PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL EDILSON PEREIRA NOBRE JÚNIOR

Transcrição

1 RELATÓRIO O Exmº. Sr. Desembargador Federal EDILSON PEREIRA NOBRE JÚNIOR (Relator): Cuida-se de agravo de instrumento interposto contra decisão proferida pelo MM Juiz da 10ª vara federal que, em ação de interdito e manutenção de posse ajuizada por João Batista e Gomes Paiva em face da Caixa Econômica Federal, deferiu pedido liminar de reintegração de posse formulado por esta última. A decisão, ao acolher o pedido liminar postulado pela Caixa Econômica Federal, determinou fosse expedido mandado para a imediata reintegração de posse do imóvel situado na rua Raul Pompéia, nº 502, Arruda, Recife/PE, em favor da ré. Postulam os recorrentes, inicialmente, o recebimento do recurso com efeito suspensivo, nos termos do art. 527, inc. III, do CPC. Defendem a aplicação do Código de Defesa do Consumido, alegando existirem cláusulas abusivas no contrato de financiamento celebrado com a Caixa Econômica Federal. Com relação à liminar de manutenção e de reintegração de posse, alegam que ajuizaram ação de manutenção de posse a fim de afastar a turbação cometida pela recorrida e que, em ação própria, propuseram revisional do contrato cumulado com pedido de tutela antecipatória para consignarem em juízo o valor da prestação que entendem devido. Afirmam que a mora contratual verificada deu-se em razão da recorrida ter cancelado a conta corrente onde eram feitos os pagamentos das prestações, deixando de emitir os boletos correspondentes, o que impediu fossem realizados os pagamentos, deixando a mora de ser do devedor para ser do credor. Asseveram que teria o juízo de primeiro grau laborado em erro ao interpretar os dispositivos da Lei nº 9.514/97, pois o prazo da purgação da mora e para o fiduciário propor a ação de reintegração não seria de apenas 15 (quinze) ou 60 (sessenta) dias a contar da notificação, mas sim, em correta interpretação de suas disposições, constata-se que o prazo para a purgação da mora é até a data da rga

2 alienação judicial; em conseqüência, ainda não teria findado o prazo legal para que os recorrentes purgassem a mora. Ao final, requer a concessão de efeito suspensivo, pois estaria evidente a grave lesão e o periculum in mora sobre o direito da agravante, pois, a qualquer momento, por força da decisão, teriam que desocupar o imóvel, postulando, outrossim, o indeferimento da liminar de reintegração de posse e deferimento da manutenção de posse. Deferido o pedido de efeito suspensivo (v.fls. 151/153). As contrarrazões foram apresentadas às fls. 158/162. É o relatório. AGTR 97866/PE - rga Pág. 2

3 VOTO O Exmº. Sr. Desembargador Federal EDILSON PEREIRA NOBRE JÚNIOR (Relator): Ao apreciar o pedido de provimento liminar, o Desembargador Federal José Baptista de Almeida Filho (relator) assim se pronunciou acerca da matéria discutida nos autos do agravo de instrumento (fls. 151/153): Inicialmente, cabe ressaltar que a concessão de efeito suspensivo ao recurso de agravo é condicionada à demonstração, pelo recorrente, de que a decisão recorrida irá causar lesão grave e de difícil reparação, respaldada por fundamentação relevante, ex vi do art. 527, II, c/c 558, caput, CPC. Assim, neste momento processual, cabe apenas analisar a presença dos pressupostos que autorizam a concessão de efeito suspensivo ao recurso, à luz da relevância da fundamentação. Partindo de tais premissas, constato a existência dos pressupostos para concessão do efeito suspensivo postulado. Observa-se que, como garantia do cumprimento do contrato celebrado entre o agravante e a CEF, o imóvel foi alienado fiduciariamente nos termos e para os efeitos dos arts. 22 e seguintes da Lei nº 9.514/97 (fls. 67/81). Ao lume de tal diploma normativo, e no que interessa de imediato à analise do pedido de efeito suspensivo, destaco o que previsto em seus arts. 30, 37-A e do art. 34 do DL nº 70/66, aplicável ao caso por força do que dispõe o art. 39, inc. II, da lei em tela. Art. 30. É assegurada ao fiduciário, seu cessionário ou sucessores, inclusive o adquirente do imóvel por força do público leilão de que tratam os 1 e 2 do art. 27, a reintegração na posse do imóvel, que será concedida liminarmente, para desocupação em sessenta dias, desde que comprovada, na forma do disposto no art. 26, a consolidação da propriedade em seu nome Art. 37-A. O fiduciante pagará ao fiduciário, ou a quem vier a sucedê-lo, a título de taxa de ocupação do imóvel, por mês ou fração, valor correspondente a um por cento do valor a que se refere o inciso VI do art. 24, computado e exigível desde a data da alienação em AGTR 97866/PE - rga Pág. 3

