QUALIDADE DO SONO EM UMA INDÚSTRIA

Documentos relacionados
Anais do Conic-Semesp. Volume 1, Faculdade Anhanguera de Campinas - Unidade 3. ISSN

Estudo do cronótipo de um grupo de trabalhadores em turnos Study of a group of shift workers chronotype

IMPLICAÇÕES DO TRABALHO NOTURNO NA SAÚDE E DESEMPENHO DOS ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR PRIVADA

Subprojeto de Iniciação Científica

Maria Dionísia do Amaral Dias

Qualidade de vida percebida no trabalho e os serviços de manutenção: estudo de caso em uma indústria no Estado do Ceará.

A INFLUÊNCIA DA MATUTINIDADE E VESPERTINIDADE NOS RESULTADOS ALCANÇADOS POR ALUNOS DE UM CURSO SUPERIOR ON-LINE

CAMPANHA DE PREVENÇÃO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS NO TRABALHO

ESTRESSE E SONOLÊNCIA DIURNA DOS SERVIDORES DO INSTITUTO FEDERAL DO SUL DE MINAS- CÂMPUS MUZAMBINHO RESUMO

International Council of Nurses (2011). CIPE, Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem, Versão2. Lisboa: Ordem dos Enfermeiros.

CLIMA ORGANIZACIONAL E VULNERABILIDADE AO ESTRESSE NO TRABALHO

PROJETO DE GINÁSTICA LABORAL PARA OS SERVIDORES DA PREFEITURA MUNICIPAL DE ALVORADA RS

Qualidade do sono e cronotipo de estudantes de enfermagem

Qual a importância da fadiga?

Ergonomia no Trabalho: Produzindo com Conforto

ANÁLISE DO POSTO DE TRABALHO DE COLABORADOR DO SETOR DE CONFECÇÕES ESTUDO DE CASO

Revista Brasileira de Saúde Ocupacional ISSN: Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho

CARACTERIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE COSTURA EM UMA EMPRESA DE PEQUENO PORTE NO PARANÁ

Fatores associados à depressão relacionada ao trabalho de enfermagem

CARACTERÍSTICAS CRONOBIOLÓGICAS DE UM GRUPO DE ALUNOS UNIVERSITÁRIOS DE ENFERMAGEM

HR Health Conference Programa de Prevenção da Fadiga em Trabalho Noturno

Análise da produtividade de trabalhadores matutinos e vespertinos de uma mineradora

PLANO DE ENSINO. 2 aulas semanais. Renata da Silva Doutora/Psicologia

Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde ISSN: Universidade Anhanguera Brasil

Ampla Gestão de Pessoas: Treinamento e desenvolvimento dos funcionários no turismo

QUALIDADE DE VIDA & PRODUTIVIDADE

GINÁSTICA LABORAL COMO UM RECURSO TERAPÊUTICO PARA A MELHORIA NA QUALIDADE DE VIDA: UMA VISÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL

Aula 5. Abordagem Humanística da Administração (Teoria das Relações Humanas)

Acácio Lustosa Dantas Graduanda em Educação Física pelo PARFOR da Universidade Federal do Piauí

1 Introdução. Subprojeto de Iniciação Científica. Edital:

TÍTULO: ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL E AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES PSICOMÉTRICAS DO QUESTIONÁRIO HOLANDES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA PLANO DE ENSINO

29º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE DO SERVIDOR DA UNIOESTE

ERGONOMIA AULA 11: FATORES HUMANOS

O TRABALHO NOTURNO E O SONO DO TRABALHADOR: ESTUDO EXPLORATÓRIO EM TAUBATÉ E SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Exigências laborais associadas ao stress profissional e bem-estar laboral: O papel moderador da coesão grupal percebida

Marco Aurélio Rocha Santos

Prevalência de problemas de sonolência diurna em praticantes e não praticantes de atividades físicas em uma escola de Canindé-Ceará.

Idade vsriscos Psicossociais. Como actuar?

PLANO DE APRENDIZAGEM

RISCOS DE ADOECIMENTO NO TRABALHO: estudo entre profissionais de uma instituição federal de educação

04/07/2014. *Certificação em Medicina do Sono pela Associação Brasileira de Sono e Associação Médica Brasileira (AMB) por Notório Saber

A importância da Ergonomia na Saúde do Trabalhador

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO ORGANIZACIONAL Ano Lectivo 2011/2012

ANÁLISE DAS PRÁTICAS MOTIVACIONAIS EM MEIOS DE HOSPEDAGEM: UM ESTUDO DE CASO NO HOTEL PACÍFICO (RIO GRANDE - RS)

Artigo original: CRONOTIPOS: COMO TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS DO IFRO COLORADO DO OESTE SE COMPORTAM EM DETERMINADOS PERÍODOS DO DIA.

