INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA ANTECIPATIVA E COLETIVA Conceitos e procedimentos para implantação em empresas



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Transcrição:

INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA ANTECIPATIVA E COLETIVA Conceitos e procedimentos para implantação em empresas Humbert LESCA Professeur Emérite Université Pierre Mendès France Laboratoire CERAG UMR 5820 CNRS Grenoble, França humbert.lesca@upmf-grenoble.fr Raquel JANISSEK-MUNIZ Professora Adjunta Escola de Administração Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre, Brasil rjmuniz@ea.ufrgs.br O conceito de Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva, termo originalmente chamado de Veille Anticipative Stratégique Intelligence Collective) é apresentado neste documento como um procedimento ou método para instalar um processo de Inteligência Estratégica em empresas (ou qualquer organização em geral). Nas páginas a seguir apresentaremos, de forma rápida e global, um método e as 9 etapas que o caracterizam. Antes disto, definições e detalhes indispensáveis serão fornecidos. O capítulo 10 será reservado à Inteligência Econômica, de forma que o leitor possa fazer a comparação entre os conceitos de Inteligência Estratégica e Inteligência Econômica. O leitor que desejar mais detalhes poderá acessar os sites http://www.ieabrasil.com.br e http://www.veillestrategique.org ou entrar em contato conosco. CONCEITO DE INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA ANTECIPATIVA E COLETIVA (IEAc) "Não prever significa, desde agora, lamentar" Leonard de Vinci Definição. A Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva é o processo coletivo contínuo pelo qual um grupo de indivíduos, de forma voluntária, busca e utiliza informações antecipativas relacionadas às mudanças susceptíveis de ocorrer no ambiente externo da empresa, com o objetivo de criar oportunidades, reduzir riscos e incertezas em geral. De acordo com as necessidades, a IEAc busca fornecer uma representação do ambiente pertinente presente e/ou elementos que permitam antecipar mudanças neste ambiente. Dentre tais informações estão os sinais de alerta precoce (indícios antecipativos), conceito que será definido mais adiante. O objetivo da Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva é permitir agir rápido e no momento certo. Os anglo-saxões utilizam as expressões Environmental Scanning, Competitive Intelligence e Business Intelligence (BI) para designar conceitos vizinhos. Objetivo da IEAc: O objetivo fundamental da IEAc é a transformação de sinais fracos (indícios antecipativos) em informação para a tomada de decisão. Para efetuar esta transformação, utilizamos a técnica de interpretação visando criação de sentido. Assim, a criação coletiva de sentindo nos interessa na medida em que ela pode constituir, de acordo com nossa interpretação, a essência do que SIMON (Prêmio Nobel) chamou de «Inteligência do ambiente» da empresa. Lembremos que, no modelo de Tomada de Decisão de H. SIMON, a Inteligência Estratégica Antecipativa se situa na fase chamada «inteligência do ambiente da empresa». Modos de funcionamento: O processo de Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva pode funcionar de acordo com três modos distintos, mas não exclusivos: o modo «comando», o modo «alerta» e o modo «provocação». - O modo comando significa que a pesquisa ativa de uma informação é iniciada a partir de um pedido expresso (demanda ou comando) de alguém (um superior hierárquico por exemplo), que exprime uma necessidade pontual de informação. A iniciativa reside do lado do usuário potencial da informação. - O modo alerta significa que a pesquisa ativa de uma informação é contínua por parte de certas pessoas (chamadas de captadores ou coletadores) e que estas alertam, por sua própria iniciativa, seu superior hierárquico (ou outras pessoas) quando julgam ter encontrado uma informação interessante, muito embora esse alguém não tenha expressamente definido uma necessidade particular de informação. A iniciativa reside do lado do captador/coletor ou do animador do processo de IEAc. - O modo provocação 1 de informações significa provocar a vinda de informações que não teriam sido acessíveis de outra forma, ou que não poderiam mesmo nem existir. A provocação de informações pode ser realizada em qualquer tipo de contato relacional (envolvendo remetente e destinatário) direto ou indireto, ou então usando o Web Site de uma empresa, na medida que este tenha sido construído de forma apropriada contendo elementos ( iscas ) que possam deflagrar algum interesse relacional. Neste documento, nosso interesse será focado especialmente no modo alerta. 1 Consulte JANISSEK (2004) para mais detalhes a respeito de provocação de informações. LESCA e JANISSEK-MUNIZ, 2007 -- http://www.veille-strategique.org e http://www.ieabrasil.com.br 1

Conceitos-chave Nossa definição de Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva exige alguns comentários a respeito das palavras que a compõem, tais como estratégia, tipos de inteligência, coletivo, voluntário/pró-ativo, antecipação, criação e ambiente, que serão a seguir detalhados. Estratégia: O adjetivo estratégico ou estratégia não deve ser encarado como um conceito de moda. Ele é utilizado para lembrar que as informações fornecidas pela Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva não dizem respeito às operações tradicionais, operacionais e repetitivas, e sim, ao contrário, auxiliam na tomada de decisão assim caracterizada: decisões não repetitivas, não familiares, para as quais não dispomos de modelos já provados pela experiência e ciência, e decisões tomadas em situação de informação incompleta. Entretanto, trata-se de decisões que podem ter um grande impacto na competitividade e na perenidade da empresa. Por exemplo, a escolha de um novo fornecedor possui uma importância estratégica para uma empresa do ramo industrial, enquanto que um pedido repetitivo/habitual de compra de um produto não possui uma importância estratégica. Devido ao fato de que a IEAc pode auxiliar na tomada de decisões pouco repetitivas, relacionadas à problemas difíceis de estruturar e formalizar, o uso de informações exige uma dimensão criativa. Tipos de Inteligência Estratégica: A expressão «Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva» é uma expressão genérica que engloba diversos tipos de inteligência específicos, tais como a Inteligência Tecnológica (produtos, serviços, inovação), a Inteligência Competitiva (concorrentes e competidores), Inteligência Comercial (clientes), Inteligência Territorial (relacionada ao Estado), Inteligência Legal (leis, jurisprudência), Inteligência Social (sociedade), etc. Uma empresa não precisa necessariamente implantar todos os tipos de inteligência específicos. Ela deve escolher aquele (ou aqueles) mais adaptado à sua situação. Esta escolha pode ser determinada a partir de um procedimento metodológico que veremos mais adiante neste documento. Voluntário/Pró-ativo: Por visar um objetivo criativo, a Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva não poderia contentar-se em ser um ato passivo, limitado a um simples monitoramento do ambiente empresarial. Ao contrário, é um ato voluntário, que requer ir à frente de informações antecipativas, abrindo bem os olhos, os ouvidos e ativando todos os outros sentidos (feeling, etc.). Muitas vezes deve-se mesmo suscitar, provocar ou atrair informações. Assim, a palavra "vigília" (tradução direta de veille em francês) é inadequada, motivo pelo qual optamos por Inteligência do ambiente organizacional. De fato, as expressões «Intelligence de l entreprise» (utilizada por H. LESCA desde 1986 como subtítulo de um de seus livros, publicado por MacGraw Hill) ou ainda «Intelligence Stratégique» seriam mais adaptados. Os anglo-saxões falam de "Environmental Scanning" ou ainda "Competitive Intelligence". De forma ilustrada, poderíamos comparar a Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva (termo introduzido no Brasil para representar o conceito de VAS-IC defendido pela equipe LESCA) da empresa como o radar de um navio, assim como sugerido por AGUILAR, isto porque buscamos antecipar eventos antes que seja muito tarde para agir. Entretanto, diferente do radar, que é um conceito objetivo, a IEAc é caracterizada pelo seu aspecto voluntário, proativo e mesmo construtivista. Inteligência Coletiva: A pesquisa voluntária (também chamada «pró-ativa») das informações de IEAc, e seu uso, não pode ser uma atividade individual. Ao contrário, exige intervenção de diversos membros da empresa, cada um deles em função de suas atividades, experiências e competências. Por isto, a IEAc é um processo coletivo transversal na empresa. Esse processo engloba as fases de interpretação das informações, fases delicadas que necessitam a mobilização de experiências diversas. É por isto que defendemos a idéia que a Inteligência Estratégica Antecipativa é inseparável do conceito de Inteligência Coletiva. A equipe do Prof Lesca adotou o termo VAS-IC para determinar o conjunto das idéias por eles defendido (Veille Stratégique Anticipative Intelligence Collective). Existe Inteligência Coletiva, ou seja, de um grupo de indivíduos, quando os sinais observados no ambiente, sua seleção e seus relacionamentos visando criação de sentido são objeto de um trabalho coletivo, onde os membros do grupo (com perfis, formações, experiências e conhecimentos distintos e complementares) comunicam e interagem apropriadamente, dentro do respeito de certas regras de comportamento do trabalho em grupo. LESCA e JANISSEK-MUNIZ, 2007 -- http://www.veille-strategique.org e http://www.ieabrasil.com.br 2

