PROGRAMA DE INCUBADORA TECNOLÓGICA DE ECONOMIA SOLIDÁRIA (EMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS-ES) - UFMG

Documentos relacionados
Síntese das Atividades

ÁVILA, Danielle Regina; ARAÚJO, Rogério de Almeida; BARTHOLO, Fernando Antônio Ferreira

Considerando as peças constantes no Processo nº /09-00, dentre elas o parecer favorável do Conselheiro Relator,

Responsabilidade Social

Aliados do trabalhador

REDE DE SAÚDE MENTAL E ECONOMIA SOLIDÁRIA DE SÃO PAULO

CEADEC 16 anos de história e de luta

[INCLUSÃO] Economia solidária recupera empresas falidas e cria novos postos de trabalho

A Câmara Municipal de São Bernardo do Campo decreta: CAPÍTULO I DA POLÍTICA DE FOMENTO À ECONOMIA SOLIDÁRIA E SEUS AGENTES

3 º. S I M P Ó S I O M I N E I R O D E ASSISTENTES SOCIAIS T Â N I A MARIA R A M O S D E G. D I N I Z J U N H O D E

Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras FORPROEX

PRÁTICAS AMBIENTAIS E SOLIDÁRIAS ALIADAS AO TURISMO NO ASSENTAMENTO RURAL SANTA LÚCIA EM BONITO-MS. PARENE, Rubia Duarte 1 ; MORETTI, Edvaldo César 2

- O Sujeito Autogestionario

Sistema de indicadores da. Fomentando redes de economia solidária e feminista para a sustentabilidade e o bem viver. economia feminista

Educação de Jovens e Adultos no Contexto da Economia Solidária: uma prática educativa às integrantes de um Banco Comunitário

PLANO BIENAL DE TRABALHO DA DIRETORIA (2014/2015) (Art. 15, inciso II do Estatuto da ANPEd)

Incubadora Universitária de Empreendimentos Econômicos Solidários

TÍTULO: CENTRO DE REFERÊNCIA EM DIREITOS HUMANOS

RESOLUÇÃO CONSEPE 12/2008 APROVA AS DIRETRIZES DO NÚCLEO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO DO PARANÁ UNIFAE.

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Anais. IV Seminário Internacional Sociedade Inclusiva

FORMAS DE GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR: GESTÃO PARTICIPATIVA E HETEROGESTÃO.

Área Temática: Educação Permanente em Saúde: concepções, experiências, avanços e desafios para a educação

Conceito de Extensão

NOS CAMINHOS DA PRÁXIS: PROGRAMA DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO PÚBLICA

EIXO V GESTÃO DEMOCRÁTICA, PARTICIPAÇÃO POPULAR E CONTROLE SOCIAL DOCUMENTO REFERÊNCIA

PROJETO INSTITUCIONAL PIBID/UFF: EIXOS NORTEADORES AO SEU DESENVOLVIMENTO

REGIMENTO INTERNO DA COORDENAÇÃO DE EXTENSÃO. 1º Dentro desta concepção considera-se que a Extensão da Faculdade Católica do Tocantins:

RESOLUÇÃO UNESP Nº 83, DE 24 DE OUTUBRO DE 2016.

Autogestão e Habitação

Desenvolvimento Local: Concepção, Avanços e Desafios

Plano Nacional de Extensão Universitária

A EXPERIÊNCIA DO GRUPO DE EXTENSÃO DEMOCRACIA ECONÔMICA EM CONJUNTO COM A COOPERATIVA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS DE FRANCA E REGIÃO

PODER EXECUTIVO DECRETO Nº DE 15 DE ABRIL DE 2013.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária

EDUCAÇÃO POPULAR E MOVIMENTOS POPULARES: EMANCIPAÇÃO E MUDANÇA DE CULTURA POLÍTICA ATRAVÉS DE PARTICIPAÇÃO E AUTOGESTÃO 1

ORGANIZAÇÃO ACADÊMICO-INSTITUCIONAL

INSTITUTO DE PESQUISA ENSINO E ESTUDOS DAS CULTURAS AMAZÔNICAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO ACRIANA EUCLIDES DA CUNHA

