ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Desembargadores LUÍS DE CARVALHO (Presidente), PEREIRA CALÇAS E FRANCISCO THOMAZ.

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1 DE SÃO PAULO ACÓRDÃO DE SÃO PAULO ACORDAO/DECISÃO MONOCRÁTICA REGISTRADO(A) SOB N I MUI lllll lllll mil um um mu um mi In! Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento n , da Comarca de São José do Rio Preto, em que ê agravante MARIA ZONETI DE SOUZA sendo agravado COSESP CIA DE SEGUROS DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 29 a Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "DERAM PROVIMENTO AO RECURSO. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores LUÍS DE CARVALHO (Presidente), PEREIRA CALÇAS E FRANCISCO THOMAZ. São Paulo,07 de julho de LÜIS DE CARVALHO PRESIDENTE E RELATOR

2 AGRAVO DE INSTRUMENTO N COMARCA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO AGRAVANTE: Maria Zoneti de Souza AGRAVADA: Companhia de Seguros do Estado de São Paulo Cosesp SEGURO DE VIDA E ACIDENTES PESSOAIS - AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO - PEDI DO DA SEGURADA, POR INTERMÉDIO DE SUA FILHA E CURADORA, DE LEVANTAMENTO DA QUANTIA DEPOSITADA PELA SEGURADORA - AD MISSIBILIDADE - CURADORA DA SEGURADA (INTERDITADA), QUE DETÉM O PODER DE AD MINISTRAR SEUS BENS E ZELAR POR SUA SAÚ DE - VALOR DEPOSITADO PELA SEGURADORA A TÍTULO DE INDENIZAÇÃO QUE NÃO SE MOSTRA SUPERIOR AO NECESSÁRIO PARA AS DESPESAS ORDINÁRIAS COM O SEU SUSTENTO E A ADMI NISTRAÇÃO DE SEUS BENS, TAL COMO PREVIS TO NOS ARTIGOS E DO CÓDIGO CIVIL - RECURSO PROVIDO. Tem a segurada inválida, que se encontra interditada, direito de receber o montante da indenização de seguro de vida e acidentes pessoais, por intermédio de sua filha e curadora, pois não se pode admitir que a quantia contratada fique ad eternum depositada em juízo em razão de sua incapacidade. É da curadora, em favor da curatelada, a disposição sobre o numerário a ser recebido.

3 VOTO N Trata-se de agravo de instrumento extraído de ação de consignação, interposto contra a decisão de f , que manteve o indeferimento do levantamento de valores a favor da ré. Sustenta esta ter firmado contrato de seguro de vida em grupo com a agravada em 5/4/1994. Aduz que 1/4/2002 apresentou àquela o aviso de sinistro de invalidez permanente por doença mas, embora lhe tenha sido reconhecida sua invalidez total e permanente, a agravada não pagou o devido. Informa que está interditada, por força de sentença proferida pela I a Vara da Família e das Sucessões da Comarca de São José do Rio Preto, o que ensejou o depósito nos autos da quantia de R$ 3.843,05. Alega que, por meio de sua curadora (sua filha Cláudia Cristina de Souza), requereu o levantamento da quantia referida, comprometendo-se a prestar conta dos valores, porquanto se encontra imobilizada em uma cama, necessitando de cuidados diários e especiais, por causa de sua enfer-

4 midade. Informa que não recebe nenhum benefício do INSS e que juntou aos autos comprovantes das despesas domésticas; que o Ministério Público entendeu que os autos deveriam ser enviados à contadoria para conferência dos gastos; o magistrado a quo, sem apreciar esse requerimento do promotor, determinou a remessa dos autos ao arquivo, sem dar destino ao numerário citado. Questiona que, se sua curadora não pode levantar o dinheiro em seu nome, mesmo após ter juntado aos autos comprovantes de gastos mensais, quem poderia fazê-lo e o que será feito dessa verba? Pede a antecipação dos efeitos da tutela. Atendendo à determinação de f 1. 50v, a agravante comprovou ser beneficiária da gratuidade da justiça, motivo pelo qual, aliás, não recolheu as custas do agravo. 0 recurso é tempestivo. Pela decisão de fls. 59/60, este relator concedeu a tutela antecipada requerida. 3

5 A agravada não se manifestou, embora intimada (fl. 72). É o relatório. Merece provimento o recurso. O artigo do Código Civil dispõe que "Os tutores não podem conservar em seu poder dinheiro dos tutelados, além do necessário para as despesas ordinárias com o seu sustento, a sua educação e a administração de seus bens". O artigo 1.754, por sua vez, estabelece que "Os valores que existirem em estabelecimento bancário oficial, na forma do artigo antecedente, não se poderão retirar, senão mediante ordem do juiz, e somente: I- para as despesas com o sustento e educação do tutelado, ou a administração de seus bens; (...)". Embora os dispositivos sejam referentes à tutela, valem também para a curatela, a teor do disposto no artigo do Código Civil.

6 O que se depreende dos dispositivos citados é que, dos valores do tutelado/curatelado, pode ser retirado pelo tutor/curador o montante necessário para as despesas básicas daquele, relativas ao seu sustento e à sua educação. Assim, mesmo a regra de que o montante do tutelado deve ficar depositado em estabelecimento bancário, até que atinja sua maioridade, não é absoluta. Com relação ao curatelado, menos razão de ser tem o impedimento à curadora de levantar o dinheiro, pois não há que se falar em término da curatela, já que não se trata a agravante de pessoa menor. Pelo contrário: é a mãe enferma que necessita do dinheiro do seguro para, por intermédio de sua filha, que exerce sua curadoria, sobreviver. Isso especialmente se verifica no caso em tela, em que a quantia a ser levantada não chega a R$ 4.000,00. Tem razoabilidade também o fato de os recibos não estarem em nome da curatelada, ora agravante, uma vez que quem promove as despesas em seu nome é sua curadora. Tam-

7 bém não se lhe pode exigir que em recibos de compras de alimentos, por exemplo, seja colocado o nome do comprador ou, pior, o nome de quem se beneficiará com as compras. É totalmente desarrazoada essa exigência. Para completar o raciocínio a favor da agravante tem-se, inclusive, o fato de ela não receber nada do INSS (o que, em última análise, nem afastaria o direito de levantamento do valor da indenização, sob pena de prevalecer o entendimento de que, quem tem dinheiro a receber de uma fonte, não tem, automaticamente, direito a receber de outra). É evidente que a agravante tem direito de receber o montante da indenização, que não pode ficar ad eternum depositado em juízo, como pretende o magistrado de primeiro grau. É da curadora da agravante, em favor da curatelada, a disposição sobre o numerário a ser recebido. 6 X

8 Diante do exposto, ratificando a decisão de fls. 59/60, dou provimento ao recurso para deferir o levantamento do montante depositado a favor da agravante, por sua representante legal. 7