PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº / CLASSE CNJ COMARCA DE VÁRZEA GRANDE

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1 AGRAVANTES: AGRAVADA: ALCOPAN - ÁLCOOL DO PANTANAL LTDA E OUTRO(s) RANDON ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA. Número do Protocolo: /2011 Data de Julgamento: EMENTA AGRAVO DE INSTRUMENTO RECUPERAÇÃO JUDICIAL CREDOR FIDUCIÁRIO RENÚNCIA TÁCITA À GARANTIA DO ART. 49 DA LEI DE RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS ATO INEQUÍVOCO POSSIBILIDADE RECURSO PROVIDO. Os créditos garantidos fiduciariamente não estão, de regra, sujeitos ao regime da recuperação judicial, porém, é faculdade do titular do crédito optar pela submissão dele ao regime especial da recuperação, desde que o faça de modo indubitável. O credor que diante do quadro geral apresentado pelo administrador judicial, apresenta impugnação ao montante de seu crédito, por evidência, concorda com a inclusão de seu direito creditício no regime de processamento da recuperação judicial. Fl. 1 de 7

2 AGRAVANTES: AGRAVADA: ALCOPAN - ÁLCOOL DO PANTANAL LTDA E OUTRO(s) RANDON ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA. RELATÓRIO EXMO. SR. DES. ORLANDO DE ALMEIDA PERRI Egrégia Câmara: Agravo de instrumento vertido em face de decisão de primeiro grau que determinou a exclusão do crédito da empresa agravada do regime de recuperação judicial ao qual se acham sujeitas as agravantes, por classificá-lo como extraconcursal, já que enquadrado na exceção do art. 49 da LRJ. De acordo com as agravantes, apesar do crédito da agravada ser de natureza fiduciária, ela admitiu participar do processo de recuperação judicial, tanto que apresentou impugnação ao quadro de credores, pleiteando a majoração do valor de seu crédito, e, ao assim se comportar, renunciou ao benefício legal, o que não poderia ter sido ignorado pelo juízo a quo. Entende tratar-se de direito absolutamente disponível do credor fiduciário a opção em submeter-se ou não ao regime da recuperação de empresas, razão porque, adotadas medidas que sinalizavam no sentido da renúncia ao regime geral, não cabia ao juízo imiscuir-se na vontade do credor para afastar seu crédito do sistema da recuperação judicial. A liminar foi deferida, para sustar a decisão agravada, mantendo o crédito da empresa recorrida sujeito à recuperação judicial, até que sobreviesse decisão de mérito. Contrarrazões recursais apresentadas no sentido de negar a existência de qualquer renúncia do credor às garantias fiduciárias relativas ao contrato ajustado com as agravantes, pugnando pela mantença da decisão agravada. Informações prestadas pela juíza de piso, explicitando as suas razões de Fl. 2 de 7

3 decidir, que se mantinham inalteradas. O parecer da ilustrada Procuradoria de Justiça, pelo provimento do recurso, porque teria havido renúncia tácita da credora em ver seu crédito excluído do regime de recuperação de empresas, ao apresentar impugnação ao quadro de credores confeccionado pelo administrador judicial. É o relatório. P A R E C E R (ORAL) O SR. DR. WILSON VICENTE LEON Ratifico o parecer escrito. Fl. 3 de 7

