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Transcrição:

Certificado digitalmente por: CARLOS EDUARDO ANDERSEN ESPINOLA APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.417.936-5, DA 15ª VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA APELANTE: APELADA: RELATOR: TEREZA LOURENÇO LIMA. BV FINANCEIRA S/A - CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO. DES. CARLOS EDUARDO ANDERSEN ESPÍNOLA. APELAÇÃO CIVEL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. PRETENSÃO AO AFASTAMENTO DA COBRANÇA DE TARIFA DE ABERTURA DE CRÉDITO (TAC). ENCARGO NÃO PREVISTO NO CONTRATO. RECURSO NÃO CONHECIDO NO TOCANTE. MORA. NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL IRREGULAR. COMPROVANTE POSTAL DEVOLVIDO. MOTIVO DA DEVOLUÇÃO: NÃO ATENDIDO. SITUAÇÃO QUE NÃO AUTORIZA, POR SI SÓ, A UTILIZAÇÃO DIRETA DO MEIO EDITALÍCIO. ATO NOTARIAL INVÁLIDO POR NÃO ATENDER AO DISPOSTO NOS ARTIGOS 14 E 15 DA LEI Nº 9.492/97. INEFICÁCIA DO PROTESTO POR EDITAL PARA A COMPROVAÇÃO DA MORA, CONFORME EXIGÊNCIA DO ART. 2º, 2º, DO DEC. LEI Nº 911/69 E DA SÚMULA 72 DO STJ. EXTINÇÃO DA AÇÃO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO, POR FALTA DE PRESSUPOSTO DE CONSTITUIÇÃO E DESENVOLVIMENTO VÁLIDO E REGULAR DO PROCESSO (ART. 267, IV, DO CPC). SENTENÇA Página 1 de 9

Apelação Cível nº 1.417.936-5 fls. 2 de 9 REFORMADA. INVERSÃO DOS ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA. DEMAIS TESES RECURSAIS PREJUDICADAS. APELO CONHECIDO PARCIALMENTE E, NA PARTE CONHECIDA, PROVIDO. Vista, relatada e discutida a matéria destes autos de Apelação Cível nº 1.417.936-5, da 15ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, nos quais figuram, como apelante, TEREZA LOURENÇO LIMA, e, como apelada, BV FINANCEIRA S/A - CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO. I RELATÓRIO Tem-se, aqui, recurso de apelação interposto por Tereza Lourenço Lima, ré na ação de busca e apreensão nº 0017792-31.2009.816.0001, em desafio à sentença de fls. 129/139, cujo dispositivo foi proferido nos seguintes termos: Diante do exposto, julgo procedente o pedido principal e condeno a parte ré, nos termos do art. 904 do Código de Processo Civil, a entregar o bem no prazo de 24 (vinte e quatro) horas ou depositar o valor do bem ou do débito enquanto menor que o equivalente em dinheiro do bem alienado, confirmando a liminar. Quanto ao pedido contraposto, julgo-o improcedente, nos termos do Página 2 de 9

Apelação Cível nº 1.417.936-5 fls. 3 de 9 artigo 269, inciso I, do Código de Processo Civil. (...) Em relação à sucumbência, condeno a parte ré ao pagamento das custas processuais e de honorários advocatícios, fixados em R$ 1.000,00 (um sic mil reais), conforme o artigo 20, 3º, do Código de Processo Civil, ante o longo tempo de duração da demanda (05 anos), o julgamento antecipado, o trabalho dos patronos e a simplicidade da causa. Em suas razões (fls. 132/172), a ré alegou que: (a) não foi válida e previamente constituída em mora, haja vista que a autora, ao invés de proceder à notificação no endereço disposto no contrato, promoveu diretamente o ato pela via editalícia; (b) o documento de fl. 25 é igualmente imprestável para comprovar a mora, já que não consta aviso de recebimento (AR); (c) deve haver inversão do ônus probatório; (d) as taxas de juros comportam limitação para adequação à média divulgada pelo BACEN; (e) há no contrato cobrança de juros capitalizados, o que é ilegal; (f) é descabida a incidência das tarifas de abertura de crédito (TAC), emissão de carnê (TEC), cadastro, serviços prestados por terceiros, registro e serv. para recebimento de parcela; (g) quanto aos encargos da mora, deve remanescer apenas a cobrança isolada da comissão de permanência; (h) os valores cobrados a maior devem ser devolvidos em dobro; (i) havendo encargos ilegais, a ação de busca e apreensão deve ser julgada improcedente; e (j) é devida a inversão dos honorários sucumbenciais. Página 3 de 9