LABORATÓRIO DE ESTUDOS DO TEXTO EM CONTEXTOS MÚLTIPLOS: CONEXÕES ENTRE ENSINO SUPERIOR E EDUCAÇÃO BÁSICA

EMENTÁRIO DAS DISCIPLINAS DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL (Currículo iniciado em 2015)

Prezadas coordenadoras e Prezados coordenadores de Cursos de Graduação da UFPR

MULHERES TRANSFORMANDO A ECONOMIA. Cartilha sobre Economia Solidária e Feminista

POLÍTICAS DE ENSINO NA

PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS

Apresentação da Proposta Político-Pedagógica do Curso e Grade de Disciplinas

PLANO DE TRABALHO 2019

Universidade de Cruz Alta

TRAJETÓRIA DA COMISSÃO DE HUMANIZAÇÃO DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PROFESSOR ALBERTO ANTUNES-HUPAA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Mostra de Projetos "Programa A União Faz a Vida no município de Turvo"

Formação Inicial 1ª etapa Projovem Urbano Recife AVALIAÇÃO Candidato (a) : Turma INSTRUÇÕES

PROGRAMA DE DISCIPLINA

EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO NA ÁREA DA SAÚDE: ASSESSORIA DIDÁTICO-PEDAGÓGICA PARA A FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE

Educação Financeira para o Primeiro Emprego.

NEPA - NÚCLEO DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS AVANÇADOS: ALGUNS RESULTADOS JÁ ALCANÇADOS

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

ESTÁGIO CURRICULAR DE GESTÃO EM AMBIENTE ESCOLAR: FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES

A PARTICIPAÇÃO SOCIAL COMO MÉTODO DE GOVERNO

POLÍTICA DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

SOBRE CONCEPÇÃO DE INCUBADORA UNIVERSITÁRIA DE EMPREENDIMENTOS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA DA UNITRABALHO E SOBRE METODOLOGIA DE INCUBAÇÃO 1

RESOLUÇÃO CONSUNI-ILACVN Nº 06/2017, de 29 de junho de 2017.

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

FÁBRICA EXPERIMENTAL DE CIDADES

Projeto Participação Voluntária no Planejamento, Execução e Controle Social do Orçamento Participativo

MÓDULO I: Sociedade, patriarcado e a luta das mulheres. 02 a 06 de julho de 2018

- AÇÕES ADMINISTRATIVAS E PARTICIPATIVAS NA COMUNIDADE DE SÃO BENEDITO POCONÉ/MT

TRAJETÓRIA DA SENAES

PLANO DE TRABALHO 2011

Política de Inovação. 17 ª. Reunião Grupo de Trabalho. 16 de maio de 2018

O ACESSO E PERMANÊNCIA DE JOVENS DE ORIGEM POPULAR NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DA BAHIA RESUMO

ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA NO IPE

A INTERDISCIPLINARIDADE COMO EIXO NORTEADOR NO ENSINO DE BIOLOGIA.

Resolução CEB nº 3, de 26 de junho de Apresentado por: Luciane Pinto, Paulo Henrique Silva e Vanessa Ferreira Backes.

FÓRUM MINEIRO DE EJA: ESPAÇOS DE (RE)LEITURAS DA EJA

Respeito ao Meio Ambiente Programa de Educação Ambiental Eco-Social

VERSÃO PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO DE DIREITO

Economia Solidária, Redes e Trabalho Cooperativado

DESTINATARIOS: Estudiantes de la Maestría en Psicología Social y Egresados

BANCO DE PROJETOS EDITAL PROSIS 07/2018

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA POLÍTICA DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA PORTARIA N 07 DE 01 DE MARÇO DE 2017

