Projeto Comunitário Jornal Jardim Carolina: Uma experiência comunitária e cidadã

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1 FÓRUM NACIONAL DE PROFESSORES DE JORNALISMO (FNPJ) 2º ENCONTRO SUL-BRASILEIRO DE PROFESSORES DE JORNALISMO 5º ENCONTRO PARANAENSE DE ENSINO DE JORNALISMO MODALIDADE DO TRABALHO: Relato de experiência GRUPO DE PESQUISA: Atividades de extensão Projeto Comunitário Jornal Jardim Carolina: Uma experiência comunitária e cidadã Luis Fernando Assunção e Tales Tomaz 1 Lufeassuncao83@gmail.com; talestomaz@gmail.com Resumo: Projeto comunitário desenvolvido por professores e alunos do curso de Jornalismo do Unasp-EC, em conjunto com a Associação de Moradores do Bairro Jardim Carolina, em Artur Nogueira (SP). O objetivo é inserir os alunos na realidade do jornalismo comunitário a partir de experiência de contato com a produção de um jornal feita em conjunto com moradores do bairro. Na publicação os moradores do local são retratados através de reportagens de cunho cultural, social e de serviço. 1 Luis Fernando Assunção é professor do centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus Engenheiro Coelho, e doutorando em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos-RS); Tales Tomaz também é professor do Unasp e doutorando em Meios e Processos Audiovisuais pela Universidade de São Paulo (USP).

2 Apresentação O projeto comunitário Jardim Carolina é uma proposta do curso de Jornalismo do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), Campus Engenheiro Coelho, através de sua agência experimental de jornalismo (ABJ). O objetivo é levar aos moradores do bairro Jardim Carolina, em Artur Nogueira, uma publicação impressa mensal, de 12 páginas, onde os moradores são retratados através de reportagens de cunho cultural, social e de serviço. O jornal é uma iniciativa dos movimentos populares do bairro, em especial a Associação de Moradores, e de professores do curso de jornalismo vinculados à ABJ responsável pela assessoria no projeto. O Jornal do Jardim Carolina pretende ser um meio, um espaço para a expressão dos moradores da região do bairro (pelo menos outros três bairros estarão inseridos dentro do projeto). Dessa forma, o projeto busca retratar o cotidiano e também as demandas da população, tendo um enfoque cidadão e pró-ativo. Além de gerar uma visão crítica da conjuntura local a partir da leitura do próprio jornal, o projeto visa desenvolver oficinas de texto, fotografia e vídeosdocumentários com alunos das escolas e programas assistenciais do bairro, entre eles o Pró-Jovem (parceria da Prefeitura de Artur Nogueira e o governo federal). As pautas das edições serão discutidas e escolhidas nas reuniões mensais do Conselho Comunitário. Os textos serão produzidos pela comunidade, alunos, professores, integrantes de organizações da sociedade civil e também pelo aluno bolsista do curso de Jornalismo do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus Engenheiro Coelho. Dados do bairro O bairro Jardim Carolina é um dos mais necessitados de investimento público de Artur Nogueira. Sua população gira em torno de mil habitantes. Dos poucos instrumentos públicos existentes no bairro, destaca-se o Centro Comunitário, onde jovens da comunidade têm acesso a aulas de práticas esportivas e capoeira. As ruas não são pavimentadas (embora haja previsão de

3 investimento por parte da prefeitura) e apenas uma escola dá conta da população de jovens que abrange, além do Jardim Carolina, outros três bairros próximos. O bairro também é visto pela mídia de massa como local violento e sem infraestrutura. A organização civil da comunidade procura reverter essa imagem, visto que a grande maioria dos moradores do bairro e da região são trabalhadores que trabalham fora e escolheram o local para viver. Há um comércio ainda incipiente no bairro, mas que também mostra sua vocação para o setor de serviços. No local há comércios em formação como padarias, farmácias, mercearias, salão de beleza, locadoras de vídeos, bares e restaurantes. Descrição Título Projeto Comunitário Jornal Jardim Carolina: uma experiência comunitária e cidadã. Instituição Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus Engenheiro Coelho. Coordenação do projeto: professor Luis Fernando Assunção. Coordenação jornalística do projeto: professor Tales Tomaz. Alunos Bolsistas: Guilherme Cavalcante e Isadora Stenzler. Público-alvo: famílias do bairro Jardim Carolina e região, tendo como foco irradiador da proposta os adolescentes e jovens, articulados às instituições como igreja, escolas, postos de saúde, organizações da sociedade civil e entidades de desenvolvimento comunitário. Local-sede: Agência Brasileira de Jornalismo (agência experimental do curso de Jornalismo). Parceria: Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus Engenheiro Coelho, Agência Brasileira de Jornalismo (ABJ), Conselho Comunitário do Jardim Carolina e Associação de Moradores do Jardim Carolina.

