Certificado digitalmente por: LUIS CESAR DE PAULA ESPINDOLA AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1.555.050-6, DA 6ª VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA - 18ª CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ NÚMERO UNIFICADO: 0022580-47.2016.8.16.0000 AGRAVANTE : DANIELLA CRISTINA VITORINO AGRAVADO : HESTIA CONSTRUÇÕES E EMPREENDIMENTOS S/A RELATOR : DES. LUÍS ESPÍNDOLA AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C. REPARAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. TUTELA ANTECIPADA PARA COMPELIR A RÉ- AGRAVADA A ENTREGAR A MATRÍCULA DO IMÓVEL PROMETIDO À VENDA COM A AVERBAÇÃO DA CONSTRUÇÃO, SOB PENA DE MULTA DIÁRIA. POSSIBILIDADE. INTELIGÊNCIA DO ART. 311 DO CPC/15. PROBABILIDADE DO DIREITO ALEGADO FUNDADA NO CONTRATO ADITIVO, NO QUAL A RÉ-AGRAVADA SE COMPROMETEU À APRESENTAÇÃO DA MATRÍCULA COM A RESPECTIVA AVERBAÇÃO DA OBRA. PERICULUM IN MORA DECORRENTE DA CONDUTA, EM PRINCÍPIO, PROTELATÓRIA DO DEVEDOR. RECURSO PROVIDO. VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 1.555.050-6, da 6ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Página 1 de 8
Agravo de Instrumento nº 1.555.050-6 fl. 2 Região Metropolitana de Curitiba, em que é Agravante DANIELLA CRISTINA VITORINO e Agravado HESTIA CONSTRUÇÕES E EMPREENDIMENTOS S/A. ACORDAM os Excelentíssimos Senhores Desembargadores integrantes da Décima Oitava Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator. PARTICIPARAM do julgamento, além deste Relator, os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Péricles Bellusci de Batista Pereira, presidente com voto, e Vitor Roberto Silva. I - RELATÓRIO: Trata-se de recurso de Agravo de Instrumento interposto pela autora, Daniella Cristina Vitorino, em face da r. decisão proferida nos autos da Ação Cominatória de Obrigação de Fazer c.c. Reparação por Danos Materiais e Morais, nº. 0005283-24.2016.8.16.0001, da 6ª Vara Cível de Curitiba, que indeferiu o pedido liminar, postulado com o intuito de obrigar a parte ré a entregar a matrícula do imóvel prometido à venda com a averbação da construção, sob pena de multa diária, por entender o Douto Juízo Singular que a parte autora deixou de expor em que consistiria o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, nos termos do art. 300, CPC. (decisão agravada de f. 37-TJ) Página 2 de 8
Agravo de Instrumento nº 1.555.050-6 fl. 3 Em suas razões, a Agravante esclarece que firmou com a Agravada um contrato de compra e venda de imóvel na planta, em 07/08/2012, pelo valor de R$ 270.000,00, com pagamento de R$ 30.000,00 a título de arras, mais oito parcelas de R$ 2.000,00. Alega que a construção do imóvel foi concluída em 2013, com emissão do habite-se. Aduz que em 21/10/2013, as partes firmaram um contrato aditivo, ocasião em que feita a entrega formal e provisória do imóvel e das chaves. Na mesma ocasião foi acordado que o pagamento restante seria fixado em R$ 230.621,93, a serem pagos em 60 dias após a apresentação da matrícula com a averbação da construção pela parte ré, conforme cláusula terceira do aditivo. Afirma, contudo, que passados dois anos e meio do referido aditivo, a parte agravada não apresentou a matrícula com a averbação da construção, o que nos termos da cláusula segunda do contrato aditivo, deveria ter ocorrido em 150 (cento e cinquenta dias). Argumenta que foram realizadas diversas tentativas para obter a matrícula com a averbação, para dar entrada no financiamento do imóvel, sem obter sucesso, não tendo assim como adimplir suas obrigações por inércia da Agravada. Consigna que, recentemente, tomou conhecimento de que a agravada está à beira da insolvência, ressaltando que na 23ª Vara Cível de Curitiba tramita ação cautelar de arresto nº 0014624-14.2015.8.16.0194, na Página 3 de 8
Agravo de Instrumento nº 1.555.050-6 fl. 4 qual o autor da demanda busca reaver os créditos captados pela Agravada, em debêntures imobiliárias de R$ 194.560.000,00 (cento e noventa e quatro milhões, quinhentos e sessenta mil reais), garantidas fiduciariamente pelos imóveis em construção nas cidades de Curitiba e Itajaí, incluindo-se o prédio onde se encontra o imóvel parcialmente pago pela Agravante. Contrapõe-se ao fundamento do Douto Juízo Singular de que não haveria periculum in mora a justificar o deferimento da liminar, justamente no fato de que a Agravada vem descumprindo seus contratos, e hoje não possui mais recursos para cumprir todas as suas obrigações. Expõe que dos dez empreendimentos imobiliários aos quais a Agravada se comprometeu, apenas três estão concluídos; outros dois que já deveriam ter sido terminados não chegam à metade da obra, e os últimos cinco sequer foram iniciados, de modo que, no entender do Agravante, afeta-se sua capacidade de arrecadação. Indica que apesar de convocados os credores das debêntures imobiliárias para discussão da forma de adimplemento, nenhum acordo chegaram as partes, apesar da Agravada ter afirmado que houve transação, bem como, em razão da desocupação repentina do imóvel onde ficava sua sede, inclusive com a retirada das placas de identificação, sem comunicação para onde estaria se mudando, fato retratado na ata notarial em anexo. Conclui que a ameaça a seu direito de habitação no imóvel pelo qual pagou parte considerável do valor, que só não conseguiu quitar pelas Página 4 de 8