Ambiente: O ambiente da empresa não é um conceito abstrato ou um objeto estático. Ele é constituído de atores em ação e será especificamente definido de forma operacional quando tratarmos de especificação de alvo da IEAc. Criação: Considerando as características das informações que são seu objeto, a IEAc engloba fases de interpretação de sinais, conceitos muito próximos da criatividade. De fato, as informações utilizadas não descrevem eventos já realizados, mas permitem formular hipóteses e criar uma visão voluntária representativa. Interpretação e criação se apóiam por vezes nos sinais captados no ambiente, e/ou sobre a experiência de pessoas que os interpretam e igualmente sobre os conhecimentos estocados no conjunto das memórias da empresa (memórias formais e memórias tácitas individuais). Antecipação: Nossa definição de IEAc enfatiza a antecipação e a detecção de mudanças, especialmente de eventuais rupturas (ou discontinuidade: discontinuity, radical change) que poderiam ocorrer no ambiente pertinente da empresa. Lembremos que Aguilar (1967) tinha comparado Environmental Scanning da empresa ao radar do navio. Fazendo uma metáfora (ou mesmo dando um exemplo real), se um navio pudesse prever um iceberg, ele poderia desviar-se a tempo e evitar uma tragédia (Titanic). Assim, nossa escolha possui uma conseqüência teórica e prática quanto ao tipo de informações às quais nos interessamos. São informações que possuem, elas mesmas, um caráter antecipativo: elas devem fornecer pistas sobre o futuro, sobre eventos que ainda não estão totalmente consolidados, e não constatações sobre o passado ou presente. Deve-se, contudo, distinguir duas maneiras de interessar-se ao futuro, as quais chamamos de radar e retrovisor. # A metáfora do Retrovisor: Uma primeira maneira consiste em acumular informações sobre o passado e realizar extrapolações e análises de tendências. Este é o caso quando «calculamos» tendências, ou mesmo fortes tendências. Para nós, esta maneira significa «olhar para o futuro pelo retrovisor». Ela é importante para a história da empresa, mas não é apropriada para antecipar mudanças surpreendentes, e muito menos ainda antecipar rupturas que possam ocorrer no ambiente da empresa. # A metáfora do Radar: Uma segunda maneira consiste em captar informações possíveis de anunciar, algum tempo antes, novas alterações. Esta maneira de fazer ( façon de faire ) foi preconizada por I. Ansoff quando este introduziu o conceito de Gerenciamento Estratégico e falou sobre «weak signals» (provavelmente fazendo analogia com práticas de rádios e radares. (Diz-se que ele tomou emprestado esta expressão de W. W. Bryan, um funcionário da Philips, Holanda). O tipo de informação pesquisada e os tratamentos (interpretações, representações, etc.) possíveis de serem aplicados são bastante diferentes daqueles utilizados para cálculo de tendências. Este documento - assim como as pesquisas realizadas por nossa equipe - é principalmente orientado para esta segunda forma de antecipar, ilustrada pela metáfora do radar. Motivo pelo qual iremos, a seguir, apresentar o conceito de indício antecipativo (sinal fraco, sinal de alerta precoce). Nota: A expressão Inteligência Econômica é um conceito cada vez mais difundido. Entretanto, é importante deixar claro que é um conceito bem diferente daquele de Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva. Uma seção, ao final deste documento, será dedicada a apresentar esta diferença. Pela proximidade de termos, pode-se pensar que eles são, eventualmente, próximos, podendo então ser complementares. É o que veremos mais adiante. LESCA e JANISSEK-MUNIZ, 2007 -- http://www.veille-strategique.org e http://www.ieabrasil.com.br 3

INDÍCIOS ANTECIPATIVOS (SINAIS FRACOS, SINAIS DE ALERTA PRECOCE) e características informacionais As informações de Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva dizem respeito ao futuro da empresa e principalmente ao seu ambiente exterior (mas podem também estar relacionadas ao seu ambiente interior). São informações de tipo antecipativo, que podem ser expressas segundo dois tipos: os sinais de alerta precoce e as informações de potencial. Definição de Indício Antecipativo (Sinal Fraco, Sinal de alerta precoce): Chamamos de «indício antecipativo» uma informação cuja interpretação nos conduz a pensar que é possível que um evento susceptível de ter uma grande utilidade ou impacto para nossa empresa venha a ocorrer Explicação visual: É possível que quanto mais um sinal for antecipativo, de mais fraca intensidade ele será, de onde a expressão «sinal fraco» utilizado por I. Ansoff. A figura a seguir apresenta uma explicação visual. O evento E está totalmente realizado no momento T. Ele é expresso pelo sinal S de espessura máxima. Ele solicita pouco esforço para ser captado. O evento E está totalmente conhecido no tempo T. Assim, estaríamos face ao fato ocorrido, e se desejássemos agir, não disporíamos de nenhuma margem de manobra: é muito tarde! O evento E', ao contrário, não está ainda (totalmente) realizado. Ele somente será iniciado no momento T. O sinal S' que o anuncia é relativamente fraco e solicita maior esforço para ser captado. Entretanto, no momento T' disporíamos de um tempo de manobra se desejarmos não ser colocados face ao fato ocorrido, momento que seria muito tarde para poder agir ou reagir. Características: Os indícios antecipativos são informações, especificamente: qualitativas, fragmentadas, incompletas, incertas, imprecisas. Qualitativas - As informações de IEAc são geralmente qualitativas. Interessam eventos que eventualmente poderiam ocorrer, e que não poderiam ser objeto de constatações "contábeis". Os indícios antecipativos são normalmente informais, e podem assumir formas diversas, como frases ditas numa reunião/congresso/salão, ou um pequeno anúncio no jornal, mesmo que este seja do bairro, fotografia, observações realizadas numa construção, um odor, etc. Fragmentadas - As informações de IEAc não podem ser apresentadas sob a forma de peças pacientemente coletadas, selecionadas, unificadas e validadas. Tomadas isoladamente, cada informação é insignificante e suspeita, mas se aproximada a outras, progressivamente ela vai tomando sentido. Ela é comparável a uma peça de quebracabeça. Incompletas - Em função da sua natureza e da dificuldade em obtê-los no tempo desejado, os indícios antecipativos são inevitavelmente informações incompletas. Isto não impede de realizar uma exploração interessante, o que iremos ver mais tarde quando tratarmos da etapa de criação de sentido. LESCA e JANISSEK-MUNIZ, 2007 -- http://www.veille-strategique.org e http://www.ieabrasil.com.br 4