CONSTRIBUIÇÕES DO PIBID NA FORMAÇÃO DOCENTE

Junho/2010 Belém/Pará

PIBID PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO Á DOCÊNCIA FACULDADES INTEGRADAS DE FERNANDÓPOLIS FIFE

5º Seminário Internacional de Convivência com o Semiárido

Economia Solidária. Aspectos teóricos e realidade brasileira. Sylvio A. Kappes

Regulamento das Atividades Complementares

A CONTEXTUALIZAÇÃO COMO AGENTE FACILITADOR NO PROCESSO ENSINO E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA

Experiências em Trabalho Social

Complexo de Formação de Professores Termo de Referência Versão considerada definitiva em reunião de 09/03/2018, com instituições parceiras

Em 30 de novembro de 2011, a comunidade universitária escolheu por meio de um processo eleitoral amplo e democrático, a proposta de trabalho A UFSC

1. O Papel Histórico das Universidades na luta pelos Direitos Humanos no Brasil

1.1.1 Política de Extensão

Projeto Comunitário Jornal Jardim Carolina: Uma experiência comunitária e cidadã

CANDIDATURA a PRESIDENTE do INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS da UNIVERSIDADE DO MINHO PROGRAMA DE AÇÃO

Sistema Nacional de Comércio Justo e Solidário - SCJS

EDUCAÇÃO, TRABALHO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: CULTURA, CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SAÚDE, MEIO AMBIENTE DOCUMENTO REFERÊNCIA

Proposta Curricular de Duque de Caxias

Instituições Salesianas de Educação Superior

ECONOMIA SOLIDÁRIA E SAÚDE MENTAL: A INCUBADORA DE EMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS E OS USUÁRIOS DE UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL

"DISPÕE SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL, INSTITUI A POLÍTICA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS".

Pró-reitoria da Extensão da UFABC. Extensão Universitária Conceitos, Benefícios e Integração

AVISO DE PRORROGAÇÃO

Transcrição:

1 Anais do 7º Encontro de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 12 a 15 de setembro de 2004 PROGRAMA DE INCUBADORA TECNOLÓGICA DE ECONOMIA SOLIDÁRIA (EMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS-ES) - UFMG Área Temática de Trabalho Resumo O Grupo de Pesquisa em Economia Solidária, Autogestão e Processos Psicossociais tem por objetivo analisar como se configuram as relações entre a organização autogestionária do trabalho e processos de construção identitária de sujeitos-trabalhadores em empreendimentos solidários. Busca-se construir uma abordagem metodológica, essencialmente qualitativa, orientando-se pelos pressupostos da Psicossociologia do Trabalho, articulando-se conversas ao pé da máquina (individuais) e Oficinas de Autogestão (grupos). A análise dos dados em pesquisas já concluídas, em nível de Iniciação Científica e Mestrado, realizadas junto com trabalhadores do ramo metalúrgico, nos aponta mudanças em processos identitários, afetando a subjetividade de trabalhadores implicados com a criação destes empreendimentos. Estas pesquisas têm nos revelado, a dificuldade de adaptação de processos autônomos para indivíduos que vêm de experiências heterônomas, bem como dificuldades de se estabelecer um diálogo criativo entre estes trabalhadores e os demais do movimento sindical metalúrgico. Visando a ampliação das pesquisas-ações com trabalhadores em outros ramos produtivos (reciclagem e outros) o NESTH (Núcleo de Estudos sobre Trabalho Humano), através da UNITRABALHO (Rede Interuniversitária de Pesquisas e Estudos sobre Trabalho), propõe a Incubadora Tecnológica de Socioeconomia Solidária, implicando professores e alunos (graduação e pós-graduação) de vários Cursos/Unidades. Autores Prof. Dr. Ricardo Augusto Alves de Carvalho, coordenador: Ana Rita Trajano, subcoordenadora Gláucia Lúcia Pereira de Oliveira, colaboradora Patrize Janssen de Miranda, colaboradora Instituição Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas/Núcleo de Estudos sobre Trabalho Humano Palavras-chave: autogestão; economia solidária Introdução e objetivo O NESTH - Núcleo de Estudos sobre Trabalho Humano foi fundado em 1984, como Programa Interdisciplinar vinculado ao Conselho de Extensão, visando dois objetivos principais: possibilitar a interdisciplinaridade das pesquisas e atividades de extensão relacionadas com o mundo do trabalho e estabelecer intercâmbio com instituições afins. A proposta do NESTH amplia-se no âmbito da UFMG, envolvendo, além de professores, diversos funcionários e alunos interessados em projetos que privilegiam o trabalho como eixo central de análise. O NESTH vem realizando pesquisas de abrangência local e nacional, cursos de extensão, seminários internacionais, consultorias, conferências, contatos interinstitucionais com órgãos públicos, associações e sindicatos, para promoção conjunta de atividades formativas, publicações, pesquisas. O Grupo de Pesquisa em Economia Solidária, Autogestão e Processos Psicossociais do NESTH/UFMG, coordenação Prof. Dr. Ricardo Augusto Alves de Carvalho (Departamento

