O desenvolvimento e equilíbrio urbano de São José dos Campos Trabalho para a disciplina de Economia Urbana Escola de Inverno Fundação Getúlio Vargas. Prof. Ciro Biderman Arthur Thury Vieira Fisch Julho 2015
1. São José dos Campos e seu desenvolvimento urbano Localizada na região do Vale do Paraíba no estado de São Paulo, a cidade de São José dos Campos é um município de porte médio, com 681.036 habitantes estimados em 2014 e um grau de urbanização 97,9% (SEADE, 2015) 1. O presente trabalho tem como objetivo analisar, primeiramente, o desenvolvimento urbano desta cidade sob o ponto de vista da teoria da economia de aglomerações e, na sequência, discutir o equilíbrio urbano do município de São José dos Campos nos dias de hoje. Dentre os municípios do Vale do Paraíba, São José dos Campos é o que possui maior população, sendo referência regional. A cidade possui um importante centro industrial e científico, abrigando indústrias tais como, Embraer, Johnson & Johnson, General Motors, Petrobrás, entre outras, e importantes institutos de ensino superior e pesquisa, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA. O Produto Interno Bruto do município em 2012 é da ordem de R$ 28 bilhões, sendo o 9º maior do estado de São Paulo (SEADE, 2012). O desenvolvimento urbano de São José dos Campos, diferentemente de outros pólos do estado de São Paulo, não carrega influência marcante da expansão cafeeira, segundo Costa (2007). Devido à suas condições climáticas, no início do século XX, São José dos Campos passou a ser procurada para o tratamento de tuberculose, transformando a cidade. Em 1935, no auge de sua fase sanatorial, a cidade foi elevada à condição de Estância Climática e Hidromineral, o que permitiu investimentos em infraestrutura e saneamento. Com o advento da penicilina na década de 40, a função sanatorial como motor de desenvolvimento da cidade entrou em declínio. O processo de industrialização de São José dos Campos tomou impulso na década de 50, com a instalação do Centro Técnico Aerospacial (CTA) e do ITA em 1950, como parte da política de desenvolvimento de tecnologias bélicas e aeroespaciais, e também, com a inauguração da Rodovia Presidente Dutra em 1951. A abertura da nova rodovia permitiu um acesso mais rápido aos dois grandes centros urbanos do Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro. Esse fato somado à desconcentração industrial da grande São Paulo, que já apresentava sinais de saturação, foram fatores preponderantes para a atração de indústrias de grande porte na década de 60 e 70 na cidade. Dessa maneira, segundo Costa (2007), a região de São José dos Campos passou a atrair um grande volume de investimentos devido aos seguintes fatores: estratégica proximidade à cidade de São Paulo; facilidade de acesso pela via Dutra; instalação de distritos industriais e pólos tecnológicos; oferta de mão-de-obra qualificada; e política de incentivos fiscais. 1 Informações disponíveis em < http://www.imp.seade.gov.br/>. Acessado em 01 de Agosto de 2015, às 13h44. 2
O processo de industrialização fez com que São José dos Campos experimentasse intenso crescimento demográfico 2. Tal desenvolvimento acelerou a urbanização e causou problemas, como a ocupação irregular de áreas urbanas e rurais. Ao fim da década de 60, São José dos Campos torna-se o principal centro do Vale do Paraíba (COSTA, 2007). 