13ª CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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1 1 13ª CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Agravo de Instrumento nº Agravante: Companhia Portuária Baia de Sepetiba CPBS Agravados: Sunset Maritime Limited e Outros DIREITO COMERCIAL E PROCESSUAL CIVIL. MEDIDA CAUTELAR EQUIVALENTE AO ARRESTO. NAVIO ESTRANGEIRO QUE COLIDE COM TERMINAL PORTUÁRIO. AÇÃO CAUTELAR QUE BUSCA OBTER GARANTIA DO RESSARCIMENTO. SAÍDA IMINENTE DO NAVIO DO TERRITÓRIO NACIONAL. EFEITOS. Cabível a concessão de medida liminar para compelir o armador e o operador de navio estrangeiro a caucionarem o Juízo para garantia de eventuais prejuízos causados por colisão do navio no terminal portuário, independentemente da existência de título executivo que autorize o arresto. Princípio fundamental da garantia ao resultado prático da ação. Provimento parcial do recurso para deferir a medida, impedindo a concessão de passe de saída do navio do porto enquanto não prestada caução idônea. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo em Agravo de Instrumento n , ACORDAM os Desembargadores que compõem a 13ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro EM DAR PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO, nos termos do voto do Relator. Decisão unânime.

2 2 RELATÓRIO Trata-se de agravo de instrumento contra a decisão proferida às fls. 70 dos autos principais que indeferiu liminar requerida pela Agravante para o fim de impedir a concessão de passe de saída do navio NORDSTAR do Porto de Sepetiba, até que fosse prestada caução para garantia dos prejuízos decorrentes de acidente causado pela colisão do referido navio no Terminal de Atracação do Porto. Alega o Agravante, em resumo, que a não concessão da medida liminar trará prejuízos irreparáveis tendo em vista que o navio partirá do País sem que garanta o ressarcimento dos prejuízos que serão apurados no curso do processo principal, vez que não possui ativos no Brasil. termos: Na decisão de fls. 86 deferi a liminar nos seguintes Nada obstante o brilho do ilustre prolator da decisão agravada, tenho que a liminar deve ser conferida, sob pena de causar dano irreparável ao agravante. Com efeito, como reconhecido na decisão agravada, o agravado é pessoa jurídica não sediada no Brasil e, portanto, não será possível à agravante se ver garantida dos prejuízos sofridos em decorrência do acidente descrito na ação principal. Assim, a questão não é aferir a existência de título executivo que autorize a concessão de arresto, mas, sim, de se conceder uma medida que garanta a eficácia de futura ação de indenização para recomposição dos prejuízos decorrentes do acidente. Sendo assim, deve-se assegurar o resultado prático da decisão que vier a ser proferida na ação principal, o que poderá vir a ser frustrado caso a agravada retire do País o único bem que, hoje, poderia garantia tal efeito, ou seja, o navio.

3 3 Pelo exposto, DEFIRO a liminar para impedir a saída do navio até que seja prestada caução idônea para garantia dos prejuízos, oficiando-se à Capitania dos Portos na forma pretendida no agravo (fls. 19/20, item a ). Sem prejuízo, a questão será re-analisada depois da audiência de justificação designada pelo Juízo singular. Posteriormente, realizada a audiência de justificação no Juízo de origem, proferi a seguinte decisão: Considerando que a caução fixada por este Relator se deu diante dos elementos até então existentes, mas trazendo as partes outros elementos perante o Juízo singular, a caução deve obedecer àquilo que foi decidido na 1ª instância, reconsiderando, nesta partes, a liminar de fls. 86. comunique-se. (fls. 88) Contra-razões às fls. 117/126 afirmando o descabimento da medida liminar concedida. Salienta, contudo, que o valor da caução é excessivo, vez que os prejuízos não tiveram a extensão alegada pela Agravante, conforme laudo técnico apresentado ao Juízo singular. Pede que a caução seja fixada em US$ 4,255, que corresponde aos prejuízos estimados, US$ 11,000, que foi o valor ofertado na audiência de justificação ou US$ 20,000, que foi o valor arbitrado pelo Juízo singular. VOTO Registre-se, inicialmente, que não ocorreu a perda do objeto do recurso, vez que a pretensão era, exatamente, obter a caução que acabou sendo fixada pelo Juízo singular por conta da liminar concedida pelo Relator. O fato das partes terem concordado quanto ao respectivo valor não implica, portanto, na perda de objeto do recurso. Como se expôs anteriormente, a Agravante pretendeu obter caução para garantir os prejuízos supostamente causados pelo navio NORDSTAR ao colidir com o terminal do Porto de Sepetiba durante o procedimento de atração do navio.