4 Objetivos Uma das perspectivas da significação do jornalismo como prática social e discursiva na sociedade contemporânea é a possibilidade de reaproximá-lo da cidadania e do interesse público. E se a esfera pública midiática tradicional foi colonizada pelo poder e pelo capital (HABERMAS, 1987), é preciso criar e fortalecer outras esferas públicas e o espaço comunitário se demonstra como o lugar, o local, para essa transformação das práticas jornalísticas e para a renovação das esferas públicas. Diante disso, esta proposta tem como objetivo principal a criação de um jornal comunitário no bairro Jardim Carolina, em Artur Nogueira, como estratégia de comunicação, mobilização, debate dos problemas locais e participação da comunidade nas soluções e perspectivas. A criação de uma esfera pública midiática local para o debate e intercâmbio das ações beneficentes desenvolvidas por igreja, escola, postos de saúde, organizações da sociedade civil e entidades de desenvolvimento comunitário. E, ao mesmo tempo, proporcionar a leitura e o entretenimento. O jornal procura refletir e problematizar a comunidade local em sua relação interna, mas também fazendo a mediação das representações do bairro construídas pelos meios massivos da cidade. Para isso, a prática jornalística será articulada a estratégicas educativas e de fortalecimento da consciência da população local sobre sua história, práticas culturais e identidade. O projeto também objetiva facilitar o intercâmbio de informações, o diálogo entre as organizações locais e os moradores e a promoção de formas educativas a partir da leitura e produção noticiosa e de outros gêneros da linguagem jornalística, e, através de seu desenvolvimento, possibilitar a promoção da cidadania e inclusão social, especialmente de jovens em situação de vulnerabilidade social residentes no bairro Jardim Carolina. Metodologia e intervenção Do ponto de vista metodológico, o projeto prevê a participação de dois bolsistas no processo de produção de notícias, fotografia e diagramação do Jornal do Jardim Carolina; a formação e capacitação de um conselho editorial

5 composto por todas as organizações representativas do bairro; desenvolvimento de um projeto gráfico que corresponda aos objetivos do jornal comunitário; reuniões mensais para discussão de pauta e avaliação de edições anteriores; produção de uma edição mensal com 12 páginas em formato tablóide; capacitações na área de produção de textos, fotografia e vídeo, para jovens que além de iniciar na prática do jornalismo comunitário, possam desenvolver suas habilidades e competências comunicativas para contribuir à qualificação dos processos locais de comunicação. Também será promovida a cidadania e inclusão social a partir de oficinas de produção de textos, fotografia, vídeo e rádio. Possibilidades de Intervenção junto à comunidade a) A publicação do jornal regularmente; b) O fortalecimento dos vínculos sociais, culturais e éticos da comunidade a partir do intercâmbio de informações realizados com o jornal do Jardim Carolina; c) Desenvolvimento de uma visão crítica da mídia, a partir da própria rotina de produção do jornal; d) Processos de solidariedade que vinculem o jornal a outras práticas sociais relevantes, realizadas no bairro em termos de educação, saúde e inclusão social; e) Resgate da ética, do interesse pelo social, da cidadania e vivência comunitária. Resultados já obtidos Dentro das perspectivas propostas em um projeto de jornalismo comunitário, há que se destacar o envolvimento social dos estagiários em jornalismo a partir da participação na iniciativa. Muitos desses alunos ainda não tinham vivência prática da profissão e, menos ainda, vivência de prática em local normalmente avesso às grandes pautas e grandes intervenções do jornalismo. Isso trouxe dois ganhos, a priori. O primeiro, a experiência prática no feitio de matérias mais voltadas para o humano, no jargão jornalístico. Matérias que exploram as vivências e histórias de vida na mesma perspectiva

6 de Traquina (2004) de que o jornalista é um contador de histórias a partir do fato, intercaladas com matérias de cunho de serviço, voltadas essencialmente para auxiliar e orientar os moradores sobre assuntos de saúde, beleza, lazer, terceira idade, eventos culturais, entre outros. E o segundo ganho, tão importante quanto, é a vivência social in loco desses futuros jornalistas. No bairro, eles estão face a face com os problemas sociais graves que mais atingem a periferia das cidades brasileiras. E aprendem os mecanismos de mediação entre os movimentos sociais existentes no lugar com a esfera política e econômica do município e até do Estado. Em relação ao outro lado, ou seja, a comunidade, os ganhos também são sensíveis. Primeiro, a desmistificação do bairro por parte da mídia da cidade como um local violento, sem lazer, sem cultura, sem movimentos comunitários. O jornal quebrou um pouco dessa resistência do próprio centro da cidade em relação ao bairro. Outro ganho foi o envolvimento dos moradores no processo de produção do jornal. Naquilo que Peruzzo (2004) classificou de participação da população nos processos de produção, planejamento e gestão dos meios de comunicação que se constituem no contexto dos movimentos sociais populares, o projeto inseriu moradores no projeto. Isso é feito através de envio de artigos, fotos, receitas culinárias, passatempos, além até da participação em apuração de assuntos diretamente ligados ao dia a dia do bairro. Bibliografia HABERMAS, Jürgen. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, PERUZZO, Cicília M. Comunicação nos movimentos populares: a participação na construção da cidadania. São Paulo: Vozes, TRAQUINA, Nelson. Jornalismo, questões, teorias e estórias. Florianópolis: Insular, 2004.