2. As Economias de Aglomeração e São José dos Campos As economias de aglomerações são os benefícios que advêm do fato de pessoas e indústrias se localizarem próximas umas das outras em cidades ou clusters industriais, segundo Glaeser (2010). Tais benefícios são consequências diretas do menor custo de transporte. Estas economias de aglomeração podem ser pecuniárias ou tecnológicas, como apresentado por Brueckner (2011). As economias de aglomeração pecuniárias tornam os insumos de produção mais baratos em grandes cidades em relação as pequenas. Já as economias de aglomeração tecnológicas fazem com que a produtividade dos insumos seja maior nos grandes centros. As aglomerações urbanas são assim explicadas pelas externalidades positivas da concentração espacial. Para Marshall (1890), as externalidades provenientes do ganho de escala que explicam a aglomeração urbana derivam da formação de um pólo especializado de trabalho, de encadeamentos de fornecedores e consumidores e de spillovers de conhecimento. Os motivos de aglomeração Marshallianos podem ser observados para o caso joseense. A cidade de São José dos Campos se torna atrativa para a indústria quando é aberta a via Dutra. Este acontecimento, tornou mais barato o deslocamento da produção na cidade para os grandes centros consumidores (São Paulo e Rio de Janeiro), bem como reduziram os custos de transporte dos insumos. Além da abertura da Dutra, a criação do CTA e do ITA foram acontecimentos importantes para a industrialização da cidade, pois trouxeram para a região mão-de-obra qualificada, criando um mercado de trabalhadores especializados e assim, diminuindo custos para as empresas se instalarem na região. Também, a concentração de trabalhadores qualificado e a criação de institutos de pesquisa contribuíram para a produção de conhecimento e de avanços tecnológicos, que geraram ganhos de produtividade. Assim como Marshall, Jacobs (1970) escreveu sobre o desenvolvimento urbano. Esta autora argumenta que aglomerações urbanas têm externalidades positivas, uma vez que as atividades econômicas crescem mais em locais mais diversificados. Isto porque a transmissão dos spillovers de 2 Dados sobre o crescimento populacional de São José dos Campos podem ser encontrados na seção Anexos deste trabalho. 3
conhecimento ocorre entre firmas de diferentes indústrias, num processo chamado de cross fertilization of ideas. Além disso, os trabalhadores não estariam interessados somente na sua indústria específica, mas também em serviços diversos, que só estão presentes em cidades maiores. Dessa forma, a diversidade se caracteriza como um fator de atração. O desenvolvimento industrial de São José dos Campos foi pautado inicialmente na constituição da indústria bélica e aeroespacial nacional. Com a consolidação destas indústrias e o desenvolvimento da infraestrutura local, abriu-se espaço para a diversificação industrial, com a instalação de montadoras, indústrias químicas e farmacêuticas, entre outras. Este fato, proporcionou crescimento e diversificação na área de serviços também, tornando São José dos Campos um pólo de atração regional, em linha com o teorizado por Jacobs. Segundo o IBGE 3, São José dos Campos em 2007, polariza uma rede composta por dezessete municípios 4, sendo classificada como uma Capital Regional C. 3. O Equilíbrio Urbano e a cidade hoje As cidades ao redor do mundo apresentam certas regularidades que permitem a formulação de modelos capazes de representar de maneira acurada a realidade urbana. Brueckner (1987) elaborou um modelo de equilíbrio urbano. Neste modelo, supõe-se que os empregos da cidade estejam concentrados em centros de negócios (CDN). Outra hipótese é de que existe uma densa rede de vias radiais, além das famílias da cidade possuírem mesmas preferências e consumirem apenas dois bens, moradia e todos os outros bens que não moradia. Tal modelo procura entender o uso residencial da terra, ao analisar como as famílias se alocam no espaço dado à sua renda. Dessa forma, espera-se que o preço da terra diminua conforme a medida que se distancia do centro de negócios, bem como ocorra uma redução na densidade populacional em zonas mais afastadas do centro. A população de São José dos Campos se distribui de maneira irregular por seu território. Barreiras naturais, como o rio Paraíba do Sul, além de áreas de proteção ambiental, linhas de transmissão de energia e a rede viária e ferroviária foram condicionantes importantes da ocupação urbana, assim, sendo possível verificar uma distribuição populacional espraiada. A partir da análise de dados socioeconômicos é possível traçar um perfil da ocupação da cidade. A tabela a seguir apresenta um comparativo de dados, identificando cada uma das zonas de agregação da cidade. 