4 4 Isso porque a Agravada é empresa estrangeira que não possui bens no Brasil que possam garantir o resultado prático da ação que será proposta pela Agravante para o ressarcimento dos prejuízos porventura apurados, estando o navio, naquela oportunidade, em vias de partir do País. A ação cautelar, como se sabe, tem como finalidade precípua a garantia do resultado da ação principal, o que, in casu, restaria frustrado caso não se concedesse a medida pretendida pela Agravante, pois notória a dificuldade de implementação de medida judicial de caráter executório em pais estrangeiro. Tampouco se pode discutir, nos estreitos limites desse recurso, a responsabilidade da Agravada pelo acidente e mesmo o montante dos danos porventura causados. A questão a ser decidida por esta Corte está circunscrita à concessão ou não de medida liminar para compelir a Agravada a prestar caução garantindo o Juízo por eventual condenação que venha a ser imposta à Agravada no curso da ação principal. Como afirma Ovídio Baptista da Silva: A lide cautelar, como toda lide, tem mérito porque tem alguma coisa sobre a qual litiga, que é sua res deducta. (...) Ora, é evidente que a sentença cautelar jamais poderá decidir o mérito da demanda principal, mas naturalmente não é sobre isto que se discute. Cuida-se de investigar qual o mérito da demanda cautelar. E negar-se que exista nela uma matéria que seja de mérito seria negar, até mesmo, a jurisdicionalidade de todo o processo cautelar, pois, cabendo ao juiz dar por sua procedência ou improcedência, esta simples contingência torna indispensável a averiguação de seu próprio mérito. (Do Processo Cautelar, 1996, págs. 170/171) Assim, embora não seja a hipótese de concessão de arresto, porquanto não existe, de fato, título executivo que autorize a medida específica de que trata o artigo 813 e seguintes do Código de Processo Civil, nada obsta a concessão de medida cautelar inespecífica para garantir o resultado da ação principal, princípio processual fundamental para garantia do exercício do direito de ação. Confira-se, a propósito, precedente do Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Recurso Especial nº AL, relator Ministro Felix Fischer:

5 5 RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CAUTELAR INOMINADA. PODER GERAL DE CAUTELA. PROCEDIMENTO ESPECÍFICO. ARRESTO. DÍVIDA LÍQUIDA E CERTA NÃO CONFIGURADA. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO EM TRÂMITE. GARANTIA DA EFICÁCIA DA DECISÃO. POSSIBILIDADE. É admissível o ajuizamento de ação cautelar inominada, com os mesmos efeitos do arresto, em face do poder geral de cautela estabelecido no art. 798 do CPC, para fins de assegurar a eficácia de futura decisão em ação de indenização proposta pelo autor, caso lhe seja favorável. Na hipótese, existe óbice à concessão desse procedimento - específico - arresto - em razão da dívida não ser considerada líquida e certa (art. 814 do CPC), pois ainda em trâmite a outra demanda proposta contra o requerido. (DJU de , pág. 400) O valor da caução será aquele fixado pelo Juízo singular, ou seja, US$ 20,000, (vinte milhões de dólares), que foi adotado depois de realizada a audiência de justificação, exatamente na forma determinada na decisão proferida às fls. 86 deste Agravo. Nada justifica a redução ou majoração do referido valor, até porque se trata de caução para garantia do Juízo e não pagamento antecipado. Eventual alteração da situação fática poderá justificar a modificação do valor da caução, o que deverá ser pleiteado e apreciado pelo Juízo singular. Pelo exposto, DÁ-SE PROVIMENTO PARCIAL ao recurso para fixar a caução em US$ 20,000, (vinte milhões de dólares), nos termos da decisão proferida pelo Juízo singular em audiência de justificação. Rio de Janeiro, 2 de abril de 2008 JDS Desembargador ARTHUR EDUARDO FERREIRA Relator