Agravo de Instrumento nº 1.555.050-6 fl. 5 aparentes atividades obscuras da ré, resta cristalino o perigo na demora pelo provimento almejado. Defende, outrossim, que tem cabimento a multa diária para o caso de descumprimento, com vistas à efetividade da tutela provisória, na forma do art. 537, NCPC. Pugna, destarte, pela antecipação dos efeitos da tutela recursal, para determinar que a ré-agravada entregue a matrícula do imóvel com a averbação da construção, sob pena de multa, com o respectivo provimento do recurso ao final. Admitido o processamento do recurso, restou deferida a liminar despacho inicial de fls. 119/122-TJ. O Douto Juízo Singular noticiou a manutenção da decisão agravada f. 125-TJ. A parte agravante peticionou às fls. 128/130-TJ, esclarecendo que em Audiência de Conciliação a parte agravada informou que apenas a apresentação da matrícula do imóvel com a averbação da construção seria insuficiente para viabilizar a transferência da propriedade do imóvel, tal qual pactuado entre as partes, requerendo, assim, fosse determinada a apresentação de todos os documentos necessários para a efetivação do financiamento exigidos pela Lei nº. 6.015/73 e pela CEF. Página 5 de 8
Agravo de Instrumento nº 1.555.050-6 fl. 6 134/135-TJ, O pedido restou indeferido nos termos da decisão de fls. Decorreu o prazo legal sem que a parte agravada apresentasse contrarrazões certidão de f. 134/v-TJ. É breve a exposição. II - VOTO E SUA FUNDAMENTAÇÃO: Presentes os pressupostos, conheço do recurso. A autora-agravante ajuizou a ação de obrigação de fazer c.c. reparação por danos materiais e morais em face de Hestia Construções e Empreendimentos S/A, sob alegação de que comprou na planta o imóvel situado no Residencial Santorini, e em 21/10/2013 foi assinado um termo aditivo, por meio do qual realizou-se a entrega formal, mas provisória, onde a ré-agravada comprometeu-se a apresentar a matrícula com a averbação da construção, e não o fez, fato esse que motivou a propositura da demanda. Liminarmente, a autora-agravante postulou que a ré-agravada fosse compelida a apresentar a matrícula com a averbação da construção, que restou indeferido pela r. decisão ora objurgada, fundada na ausência de exposição do que consistiria em perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. Página 6 de 8
Agravo de Instrumento nº 1.555.050-6 fl. 7 Em que pese a fundamentação, contudo, o recurso comporta provimento, porquanto há evidência do direito alegado, suficiente ao deferimento da tutela almejada. É que a obrigação de entrega da matrícula com a respectiva averbação da construção restou contratualmente assumida, conforme cláusula segunda do aditivo juntado à f. 52-TJ, no qual a parte agravada teria 150 (cento e cinquenta) dias para providenciar a documentação. Considerando que o aditivo foi assinado em 21/10/2013, há muito tempo transcorreu o prazo assinalado, aparentemente, sem qualquer justificativa razoável para a prorrogação. Nessas circunstâncias, se antevê a possibilidade de se deferir a tutela de evidência, independente da demonstração do perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, nos termos autorizados pelo art. 311, NCPC. E como já dito no despacho inicial proferido neste agravo, ainda que fosse o caso, o periculum in mora encontra-se satisfatoriamente demonstrado pela própria conduta da ré-agravada, aparentemente, protelatória quando ao cumprimento da obrigação por si assumida, sendo certo que as noticiadas ações em desfavor dela demonstram, em tese, dificuldades no cumprimento voluntário de suas obrigações. Página 7 de 8
Agravo de Instrumento nº 1.555.050-6 fl. 8 III - DECISÃO: Face ao exposto, voto no sentido de dar provimento ao recurso para determinar que a ré-agravada forneça, no prazo de 30 dias, a matrícula do imóvel descrito na inicial, com a respectiva averbação, sob pena de multa de R$ 300,00 (trezentos reais) por dia de descumprimento, limitados a 100 (cem) dias-multa. Curitiba, 22 de fevereiro de 2017. [assinado digitalmente] DES. LUÍS ESPÍNDOLA Relator Página 8 de 8