PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de São Paulo, em que são agravantes M. R. DOS S. (INTERDITO(A)) e T. M. DOS S. R. (CURADOR(A)), é agravada O. M. B. DOS S.. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 1ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores CLAUDIO GODOY (Presidente sem voto), AUGUSTO REZENDE E RUI CASCALDI. São Paulo, 7 de agosto de Alcides Leopoldo e Silva Júnior Relator Assinatura Eletrônica

2 AGRAVO DE INSTRUMENTO Processo n.: Nº de 1ª Instância: Comarca: São Paulo (Foro Regional de Santo Amaro Família e Sucessões ) Agravante: M. R. dos S. Agravada: O. M. B. dos S. Juíza: Priscilla Maria Basseto Avallone Farah Voto n ª Vara da EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO Ação de Divórcio Interdito Representação Processual Mesmo com o advento da Lei n /2015, o relativamente incapaz, será representado processualmente, e se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com os seus, enquanto durar a incapacidade, será nomeado Curador Especial, sendo pressuposto processual - Incapacidade de estar em juízo do interditando - Curadora provisória nomeada na ação de interdição que é filha das partes Conflito de interesses - Representação conferida pela lei ao irmão do incapaz para ajuizar a ação de divórcio - Recurso provido. Trata-se de agravo de instrumento, sem pedido de liminar, nos autos da ação de divórcio, da decisão reproduzida, nestes autos, às fls. 17, na parte em que determinou ao agravante a regularização da representação processual, conforme a cota ministerial de fls. 76, fazendo-se representar por sua curadora provisória nomeada em ação de interdição, no prazo de dez dias, sob pena de indeferimento da inicial. Insurge-se o recorrente argumentando que sua irmã pode representá-lo (art , parágrafo único, do Código Civil e art. 24, parágrafo Agravo de Instrumento nº Voto nº

3 único, da LD) e a curadora nomeada é apenas provisória, e que, com o advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei /2015), passou a ser plenamente capaz, podendo inclusive postular sobre direitos personalíssimos. Pleiteia a reforma para que seja declarada sua capacidade para postular o pedido de divórcio, ou de forma alternativa declarar a legitimidade de sua irmã para representa-lo na ação de divórcio. Concedido o efeito suspensivo (fls. 97), não houve oposição acerca do julgamento virtual. É o Relatório. A tutela, a curatela e o poder familiar são institutos protetivos aos incapazes 1. Prelecionava Carvalho Santos 2 que: enquanto a tutela é o encargo de administrar a pessoa e bens de um menor, imposto por lei ou pela vontade do homem, a curatela é o encargo de reger a pessoa e bens, ou tão-somente os bens de pessoas emancipadas, ou maiores de 16 anos, ou ainda não nascidas, que, por si mesmas, não o podem fazer, impossibilitadas por uma causa determinada. Acentuava Bevilaqua 3 que: curatela é o encargo público, conferido, por lei, a alguém, para dirigir a pessoa e administrar os bens dos maiores, que por si não possam fazê-lo. A Lei n /2015, que dispôs sobre a inclusão da 1 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Comentários ao Novo Código Civil. Arts a Coord. Sálvio de Figueiredo Teixeira. Vol. XX. 1ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2003, p SANTOS, João Manuel de Carvalho, Código Civil Brasileiro Interpretado. Vol. VI. 12ª ed.. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1989, p BEVILAQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. 5ª ed. Vol. II. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1937, p.448. Agravo de Instrumento nº Voto nº

4 pessoa com deficiência, trouxe relevante modificação no exercício de direitos por aquele que apresenta alguma forma de deficiência ainda que mental. Atualmente, pelo art. 3 o do Código Civil, são absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil, somente os menores de 16 (dezesseis) anos e pelo art. 4º, relativamente incapazes a certos atos ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade e IV - os pródigos. A Curatela, consoante o art. 85 da Lei n /2015, é medida extraordinária e "afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial", não afetando "o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto" (art. 85, 1º). O Curador, conforme o art do Código Civil, nomeado àqueles que se encontram nas situações previstas nos incisos II, III e IV do art. 4º do Código Civil, defende os interesses patrimoniais ou negociais do interdito na prática dos atos da vida civil. Por sua vez, estabelece o art. 71 do CPC/2015, cuja vigência é posterior a da Lei n /2015, que: "o incapaz será representado ou assistido por seus pais, por tutor ou por curador, na forma da lei". Mesmo com o advento da Lei n /2015, o relativamente incapaz, será representado processualmente, e se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com os seus, enquanto Agravo de Instrumento nº Voto nº

5 durar a incapacidade, será nomeado Curador Especial, sendo pressuposto processual. Improcede, assim, a pretensão de o agravante postular em juízo sem estar representado, por faltar-lhe capacidade de estar em juízo. A curadora provisória nomeada na ação de interdição é filha das partes, sendo inequívoco o conflito de interesses, de maneira que aplica-se, então, o disposto no parágrafo único do art do Código Civil, que estabelece que o pedido de divórcio somente competirá aos cônjuges, mas "se o cônjuge for incapaz para propor a ação ou defender-se, poderá fazêlo o curador, o ascendente ou o irmão", como dispunha anteriormente o parágrafo único do art do código Civil para as ações de separação judicial, em combinação com o inciso I do art. 72 do CPC/2015. Possível assim que a irmã possa exercer a Curatela Especial, por conferir a lei ao irmão do incapaz o poder de representação para propor a ação de divórcio. instrumento. Pelo exposto, DÁ-SE PROVIMENTO ao agravo de Alcides Leopoldo e Silva Júnior Relator Assinatura Eletrônica Agravo de Instrumento nº Voto nº