Incertas - As informações de IEAc (informações do tipo antecipativo) constituem alertas, pistas, sinais geralmente escondidos numa montanha de informações (conceito de barulho ou "bruit"). Elas devem gerar interrogações e hipóteses no espírito dos responsáveis, não sendo constituídas de certezas. Além disso, os sinais em questão podem resultar de uma vontade de desinformação por parte de um terceiro (especialmente quando estes enviam voluntariamente «sinais» em seu ambiente: podemos pensar na companhia ENRON lá em setembro 2001). Eles devem então ser tratados de forma particular, para torná-los mais confiáveis antes de serem levados a sério. Imprecisas - Freqüentemente os indícios antecipativos são imprecisos e ambíguos. Esta ambigüidade inevitável deve ser considerada na escolha dos suportes ou mídias que utilizaremos para circular e repassar a informação. Em função dessas características, um dispositivo eficaz de IEAc deve permitir a capitalização de informações visando consolidá-las, reorganizá-las, validá-las e ampliar os sinais de fraca intensidade na origem. Informações de potencial: São informações que informam a respeito das capacidades do autor do ambiente em questão e que interessam à empresa e que ela deseja monitorar de forma ativa. Por exemplo, se esse autor do ambiente é um concorrente, informações de potencial podem ser: o valor do seu autofinanciamento (informa sobre a capacidade de poder conduzir um projeto importante), a qualidade das competências de seus colaboradores, uma nova contratação, etc. Em função das características acima apresentadas, a IEAc não pode ser improvisada. Ao contrário, exige um dispositivo especial, tais como métodos e técnicas apropriadas, assim como pessoas formadas com este objetivo. UTILIDADE DE INTELIGÊNCIA ESTRATÉGICA ANTECIPATIVA E COLETIVA «Aquele que não quer fazer nada encontra sempre boas razões para não fazer nada». VAUBAN A problemática ligada à utilidade da IEAc é freqüentemente evocada por responsáveis da empresa. Ela engloba diversas questões, tais como: - Serve para fazer o quê? - Para quê devemos implantar isto? - Para quem isso poderia ser útil dentro da empresa? - Qual é a utilidade do conceito de IEAc? - Qual é a utilidade de um dispositivo especial para a IEAc que possibilitaria passar de teorias e conceitos à ação? A utilidade do conceito de IEAc pode ser mostrado referindo-se ao tipo de vontade estratégica exibido pelos decisores da empresa 2. Pesquisa realizadas por nossa equipe permitiram evidenciar que a IEAC é particularmente útil quando a empresa possui uma vontade estratégica: - de inovação ligada a produtos ou serviços - de qualidade total dos produtos ou serviços - de rapidez de reação frente à concorrência. Por isto, no momento de explicar a utilidade da IEAc, a primeira questão a ser colocada poderia ser: Qual é o seu objetivo prioritário? abordar de forma eficaz um cliente potencial? inovar fora de um impasse? se proteger de forma eficaz contra um concorrente perigoso? Pesquisas têm mostrado que as empresas que são duravelmente mais inovantes, ou que possuem de forma permanente uma imagem de grande qualidade de um produto ou serviço, são precisamente empresas que já estão bem avançadas em matéria de práticas de IEAc. Citamos por exemplo a L'OREAL, SOMFY, IBM, CRÉDIT AGRICOLE... 2 A ligação da IEAc é variável de acordo com o tamanho da empresa (se PME, ou uma grande empresa, ou ainda um grupo de empresas). Neste último caso, existem diversos pontos de ligação e é provável que exista igualmente diversos dispositivos de IEAc. Dentre os pontos de ligação mais freqüentemente observados, podemos citar, o nível «Grupo» junto ao presidente ou diretor geral, o nível «Divisão» (ou ainda Centro Operacional), o nível «Sociedade», quando o grupo envolve diversas sociedades autônomas. Quando coexistem diversos dispositivos de IEA na empresa, pode ocorrer o problema de coordenação e mútuo apoio. LESCA e JANISSEK-MUNIZ, 2007 -- http://www.veille-strategique.org e http://www.ieabrasil.com.br 5

Mas a utilidade da IEAc é igualmente grande no ponto de vista da segurança e da estabilidade da empresa. Estamos aqui falando da identificação precoce do risco de surgimento de produtos de substituição, de novas tecnologias, de alianças entre concorrentes, de quebra de um fornecedor, etc. Assim, se é natural questionar-se a respeito dos custos demandados pela IEAc, é também vital questionar-se a respeito da "não IEAc". PROCESSO de Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva: um aprendizado coletivo A IEAc é um processo informacional que vai desde a captação de informações até à sua interpretação e sua utilização para criar uma visão do ambiente no qual a empresa deseja definir seu lugar. Esse processo informacional é aberto ao exterior da empresa. Ele inicia no interior da empresa para ir na direção do exterior, e em seguida retorna ao interior por ocasião da captação de informações. Este processo ultrapassa duas fronteiras da organização. A análise do mesmo evidencia diversos sub-processos, dentre eles a definição de alvo, apresentado mais tarde. O sucesso de cada um deles é uma condição necessária da eficácia do processo global de IEAc. Nenhum deles suporta improvisação e a coordenação é um fator crítico de sucesso. Ora, o que se constata freqüentemente em empresas no momento que verificamos a situação do que existe em matéria de IEAc? Situações existentes freqüentemente: - informações existem sem dúvida na empresa, mas não sabemos onde... as informações são inacessíveis: é como se elas não existissem, pois são misturadas com outras informações e não temos como localizá-las! - ao coletar uma informação, as pessoas não a distribuem, ou o fazem de forma errada. Portanto, muitos colaboradores existem, mas não sabemos onde eles estão. As pessoas que detém as informações não são identificadas, ou então, aquelas que estão contato com o exterior e que podem possuir informações interessantes, estão freqüentemente ausentes. - as informações são empilhadas num armário, sem classificação definida, desorganizadas, inutilizáveis, misturadas na montanha de informações. - as informações «informais», freqüentemente as mais preciosas, ficam guardadas nas cabeças das pessoas, e a comunicação é praticamente inexistente ou não existe definitivamente, pelo menos no que diz respeito a estas informações. Estas constatações permitem melhor entender o sentido da frase freqüentemente escutada em empresas: «A gente faz Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva mas sem saber». Se não sabem, muito provavelmente não fazem!! Algumas conseqüências: a) Quando ocorre improvisação, a ausência de método e de coordenação, e a ausência de uma vontade gerencial, produz o "paradoxo da surpresa estratégica" assinalado por ANSOFF. O evento exterior surpreende todo mundo no dia que ocorre, mas muitas vezes dispúnhamos de informações importantes que permitiriam, se analisadas em conjunto, prever sua eventualidade. Mas essas informações são normalmente disseminadas e inutilizáveis: são as informações fantasmas! Elas não são compartilhadas por ninguém na empresa. As empresas com bom desempenho, de forma durável, possuem um dispositivo voluntário (voluntarista) que apóia o processo de IEAc. Esse dispositivo permite detectar indícios ou sinais, capitalizá-los, compartilhá-los e explorá-los para criar sentido e estimular a ação. b) A análise do processo mostra igualmente que a IEAc não é uma tarefa isolada de uma única pessoa, mas um processo transversal, apoiado em redes de contatos, e que exige uma cadeia de participantes, mesmo em PME. c) O processo de IEAc observado possui um custo, claro. Mas esse custo é praticamente escondido porque não têm como ser calculado efetivamente. É um custo inútil. Em certos casos os responsáveis se conscientizam disto quando dizem: «Nossa Inteligência não é suficientemente eficaz, e é muito artesanal!». Ainda, o custo pode ser medido pelo contra-custo, ou seja, o quanto podemos perder ou deixar de ganhar se não realizarmos IEAc. LESCA e JANISSEK-MUNIZ, 2007 -- http://www.veille-strategique.org e http://www.ieabrasil.com.br 6

