SEXTA CÂMARA CÍVEL AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 80172/ CLASSE CNJ COMARCA DE RONDONÓPOLIS

Transcrição

1 AGRAVANTE:REINALDO MANOEL GUIMARÃES AGRAVADO: WANDERLEYAFONSO SILVA Número do Protocolo: 80172/2011 Data de Julgamento: E M E N T A AGRAVO DE INSTRUMENTO RECUPERAÇÃO JUDICIAL SÓCIO NA ADMINISTRAÇÃO DAS EMPRESAS EM RECUPERAÇÃO VENDA DE BENS SEM EVIDENTE UTILIDADE RECONHECIDA PELO JUIZ, DEPOIS DE OUVIDO O COMITÊ DE CREDORES INTELIGÊNCIA DOS ARTIGOS 66 E 64, II, III, e IV, ALÍNEA C DA LEI /2005 DESTITUIÇÃO DO SÓCIO DA GERÊNCIA DAS EMPRESAS APLICAÇÃO DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 64 DA LEI DE FALÊNCIAS INDICAÇÃO DO OUTRO SÓCIO PARA A ATIVIDADE DE GERÊNCIA MEDIDA NÃO ACONSELHÁVEL ANTE AS GRAVES DESAVENÇAS EXISTENTES ENTRE ELES - NOMEAÇÃO DE TERCEIRO COMO ADMINISTRADOR JUDICIAL - MEDIDA MAIS EFICAZ NA RECUPERAÇÃO DAS EMPRESAS - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Quando as desavenças entre sócios que almejam a gerência das empresas tendem a prejudicar o processo de recuperação judicial, a nomeação de terceiro como administrador judicial, nos moldes do artigo 52, I, da Lei n /2005, é medida mais adequada a assegurar a função social a que se propõe a lei de regência. Fl. 1 de 6

2 AGRAVANTE:REINALDO MANOEL GUIMARÃES AGRAVADO: WANDERLEYAFONSO SILVA R E L A T Ó R I O EXMO. SR. DES. JURACY PERSIANI (RELATOR) Egrégia Câmara: Agravo de instrumento de determinação de depósito em juízo pelo sócio agravado dos valores que recebeu da venda de bens das empresas em recuperação, sem evidente utilidade reconhecida pelo juiz, depois de ouvido o comitê (artigo 66 da lei de falência), sob pena de destituição da atividade de gerência (parágrafo único do artigo 64 da Lei n /2005), bem como, de manutenção do agravado na administração das empresas, até realização da AssembléiaGeral de Credores. O agravante se insurge apenas quanto à permanência do sócio agravado na gerência das empresas, ao fundamento de que detinha, quando da propositura da recuperação judicial,a administração das quatro empresas, e somente se afastou por ameaças do agravado. Sustenta que o agravado contraiu inúmeros empréstimos e vendeu veículos das empresas em afronta ao artigo 66 da Lei n /2005; que a permanência do sócio na direção dos negócios ocasionará a quebra das empresas, pelo que requer o provimento do recurso para que o agravado seja destituído da administração, com retorno da gerência das empresas ao sócio agravante (fls. 02/17-TJ). O pedido de efeito ativo recursal foi deferido, em parte, para destituir o agravado e indicar um terceiro para exercer atividade de administrador judicial, até ulterior deliberação da Câmara (fls. 88/92-TJ). Informações da MMª. Juíza da causa (fls. 102/103-TJ). O agravado apresentou contrarrazões (fls. 280/287-TJ). É o relatório. Fl. 2 de 6