de Psicologia), tem atuado em pesquisas, estudos e formação de trabalhadores e técnicos, com participação de estudantes em nível de graduação e mestrado/doutorado. Ao longo da experiência desenvolveu-se uma metodologia de intervenção psicossocial em processos autogestionários e solidários, o que vem possibilitando uma atuação no sentido de construção de uma nova cultura do trabalho. Atualmente, o NESTH sedia, na UFMG, a coordenação da UNITRABALHO em Minas Gerais. A UNITRABALHO é uma rede universitária nacional que agrega cerca de 80 universidades e instituições de ensino superior de todo o Brasil. Criada em 1995, sua missão é contribuir para o resgate da dívida social que as universidades brasileiras têm para com os trabalhadores, compromisso este concretizado por meio de parceria em projetos de estudos, pesquisas e capacitação. Outras práticas (extensão/pesquisa) vêm sendo desenvolvidas no âmbito da UFMG, objetivando oferecer apoio às necessidades dos empreendimentos solidários, referentes às diferentes dimensões do processo em andamento. Propõe-se, para análise de experiência de autogestão, a descrição dessas dimensões ou perspectivas enfatizando a interdependência e a complementaridade entre elas: Dimensão jurídico-econômica - refere-se às leis, tanto criadas pelos trabalhadores como as leis gerais do país; considera também as questões econômicas como acesso ao crédito, mercado, parcerias, bens de produção material e intelectual, situação dentro da economia de uma forma mais ampla; Dimensão político- administrativa - engloba as diversas formas de exercício do poder e do controle, assim como os mecanismos gestionários e suas implicações. Inclui as diferentes estruturas de gestão, as formas de dominação e resistências, as formas de acesso às instâncias decisórias, os mecanismos de informação e formação, assim como as diversas formas de exercício e luta pelo poder na comunidade local e na sociedade em geral. Dimensão Sócio- Psicológica ou Psicossocial - considera-se aqui todo o grupo de relações e interações intersubjetivas que se estabelecem entre os trabalhadores e entre estes e o empreendimento e o movimento autogestionários. Engloba também as construções intersubjetivas dos significados e identificações coletivas - a compreensão coletiva sobre o trabalho e a gestão do empreendimento, as identificações e as identidades coletivas dos trabalhadores e ainda: Os choques que podem existir entre estas identidades/ identificações e as formas de expressão intersubjetiva deste choque, bem como os medos e fantasias que povoam o imaginário destes trabalhadores, tendo em vista o sofrimento psíquico que se estabelece neste processo. (CARVALHO & PIRES, 2001). Assim, temos ações isoladas, sem articulação/diálogo entre diferentes equipes de pesquisa/professores.com o presente Projeto, buscar-se-á esta interdisciplinariedade/interlocução, no sentido de construção de uma REDE de apoio aos ESs, o que se realizará através da Incubadora Universitária de ES. Neste atual momento de globalização da economia capitalista, em que se observa o crescimento do desemprego de longa duração, com a destruição de postos de trabalho e a expulsão /exclusão de trabalhadores do mercado de trabalho, a Economia Solidária surge como uma alternativa de geração de trabalho e renda, possibilitando a recuperação destes trabalhadores, em sentido amplo econômica, social e psiquicamente. Reafirmamos nossa convicção de que uma outra globalização é possível e desejável, fundada na cultura da cooperação e na ética da solidariedade; na participação ativa de todas as cidadãs e cidadãos do país e do Planeta, no controle e na gestão dos meios para o seu desenvolvimento pessoal e coletivo. Uma globalização que seja cooperativa e solidária (...). Na perspectiva solidária, a relação entre quem consome e quem produz vai muito além de comprar e vender o produto, envolve uma consciência e um compromisso comum em prol do Bem-Viver de todos no presente e no futuro, que implica no cuidado com a natureza e a biodiversidade, na equidade entre mulheres e homens e entre etnias, numa concepção de trabalho que realiza, e numa forma de produzir orientada para satisfazer às necessidades de cada ser humano e de toda a 2