Pistas para avançar... Eis algumas pistas de progresso que pode induzir a prática: a) Mais harmonia do que perfeccionismo: Se uma única fase do processo falhar, todo o processo falha. Por isto, ao invés de sofisticar uma única fase do processo e negligenciar outras, é melhor deixar de lado o perfeccionismo e cuidar para que todas as fases do processo tenham um nível de qualidade satisfatório. Existem instrumentos para avaliar o nível global da qualidade da IEAc em empresas. b) Integração e coordenação: o processo de IEAc precisa que diversos atores intervenham, os quais são normalmente diferentes em função de suas tarefas habituais, pela sua especialização profissional, pela sua experiência, perfil ou linguagem. Ou seja, esses atores provavelmente utilizam meios e termos diferenciados. O processo exige então uma vontade real de coordenação e de integração se desejarmos que o processo transversal seja eficaz. Coordenação e integração estão ligados tanto aos comportamentos individuais como os meios materiais utilizados como suporte. c) Capitalização: sendo as informações de IEAc naturalmente fragmentadas, imprecisas e dispersas, sua importância somente aparece se elas são acumuladas e progressivamente enriquecidas. O enriquecimento assemelha-se a uma operação de capitalização. Somente respeitando esta condição de estoque e enriquecimento que seu uso permitirá a criação de sentido e a transformação de sinais fracos em forças motoras para a ação estratégica. d) Processo de aprendizagem coletiva: a análise do processo faz aparecer loops de retroatividade, que permitem o retorno de conhecimento e aprendizagem organizacional. - de um lado a questão de exploração de sinais para atingir os captadores de informações, - por outro lado, a exploração visando atingir (chegar a) definição de alvos e à reorientação da «antena radar» da IEAc. É pelo motivo da IEAc ser um processo de aprendizagem coletiva e criativa que as empresas com maior desempenho são aquelas que a implementaram em primeiro lugar. Empresas hábeis em IEAc serão cada vez mais hábeis em função da aprendizagem acumulada. Quanto mais uma empresa usar de forma hábil suas informações para a ação, mais ela obterá de forma eficaz novas informações pertinentes e com menor custo, além de aumentar sua condição no mercado. As outras continuam numa ignorância tal que provavelmente terão dificuldades no futuro. Exemplos concretos não faltam. LESCA e JANISSEK-MUNIZ, 2007 -- http://www.veille-strategique.org e http://www.ieabrasil.com.br 7

PROCEDIMENTO - Método 1 Definição de ALVO da Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva sobre informações pertinentes «I want it fast, factual, actionnable» Bernhardt. Objetivo. O objetivo da definição de alvo, também chamado de especificação de alvo, da IEAc é responder às questões: como identificar os centros de interesse que os membros do dispositivo de IEAc possam ter em comum? como (e esta é a maior dificuldade) saber se uma informação é pertinente e útil? como não ser sobrecarregado de informações inúteis? É por isto que o método Cible abaixo apresentado busca, de forma indireta, responder estas questões. Esta forma indireta nos conduz à definição de alvo da IEAc. Definição de «alvo». Definir o alvo da IEAc é operação pela qual é delimitado o espaço externo que a empresa deseja monitorar de forma antecipativa, ou seja, sobre a qual se deseja focar uma atenção voluntária (pró-ativa). (Ou seja, de forma ilustrada, identificar atores sobre os quais apontar/direcionar o foco). Focar a IEAc significa expressar de forma explícita e clara O QUÊ pode interessar EM COMUM os diferentes participantes do processo de IEAc, a fim de poder INICIAR reflexões coletivas de trocas e de compartilhamento de informações e experiências. Mas definir um alvo é também cuidar para que, desde o início, o futuro dispositivo de IEAc forneça informações pertinentes para aqueles que irão utilizá-lo. A definição de alvo é um trabalho coletivo efetuado por um grupo constituído de forma ad hoc. Chamamos de ALVO ou FOCO o resultado da operação de definição de alvo, o qual é constituído pelo menos pelos seguintes documentos: - Uma tabela (matriz) com duas entradas onde são inscritos uma lista de atores e uma lista de temas. - A lista de palavras-chave que permitirão pesquisar informações. - A lista de fontes de informação a monitorar. - A lista de responsabilidades: quem é responsável pelo quê. Dinâmica do Alvo. A Definição do Alvo não deve mudar em permanência, pois ela se apóia no dispositivo de IEAc. Mas ela deve assim mesmo evoluir em função das preocupações dos responsáveis da empresa, e neste sentido ela é dinâmica. Ela evolui também sob efeito dos retornos de ação. O alvo da Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva é uma operação interativa efetuada com fraca freqüência. O alvo se articula sobre a estratégia da empresa. O alvo da Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva é definido a priori quando ele é definido pela primeira vez. Mas em seguida ela é susceptível de modificações adaptativas, sob efeito da interpretação das informações recolhidas. Existe então um feed-back ligando a utilização das informações obtidas baseadas na definição de alvo, e a modificação do alvo baseada nas aprendizagens geradas pelas ações realizadas, a partir da criação de sentido. Definição de «ator». Chamamos de ator aquele ator pertinente, ou seja, toda pessoa (física ou jurídica) cujas decisões e ações são susceptíveis de ter, no futuro, uma influência (positiva ou negativa, de acordo com o caso) sobre o futuro de nossa empresa. Esta influência pode ser direta ou indireta. Ela pode manifestar-se através de um evento realizado pelo ator em questão: por exemplo, a criação de um novo produto ou de uma nova técnica. Interessamo-nos evidentemente aos atores atuais, mas também aos atores potenciais. Exemplo: numa época, BENETTON não era concorrente de SALOMON. BENETOON não era então um ator pertinente para SALOMON. Um dia BENETTON comprou o grupo NORDICA. Do dia para a noite ele tornou-se um concorrente de SALOMON. Um ator potencial é então interessante no sentido de que este pode, eventualmente, tornar-se um ator efetivo muito rapidamente. Um ator é caracterizado por um nome e um endereço. A definição de alvo só é possível LESCA e JANISSEK-MUNIZ, 2007 -- http://www.veille-strategique.org e http://www.ieabrasil.com.br 8