4 VOTO EXMO. SR. DES. ORLANDO DE ALMEIDA PERRI (RELATOR) Egrégia Câmara: A questão única a ser analisada no caso em riste se refere a possibilidade de renúncia do credor fiduciário ao direito de não se enquadrar ao regime da recuperação de empresas e, se positiva essa resposta, aquilatar se no caso em tela isso ocorreu validamente. Em primeiro plano, permaneço convencido das razões esposadas na decisão liminar, de estar ao talante do credor fiduciário escolher entre o regime especial da recuperação de empresas ou pelo regime próprio dos contratos desta natureza, não havendo proibição ex lege de que os créditos fiduciários se subsumam ao sistema da Lei nº /2005. Destaco, novamente, o entendimento doutrinário: Sem embargo dos malefícios que defluem de tal disposição legal, muito pertinente a observação de Manoel Justino Bezerra Filho, quando salienta que, apesar de tais créditos não estarem sujeitos à recuperação judicial, mesmo assim não se proibiu a inclusão dos mesmos no Plano de Recuperação. E houver a anuência dos credores titulares destes créditos, os valores poderão ser incluídos na decisão que concede a recuperação, na forma do art. 58. (Maria Celeste Morais Guimarães, in Recuperação Judicial de Empresas e Falência, 2ª ed., Del Ray, Belo Horizonte - MG, 2007, p. 138) a Lei, ao dizer que tais créditos não se submetem à recuperação judicial, mesmo assim não proibiu a inclusão deles no plano. Se houver embora extremamente improvável anuência do credor, esses valores podem ser incluídos na decisão que concede a recuperação na forma do art. 58, se houver concordância do credor. (Manoel Justino Bezerra Filho, in Lei de recuperação de empresas e falecia comentada. 4ª ed., Revista dos Tribunais, p. 143) Fl. 4 de 7

5 Confirmada a possibilidade de renúncia do credor fiduciário ao direito de não se sujeitar ao regime da recuperação de empresas, basta verificar se, no caso em tela, isso de fato ocorreu. Não obstante a agravada e o juízo primevo tenham defendido a inexistência da renúncia, porque não houve manifestação expressa nesse sentido e porque a credora teria excutido a garantia contratual, o que demonstraria seu interesse em preservar o direito de propriedade resolúvel inerente a esta espécie de contrato, o que se verifica é que decretada a recuperação judicial e apresentado o quadro de credores, a agravada anuiu com o regime judicial de exceção e inclusive interveio nele, apresentando impugnação ao crédito lançado como seu no quadro de credores. Ora, quem contesta o valor do crédito, pugnando por sua majoração dentro do regime de recuperação judicial, obviamente está participando do processo. Ao argumento de que a renúncia teria de ser expressa, destaco que somente se exige manifestação literal ou expressa quando ela da essência do ato jurídico, conforme art. 111 do CC/2002. Não se pode confundir manifestação inequívoca de vontade com manifestação expressa, ou seja, a renúncia a direito, apesar de comportar interpretação restritiva (art. 113 do Codex) pode ser tácita, desde que seja claramente possível distingui-la a partir do comportamento do titular do direito. Orlando Gomes salienta: a renúncia não se presume, mas pode resultar de manifestações tácitas de vontade que sejam unívocas (in Contratos, ed. Forense, 12ª ed., p. 245 grifo nosso). No caso em tela, está evidenciada no comportamento do credor, que ingressou no processo de recuperação judicial e opôs incidente de impugnação ao crédito, a concordância com a sujeição de seu crédito ao regime especial da Lei de Recuperação de Empresas, afinal somente aqueles que estão sujeitos ao quadro de credores é que possuem interesse e legitimação para impugná-lo. Fl. 5 de 7

6 Desse modo, conheço do agravo e dou-lhe provimento para reformar a decisão agravada, mantendo a agravada e seu crédito sujeitos ao regime da recuperação judicial das empresas agravantes. É como voto. Fl. 6 de 7

7 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. ORLANDO DE ALMEIDA PERRI, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo DES. ORLANDO DE ALMEIDA PERRI (Relator), DES. MARCOS MACHADO (1º Vogal) e DES. JOÃO FERREIRA FILHO (2º Vogal), proferiu a seguinte decisão: À UNANIMIDADE, PROVERAM O RECURSO. Cuiabá, 25 de janeiro de DESEMBARGADOR ORLANDO DE ALMEIDA PERRI - PRESIDENTE DA E RELATOR PROCURADOR DE JUSTIÇA GEACOR Fl. 7 de 7