Apelação Cível nº 1.417.936-5 fls. 4 de 9 Contrarrazões às fls. 176/198. É o relatório do que mais interessa, na oportunidade. II VOTO (FUNDAMENTAÇÃO) Deixo de conhecer do recurso no tocante à ilegalidade da tarifa de abertura de crédito (TAC), porquanto sequer prevista no contrato. Quanto às demais matérias, presentes os pressupostos extrínsecos e intrínsecos de admissibilidade, conheço do apelo. II.1 Da constituição em mora. A ré alegou que: (a) não foi válida e previamente constituída em mora, haja vista que a autora, ao invés de proceder à notificação no endereço disposto no contrato, promoveu diretamente o ato pela via editalícia; (b) o documento de fl. 25 é igualmente imprestável para comprovar a mora, já que não consta aviso de recebimento (AR). Concernente à questão, indubitável que a regular notificação da mora ao devedor é pressuposto de constituição e desenvolvimento válido e regular do processo. Trata-se de diligência preambular e essencial à propositura da ação de busca e apreensão. em sua Súmula 72, in verbis: Aliás, a matéria já se encontra pacificada pelo STJ, Página 4 de 9

Apelação Cível nº 1.417.936-5 fls. 5 de 9 "A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente." Observa-se que no presente caso, a autora se valeu do protesto por edital para cumprir o disposto na Lei de regência. E o fez após a devolução da notificação extrajudicial inexitosa, na qual foi indicado como motivo a expressão: não atendido (fl. 25). Ora, a meu ver, diferentemente do que consignou o juiz a quo, tal motivo não autoriza, por si só, a utilização direta do meio editalício ao desiderato. Como se vê, em algumas situações, a tentativa de notificação extrajudicial pode restar defeituosa, e a próxima diligência a ser realizada pela instituição financeira depende, efetivamente, do fator essencial que culminou com tal óbice. Há casos em que o mutuário muda de endereço sem ao menos comunicar a credora o seu novo paradeiro. Nessa hipótese, flagrante é a má-fé do devedor, o que autoriza a convalidação do ato notificatório. Por outro lado, na fluente demanda, o motivo indicado foi simplesmente não atendido. Ora, o que quer dizer isso? Trata-se de expressão vaga (rectius, imprecisa) que não permite a este julgador concluir o que de fato ocorreu. Não se sabe realmente se o devedor não estava no local no horário da diligência, se não mais nele residia, se não quis deliberadamente atender etc. Página 5 de 9

Apelação Cível nº 1.417.936-5 fls. 6 de 9 Por essa razão, cabia ao Tabelião, como providência prévia ao protesto por edital, certificar-se da intimação, nos termos do artigo 14 da Lei nº 9.492/97: "Protocolizado o título ou o documento de dívida, o Tabelião de Protesto expedirá a intimação ao devedor, no endereço fornecido pelo apresentante do título ou documento, considerando-se cumprida quando comprovada a sua entrega no mesmo endereço. 1º A remessa da intimação poderá ser feita por portador do próprio Tabelião, ou por qualquer outro meio, desde que o recebimento fique assegurado e comprovado através de protocolo, aviso de recepção (AR) ou documento equivalente." (grifei). Com efeito, não constando nos autos que a autora tenha sido extrajudicialmente notificada, a utilização da via editalícia não poderia e nem pode ser considerada válida para a respectiva comprovação da mora. Salienta-se que a intimação será feita por edital somente se a pessoa indicada para aceitar ou pagar a dívida for desconhecida, se a sua localização incerta ou ignorada, se for residente ou domiciliada fora da competência territorial do Tabelionato, ou ainda, se ninguém se dispuser a receber a intimação no endereço fornecido pelo apresentante (Art. 15 da lei 9.492/97). Página 6 de 9