se os atores efetivos e os atores potenciais são em pequena quantidade (menos de uma centena, por exemplo). Os setores de uma forma geral, e os consumidores tipo «grande público», não constituem atores no sentido de nossa abordagem. Definição de «tema». Chamamos de tema uma atividade de um ator, ou uma certa característica do ator, que pode particularmente nos interessar. Ou seja, tratando-se de um ator designado (atual ou potencial), desejamos saber dele certas coisas úteis para a nossa tomada de decisão, mas não desejamos saber tudo. Designar temas ou assuntos permite delimitar e restringir voluntariamente nosso esforço de coleta de informações. Exemplos de temas específicos:. tratando-se de um cliente: seus projetos num domínio específico onde podemos vir a ser fornecedores.. tratando-se de um concorrente: seus parceiros, eixos de pesquisa, etc.. tratando-se de um organismo público: o projeto de lei em matéria de proteção do ambiente. Para cada um dos atores identificados como sendo pertinentes, podemos estar interessados por um ou diversos temas. E um mesmo tema pode estar relacionado a diversos atores pertinentes. Processo de definição de alvo. A- O ponto de partida da definição de alvo é o objetivo prioritário de nossa empresa (ou então a divisão considerada), ou ainda o domínio de atividade considerado. B- O ponto de chegada da definição do alvo é o documento chamado Alvo da IEAc. Este documento é a cartografia (tabela com duas entradas) do ambiente que nossa empresa decidiu colocar "sob seu radar". A definição de alvo gera igualmente uma identificação de fontes de informação que deverão ser interrogados ou solicitados. Ferramentas e métodos - Existe um método (ao menos) para ajudar as empresas a realizar a definição de alvo de sua IEAc. Esse método é amplamente validado e os retornos de experiência permitem melhorar continuamente. Esse método é chamado CIBLE. Custo da definição de alvo - Quando utilizamos este método, a operação de definição de alvo exige de uma a três sessões de trabalho coletivo guiados por um consultor externo para os aportes metodológicos. A quantidade exata de sessões depende do perímetro do dispositivo a ser construído. O grupo de trabalho é constituído de forma ad hoc. Ele conta normalmente com 4 a 12 pessoas (por exemplo). Dentre elas figuram necessariamente os responsáveis de alto nível (os decisores). Se esta condição não for respeitada, nem adianta ir mais longe! Este é um dos fatores críticos de sucesso (FCS) da IEAc. 2 - CAPTAÇÃO de informações «Em nossa empresa, foi implantada uma rede interna específica para a Inteligência. É importante selecionar bem as pessoas que farão parte da rede. Nem todos são sensíveis a esta atividade.» Jean ZIEGLER, Diretor Geral, AéroSpatiale, estabelecimento de Cannes Definição de Captação/Coleta/ Obtenção de Informações A captação é a operação pró-ativa pela qual os membros de nossa empresa buscam por informações de Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva. Na base, a palavra Traque (aqui traduzida para captação) foi escolhida para dizer que as informações de Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva mais interessantes não vêm sozinhas até nós. Ao contrário, deve-se fazer o esforço voluntário (pró-ativo) de passar à frente delas e/ou provocar informações que não existiriam a priori. Por isto, chamamos de «captadores» ou coletadores as pessoas que têm por missão buscar informações de IEAc. Tarefas do captador. Deve-se distinguir duas tarefas conexas, mas distintas: - a coleta propriamente dita de informações, - a circulação ou envio das informações para compartilhá-las com outras pessoas. Essas tarefas geram, como efeito, problemas que lhe são específicos. LESCA e JANISSEK-MUNIZ, 2007 -- http://www.veille-strategique.org e http://www.ieabrasil.com.br 9

A problemática de implantação e também perenização (tornar algo perene no tempo) da Coleta são bem diferentes de acordo com o tipo de captador. Tipos de captadores. Distinguimos dois tipos de captadores em função das fontes de informação com as quais eles estão habitualmente em contato: - Os captadores «sedentários» ou «internos» que trabalham geralmente em um escritório e que acessam principalmente fontes de informações formalizadas (bases de dados, Internet, etc.). - Os captadores «terreno», externos ou relacionais (ou ainda móveis, itinerantes, nômades, de campo ) que muito freqüentemente deslocam-se e estão em contato com pessoas de diversas categorias: clientes, fornecedores, laboratórios, salões, congressos, etc. Nestes casos as informações, pelo menos aquelas que são captadas na sua origem, são essencialmente sensoriais (auditivas, visuais, olfativas, tácteis, gustativas) ou relacionais. Bibliometria. No que diz respeito à busca de informações através fontes documentárias, é possível utilizar ferramentas ou aplicativos especializados de bibliometria, principalmente quando temos que tratar com grandes quantidades de documentos. Isto pode ocorrer em uma das facetas da IEAc, que é a Inteligência Tecnológica. Tais ferramentas ou aplicativos são úteis para fazer aparecer elementos afundados no grande volume. Escolha dos captadores. A escolha de captadores dentre os funcionários da empresa pode ser guiada por diversos critérios, como por exemplo: Critério do Alvo. É o ponto de partida do procedimento de escolha do alvo de Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva. Busca-se responder à seguinte questão: quem está implicado pelo quê? (quais atores e quais temas). Critério das fontes de informação. Busca-se responder à seguinte questão: Quem estaria naturalmente em contato com qual fonte, em função de suas atividades habituais ou interesses?» Critério relacionado à personalidade. Qual é o estilo cognitivo da pessoa? Este estilo é apropriado para a captação de informação? Critério de quantidade. A quantidade de captadores oficialmente designados resulta muitas vezes de um raciocínio e de recursos que a direção da empresa deseja dispor. Contrariamente ao que é freqüentemente dito, nem todo membro da empresa poderia ser um captador. Para uma empresa que possui uma centena de pessoas, a quantidade de captadores raramente será maior que uma dúzia, por exemplo. Critério de motivação. Um captador, para ser escolhido definitivamente, deve sentir-se relacionado e motivado com a tarefa. Formação de captadores. Idealmente o captador deve dispor de 3 conhecimentos: - Saber acessar fontes de informações conhecidas, - Selecionar informações, - Detectar novas fontes de informações. No caso dos captadores «nômades», a problemática de formação compreende as seguintes questões: 1 - Como fazer para que os captadores externos solicitados e nomeados: a) estejam aptos a identificar o caractere antecipativo (eventual) de uma informação, considerando que esta identificação é difícil e que sua ambigüidade pode exigir uma interação com outras pessoas. b) estejam aptos a interagir com outras pessoas para fazer emergir o caractere eventualmente antecipativo de uma informação (e a contribuir assim para a emergência de uma IEAc). 2 - Como perenizar este dispositivo após ele já estar implantado na empresa? A formação pode ser realizada em um dia, e uma dúzia de captadores podem ser formados ao mesmo tempo numa mesma sessão de formação. Em seguida, a perenização do dispositivo estará bastante ligada à motivação dos mesmos, e à existência de um animador. Ferramentas e método - Os captadores devem estar munidos de um material (suporte de apoio) apropriado para formalizar as informações e para encaminhá-las a um ponto de convergência. Este ponto é geralmente aquele onde está situado o animador da IEAc. O suporte é freqüentemente chamado «ficha de captação», que pode ser uma folha, um post-it, uma tela em um dispositivo web ou na rede, etc. LESCA e JANISSEK-MUNIZ, 2007 -- http://www.veille-strategique.org e http://www.ieabrasil.com.br 10