humanidade (CARTA DE MENDES,RJ, Encontro Brasileiro de Cultura e Socioeconomia Solidárias, Junho/2000). No decorrer da prática com os (as) trabalhadores (as) do Projeto CENAFOCO (convênio PBH e Escola Sindical), a maioria dos grupos decidiu aplicar os recursos disponíveis para capacitação em Economia Solidária, com vistas à formação de Empreendimentos Solidários, numa tentativa de enfrentar o problema do desemprego e exclusão. Em contatos e debates com professores, pesquisadores e funcionários da Pró-reitoria de Extensão da UFMG, a proposta de criação de Incubadora Universitária de ES foi se desenvolvendo, tendo como uma primeira ação o Projeto de Capacitação de Trabalhadores em processo de construção de Empreendimentos Solidários, sob a responsabilidade do Grupo de Pesquisa ECO SOL e Autogestão - NESTH/UFMG. As próximas etapas do processo de incubação serão realizadas através de ações conjuntas/interdisciplinares (envolvendo os departamentos de Ciência Política e de Psicologia da UFMG), considerando as diferentes realidades dos empreendimentos em formação. Desse modo, o objetivo principal consiste em coordenar processos de formação (capacitação e qualificação profissional) de trabalhadores envolvidos com a criação de ES (seja cooperativa, associação, ou outra); prestar assessoria técnica e administrativa, de forma interdisciplinar, aos grupos de agentes sociais, participantes de programas/projetos específicos da PBH, como também a outros grupos de trabalhadores, que apresentem suas demandas conforme critérios estabelecidos pela Incubadora Universitária; produzir e disseminar conhecimentos sobre Economia Solidária, de forma interdisciplinar, tornando-o acessível à Sociedade; introduzir nos programas institucionais da universidade, de forma indissociada, em nível de pesquisa, ensino e extensão, os princípios e objetivos da Economia Solidária; contribuir para o fortalecimento e a criação de Redes e Fóruns de Economia Solidária e Autogestão, nos diferentes níveis - municipal, estadual, nacional e internacional; além de buscar interlocução com outras incubadoras universitárias, podendo contribuir para a formação de novas incubadoras. Metodologia Inicialmente, o processo de incubação de empreendimentos solidários de trabalhadores, partiu de uma demanda da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte(PBH), através da Secretaria de Assistência Social/Projeto CENAFOCO (Centro Nacional de Formação Comunitária). Cada grupo/empreendimento, após cinco meses de capacitação pela PBH, elaborou projeto de ação social, tendo estes, optado pela criação de empreendimentos solidários, com aplicação de recursos em formação/assessoria pela UFMG. Buscou-se uma prática interdisciplinar, incluindo Psicologia, Ciências Políticas; sendo a coordenado pelo NESTH (Núcleo de Estudos sobre Trabalho Humano). Assim, tivemos recursos financeiros para formação dos próprios trabalhadores, com apoio da PBH e da Universidade/ NESTH. Buscando-se construir uma ação inter/transdisciplinar organizamos o processo de incubação através de atividades, tomando-se como referência as diferentes dimensões (econômico-jurídica; político-administrativa; psicossocial), que apontam diferentes demandas de apoio/assessoria. Dessa forma, as atividades e os diferentes saberes (acadêmicos ou não), se articulam e se relacionam, com as diferentes disciplinas, faculdades e departamentos da Universidade. A metodologia de formação parte do princípio de valorização do saber do educando, buscando-se construir junto com os trabalhadores formas mais elaboradas de conhecimento sobre as temáticas em foco, num exercício permanente de diálogo e confronto de diferentes saberes e experiências. A partir da realidade dos grupos do CENAFOCO elegemos um conjunto de questões a serem abordadas em momentos de Oficinas de Autogestão, o que 3