3 Disponível em < http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geografia/regic.shtm>. Acessado em 01 de agosto de 2015 às 15h20. 4 Relação dos municípios polarizados por São José dos Campos está disponível no anexo deste trabalho. 4
Tabela 1 - Comparativo de Dados Socioeconômicos MACROZONA POPULAÇÃO 2014 EMPREGOS 2014 DENSIDADE DEMOGRÁFICA (POP/KM 2 ) DENSIDADE DE EMPREGOS (EMPR/HAB) RENDA MÉDIA PER CAPITA 2010 CENTRO 72.913 96.888 3.911,6 1,3 R$ 1.290,91 LESTE 174.933 57.786 1.299,9 0,3 R$ 580,77 OESTE 50.115 37.050 1.137,4 0,7 R$ 2.057,95 NORTE 62.859 15.651 985,1 0,2 R$ 517,41 EXTREMO NORTE 17.014 6.453 24,4 0,4 R$ 506,56 SUL 252.646 76.718 4.495,5 0,3 R$ 715,90 SUDESTE 50.556 28.292 594,0 0,6 R$ 714,09 TOTAL 681.036 318.838 619,3 0,5 R$ 911,94 Fonte: IBGE 2010, IPPLAN 2012 A partir da análise da Tabela 1, é possível verificar que o Centro de São José dos Campos é o que concentra uma maior quantidade de empregos, em linha com o modelo urbano de Brueckner (1987). No entanto, é interessante notar que esta região não é a que possui maior densidade populacional, sendo superada pela região Sul. A grande densidade demográfica desta região é explicada pela instalação de conjuntos habitacionais para a população de baixa renda, o que contribuiu para uma expansão desordenada da mancha urbana (COSTA, 2007). Outro ponto de destaque na cidade é a alta renda média per capita observado na região Oeste da cidade. Esta região possui tal característica por ter dentro de seu território condomínios fechados de alto padrão. O desenvolvimento urbano de uma cidade é derivado de ganhos de escala em concentrar espacialmente indústrias. O crescimento de São José dos Campos pode ser entendido a luz da teoria de economia de aglomerações. Para compreender a dinâmica das cidades, não só é relevante analisar o seu desenvolvimento, mas como também é importante estudar suas características e regularidades. Verificar os pontos em que São José dos Campos está de acordo e os que diferem do previsto pelo Modelo de Equilíbrio Urbano é fundamental para o entendimento da vida na cidade, e assim, para a formulação de políticas públicas. 5
4. Bibliografia BRUECKNER, Jan K. The structure of urban equilibria: A unified treatment of the Muth-Mills model. Handbook of regional and urban economics, v. 2, p. 821-845, 1987. BRUECKNER, Jan K. Lectures on urban economics. MIT Press Books, v. 1, 2011. COSTA, Paulo Eduardo Oliveira. Legislação urbanística e crescimento urbano em São José dos Campos. 2007. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. GLAESER, Edward L. (Ed.). Agglomeration economics. University of Chicago Press, 2010. JACOBS, Jane et al. The economy of cities. The economy of cities., 1970. MARSHALL, A. Princípios de economia: tratado introdutório. São Paulo: Nova Cultural, 1985 [1890]. 6
5. Anexos Tabela 2 Lista de Municípios Polarizados por São José dos Campos Guaratinguetá Campos do Jordão Natividade da Serra São Sebastião Caraguatatuba Paraibuna Ubatuba Igaratá Redenção da Serra São Bento do Sapucaí Jambeiro Santa Branca São Luís do Paraitinga Lagoinha Santo Antônio do Pinhal Sapucaí-Mirim Monteiro Lobato Fonte: IBGE REGIC 2007 Figura 1 - Evolução Populacional de São José dos Campos (1970-2014 est.) 800.000 700.000 629.921 681.036 600.000 539.313 500.000 442.370 400.000 300.000 287.513 200.000 148.332 100.000 0 1970 1980 1991 2000 2010 2014 Fonte: IBGE, IPPLAN 2012 7