3 V O T O EXMO. SR. DES. JURACY PERSIANI (RELATOR) Egrégia Câmara: O agravante, que é sócio do agravado nas empresas em recuperação RDK Comércio de Derivados de Petróleo Ltda., RW Comércio de Derivados de Petróleo Ltda., Grafitt Transporte Ltda. e Auto Porto Ferrari Ltda., se insurge contra a manutenção de seu sócio (agravado) na administração dos negócios, por ter contraído vários empréstimos e alienado bens das empresas após o pedido de recuperação, sem a utilidade reconhecida pelo juiz, depois de ouvido o comitê de credores (art. 66 da Lei n /2005). O agravante tem razão, em parte. É incontroverso que o agravado alienou bens de duas das quatro empresas depois da distribuição do pedido de recuperação, sem ouvir o comitê de credores e sem autorização judicial,fato por ele confirmado. O contrato de compra e venda dos veículos foi celebrado em 04 de julho de 2011 (fls. 70/71-TJ), com pagamento de entrada de R$ ,00 (cento vinte e cinco mil reais) pela compradora BOTRAN Transporte de Cargas Ltda. no ato da assinatura, e o agravado peticionou informando a venda somente em 19 de julho de 2011 (fls. 67/69-TJ). Informou o agravado na petição: (...) Diante da necessidade de fazer caixa e manter a atividades das empresas, o Peticionário, na qualidade de atual administrador teve que promover a venda de um conjunto de carreta, pois caso não o fizesse, as empresas ficariam sem produto para vender e, ou seja, não seria possível promover a atividade social à qual a mesma se destina (fl. 68-TJ). Disse ainda: O peticionário informa ainda, que por conta dos saques imotivados de valores elevados realizados por parte do outro sócio, o saldo em questão está disponível em uma conta pessoa física, de modo a obstar o desvio de valores via saques e transferências Fl. 3 de 6

4 eletrônicas (...) (fl. 69-TJ). Os documentos e demais provas sugerem que o sócio agravado agiu em descompasso com as orientações previstas no artigo 66 da Lei /2005, que dispõe: Art. 66. Após a distribuição do pedido de recuperação judicial, o devedor não poderá alienar ou onerar bens ou direitos de seu ativo permanente, salvo evidente utilidade reconhecida pelo juiz, depois de ouvido o Comitê, com exceção daqueles previamente relacionados no plano de recuperação judicial. O agravado não conseguiu justificar o ato praticado na gestão das empresas, e sua atitude se enquadra no que prevê o artigo 64, incisos II, III, e IV, alínea c, da Lei /2005, e como conseqüência legal, deve ser afastado da administração das empresas em recuperação, de acordo com o parágrafo único do artigo 64 da mesma lei. Art. 64. Durante o procedimento de recuperação judicial, o devedor ou seus administradores serão mantidos na condução da atividade empresarial, sob fiscalização do Comitê, se houver, e do administrador judicial, salvo se qualquer deles: Lei; de seus credores; (...) II houver indícios veementes de ter cometido crime previsto nesta III houver agido com dolo, simulação ou fraude contra os interesses IV houver praticado qualquer das seguintes condutas: (...) prejudiciais ao seu funcionamento regular; c) descapitalizar injustificadamente a empresa ou realizar operações (...) Parágrafo único. Verificada qualquer das hipóteses do caput deste artigo, o juiz destituirá o administrador, que será substituído na forma prevista nos atos constitutivos do devedor ou do plano de recuperação judicial. Contudo, o retorno do agravante na gerência das empresas não é solução adequada, ao menos nesse momento, devido às desavenças e graves conflitos de interesses existentes entre os sócios. Fl. 4 de 6

5 Sobre isso, transcrevo parte da decisão proferida pelo e. Desembargador José Ferreira Leite, que quando da análise da liminar recursal, destituiu o agravado da atividade de gerência, e considerou: Todavia, em virtude do clima de desarmonia existente e reinante entre os dois sócios das empresas recuperandas e em observância ao princípio da isonomia entre eles, deixo, neste momento, de reconduzir o sócio agravante à administração das empresas, devendo a gerência destas ser exercida, como gestor provisório, pelo administrador judicial (artigo 52, inciso I, Lei /2005), conforme preconiza o artigo 65 da lei falimentar (...) (fl. 91-TJ). Provejo, em parte, o recurso de agravo de instrumento e torno definitiva a decisão liminar recursal de destituição do agravado Wanderley Afonso Silva da atividade de gerência das empresas em recuperação, para exercício por administrador judicial. É como voto. Fl. 5 de 6

6 A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a SEXTA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. JURACY PERSIANI, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo DES. JURACY PERSIANI (Relator), DES. GUIOMAR TEODORO BORGES (1º Vogal) e DR. MARCELO SOUZA DE BARROS (2º Vogal), proferiu a seguinte decisão: RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO, À UNANIMIDADE. Cuiabá, 18 de abril de DESEMBARGADOR JURACY PERSIANI - PRESIDENTE DA SEXTA CÂMARA CÍVEL EM SUBSTITUIÇÃO LEGAL E RELATOR Fl. 6 de 6