CLIMA ORGANIZACIONAL. Adriana S. Oliveira Botelho 10/06/2011. Adriana Botelho - FORMAÇÃO E GESTÃO DE COMPETÊNCIAS EM RECURSOS HUMANA 1

Revista CPAQV - Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida - ISSN: v.1, n. 1, 2009 NÍVEL DE QUALIDADE DE VIDA DE UNIVERSITÁRIOS

Cartilha do Sono. Associação Brasileira do Sono.

A FISIOTERAPIA DO TRABALHO NA CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE O ESTRESSE EM UM SETOR ADMINISTRATIVO

INDICADORES DE BEM-ESTAR SUBJETIVO E QUALIDADE DE VIDA EM ESTUDANTES DE PSICOLOGIA

ERGONOMIA APLICADA AO TRABALHO

JETLAG SOCIAL E ESTABILIDADE POSTURAL DINÂMICA E ESTÁTICA EM ADULTOS JOVENS

SAÚDE MENTAL DOS ALUNOS DE PSICOLOGIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DO TRAIRI GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM VINÍCIUS MÜLLER SANTOS

Anais V CIPSI - Congresso Internacional de Psicologia Psicologia: de onde viemos, para onde vamos? Universidade Estadual de Maringá ISSN X

Qualidade de Vida 02/03/2012

IPEA O desafio da produtividade na visão das empresas

AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE PREVENÇÃO DE QUEDAS DOS PARTICIPANTES DE UM CURSO DE SEGURANÇA DO PACIENTE: USO DE QUESTIONÁRIO PRÉ E PÓS-TESTE

Indústria. Prof. Dr. Rudinei Toneto Junior Prof. Dr. Luciano Nakabashi Renata de Lacerda Antunes Borges Simone Prado Araújo

INFLUÊNCIA DO TURNO DE TRABALHO E CRONOTIPO NA QUALIDADE DE VIDA DOS TRABALHADORES DE ENFERMAGEM

Higiene, Segurança e Qualidade de Vida no Trabalho no Serviço Público

APRESENTAÇÃO DO DOCENTE ANDREIA MEIRELES

Teoria das Relações Humanas O comportamento humano é determinado por causas que, às vezes, escapam ao próprio entendimento e controle humano. Essas ca

RESUMO. Palavras-chave: Resiliência. Estratégias de enfrentamento. Qualidade de Vida.

Frida Marina Fischer

C (39,75±8,98) 78,2%. A

O PREÇO DE SER UM POLICIAL MILITAR

PLANO DE ENSINO. Renata da Silva Dra./Psicologia

RESUMO. Palavras-chave: Doença de Alzheimer. Cognição. Qualidade de vida. INTRODUÇÃO

*Fadiga Excessiva- Riscos e

EDITAL DE SELEÇÃO PROFESSORES ODONTOLOGIA EXERCÍCIO DO CARGO DE PROFESSOR DE NÍVEL SUPERIOR SEMESTRE

TRABALHO E SAÚDE MENTAL. Cargas de trabalho e possíveis transtornos

ANÁLISE DO CRONOTIPO DOS MOTORISTAS E ALOCAÇÃO DE TURNOS EM UMA TRANSPORTADORA DE PRODUTOS PERIGOSOS

ESGOTAMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA DA CIDADE DE MONTES CLAROS

ALTERAÇÕES DE EQUILÍBRIO EM PACIENTES PÓS ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO E SUA INFLUÊNCIA NA QUALIDADE DE VIDA

CLIMA ORGANIZACIONAL EM UMA EMPRESA DO RAMO DE ENGENHARIA E PROJETOS DA CIDADE DE JI-PARANÁ 1

Fadiga no Trabalho. Leo Vinicius Liberato

ConScientiae Saúde ISSN: Universidade Nove de Julho Brasil

Ergonomia. Prof. Izonel Fajardo

Ritmos Biológicos Trabalho Noturno e em Turnos

Projeto de pesquisa realizado no curso de Engenharia de Produção da Setrem. 2

AVALIAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DE OPERADORES DE MÁQUINA DA COLHEITA FLORESTAL

Clima organizacional dos colaboradores da indústria de Panificação do Grupo Cíntia

AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO DOS CUIDADORES DE IDOSOS 1. Introdução

Resumo. Palavras-chave. Keywords. Artigo original

Relações de Poder e Conflitos nas Organizações

Alvaísa Queiroz Calcagno¹, Nancy Julieta Inocente².

