou ainda a recusar a garantia de estabilidade e a salvaguarda dos legítimos interesses do cultivador (artigo 96º da CRP). É face ao exposto e no espírito de dar cumprimento à Lei Fundamental da República, nos termos constitucionais e legais aplicáveis, os Deputados abaixo assinados do Grupo Parlamentar do PCP apresentam o seguinte Projecto de Lei: Artigo 1º Âmbito A presente lei determina as regras aplicáveis aos contratos de arrendamento rural, acordos ou situações de facto com o mesmo fim e condições, estabelecidos ou a estabelecer entre o Estado e os arrendatários ou agricultores que explorem prédios rústicos do Estado. Artigo 2º Arrendamento rural 1- Entende-se por arrendamento rural, para efeitos do presente diploma, o contrato ou acordo sob qualquer forma, estabelecido entre o Estado e uma pessoa singular ou colectiva, incluindo do sector cooperativo, em que o primeiro transfere para o segundo o direito de uso, fruição e administração de terras agrícolas do domínio público mediante o pagamento pelo arrendatário de uma contraprestação estipulada em dinheiro e designada por renda. 2

2- Entende-se por acordo ou situação de facto, para efeito do presente diploma, aqueles em que, embora sem suporte documental, se produzam os mesmos efeitos e em que as partes estão vinculadas às mesmas condições do contrato de arrendamento rural. Artigo 3º Benfeitorias 1- Os arrendatários ou agricultores poderão efectuar todas as benfeitorias previstas no contrato ou acordo estabelecido podendo ainda ser introduzidas outras, por sua iniciativa ou do Estado, desde que se revelem necessárias e úteis a uma boa exploração do prédio. 2- Findo o contrato ou o acordo as benfeitorias realizadas são incorporadas no prédio havendo lugar a uma indemnização a pagar pelo Estado. 3- Quanto às benfeitorias úteis e voluptuárias aplicar-se-á o regime previsto no artigo 1273º e seguintes do Código Civil. Artigo 4º Apoios Os arrendatários ou agricultores que explorem prédios rústicos do Estado são, nos termos da presente lei, equiparados a proprietários para efeitos de proposta de candidaturas e obtenção de benefícios de apoios, programas ou fundos nacionais e comunitários. Artigo 5º Validade Os contratos ou acordos de arrendamento rural definidos no artigo 2º têm carácter vitalício e só podem caducar nos termos do estipulado no artigo seguinte ou por vontade expressa e inequívoca do arrendatário. 3

Artigo 6º Resolução do contrato ou acordo 1- O Estado só pode resolver unilateralmente o contrato ou acordo de arrendamento rural no decurso do mesmo, mediante comunicação prévia ao arrendatário, com recurso deste para os tribunais comuns, nas seguintes condições: a) Não pagamento de renda no tempo e lugar próprios; b) Incumprimento de uma obrigação legal, com prejuízo directo para a produtividade, substância ou fim económico e social do prédio; c) Utilização de processos de cultura ou culturas comprovadamente depauperantes da potencialidade produtiva dos solos; d) Subarrendamento ou cedência a qualquer título, total ou parcialmente dos prédios arrendados nos casos não permitidos ou sem o cumprimento das obrigações legais; e) Não atingir os níveis mínimos de utilização do solo nos termos definidos no Decreto-Lei nº 227/84, de 9 de Julho, durante três anos sucessivos ou cinco interpolados. 2- Os prédios rústicos abrangidos pelas disposições previstas na presente lei não são objecto de alienação por nenhuma das partes. Artigo 7º Fixação da renda Na determinação e actualização da renda aplicar-se-á o disposto no artigo 8º do Decreto-Lei nº 385/88, de 25 de Outubro. Artigo 8º Transmissão por morte A posição contratual do arrendatário transmite-se por morte deste ao cônjuge sobrevivo, desde que não divorciado ou separado judicialmente de facto, àquele que no momento 4

da sua morte viva com ele há mais de dois anos em condições análogas às dos cônjuges e a parente ou afins, na linha recta. Artigo 9º Fiscalidade 1- Em sede de imposto sobre o rendimento e imposto sobre o património, o Governo, por Decreto-lei, definirá os níveis de fiscalidade que incidirão sobre os prédios rústicos abrangidos por este diploma. 2- Os valores da tributação fiscal previstos no número anterior serão definidos com base nem sistema de escalões, tendo em conta, designadamente, a dimensão das explorações e a sua contribuição para a criação de emprego e que serão progressivos no primeiro caso e degressivos no segundo. Artigo 10º Regulamentação O Governo regulamenta a presente lei, em tudo o que não esteja especialmente previsto, no prazo máximo de 60 dias. Artigo 11º Entrada em vigor A presente lei entra em vigor no dia seguinte ao da sua publicação excepto quanto às normas com implicações orçamentais que entram em vigor com o Orçamento do Estado subsequente. Assembleia da República, 15 de Setembro de 2005 Os Deputados, 5