ACÓRDÃO Registro: 2016.0000312629 Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Execução Penal nº 7005040-05.2015.8.26.0037, da Comarca de Araraquara, em que é agravante MARCELINO CORREA DOS SANTOS, é agravado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram parcial provimento ao agravo interposto por MARCELINO CORREA DOS SANTOS, apenas para estabelecer como marco interruptivo, à concessão de benefícios, a data do trânsito em julgado da última decisão em relação ao parquet, mantendo-se, no mais, a r. decisão atacada por seus próprios e jurídicos fundamentos. v.u.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E BORGES PEREIRA. São Paulo, 10 de maio de 2016. Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica
Agravo em Execução nº 7005040-05.2015.8.26.0037, Comarca: Araraquara Agravante: MARCELINO CORREA DOS SANTOS Advogado: Frederico Monteiro VOTO Nº. 13.178 Agravo em execução. Pedido de reforma da decisão que, ao unificar as reprimendas, determinou a interrupção de prazos para a concessão de benefícios. A unificação de penas impõe como novo marco interruptivo, contudo, a contar da data do trânsito em julgado ao 'parquet' da última condenação superveniente. Precedentes dos Tribunais Superiores. Parcialmente provido. Trata-se de Agravo em Execução, interposto por MARCELINO CORREA DOS SANTOS em face de decisão proferida em 13 de julho p.p. (fls. 02/29), pelo MM. Juiz de Direito, Dr. Hélio Benedini Ravagnani, da Vara das Execuções Criminais da Comarca de Araraquara, que unificou as reprimendas do agravante, fixando o trânsito em julgado da última condenação, como novo marco inicial à concessão de benefícios. Irresignado, o agravante sustenta, resumidamente, o afastamento do reinício do prazo para a concessão de benefícios, como a progressão e o livramento condicional. Agravo de Execução Penal nº 7005040-05.2015.8.26.0037 2
O Ministério Público, em sua contraminuta, bateu-se pelo acerto do decisum, reiterando manifestação anterior, consoante art. 2º, caput do Ato nº. 536/2008-PGJ-CGMP. A douta Procuradoria Geral de Justiça apresentou parecer endossando as contrarrazões ministeriais, opinando pelo improvimento ao recurso. Devidamente processado, o recurso defensivo comporta parcial provimento, merecendo reparo a r. decisão agravada. Como cediço, em respeito à regra de unificação de penas estipulada pelo art. 111 da Lei de Execução Penal, sobrevindo ulterior condenação no curso da execução de outras reprimendas, a concessão de benefícios deve sofrer readequação, de forma a compatibilizá-los ao novo montante total fixado. Observe-se que a unificação de penas é determinante à reelaboração não só dos cálculos de benefícios, como ao regime de cumprimento, em decorrência lógica do Juízo Universal da Execução da Pena 1. Por derradeiro, nem se olvide que pena cumprida é pena extinta, deduzindo-se, portanto, o montante já resgatado para fins de unificação. Nesse sentido, assim vimos lecionando: 1 Todas as penas aplicadas ao réu concentrar-se-ão em uma única Vara de Execução Criminal, normalmente a da Comarca onde ele estiver preso ou fixar domicílio (caso se encontre em liberdade). Por isso cabe ao juiz que controla todas as suas condenações promover a necessária somatória das penas e verificar a adequação do regime imposto, bem como dos benefícios auferidos (NUCCI, Guilherme de Souza, Leis Penais e Processuais Penais Comentadas, 8ª ed., Forense, vol II, nota 248 do art. 111) Agravo de Execução Penal nº 7005040-05.2015.8.26.0037 3
Sempre que nova pena chegar, para cumprimento, na Vara de Execução Penal, será ela somada ao restante da pena e não no montante total inicial, afinal, pena cumprida é pena extinta. Com esses novos valores, decidirá o magistrado acerca do regime cabível. Ilustrando: iniciou o réu o cumprimento da pena de doze anos de reclusão em regime fechado; por merecimento e cumprido mais de um sexto, passou ao semiaberto; depois, atingiu o regime aberto. Faltando três anos para terminar a pena, recebe na Vara de Execução Penal mais uma condenação de um ano de reclusão. Não será somada esta nova pena aos doze anos iniciais, mas aos três anos derradeiros. Logo, o total será de quatro anos de reclusão e não de treze anos. Por isso, pode o magistrado mantêlo no regime aberto, pois a pena a cumprir não ultrapassa quatro anos (art. 33, 2º, 'c', CP). 2 Feitas tais considerações, adentra-se ao marco inaugural de onde deve partir a contagem de prazo à 2 NUCCI, Guilherme de Souza, Leis Penais e Processuais Penais Comentadas, 8ª ed., Forense, vol II, nota 250 do art. 111 Agravo de Execução Penal nº 7005040-05.2015.8.26.0037 4
