COMUNICAÇÃO A ARTE NA EDUCAÇÃO A PRÁXIS TEATRAL NO CONTEXTO ESCOLAR NA CIDADE DE SÃO PAULO RIBEIRO, Ailton 1 Palavras-chave: Arte-Educação, Teatro, Educação. RESUMO O presente estudo faz um delineamento da atual condição da arte-educação nas escolas brasileiras. As aulas de Artes no sistema de ensino do país, historicamente nunca tiveram seu espaço merecido. A partir da nova LDB e os PCNs, a Arte teve um grande impulso sendo definitivamente reconhecida não só como área de conhecimento como também instrumento relevante no desenvolvimento educacional do aluno. Reconhece também as especificidades de cada linguagem artística como importante instrumento pedagógico. Sendo assim, o objetivo da pesquisa foi perceber a relevância da arte na formação do aluno tendo como foco a prática do ensino de teatro nas escolas públicas e privadas da cidade de São Paulo. Essa delimitação possibilitou compreender que o Teatro é um grande aliado na busca do autoconhecimento, na articulação do pensamento e exploração da linguagem verbal e corporal, auxiliando a relação do indivíduo com o meio. Uma outra delimitação refere-se à série escolhida para a pesquisa. Os alunos analisados pertencem à oitava série, haja vista que esses jovens, estando no último ano do ensino fundamental, devem apresentar um domínio de competências e habilidades cognitivas, sendo o teatro um instrumento para o desenvolvimento das mesmas. O método da pesquisa direta fez uso de entrevistas com coordenadores e professores, e aplicação de questionários com alunos. A conclusão é de que a arte na escola está referendada nos PCNs, mas desacreditada na sua prática pedagógica. Ainda não se convenceram de seus resultados diante de uma visão tecnicista onde a formação dos jovens é voltada para o trabalho. INTRODUÇÃO Pensar a Escola como um lugar democrático de vivência e discussão dos referenciais éticos, consolidá-la como um espaço social e estabelecer uma relação de parceria com a comunidade em prol da cidadania, construindo assim valores 1 Centro Universitário Belas Artes de São Paulo
primordiais para uma vida solidária é a pauta de discussões da educação no mundo todo. Muitas discussões em torno da melhoria das condições de ensino têm-se debatido e muitos documentos divulgados com sugestões. A partir da Declaração Mundial sobre a Educação para Todos, realizada em Jomtien, na Tailândia em 1990, realizada pela Unesco, Unicef, PNUD e Banco Mundial, países participantes, incluindo o Brasil, se comprometeram com as melhorias na educação estabelecendo diretrizes políticas voltadas a recuperação da escola básica, promovendo os valores humanos universais, a melhoria da qualidade dos recursos humanos e o respeito pela diversidade cultural. No Brasil, políticas afirmativas como essas são de fundamental importância, considerando o sucateamento do ensino público que vem ocorrendo nas últimas décadas formando gerações de analfabetos funcionais. Com a implantação da nova LDB 9.394/96, a educação dá um salto qualitativo mesmo não resolvendo todos os seus problemas. As salas continuam super lotadas, o espaço físico é inadequado, a formação de professores é precária, mas ainda assim é inegável a melhoria que se estabelece nas escolas brasileiras. Os Parâmetros Curriculares são os novos combustíveis que servem como norteadores dos conteúdos aplicados na escola, buscando dar uma referência para o currículo nacional respeitando as diferenças regionais e valorizando o indivíduo e garantindo o direito a cada cidadão a ter acesso aos conhecimentos indispensáveis para a construção de sua cidadania. Muito antes dessas discussões, vários filósofos e teóricos da educação já apontavam para uma mudança de paradigma, buscando uma melhoria na qualidade do ensino. O aluno passa a ser protagonista, desenvolvendo nele uma consciência crítica, reflexiva, com espírito investigativo, diferente da educação tradicional em que o aluno ficava a mercê do conhecimento do professor e do que ele achava importante para sua formação. Um método que privilegiava o conteúdo, sem