Internet - Uma das fontes de informação mais importantes é a Internet. Entretanto, a exploração desta fonte, aparentemente fácil, não dispensa o uso de metodologias. Caso contrário corre-se o risco de gastar muito tempo e dinheiro, e de encontrar-se mergulhado num mar de dados sem interesse real. Custo da captação - Os custos se dividem em: * Custos de investimentos, ligados à formação de captadores e ao equipamento que precisa eventualmente ser fornecido aos captadores. * Custos de funcionamento, ligados ao tempo dedicado pelo captador na missão e o custo de acesso a certas fontes de informação (publicações, bases de dados, etc.). 3 - SELEÇÃO de informações Definição de «seleção» A seleção de informações é a operação que consiste em reter, dentre todas as informações captadas, somente as informações susceptíveis de interessarem os usuários potenciais da empresa (ver definição de alvo). Esta operação é uma das fases mais cruciais do processo da Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva. De fato, uma ausência de seleção conduz a um «excesso de informações», e uma seleção muito restrita empobrece o processo. Níveis de seleção. De acordo com a fonte de origem da informação, a operação de seleção é mais ou menos complexa. Se a informação é de origem «terreno» e capturada por um captador, a seleção se faz no mesmo instante que ocorre e gera o preenchimento de uma ficha de captação de informação. Se a informação é de origem documentária, a seleção é um processo que conta com dois níveis: Seleção de nível 1 (seleção N1): consiste em escolher uma informação a partir de um conjunto chamado «informações brutas». A informação selecionada é chamada de «informação primária». Exemplo: uma reportagem em um jornal ou numa base de dados (ou ainda um trecho de um discurso). Seleção de nível 2 (seleção N2): consiste em escolher uma frase (ou algumas frases breves) a partir da informação primária. Esta informação, selecionada a partir de uma informação primária, é chamada «informação essencial» (ou ainda «breve»). Esses dois níveis apresentam problemas diferentes e são realizados, na maioria das vezes, por pessoas diferentes. Quem seleciona a informação? Se a informação é de origem «terreno» e capturada por um captador «terreno», a seleção é realizada no mesmo instante pelo captador. Ele preenche uma ficha de captação de informação e a seleção pode ser realizada «a quente» ou «na hora». Se a informação é de origem documentária, diversas pessoas irão intervir sucessivamente: - Primeiramente, o captador, que é geralmente «sedentário», lê publicações, interroga bases de dados, interroga a Internet, etc. Ele efetua uma primeira seleção, fornecendo assim uma informação «primária»: geralmente algumas linhas ou diversas linhas, de acordo com o caso. Em seguida, ele transmite essa informação «primária» a um expert. - O expert é praticamente o único a poder selecionar as linhas que constituem a informação essencial (ou «breve») contida na informação primária. Em todos os casos, a seleção exige respeitar certos critérios de seleção. Critérios de seleção de informações. Certos critérios são originados a partir da construção do alvo da IEAc: atores, temas, palavras-chave, etc. Um outro critério, coerente com a definição do conceito de Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva, é o caractere antecipativo da informação. Outros critérios podem ainda serem adicionados. Eles dependerão diretamente do contexto no qual estivermos. LESCA e JANISSEK-MUNIZ, 2007 -- http://www.veille-strategique.org e http://www.ieabrasil.com.br 11

Ferramentas e método para a seleção. Quando se tratam de informações de origem documentária ou Internet, existem diversas ferramentas e aplicações para selecionar informações (motores de pesquisa, agentes inteligentes, etc.). Formação à seleção de informações Existe um método (ao menos) para formar as pessoas encarregadas da seleção de informações, e para realizar a seleção no dia a dia. Este método permite realizar um processo de aprendizagem individual e coletiva da seleção de informações. A formação pode ser realizada num dia. Custo da seleção Os custos da seleção de informações se dividem em: * Custos de investimento ligados à formação de (n) pessoas e eventual aquisição de equipamentos (variável de acordo com as ambições da empresa) * Custos de funcionamento ligados ao tempo consagrado à seleção pelas (n) pessoas, no dia a dia. No mínimo, isto pode representar um turno de uma pessoa a cada semana (caso de uma PME por exemplo). Surpresa! As informações antecipativas a caractere estratégico não são tão numerosas assim como os responsáveis da empresa possam supor a priori. Durante a implantação e execução do dispositivo de IEAc, eles aprendem progressivamente a selecionar eficazmente as informações. Produz-se então um processo de aprendizagem individual e coletiva que aumenta a eficiência da Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva. 4 - CIRCULAÇÃO e REPASSE de informações Definição de repasse de informações O reenvio de informações é a operação pela qual um captador envia as informações que coletou à pessoa encarregada de armazená-las (freqüentemente é o animador da IEAc). Esta operação pode gerar diferentes problemas em função de se captador é do tipo sedentário ou nômade. A palavra repasse contudo é muito restritiva e mesmo pouco adequada pois: - Restritiva porque é possível que um captador encaminhe sua informação de forma lateral, diretamente para outro captador, por exemplo; - Pouco adequada porque pode deixar entender que o captador se «desfez» de sua informação em função de uma estrutura imposta. Organização do repasse O dispositivo de envio de informações coletadas exige que o captador: - saiba claramente a quem enviar as informações, de forma a não complicar sua tarefa e não perder tempo. - disponha de um meio material apropriado para transmitir as informações, de fácil acesso e de fácil utilização. A escolha do suporte deve considerar a natureza da informação a ser transmitida, especialmente seu grau de ambigüidade (Media Richness - DAFT). Ferramentas e método de repasse. Os meios materiais para facilitar o repasse de informações, pelos captadores ao local de armazenamento das mesmas, são diversos. Entretanto, nem todos são igualmente bem adaptados às características de uma dada empresa, assim como nem sempre são adaptados às informações de IEAc. Uma questão importante é aquela que diz respeito aos critérios de escolha. Dentre outros, deve existir coerência entre o material proposto aos captadores para registrar suas informações, e o meio escolhido para repassar as informações para o animador da IEAc. Exemplos: - transmissão de fichas de captação mão a mão, do captador ao animador; - depósito das fichas numa caixa postal prevista para tal, em lugar de fácil acesso para todos; - transmissão das fichas via fax; - scanning das fichas no computador do captador e transmissão via rede; - base de dados com alerta; - transmissão via e-mail, Intranet, etc. - transmissão oral via telefone ou via rede informática, etc. LESCA e JANISSEK-MUNIZ, 2007 -- http://www.veille-strategique.org e http://www.ieabrasil.com.br 12