consideramos pontos de impasse dos grupos em processo de emancipação via trabalho cooperado. As Oficinas de Autogestão (OAG s) assim se denominaram a partir da formação de Grupos de Trabalhadores, estratégia adotada como forma de favorecer a discussão e reflexão em torno dos principais problemas enfrentados na prática de construção da autogestão e socioeconomia solidária, instaurando, dessa forma, a Pesquisa-ação ou Ação- Investigativa. Sublinhamos que esta proposta poderá se modificar e/ou se ampliar, conforme diferentes realidades/demandas dos trabalhadores. A autogestão é um modelo de organização em que o relacionamento e as atividades econômicas combinam propriedade e/ou controle efetivo dos meios de produção com participação democrática da gestão. Autogestão também significa autonomia. Assim, as decisões e o controle pertencem aos próprios profissionais que integram diretamente a empresa. Isso quer dizer que contratar profissionais para administrar o negócio ou mão-deobra para atender às necessidades do aumento temporário de produção deve ser considerado uma exceção que requer critérios previstos nos estatutos e/ou nos contratos sociais internos. Os trabalhadores devem ter a capacidade e o poder de decisão sobre tudo o que acontece na empresa: metas de produção, políticas de investimentos e modernização, política de pessoal, etc. Isso quer dizer que as atividades educativas e o incentivo à inteligência coletiva constituem a vida das empresas autogestionárias. Valorizar e incentivar a criatividade do conjunto dos trabalhadores implica em: democratizar as tarefas que envolvem conhecimento, dando oportunidade para que o saber fazer chegue ao conjunto dos trabalhadores; superar os entraves ao acesso às informações e conhecimento; envolver o conjunto dos trabalhadores nas áreas de pesquisa e desenvolvimento; promover regularmente atividades de desenvolvimento do trabalho em equipe e de relacionamento entre as pessoas. As OAGs (Oficinas de Autogestão) ainda poderão se realizar nos momentos finais do processo de incubação, a saber: assessoria para inserção do EES (Empreendimentos de Economia Solidária) no mercado, conquista da autonomia e fim do processo de incubação, este representado pela articulação com redes de economia solidária e autogestão, ampliação da democracia interna, avaliação do grau de autonomia do grupo e por fim, conquista da autonomia pelo grupo. Dessa forma, converge com a nossa proposta de Oficinas de Autogestão, articulando o racional e o afetivo, o consciente e o inconsciente, o pensar e o sentir na construção de grupos e empreendimentos de autogestão. Ressalta-se, ainda, a questão de se mexer, de alguma forma, em escalas de valores, o que também se encontra com nossa prática de açãoinvestigativa, provocando mudanças nas diferentes dimensões do sujeito trabalhador. Resultados e discussão O tema desta investigação aborda a relação entre Trabalho e Identidade. Interessa-nos particularmente enfocar os processos de construção identitária em Empreendimentos Solidários de Autogestão. Esses se diferenciam de empresas capitalistas típicas por serem construídos por trabalhadores como resposta à ameaça de perda de trabalho ou desemprego. Num primeiro momento, logo que se iniciou o trabalho de assessoria junto com os grupos de trabalhadores (as) do CENAFOCO, dividimos o processo de incubação em etapas, de acordo com as demandas de assessoria já vivenciadas em diferentes experiências de incubação. No entanto, tendo em vista que o projeto vem sendo realizado há pouco tempo, não é possível o levantamento de resultados, mesmo que parciais, que relatem com fidedignidade o desenvolvimento dos grupos incubados. Apesar disso, outra atividade, que foi realizada com o mesmo foco, nos permite a sinalização de um possível resultado, lembrando que esta é uma investigação qualitativa. O programa em questão se refere à Cooperaço (Cooperativa de Trabalhadores em Caldeiraria e Estruturas de Aço). A construção dessa Cooperativa, deu-se após a iniciativa dos atuais 4