nenhuma articulação com os conhecimentos prévios do aluno. A valorização do professor, a modificação do espaço físico da escola e a participação da comunidade e dos pais nos projetos educativos da escola, deve ser o novo modelo de escola. Uma escola que se aproxima da comunidade, do aluno, da família e entende que a participação de todos é fundamental para a construção de uma sociedade democrática, onde o indivíduo é valorizado dentro do contexto histórico, político, econômico e social. É dentro dessa nova concepção de educação que a Arte começa a se destacar, sendo finalmente reconhecida como disciplina ocupando um espaço há
muito almejado. O teatro-educação que é meu objeto de pesquisa, também se destaca como instrumento de formação e as escolas brasileiras começam a abrir espaços para a disciplina que tem objetivos claros na relação dialógica com o aluno. Os próprios PCN reconhecem como área de conhecimento e orienta os possíveis caminhos e metas a serem atingidos. OBJETIVO O objetivo da pesquisa foi perceber a relevância da arte na formação do aluno tendo como foco a prática do ensino de teatro nas escolas públicas e privadas da cidade de São Paulo. Essa delimitação possibilitou compreender que o Teatro é um grande aliado na busca do autoconhecimento, na articulação do pensamento e exploração da linguagem verbal e corporal, auxiliando a relação do indivíduo com o meio. Uma outra delimitação refere-se à série escolhida para a pesquisa. Os alunos analisados pertencem a 8º série, haja vista que esses jovens, estando no último ano do ensino fundamental, devem apresentar um domínio de competências e habilidades cognitivas, sendo o teatro um instrumento para o desenvolvimento das mesmas. METODOLOGIA O método da pesquisa direta fez uso de entrevistas com coordenadores e professores, e aplicação de questionários com alunos de uma escola particular e uma pública da cidade de São Paulo, abordando aspectos teóricos e metodológicos da disciplina, além da pesquisa bibliográfica. As entrevistas com coordenadores tiveram o objetivo de entender, dentro do plano gestor da escola, os princípios que regem e fundamentam os interesses da escola para compreender a relevância da Arte na formação de seus alunos e os caminhos utilizados para se chegar a esse conhecimento. A entrevista com professores teve o objetivo de conhecer a práxis das aulas de teatro através de suas ações concatenadas com os objetivos da instituição. A pesquisa com os alunos teve como objetivo, através de perguntas
fechadas, fazer um mapeamento para entender sua relação com as disciplinas de Arte e Teatro a partir da sua visão de mundo. DESENVOLVIMENTO Segundo os PCNs, a arte-educação tem como característica a busca pelo sentido, criação, inovação. Por ser um ato criador o indivíduo consegue estruturar e organizar o mundo respondendo os desafios num constante processo de transformação de si e da realidade a sua volta. Desenvolve sua cultura, compreendendo a diversidade de valores que orientam sua forma de pensar e agir, como também os da sociedade. A Arte passa a ser condição preponderante na formação do jovem. Apesar de historicamente ter sido renegada como área de conhecimento, esses estudos apontam para a importância da criatividade na construção das relações históricosociais do indivíduo. Nas últimas décadas esses estudos vêm fortalecendo a presença da arte nas escolas brasileiras. Primeiramente como disciplina obrigatória na grade curricular e agora as escolas começam a abrir espaço também para outras linguagens artísticas como teatro, música, artes visuais e dança, reconhecendo as especificidades de cada uma. Isso já é um fato nas escolas brasileiras, principalmente as disciplinas de teatro e música já vêm conquistando seus lugares, tanto na rede privada como na rede oficial, já que o Estado vem implantando escolas de tempo integral devido à necessidade de se aumentar o tempo de permanência do aluno na escola. Em São Paulo várias escolas estaduais passaram a ser de tempo integral de 2006 para cá. Na rede municipal