ATUALIZAÇÃO DE NORMAS DO RAVEN AVANÇADO: DISCUSSÃO DE MODELOS NORMATIVOS E DESENVOLVIMENTO DO MODELO PONDERADO DE NORMATIZAÇÃO DE ESCORES VIA TRI

Gestão de Pessoas. Prof (a) Responsável: Patrícia Bellotti Carvalho

A ANÁLISE DOS OBJETIVOS E A RELAÇÃO CINTURA QUADRIL EM PRATICANTES DE HIDROGINÁSTICA

Idosos Ativos, Idosos Saudáveis

DESENVOLVENDO COMPETÊNCIAS PARA O BEM-ESTAR DISCENTE/DOCENTE

TÍTULO: ESTUDO ERGONÔMICO DA POSTURA SENTADA EM COLABORADORAS DE UMA INDÚSTRIA DE CONFECÇÃO.

Mapa de Risco da Empresa :

Influência do Sono nas Atividades Acadêmicas dos Graduandos de Enfermagem que Trabalham na Área no Período Noturno

MAPA DE RISCOS Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto Bloco H

Gestão de Pessoas. Prof (a) Responsável: Patrícia Bellotti Carvalho

Mapa de Risco da Empresa :

Beatriz de Oliveira Matos1 Lais Miranda de Melo2 Maria Grossi Machado3 Milene Peron Rodrigues Losilla4

Transcrição:

QUALIDADE DO SONO EM UMA INDÚSTRIA SLEEP QUALITY IN AN INDUSTRY Joaquim Aparecido Miguel 1 Natália Tabanes Martins 1 Hugo Ferrari Cardoso 2 1. Psicólogo, formado pela Universidade Sagrado Coração (USC). E-mail: nataliatabanes@ hotmail.com 2. Psicólogo, formado pela Universidade Sagrado Coração. Mestre e Doutor pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Universidade São Francisco (USF). Docente e Supervisor de estágio do curso de graduação em Psicologia (USC); Docente Coordenador do curso de especialização Lato Sensu em Psicologia do Trânsito (USC). E-mail: hfcardoso@gmail.com. Recebido em: 20/03/2012 Aceito em: 09/08/2012 MIGUEL, Joaquim Aparecido; Tabanes; CAR- DOSO, Hugo RESUMO Na área organizacional, uma das atribuições da psicologia é estudar os fenômenos psicológicos presentes nas organizações. Mais especificamente atua sobre os problemas condizentes ao contexto laboral, buscando promover a qualidade de vida no trabalho. A fadiga é um fenômeno preocupante em situação de trabalho e o sono desempenha um papel importante na diminuição da fadiga, além de cumprir importante função de descanso, tanto físico, quanto mental, nos indivíduos. O objetivo desses estudo foi avaliar a qualidade do sono nos trabalhadores em uma empresa privada do segmento industrial, localizada no interior do estado de São Paulo. Participaram do estudo 82 colaboradores, os quais responderam aos instrumentos Questionário de Cronotipo de Horne e Ostberg e Escala de Sonolência Epworth. Segundo o questionário de cronotipo de Horne e Ostberg a maior parte dos colaboradores foram classificados como indiferente e na 155

Escala de Sonolência de Epworth os colaboradores, em sua maioria, foram classificados em sonolência leve. Depreende-se que não foram apresentados resultados preocupantes quanto à qualidade do sono dos funcionários, o que, de certa forma, leva a constatar que os mesmos estão adequados aos turnos de trabalho em que executam suas funções laborais. MIGUEL, Joaquim Aparecido; Palavras-chaves: Psicologia Organizacional e do Trabalho. Qualidade do Sono. Qualidade de vida. ABSTRACT In the organizational area, one of the tasks of psychology is to study psychological phenomena in organizations. More specifically, it acts on the labor context, seeking to promote quality of life at work. Fatigue is a worrying phenomenon in the work situation and sleep plays an important role in reducing fatigue, as well as meeting important function of rest, both physical and mental, in individuals. The objective of this study was to evaluate the quality of sleep in workers in a private company in the industrial segment, located in the state of São Paulo. Participants were 82 employees, who answered the questionnaire instruments Chronotype Horne and Ostberg and Epworth Sleepiness Scale. The chronotype on questionnaire of Horne and Ostberg showed that most employees were classified as indifferent and the Epworth Sleepiness Scale employees, mostly, were classified with mild drowsiness. It appears that not worrying results were presented in the sleep quality of the staff, which somehow leads to conclude that they are suitable to their work turn in performing their working duties. Keywords: Work and Organizational Psychology. Quality of Sleep. Quality of life. INTRODUÇÃO Este trabalho relata a prática de Estágio Supervisionado do curso de Psicologia em uma Universidade, na área organizacional. A pesquisa foi realizada em uma empresa privada do segmento industrial, localizada no interior do estado de São Paulo. Com relação 156