diretor-presidente e diretor-administrativo, contando também com a participação de outros trabalhadores da Superaço. Diante da impossibilidade de terem seus direitos trabalhistas preservados e diante da ameaça de perda de seu posto de trabalho, sem perspectivas de (re)inserção no mercado de trabalho, os trabalhadores decidiram criar a Cooperativa. Inicialmente, tinham algumas noções sobre o movimento cooperativista, buscaram apoio do Sebrae/MG, e assim aconteceu a fundação da Cooperaço. A Cooperaço iniciou suas atividades com um quadro de 24 trabalhadores oriundos da antiga empresa, tendo um Estatuto (que define normas, regras, deveres e direitos dos cooperados), elaborado pelos diretores e apresentado em Assembléia, na época de sua fundação. Atualmente há uma variação desse número devido tanto a adesões quanto a desligamentos, sendo que a média atual é em torno de 27 cooperados. O objetivo da Cooperaço é a prestação de serviços em comum, de logística, consultoria, mão de obra na fabricação, manutenção e montagem de caldeiraria e estruturas de aço, além do fornecimento de manutenção mecânica e elétrica. A criação da Cooperaço insere-se no movimento mais amplo de construção de uma outra (socio) economia, referenciada nos princípios da autogestão, da solidariedade e da autonomia dos trabalhadores. As Cooperativas estão baseadas nos valores da autoajuda, autoresponsabilidade (responsabilidade pessoal), democracia, igualdade, equidade e solidariedade. Na tradição de seus fundadores, os sócios cooperativos fazem seus os valores éticos da honestidade, transparência, responsabilidade social e a vocação social (interesse pelos demais).esse movimento surge como resposta à situação de ameaça de perda do trabalho ou desemprego, buscando construir alternativas (socio) produtivas a partir de diferentes situações, seja a partir da massa falida de empresas capitalistas, seja a partir de grupos de produção que se autoorganizam e constroem associações ou cooperativas. Pode-se concluir, a partir da análise e interpretação do material colhido nessas diferentes situações, que a história da Cooperaço apenas começou. Muitos são os desafios numa trajetória de avanços e recuos, de esforços coletivos de construção de uma outra maneira de trabalhar e produzir. Fazendo parte desta história, como sujeitos-pesquisadores-psicólogos inseridos no movimento da socioeconomia solidária e autogestão, participamos de momentos de vitórias e derrotas, de troca de experiências e conhecimentos e dificuldades de diálogo e comunicação. Atualmente, pode-se dizer que se vive um momento de definição de rumos, na linguagem de um cooperado. Ao mesmo tempo em que a Cooperaço procura romper o isolamento, buscando inserir-se em Redes e Fóruns, participando do Núcleo Sindical de Apoio às Empresas Metalúrgicas Autogestionárias; a época não é das melhores em termos de serviços de caldeiraria e entrada de dinheiro. Nesta perspectiva, procura-se sistematizar os princípios do Cooperativismo e os princípios da Autogestão, numa tentativa de conhecer os fundamentos desta nova configuração socioprodutiva, articulando-os com a experiência vivida pelos sujeitos trabalhadores inseridos neste processo de construção de novas relações de trabalho. Conclusões A partir do que foi dito, conclui-se que este projeto tem como principal objetivo a incubação de cooperativas em Economia Solidaria, ou seja, uma organização de pessoas que está diretamente ligada à solução de necessidades comuns para que dessa forma possa alcançar melhores condições de vida. De certa forma, isso faz referência às origens e aos princípios do trabalhar juntos, de maneira solidária e fraterna. Os trabalhadores, então, têm suas necessidades como centro do sistema de produção. E ainda, devem se ver como sujeitos ativos de ações coletivas, na busca de saídas criativas para o momento em que vivemos, negando práticas de precarização do trabalho através de cooperativas falsas. Esta Incubadora tem a pretensão de promover a recuperação, tanto individual como coletiva, do sentido do trabalho no interior das empresas, o que poderá trazer um novo sentido à própria vida dos 5