isso já é uma realidade há mais tempo. O teatro-educação que é meu objeto de pesquisa, também se destaca como instrumento de formação e as escolas brasileiras começam a oportunizar a disciplina que tem objetivos claros na relação dialógica com o aluno. Os próprios PCN vão afirmar esses objetivos com um capítulo à parte reconhecendo-a como área de conhecimento e orientando os possíveis caminhos e metas a serem atingidos. Os objetivos serão desenvolvidos utilizando técnicas individuais e de grupo, para desenvolver a capacidade do aluno de narrar fatos e histórias de culturas diferentes, momentos históricos ou apenas baseados em soluções criativas e imaginativas. Desenvolvendo a percepção de si e do outro, compartilhando descobertas, idéias,
sentimentos, atitudes, através de jogos teatrais e dramáticos, brincadeiras e todas as possibilidades lúdicas que possam promover o desenvolvimento criativo em busca de uma educação estética e práxis artística. Como afirma Spolin: se o ambiente permitir, pode-se aprender qualquer coisa, e se o indivíduo permitir, o ambiente lhe ensinará tudo. (1963, p. 03). Os PCNs afirmam que as crianças de 5º a 8º séries dominam mais as linguagens artísticas, refletindo e realizando trabalhos individuais e grupais com mais autonomia. Compreendem melhor o outro intelectual e afetivamente e fortalece a identidade artística reconhecendo semelhanças e contrastes, qualidades e especificidades, ao compartilhar com o outro, valores culturais (1988, p.61). O foco do trabalho está na 8º série por entender que esse aluno vem desenvolvendo gradativamente desde a 5º série o domínio da linguagem, refletindo mais sobre seus trabalhos. Os PCNs (1988, p.61) afirmam que as experiências de aprendizagem desses alunos são desenvolvidas através do prazer em explicitar seus argumentos que estão relacionados aos conhecimentos prático e teórico adquiridos neste percurso. Nesse momento terão também aprendido as normas e convenções de cada linguagem artística podendo então interpretá-las e com isso reconhecendo a contextualização histórico-social e a marca pessoal nos trabalhos artísticos fortalecendo assim seus valores culturais. Essas habilidades são importantes, pois o aluno estará a caminho do ensino médio que exigirá dele maior destreza de raciocínio, imaginação, criatividade, objetividade em função da autonomia intelectual e do pensamento crítico, da preparação para o mundo do trabalho e o desenvolvimento de competências para continuar seu aprendizado. RESULTADOS Os resultados obtidos na pesquisa feita com as coordenadoras das escolas estadual e privada, mostra sintonia com os PCNs em relação a área de conhecimento, especificidade das disciplinas e instrumento pedagógico. A coordenadora da escola privada mostrou bastante conhecimento no aspecto metodológico da disciplina mostrando com clareza o papel da arte na escola, propondo o desenvolvimento artístico e estético, promovendo a produção, apreciação e reflexão da arte, baseado na metodologia triangular de Ana Mae
Barbosa. O espaço físico é adequado para as aulas de teatro, música e artes visuais. Principalmente as aulas de teatro que são extra-classe com maior tempo de aula e possibilitando ao aluno a escolha de participar ou não. Com essas condições, mostra que é possível produzir arte na escola, mas que ainda existe resistência por parte da direção e da família que não vêem sentido na formação do aluno. A coordenadora da escola estadual não mostrou muita clareza sobre a metodologia e os objetivos da arte na escola, mas reconhece a sua importância. Defende o professor diante da falta de condições adequadas para o desenvolvimento das disciplinas e chama a atenção para a polivalência do professor que é muito comum nas escolas. A disciplina ainda é oficialmente chamada de Educação Artística o que demonstra um atraso na percepção do papel da arte no espaço escolar. A disciplina de teatro faz parte da base diversificada que são oficinas no período da tarde, já que escola é de tempo integral. Mesmo com essas condições o aluno não