MIGUEL, Joaquim Aparecido; à área organizacional, essa compreende uma das atribuições da psicologia e estuda os fenômenos psicológicos presentes nas organizações. Mais especificamente atua sobre os problemas condizentes ao contexto laboral, buscando promover a qualidade de vida no trabalho. De acordo com o Catalogo Brasileiro de Ocupações (CBO) o psicólogo do trabalho é um profissional que exerce atividades no campo da psicologia aplicada ao trabalho. Esse campo permite ao psicólogo atuar no aperfeiçoamento e melhoria das condições de vida, trabalho e saúde de trabalhadores nos diferentes setores das organizações (BASTOS; MARTINS, 1990; SPECTOR, 2006). DESENVOLVIMENTO Sobre a definição do trabalho, esse pode ser concebido como uma atividade coordenada de caráter físico e/ou intelectual, necessária para a realização de qualquer tarefa, serviço ou emprego. O trabalho tem como finalidade suprir as necessidades humanas seja ela financeira, sobrevivência ou existência, pois o trabalho forma a identidade do individuo. Um grupo de trabalhadores, executando funções com determinados propósitos podem ser considerados como fazendo parte de uma organização (ZANELLI; ANDRADE-BOR- GES; BASTOS, 2004). Em outras palavras, organização é formada pelo soma de pessoas, máquinas, equipamentos, recursos financeiros e outros.trata- -se de uma combinação de esforços individuais que tem por finalidade realizar propósitos coletivos (MAXIMIANO, 1992). Nessa mesma direção, Wisner (1987) destaca que toda situação de trabalho tem pelo menos três aspectos, sendo esses, o físico, o cognitivo e o psíquico. Ainda de acordo com o autor, cada um desses aspectos pode determinar uma sobrecarga no contexto laboral. Por exemplo, se um trabalhador permite a diminuição da carga psíquica, ele está em equilíbrio; no inverso, ocorre sobrecarga devido ao acúmulo de energia, levando-o, possivelmente, a um estado de tensão, desprazer e, conseqüentemente, propiciando o aparecimento da fadiga mental. A fadiga mental pode ser originada pelo inter-relacionamento de fatores profissionais e/ou extraprofissionais e as características do indivíduo. Entre os fatores pode-se ressaltar: iluminação inadequada, desconforto térmico, sonoro, pausas insuficientes, jornadas prolongadas esquemas de turnos, vícios posturais, trabalho monótono e repetitivo, mau relacionamento, responsabilidade, salário, alta con- 157

centração mental e ambiente de trabalho estressante, baixo padrão de vida, problemas de alimentação, habitação, vestuário, transporte, assistência social e médica (ESPOSITO et al., 1980). O indivíduo reage aos agentes estressantes de acordo com sua constituição e sua maneira de conceber o mundo. Assim, para que ocorra adaptação entre o indivíduo e seu trabalho, existe a necessidade de analisar os fatores ora descritos, a fim de evitar-se a fadiga. De acordo com Marziale (1995), fadiga é um fenômeno preocupante em situação de trabalho, além do que se mostra como sendo um construto de difícil conceituação, interpretação e mensuração. A fadiga se refere a um fenômeno que pode atingir indivíduos de todas as faixas etárias, no desenvolvimento de qualquer tipo de atividade, realizada por um período de tempo, e que possivelmente acarreta, no indivíduo, em percepção de mal estar e diminuição da qualidade de vida, ao passo em que no contexto laboral pode acarretar em queda de produtividade. Conforme destacam Velluti (1977) e Reimão (1990), seguramente, o sono desempenha um papel importante na diminuição da fadiga. Corroborando com tal afirmação, Berlucchi (1970) pode ser citada na medida em que o autor salienta que o sono cumpre importante função de descanso, tanto físico, quanto mental, no indivíduos. Esse último autor comenta que, em adultos, a média de sono é de 7,5 horas, sendo que os idosos tendem a ter esse número diminuído, enquanto que crianças possuem média de horas de sono superior, chegando, os recém nascidos, a uma média de 16 horas de sono por dia. Outra informação pertinente trazida pelo autor é de que, em estudos realizados, voluntários que ficaram privados de sono mostraram sinais de grande fadiga, transtornos de atenção e irritabilidade, com diminuição acentuada da capacidade discriminativa. Martinez, Lenz e Barreto (2008) discorreram que em países industrializados, é estimado que 20% da força de trabalho seja composta por trabalhadores em horá rios irregulares e que 2 a 5% destes trabalhadores sofram de algum tipo de transtorno do sono. As consequências dessas condições de trabalho ainda são pouco conhecidas, mas acredita-se que possam estar relacionadas ao desenvolvimento de várias doenças, inclusive hipertensão, câncer de mama e de colo, dentre outras. Nesse sentido, a mensuração de informações acerca da qualidade de sono em trabalhadores pode fazer com que a organização tenha dimensão no que concerne ao ritmo de trabalho, bem como pode ser um prognóstico visando a diminuição de variáveis relacio- MIGUEL, Joaquim Aparecido; 158