4 leilão até a data em que o fiduciário, ou seus sucessores, vier a ser imitido na posse do imóvel. (Incluído pela Lei nº , de 2004) DL nº 70/66 Art 34. É lícito ao devedor, a qualquer momento, até a assinatura do auto de arrematação, purgar o débito, totalizado de acôrdo com o artigo 33, e acrescido ainda dos seguintes encargos: I - se a purgação se efetuar conforme o parágrafo primeiro do artigo 31, o débito será acrescido das penalidades previstas no contrato de hipoteca, até 10% (dez por cento) do valor do mesmo débito, e da remuneração do agente fiduciário; II - daí em diante, o débito, para os efeitos de purgação, abrangerá ainda os juros de mora e a correção monetária incidente até o momento da purgação. Do teor de tais preceitos emergem duas conclusões. A primeira - inequívoca é a de que a reintegração de posse será concedida liminarmente para desocupação do imóvel num prazo de sessenta dias, uma vez comprovada a consolidação da propriedade do fiduciário, conforme preconiza o art. 30 acima colacionado. Ao determinar a imediata reintegração da agravada na posse do imóvel, a decisão sub censura agiu em descompasso com o que previsto na lei de regência, causando, portanto, risco de lesão ao direito da parte agravante, a quem se deveria conferir um prazo de sessenta dias para desocupação do imóvel Outra conclusão está na interpretação dada aos arts. 37-A, da Lei nº 9.514/97 em conjunto com a do art. 34 do DL nº 70/66. Como visto, o art. 37-A fixa a data da alienação em leilão como termo inicial de pagamento pelo devedor da taxa de ocupação do imóvel. Assim, não seria razoável supor, a uma primeira leitura, que antes disso a posse do imóvel se revista de ilicitude, pois do contrário a lei ostentaria uma contradição. Por outra, o art. 34 do DL nº 70/66 reza que até a assinatura do auto de arrematação é licito ao devedor purgar a mora; de conseguinte, o devedor disporia de um prazo até o leilão para purgar a sua mora, nos termos assinalados pelo referido decreto lei. Daí que, em face desses fundamentos, constato não apenas a relevância da fundamentação, mas também o risco de grave lesão iminente ao direito do agravante, pelo que concedo efeito suspensivo postulado para determinar a suspensão do cumprimento da decisão agravada, até ulterior deliberação desta egrégia Quarta Turma, com fulcro no art. 527, III, do CPC. Sob tal perspectiva, comungando do entendimento adotado pelo MM. Desembargador Federal, DOU provimento ao agravo, para conceder o efeito suspensivo requestado. É como voto. AGTR 97866/PE - rga Pág. 4

5 EMENTA PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. CEF. DESOCUPAÇÃO IMEDIATA. INOBSERVÂNCIA DO PRAZO PREVISTO NO DL Nº 70/ A decisão de primeiro grau, em ação de interdito e manutenção de posse ajuizada pelo mutuário em face da CEF, deferiu pedido liminar de reintegração de posse formulado por esta última. 2. Dos documentos acostados aos autos, observa-se que, como garantia do cumprimento do contrato celebrado entre o agravante e a CEF, o imóvel foi alienado fiduciariamente nos termos e para os efeitos dos arts. 22 e seguintes da Lei nº 9.514/ Do teor do previsto no art. 34 do DL nº 70/66 e nos arts. 30 e 37-A da Lei nº 9.514/97, aplicável ao caso por força do que dispõe o art. 39, inc. II, deste último diploma legal, emergem duas conclusões: A primeira - inequívoca é a de que a reintegração de posse será concedida liminarmente para desocupação do imóvel num prazo de sessenta dias, uma vez comprovada a consolidação da propriedade do fiduciário, conforme preconiza o art. 30 acima colacionado. Ao determinar a imediata reintegração da agravada na posse do imóvel, a decisão sub censura agiu em descompasso com o que previsto na lei de regência, causando, portanto, risco de lesão ao direito da parte agravante, a quem se deveria conferir um prazo de sessenta dias para desocupação do imóvel. Por outra, o art. 34 do DL nº 70/66 reza que, até a assinatura do auto de arrematação, é licito ao devedor purgar a mora; de conseguinte, o devedor disporia de um prazo até o leilão para purgar a sua mora, nos termos assinalados pelo referido decreto lei. 4. Agravo de instrumento a que se dá provimento. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos do processo tombado sob o número em epígrafe, em que são partes as acima identificadas, acordam os Desembargadores Federais da Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em sessão realizada nesta data, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas que integram o presente, por unanimidade, dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator. Recife, 09 de novembro de Desembargador Federal EDILSON PEREIRA NOBRE JÚNIOR Relator rga