concessão dos benefícios. Para tanto, não se pode perder de foco o fator verdadeiramente motivador da unificação, qual seja a superveniência de nova condenação que, ao seu turno demanda, ao menos, o trânsito em julgado para o órgão acusatório, visto ilidir a possibilidade de ulteriores majorações, mesmo em sede recursal, em prestígio ao non reformatio in pejus. O trânsito em julgado ao parquet, além de impedir alterações desfavoráveis ao sentenciando, é o primeiro e, portanto, mais antigo marco condenatório, cuja adoção opera em evidente benefício. Na mesma esteira segue o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça, in verbis: HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. EXECUÇÃO PENAL. CONDENAÇÃO POSTERIOR. UNIFICAÇÃO DE PENAS. INTERRUPÇÃO DO PRAZO PARA A OBTENÇÃO DE PROGRESSÃO DE REGIME. ART. 111 DA LEP. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. Sobrevindo nova condenação no curso da execução de pena, seja por fato anterior, seja por fato posterior, deve ser realizada a unificação das penas nos termos do artigo 111 da LEP, interrompendo-se o Agravo de Execução Penal nº 7005040-05.2015.8.26.0037 5
lapso temporal para a obtenção de novos benefícios, o qual passa a ter, como termo inicial, a data do trânsito em julgado da sentença condenatória superveniente. Habeas corpus não conhecido. (HC 262.449/CE, 6ª Turma, rel. Nefi Cordeiro, 29/09/2014, v.u.) EXECUÇÃO PENAL. NOVA CONDENAÇÃO DURANTE O CUMPRIMENTO DA REPRIMENDA. UNIFICAÇÃO DE PENAS. INTERRUPÇÃO DO PRAZO PARA OBTENÇÃO DE BENEFÍCIOS. TERMO A QUO. DATA DO TRÂNSITO EM JULGADO DA CONDENAÇÃO SUPERVENIENTE. COAÇÃO ILEGAL. INEXISTÊNCIA. IRRESIGNAÇÃO NÃO CONHECIDA. 1. Consoante entendimento pacífico deste Sodalício, sobrevindo condenação ao apenado no curso da execução, a contagem do prazo para concessão de benefícios é interrompida, sendo realizado novo cálculo com base no somatório das reprimendas. 2. A data-base para a contagem dos Agravo de Execução Penal nº 7005040-05.2015.8.26.0037 6
prazos para benefícios será a data do trânsito em julgado da nova condenação. 3. Habeas corpus não conhecido. (HC 295.434/MG, 5ª Turma, rel. Jorge Mussi, 10/09/2014, v.u.) SUPERVENIÊNCIA DE NOVA CONDENAÇÃO. ART. 111, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 7.210/84. UNIFICAÇÃO DAS PENAS E DETERMINAÇÃO DE INTERRUPÇÃO DO PRAZO, PARA FINS DE BENEFÍCIOS DA EXECUÇÃO. TERMO A QUO: TRÂNSITO EM JULGADO DA NOVA CONDENAÇÃO. ENTENDIMENTO PACIFICADO NO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. INEXISTÊNCIA DE MANIFESTA ILEGALIDADE. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. Na hipótese, o Juízo da Vara de Execuções, devido à superveniência de nova condenação, no curso da execução, unificou as penas do paciente, determinou a regressão do regime para o fechado e fixou novo marco para a contagem do prazo, para a obtenção de benefícios da execução, a partir do trânsito em julgado Agravo de Execução Penal nº 7005040-05.2015.8.26.0037 7
da nova condenação. Sobre o tema, "a jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que sobrevindo nova condenação no curso da execução, a contagem do prazo para a concessão de benefícios é interrompida e passa a ter como parâmetro a pena unificada, considerando-se como termo inicial para a contagem do período aquisitivo a data do trânsito em julgado da nova condenação, não importando se o delito é anterior ou posterior ao início da execução penal" (STJ, HC 205.401/RS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, DJe de 21/09/2012).No mesmo sentido: STJ, AgRg no HC 269.154/MG, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, DJe de 01/08/2013; STJ, REsp 1101461/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, DJe de19/02/2013. (HC 277.146/SP, 6ª Turma, rel. Assusete Magalhães, 10/02/2014, v.u.) De tal sorte, in casu, em vista da interrupção de prazo inerente à unificação das reprimendas, Agravo de Execução Penal nº 7005040-05.2015.8.26.0037 8
merece o agravante ser beneficiado com o marco inaugural mais antigo, qual seja o trânsito em julgado da última condenação, ao órgão acusatório, a partir do qual devem ser calculados os prazos para a concessão de benefícios. Ante o exposto, pelo meu voto, dou parcial provimento ao agravo interposto por MARCELINO CORREA DOS SANTOS, apenas para estabelecer como marco interruptivo, à concessão de benefícios, a data do trânsito em julgado da última decisão em relação ao parquet, mantendo-se, no mais, a r. decisão atacada por seus próprios e jurídicos fundamentos. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Agravo de Execução Penal nº 7005040-05.2015.8.26.0037 9