Apelação Cível nº 1.417.936-5 fls. 7 de 9 E, como se percebe, nenhuma das hipóteses retrata o caso vertente, sendo inarredável a conclusão acerca da nulidade da intimação editalícia. Inclusive, desta forma já decidiu este Tribunal de Justiça, consoante se infere do seguinte aresto: APELAÇÃO CIVEL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. MORA. NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL REALIZADA PELO CARTÓRIO DE REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS DA COMARCA DE UBERLÂNDIA, MG. AUSÊNCIA DE JUNTADA DO AR. NOTIFICAÇÃO INEXISTENTE. PROTESTO. OPÇÃO DO APELANTE. PERMISSÃO LEGAL. COMPROVANTE POSTAL DEVOLVIDO. MOTIVO DA DEVOLUÇÃO: NÃO ATENDIDO. INTIMAÇÃO EDITALÍCIA. ATO NOTARIAL IRREGULAR POR NÃO ATENDER AO DISPOSTO NO ARTIGO 14 DA LEI Nº 9.492/97. INEFICÁCIA DO PROTESTO PARA COMPROVAÇÃO DA MORA, CONFORME EXIGÊNCIA DO ART. 2º, 2º, DO DEC. LEI Nº 911/69 E DA SÚMULA 72 DO STJ. INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL. SENTENÇA CONFIRMADA. RECURSO NÃO PROVIDO. (TJ-PR - AC: 4936843 PR 0493684-3, Relator: Stewalt Camargo Filho, Data de Julgamento: 13/8/2008, 17ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 7694). Assim, não resta alternativa senão extinguir a ação Página 7 de 9

Apelação Cível nº 1.417.936-5 fls. 8 de 9 por ausência de pressuposto de constituição e desenvolvimento válido do processo, i. é, ausência da comprovação da mora do devedor exigida pelo art. 2º, 2º do Dec. lei 911/69, em face da ineficácia do protesto, efetivado em desacordo com o artigo 14 da Lei nº 9.492/97. Como consectário disso, necessária a inversão dos ônus de sucumbência, razão pela qual a autora deve ser condenada ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, estes já fixados na sentença em R$ 1.000,00 (mil reais), valor que mantenho por guardar consonância com as vicissitudes da causa, nos termos do art. 20, 4º, do CPC. Enfim, restando extinto o processo, ficam prejudicadas as demais teses recursais. ANTE O EXPOSTO, proponho o parcial conhecimento e, na parte conhecida, o provimento do recurso para: (a) extinguir a ação de busca e apreensão, por ausência de pressuposto de constituição e desenvolvimento válido e regular do processo, nos termos do art. 267, IV, do Código de Processo Civil; e (b) inverter os ônus de sucumbência, tudo nos termos da fundamentação supra. Revogo a liminar e determino, caso tenha ocorrido a apreensão do bem, a imediata restituição à ré, ou, na efetiva impossibilidade, o pagamento do valor equivalente, devidamente atualizado, pelos índices legais. Página 8 de 9

Apelação Cível nº 1.417.936-5 fls. 9 de 9 III DECISÃO Acordam os integrantes da 6ª Câmara Cível, por unanimidade de votos, em conhecer parcialmente e, na parte conhecida, dar provimento ao recurso. Participaram da Sessão e acompanharam o voto do Relator os Desembargadores Clayton de Albuquerque Maranhão e Roberto Portugal Bacellar. Curitiba, 16 de fevereiro de 2016. (assinado digitalmente) Des. Andersen Espínola Relator Página 9 de 9