MIGUEL, Joaquim Aparecido; nadas a acidentes no trabalho e também que esse colaborador tenha condições de desenvolver suas funções com melhor qualidade de vida. Dessa forma, a presente pesquisa tem por objetivo a avaliação da qualidade do sono em colaboradores de uma organização do ramo industrial. MÉTODO Participantes Fizeram parte da amostra do estudo 82 colaboradores de uma organização do ramo industrial. Cabe destacar que os colaboradores foram divididos quanto aos seus turnos de trabalho, ou seja, quatro grupos. Nesse sentido, do primeiro turno (turno A), foi composto por 16 colaboradores que trabalhavam no período entre 22 e 5 horas. O segundo turno (turno B), foi composto por 19 colaboradores que trabalhavam no período entre 5 e 11 horas. O terceiro turno (turno C), foi composto por 29 funcionários que trabalhavam no período entre 11 e 17 horas. Por fim, o quarto turno (turno D), foi representado por 18 trabalhadores que desempenhavam suas funções no período entre 17 e 23 horas. Instrumentos Questionário de Cronotipo de Horne e Ostberg O questionário de cronotipo de Hone e Ostberg (HORNE; OSTBERG, 1976) avalia o grau de matutinidade e vespertinidade de acordo com a variação do ritmo circadiano dos indivíduos que se submetem ao mesmo. Em outros termos, o questionário mensura o horário do dia em que o indivíduo preferencialmente encontra-se disposta a realizar diversas tarefas do cotidiano, podendo o resultado ser classificado em matutino, vespertino e indiferente. Trata-se de um instrumento autoaplicativo com perguntas fechadas e abertas. 159

Escala de Sonolência Epworth (JOHNS, 1991) A Escala de Sonolência de Epwoth avalia o a probabilidade de o indivíduo cochilar ou adormecer durante o dia em situações cotidianas, podendo o resultado ser classificado em sonolência normal, moderada ou excessiva. Trata-se de um instrumento autoaplicativo com perguntas fechadas. MIGUEL, Joaquim Aparecido; RESULTADOS E DISCUSSÕES A seguir, serão apresentados os resultados dos colaboradores avaliados pelos instrumentos. Cabe destacar que as classificações serão apresentadas, tanto no que diz respeito às frequências, como porcentagens. Quadro 1: Resultados dos sujeitos de acordo com o questionário de Horne e Ostberg. Questionário de Cronotipo de Horne e Ostberg (Classificação) Turnos Matutino Moderado Matutino Extremo Indiferente Vespertino Moderado Vespertino Extremo Turno 1 (22h-5h) 3 (19%) 0 (0%) 10 (63%) 3 (19%) 0 (0%) Turno 2 (5h-11h) 1 (5%) 0 (0%) 9 (47%) 9 (47%) 0 (0%) Turno 3 (11h-17h) 0 (0%) 0 (0%) 16 (55%) 11 (38%) 2 (7%) Turno 4 (17h-23h) 1 (6%) 0 (0%) 12 (67%) 4 (22%) 1 (6%) Como é possível de ser notado pela Quadro 1, de modo geral, por meio do questionário de cronotipo de Horne e Ostberg, a maior parte dos colaboradores apresentaram classificação indiferente, o que, de certo forma, pode ser considerado adequado, uma vez que 160