5 - ARMAZENAMENTO das informações e base de conhecimento No domínio da IEAc, uma informação considerada é de relativo fraco interesse. É a interpretação e os comentários feitos sobre essa informação que são importantes e essenciais. É por isto que somos conduzidos a evocar a questão de base de conhecimento e gestão de conhecimentos (KM). Definição de «Knowledge Management» (KM) ou Gestão de Conhecimentos. De acordo com o CIGREF (Clube de Informática das Grandes Empresas Francesas) «o KM é o conjunto de modos de organização e de tecnologias visando criar, coletar, organizar, divulgar, utilizar e transferir o conhecimento na empresa. Conhecimento materializado por documentos internos ou externos, mas também sob a forma de capital intelectual e de experiências detidas por colaboradores ou experts de uma área.» Memória da empresa Ao falar de memória de empresa, diversas formas de memorização são possíveis: - memória totalmente informal na cabeça dos indivíduos; - memória formalizada, mas disseminada em arquivos dispersos e incompatíveis; - memória em bases comuns de dados ligados entre eles, e a base de conhecimento. Tratando-se da IEAc, as duas primeiras formas de memorização são, infelizmente, as mais habitualmente usadas, o que explica a fraca eficiência dos dispositivos de IEAc observada em grande parte das empresas que o implantam. Entretanto, os autores freqüentemente excluem a primeira forma de memorização quando eles falam de memória da empresa: «Uma memória da empresa é a representação persistente, explícita, desencarnada, de conhecimentos e informações numa organização, a fim de facilitar seu acesso, seu compartilhamento e sua reutilização pelos membros adequados da organização, no quadro de suas tarefas». (R. DIENG et al). Definição de «armazenamento de informações» O armazenamento de informações de Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva é uma condição necessária para valorizar e explorar essas informações. Ele materializa a disponibilidade das informações, as quais devem então estar facilmente acessíveis a todo momento pelas pessoas autorizadas. De acordo com a forma com que ele é concebido e vivenciado, o armazenamento pode constituir uma capitalização de conhecimentos na empresa. Devemos também falar sobre o que é armazenado, ou seja, armazenamento do quê? De qual conteúdo? Pode ser: - do armazenamento do suporte de informação primária resultante da seleção de nível 1 (uma reportagem de um jornal, por exemplo); - do armazenamento da informação essencial extraída da informação primária (resultante da seleção de nível 2), ou ainda resultante diretamente da captação dos captadores a campo; - ou ainda de um primeiro resultado de uso da informação, caso onde eventualmente caracterizamos como sendo retornos de experiência. Gera-se assim uma base de conhecimento. Modelos de organização do armazenamento. Citamos dois modelos diferentemente adaptados às características de uma dada empresa: - centralização única (ou armazenamento em um único lugar), - centralização distribuída (ou armazenamento repartido em diversos ligares e eventualmente ligados entre eles via rede). Plano de classificação das informações. Em todos os casos, os tipos de armazenamento exigem a verificação prévia de um plano de classificação das informações nas bases de dados. Esse plano de classificação é baseado na definição de alvo da IEAc. Ele retoma os temas e atores, que são as palavras principais, e detalha cada deles. Este detalhamento traduz-se por uma lista de palavras chaves, resultantes do alvo da IEAc. A lista de palavras é então repassada a todos os usuários da IEAc, no seio da empresa. Sua evolução é ligada à evolução do alvo da IEAc. Equipamentos existem diversos materiais e sistemas para armazenar as informações de IEAc. Eles são diferentemente adaptáveis ao caso particular de uma dada empresa. Tratando-se de sistemas, além das aplicações do tipo «gerenciador eletrônico de dados» (GED), verifica-se que diversas empresas constroem suas bases de dados LESCA e JANISSEK-MUNIZ, 2007 -- http://www.veille-strategique.org e http://www.ieabrasil.com.br 13

no ACCESS enquanto que outras preferem armazenar numa base ORACLE, acessível ou via rede (intranet por exemplo). Pode-se também usar planilhas Excel, bases Sphinx, etc. Custo Os custos de armazenamento são normalmente assim divididos: * Custos de investimento, ligados à realização de um plano de classificação, à formação da pessoa (ou das pessoas) encarregadas do armazenamento, à aquisição do material de armazenamento, etc. * Custos de funcionamento, ligados ao tempo dedicado por uma pessoa (ou pessoas) à missão, ao espaço de armazenamento ocupado, etc. 7 - DIFUSÃO de informações e conhecimentos. Facilidade do ACESSO por parte dos usuários. Definição de «difusão» A difusão é a operação que consiste em colocar as informações, e os conhecimentos (resultantes da criação de sentido) ligadas às informações disponíveis, aos usuários potenciais, que são freqüentemente responsáveis operacionais. É o responsável pelo estoque de informações e conhecimentos que tem a iniciativa da operação. Difusão «eficaz» significa que: - as informações e conhecimentos irão somente aos usuários potenciais; - serão claramente compreendidas por seus destinatários; - serão efetivamente consideradas pelos usuários potenciais, ou seja, que se deve considerar seu comportamento de aceite ou recuso. Definição de «acesso» O acesso designa a operação (ou conjunto de operações) pela qual o usuário potencial de uma informação pode acessá-la, no momento que lhe for oportuno. É ele quem tem a iniciativa da operação. Eventualmente ele deve ser formalmente autorizado para tal. Objetivo da difusão (e do acesso). A difusão e o acesso têm por objetivo fazer com que os usuários potenciais dessas informações e conhecimentos de IEAc, ou seja, aqueles que podem transformar a informação e conhecimento em ação, disponham da boa informação, no bom momento. Importante: o conceito de "Momento" é talvez o menos importante aqui. De fato, existe uma não sincronização inevitável entre o momento onde uma informação de Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva é «coletada» e o momento onde um usuário vai sentir necessidade de usá-la para a sua ação. Modelos de organização da difusão. O ponto de partida da operação de difusão é o lugar onde são estocadas as informações elaboradas, enquanto que o ponto de chegada é o lugar (ou lugares) onde essas informações vão ser usadas pelos usuários potenciais, chamados de «Clientes» da IEAc. Podemos distinguir dois modelos básicos para divulgar as informações e os conhecimentos: - a abordagem dos "estoques", onde o administrador do estoque é «passivo»; - a abordagem dos "fluxos", onde o administrador do estoque é «pró-ativo». Ambos possuem vantagens e inconvenientes. Deve-se, portanto, escolher aquele mais apropriado ao caso em questão. A organização da difusão pode exigir uma operação prévia: a cartografia dos usuários finais e de suas necessidades em relação a informações de IEAc. O animador da IEAc, isto nos casos onde ele mesmo for o administrador das informações e conhecimentos armazenados, possui um grande papel na difusão das informações. Esse papel pode ser decisivo para o sucesso (ou mesmo o fracasso, de acordo com o caso) do dispositivo de IEAc. LESCA e JANISSEK-MUNIZ, 2007 -- http://www.veille-strategique.org e http://www.ieabrasil.com.br 14