pode fazer escolha das disciplinas. Cada série recebe sua grade no início do ano de onde vem determinado pela direção que as oitavas séries é que terão aulas de teatro. As salas têm em média 40 alunos. O ponto positivo é que as disciplinas são respeitadas nas suas especificidades, mas sem as condições necessárias para o seu desenvolvimento, pois dar aula de teatro para 40 alunos é uma prática difícil. Isso demonstra a falta de compromisso por parte da instituição que coloca arte na grade para cumprir uma determinação, mas que não tem relação direta com a aprendizagem. As professoras entrevistadas tem seus referenciais metodológicos baseados nos PCNs e entendem a importância da arte na escola. São professoras formadas em Artes Cênicas e tem claros os objetivos, conteúdos, métodos e avaliações necessárias ao desenvolvimento da disciplina. Possibilita aos alunos a prática de jogos dramáticos e jogos teatrais, improvisações, formas de representações dramáticas. Proporcionam a compreensão do teatro nas suas dimensões artística, estética, histórica e social. Desenvolvem a potencialidade crítica através de textos dramáticos e apreciação de espetáculos. Favorecem assim a possibilidade dos jovens desenvolverem sua reflexão e criticidade sobre seu cotidiano. As dificuldades apresentadas pelas professoras estão na falta de incentivo por parte da direção da escola e das famílias. A professora da escola pública também apresenta dificuldade quanto ao espaço físico e a quantidade de alunos por turma que não são adequados ao trabalho. Destacam a importância da escola e da família como importantes
incentivadores da arte teatral como instrumento de formação. Sem esses apoios fica mais difícil chegar a bons resultados. CONSIDERAÇÕES FINAIS A escola entende o contexto da Arte na formação do aluno, mas ainda não se convenceu de seus resultados diante de uma visão tecnicista onde a formação dos jovens é voltada para o trabalho. Assim pergunta-se: a Arte serve para quê exatamente? Os professores entendem e se esforçam para dar sentido a Arte, buscando sensibilizá-los dentro de uma visão holística. Já os alunos têm como foco o vestibular e, com isso, matérias básicas da grade como português e matemática são suas referências, mesmo que isso vá contra seus anseios, mas seu projeto de vida está calcado no sucesso profissional e eles não vêem relação entre as partes. Mas passos já foram dados. A inclusão do teatro e de outras disciplinas como áreas específicas é uma realidade. Cabe a nós arte-educadores continuarmos realizando nosso trabalho com responsabilidade para que a arte continue conquistando seu espaço dentro escola e formando jovens sensíveis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: COURTNEY, Richard. Jogo, Teatro e Pensamento. São Paulo: Perspectiva, 1968. DUARTE JUNIOR, João Francisco. Fundamentos Estéticos da Educação. Campinas, SP: Papirus, 1988. FERRAZ, Maria Heloísa C. de T. e FUSARI, Maria F. de Resende. Arte na Educação Escolar. São Paulo: Cortez, 2001. JAPIASSU, Ricardo. Metodologia do Ensino de Teatro. Campinas, SP: Papirus, 2001. LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública: a pedagogia críticasocial dos conteúdos. São Paulo: Loyola, 1989. SPOLIN, Viola. Improvisação para o Teatro. Trad. Ingrid Dormien Koudela. São Paulo: Perspectiva, 1963.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Arte. Brasília: MEC/SEF, 1998. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BARBOSA, Ana Mae. Arte-Educação: conflitos/acertos. São Paulo: Max Limonad, 1984. DUARTE JUNIOR, João Francisco. Por que Arte-Educação?. Campinas, SP: Papirus, 1991. DESGRANGES, Flávio. A Pedagogia do Espectador. São Paulo: Hucitec, 2002. GUÉNOUN, Denis. O Teatro é Necessário?. Trad. Fátima Saadi. São Paulo: Perspectiva, 2004. NOVELLY, Maria C. Jogos Teatrais exercícios para grupo s e sala de aula. Campinas, SP: Papirus, 1994. REVERBEL, Olga. Um Caminho do teatro na Escola. São Paulo: Scipione, 1997. Jogos Teatrais na Escola atividades globais de expressão. São Paulo: Scipione, 2002.