MIGUEL, Joaquim Aparecido; poucos funcionários apresentaram predisposição para produzirem mais em um período específico do dia. O Quadro 2 apresenta os dados referentes aos resultados da Escala de Epworth. Quadro 2: Resultados dos sujeitos de acordo com a Escala de Epworth. Turnos Escala de Sonolência Epworth (Classificação) Sonolência Normal Sonolência Moderada Sonolência Excessiva Turno 1 (22h-5h) 56% 38% 6% Turno 2 (5h-11h) 84% 16% 0% Turno 3 (11h-17h) 76% 17% 7% Turno 4 (17h-23h) 72% 28% 0% Por meio da Quadro 2 é possível constatar que os funcionários avaliados apresentaram, em sua maioria, sonolência classificada como normal, sendo que uma pequena parcela ficou classificada como de sonolência moderada, e menor ainda foi o índice de sonolência excessiva. CONSIDERAÇÕES FINAIS Algumas considerações se mostram importantes de serem realizadas a respeito dessa pesquisa. A primeira delas é que o estudo em questão fez parte das práticas de estágio em Psicologia Organizacional de dois dos autores do artigo, tendo, além do princípio científico e cuidados éticos no processo de coleta de dados, também o interesse em realizar um adequado diagnóstico organizacional, visando propor melhorias para o contexto organizacional. Em segundo lugar pode ser percebido que não foram apresentados resultados preocupantes quanto à qualidade do sono dos funcionários, o que, de certa forma, leva a constatar que os mesmos estão adequados aos turnos de trabalho em que executam suas funções laborais. Em terceiro lugar é importante destacar as limitações da referida pesquisa, sendo a principal em relação ao poder de generalização de tais informações obtidas, uma vez em que os dados foram investigados com uma parcela dos colaboradores e não em sua totalidade. Além disso, outras formas de investigações, como por exemplo, entrevistas com os empregados, poderiam ser utilizadas como forma de validar as informações obtidas por meio do questionário e escala. 161

REFERÊNCIAS BASTOS, A V B; MARTINS, A H C G. O que pode fazer o psicólogo organizacional. Psicologia Ciência e Profissão. Brasília, v. 10, n. 1, p. 10-18, 1990. MIGUEL, Joaquim Aparecido; BERLUCCHI, G. Mechanismen von schlafen und wachen. In: BAUST, W. (ed). Ermüdung, Schlaf und Traum. Stuttgart: Fischer 1970, p. 145-203. ESPOSITO, I. et al. Repercussões da fadiga psíquica no trabalhador e na empresa. Rev.Bras.Saúde Ocup., São Paulo, 8, n. 32, p. 37-45, 1980. HORNE, J.A. OSTBERG, O. A self-assessment questionnaire to determine morningness eveningness in human circadian rhythms. International Journal of Chronobiology. London, v. 4, n. 1, p. 97-110, 1976. JOHNS, M.W. A new method for measuring daytime sleepiness: The Epworth Sleepiness Scale. Sleep. New York, v. 14, n. 1, p. 540-545, 1991. MARTINEZ, D; LENZ, M.C.S; BARRETO, L.M. Diagnóstico dos transtornos do sono relacionados ao ritmo circadiano. Jornal Brasileiro de Pneumologia. Brasília, v. 34, n. 3, p. 173-180, 2008. MARZIALE, M.H.P., ROZESTRATEN, R.J.A. Turnos Alternantes: Fadiga Mental De Enfermagem. Rev. Latino-am. enfermagem Ribeirão Preto. Ribeirão, Preto, v. 3, n. 1, p. 59-78, 1995. MAXIMIANO, A. C. A. Introdução a administração. 3 ª ed., São Paulo: Editora Atlas, 1992. REIMÃO, R. Sono aspectos atuais, São Paulo, Livraria Atheneu Editora, 1990. SPECTOR, P. E. Psicologia nas organizações, 2 ed. São Paulo, Saraiva, 2006. 162

MIGUEL, Joaquim Aparecido; VELLUTI, R.A.; VELLUTI, J.C.; GARCIA AUSTT, E. Cerebellum and the sleep waking cycle in cats. Psysioll. Behav. New York, v. 18, n. 1, p. 19-23, 1977. WISNER, A. Por dentro do trabalho: método e técnica. São Paulo: FTD-Oboré, 1987. ZANELLI, J. C., ANDRADE-BORGES, J. A., BASTOS, A. V. B. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil, Porto Alegre, Artmed, 2004 163