Ferramentas e método. As ferramentas (materiais e sistemas) que apóiam a difusão são cada vez mais diversas e suas funcionalidades cada vez mais ricas. A escolha pode ser guiada pelas teorias de DAFT et al. relativas à adaptação do suporte às características das informações e conhecimentos a serem divulgados (Media Richness). Custo da difusão. Os custos da difusão são divididos em custos de investimento e custos de funcionamento. Os custos de investimento dependem da abordagem, por estoque ou por fluxo, escolhida. Eles serão mais elevados com a abordagem por fluxo. 9 - ANIMAÇÃO da IEAc Definição de «animação» A animação é a missão do animador (ou animadora) do dispositivo de IEAc. Ela consiste em: - estimular a ação dos membros do dispositivo (especialmente os captadores relacionais) assim como sua «criatividade» e motivação; - coordenar as tarefas relativas à IEAc e suas reflexões, de forma a fazer emergir interpretações e sentidos; - fazer com que as informações pertinentes não adormeçam em armários e nas «cabeças» dos indivíduos, nem no interior da empresa; - integrar um todo coerente e eficiente das práticas individuais, o que não teria aparecido sem a implantação do dispositivo; - sugerir novas fontes de informação eventuais; - assegurar o acompanhamento dos pedidos de informação por parte dos membros da empresa; - dar vida e fazer evoluir o dispositivo de IEAc. De acordo com o modelo escolhido pela empresa, a animação da IEAc pode ser confiada a uma única pessoa, ou mesmo à diversas pessoas. Este último caso ocorre especialmente quando o armazenamento de informações e conhecimentos é repartido em diferentes experts. Deve-se distinguir duas situações diferentes: - a fase de implantação do dispositivo de IEAc. Neste caso, o animador é, de fato, o chefe de projeto e é responsável pelo início do dispositivo. - o funcionamento do dispositivo de IEAc. O animador é o responsável por tornar o dispositivo perene no tempo. Perfil do animador A missão do animador é, antes de tudo, relacional. O «saber comunicar» é um fator de sucesso importante. Essa missão exige então uma pessoa extrovertida motivada para puxar o barco dos usuários potenciais das informações e conhecimentos, e também para motivá-los quando estes estiverem desistindo ou desmotivados. Essa pessoa deve igualmente possuir qualidades de organização e rigor. O animador precisa então ter um «duplo perfil» (ou uma dupla competência), o de comunicador e o de competências técnicas em acordo com seu papel. Além disso, o conhecimento de certas ferramentas de informática é indispensável. Formação Não existe uma formação tipo para tornar-se animador de IEAc. Não é indispensável que a pessoa tenha uma formação especializada no domínio da IEAc no momento de início da implantação do dispositivo. Ele poderá realizar a sua aprendizagem ao mesmo tempo que conduzir a implantação do dispositivo, com a condição de ser seriamente guiado, no plano metodológico, por uma pessoa expert no domínio da IEAc. Custo da animação. O custo da animação é constituído, essencialmente: * Do salário do animador. Segundo o tamanho da tarefa, a animação pode representar uma fração do tempo de trabalho de uma pessoa (por exemplo, dois dias por semana numa PME). Mas é também possível que a animação represente a atividade de diversas pessoas tempo todo. * Do custo dos locais e equipamentos utilizados pelo animador. * Dos gastos em comunicação entre o animador e os diversos membros do dispositivo, especialmente os captadores relacionais. LESCA e JANISSEK-MUNIZ, 2007 -- http://www.veille-strategique.org e http://www.ieabrasil.com.br 15

10 - INTELIGÊNCIA ESTRATEGICA ANTECIPATIVA E COLETIVA X INTELIGÊNCIA ECONÔMICA Comentamos, no início deste documento, a existência do conceito de Inteligência Econômica. Este conceito é distinto daquele de IEAc, muito embora não sejam completamente independentes. A seguir, vamos indicar algumas precisões a respeito da Inteligência Econômica. A expressão «Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva» apareceu em primeiro lugar na França, gerada pelas Ciências de Gestão e Administração Estratégica, ou seja, centrada no mundo empresarial. É um conceito microeconômico. Ela foi definida no início deste documento e desenvolvida ao longo das páginas já apresentadas. O conceito «Inteligência Econômica» foi gerado no início dos anos 90 a partir dos projetos de um grupo de trabalho do Comissariado Geral do Plano (Commissariat général du Plan), grupo este presidido por Henri MARTRE. A expressão Inteligência Econômica tem sua origem no mundo dos diretores de empresas do domínio de armamento e do lado dos Poderes Públicos, preocupados por uma visão global em escala nacional. Na ocasião, o grupo de trabalho de Henri MARTRE desejou, assim como nós, chamar a atenção que palavra «veille» (aqui traduzida por nós como Inteligência) possui uma conotação passiva. Originadas em mundos diferentes, as duas expressões «Inteligência Estratégica Antecipativa e Coletiva» e «Inteligência Econômica» possuem conteúdos que variam de acordo com seus seguidores, mas esses conteúdos estão propensos a evoluir rapidamente, cada um do seu lado, e a se completarem. Pelo menos esta é a nossa opinião. Lembramos aqui a definição da expressão «Inteligência Econômica» publicada no relatório «MARTRE»: «A inteligência econômica pode ser definida como o conjunto de ações coordenadas de pesquisa, tratamento e distribuição visando sua exploração, da informação útil aos atores econômicos. Estas diversas ações são conduzidas legalmente com todas as garantias de proteção necessárias à preservação do patrimônio da empresa, nas melhores condições de qualidade, tempo, custo... A noção de Inteligência Econômica implica na interação entre todos os níveis de atividade: a partir de uma base (internas à empresa) passando por níveis intermediários (interprofissionais, locais) até os níveis nacionais, transnacionais (grupos multinacionais) ou internacionais (estratégias de influência dos Estados Nações).» Enquanto a Inteligência Econômica possui uma conotação de proteção e preservação do patrimônio da empresa, e pode cobrir níveis macroeconômicos, a IEAc é centrada a nível microeconômico, e usa informações para identificar, de forma antecipada, oportunidades estratégicas para a empresa. Atualmente, os apresentadores e defensores do conceito «Inteligência Econômica» acentuam dois aspectos que não evocamos nas páginas precedentes, mas que são igualmente importantes em outra forma de abordagem. São eles: 1 Inicialmente, os eles partem da necessidade, por parte da empresa, de se proteger contra os agentes exteriores, e de proteger seu patrimônio informacional. Este patrimônio é, de fato, cada vez mais vital, e cada vez mais ameaçado de diversas maneiras, por agentes exteriores. As novas tecnologias de informação e de comunicação (Internet, por exemplo) reforçam (aumentam) ainda mais a necessidade de se proteger de forma eficaz. 2 Em seguida, eles insistem sobre a necessidade de sair das fronteiras da empresa para estender o dispositivo de Inteligência Econômica à escala da Nação inteira. Em outros termos, eles assinalam a necessidade, por parte das empresas e também dos organismos públicos, de se prepararem de forma a se defenderem eficazmente contra os agentes externos, em escala mundial. Eles apresentam assim sugestões que deveriam ser retomadas e implementadas especificamente por poderes públicos. Assim, e segundo esses autores, deveria ser constituída uma rede nacional de Inteligência Econômica ligando os poderes públicos e a empresa. Para esses autores, o ponto de entrada da Inteligência Econômica situa-se no lado do Estado. Do nosso lado, a ambição do presente documento era aportar uma ajuda às pessoas que desejam operar em escala microeconômica das empresas de qualquer tamanho e de qualquer setor. A extensão da Inteligência Econômica à escala nacional (por exemplo) supõe métodos de trabalho que estão recém começando a serem desenvolvidos. LESCA e JANISSEK-MUNIZ, 2007 -- http://www.veille-strategique.org e http://www.ieabrasil.com.br 16