trabalhadores. Os trabalhadores das empresas autogestionárias podem fazer a mudança nas condições e no sentido do trabalho por inteiro. Para mudar é preciso conhecer, pensar e agir coletivamente. Nesse contexto, encontra-se uma recusa à lógica economista que reduz o fazer humano à busca racional do interesse próprio, isso significa que a cooperação é um agir diferenciado do comportamento habitual de uma comunidade ou grupo diante de uma realidade. Neste cenário, sob diversos títulos economia solidária, economia social, sócio economia solidária, humano economia, economia popular, economia de proximidade, etc, têm emergido práticas de relações econômicas e sociais que, de imediato, propiciam a sobrevivência e a melhora da qualidade de vida de milhões de pessoas em diferentes partes. Cabe considerar que essa prática apreende horizontes com maior alcance. São práticas fundadas em relações de colaboração solidária, inspiradas por valores culturais que colocam o ser humano como sujeito e finalidade da atividade econômica, em vez da acumulação privada de riqueza em geral e de capital. Enfim, nascida sobretudo entre os excluídos dos Estados de bem estar material, sem acesso aos bens produtivos, aos mercados, à tecnologia e ao crédito, a Economia Solidária revela seu potencial de ser um paradigma de outra globalização, de outra economia, que demonstra que um mundo transformado é possível. Ao mesmo tempo em que reconhecemos todas estas capacidades propositivas de Economia Solidária, entendemos que é necessário unificar esforços e articular ações conjuntas para que este projeto não permaneça no plano da idealização. Referências bibliográficas AGÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO SOLIDÁRIO.(2000) Relatório de Atividades CUT/ UNITRABALHO/DIEESE, São Paulo.. AFONSO, Lúcia (org.).(2000) OFICINAS em Dinâmica de Grupo: um método de intervenção psicossocial. Edições do Campo Social, Belo Horizonte. ALBORNOZ, Suzana. (1998) O QUE É TRABALHO. Brasiliense, São Paulo, Coleção Primeiros Passos. ARRUDA, Angela.(1998) O ambiente natural e seus habitantes no imaginário brasileiro. In Representando a alteridade. Angela Arruda ( org.). Vozes, Petrópolis/RJ. ANTEAG. (2000) AUTOGESTÃO: construindo uma nova cultura nas relações de trabalho. Anteag, São Paulo. Jornal da ANTEAG. (Out./Nov./2000). AUTOGESTÃO, N. 4. (Dez de 2000/Janeiro de 2001). AUTOGESTÃO, N. 5 ANTUNES, Ricardo. (1997) Adeus ao trabalho? : Ensaio sobre as Metamorfoses e a Centralidade do Mundo do Trabalho. - 4. ed.- Cortez/Unicamp, São Paulo. (2000) Material e imaterial. Folha de São Paulo. Caderno Mais.13/08/2000. (2000) Os Sentidos do Trabalho: Ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. Boitempo Editorial, São Paulo. BAREMBLITT, Gregório (org.). (1982) GRUPOS: Teoria e Técnica. Edições Graal, RJ. (1992) Compêndio de Análise Institucional e outras correntes. Editora Rosa dos Tempos, RJ. (1995) Por que Trans-Disciplinariedade? In Anais da III Semana de Psicologia Política. UFMG,BH. (1998) Introdução à Esquizoanálise. Biblioteca do Instituto Félix Guattari, BH, Coleção Esquizoanálise e Esquizodrama, vol. I. BLEGER, José. ( 1980) Temas de Psicologia: entrevista e grupos. Martins Fontes, SP. 6