ATIVIDADE FÍSICA, HÁBITOS ALIMENTARES E SÍNDROME METABÓLICA EM ADOLESCENTES. Sara Crosatti Barbosa (CNPq-UENP), Antonio Stabelini Neto (ORIENTADOR), e-mail: asneto@uenp.edu.br Universidade Estadual do Norte do Paraná/Centro de Ciências da Saúde/Campus Jacarezinho, PR. Educação física / Atividade Física Palavras-chave: fatores de risco, estilo de vida, nível de atividade física. Resumo: Fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares tendem a agregar-se, potencializando desta forma a geração de um efeito de multiplicação de risco de desenvolvimento de doenças crônico degenerativas. Alguns desses fatores estão relacionados ao estilo de vida e são receptivos a mudanças. Nesta perspectiva, o objetivo da presente pesquisa foi investigar quais fatores de estilo de vida se relacionam com a agregação de fatores de risco em adolescentes. Foram realizadas avaliações do nível de atividade física, hábitos alimentares, antropometria, pressão arterial e analises sanguíneas em 113 adolescentes de ambos os sexos da cidade de Jacarezinho. Os resultados demonstraram que 3% dos adolescentes apresentam síndrome metabólica e que o nível de atividade física está associado ao desenvolvimento dos fatores de risco que compõe a síndrome metabólica. Pode-se concluir as mesmo indivíduos jovens já apresentam alterações metabólicas que estão associadas a hábitos de estilo de vida insalubres. Introdução A síndrome metabólica se caracteriza pela coexistência no mesmo sujeito de pelo menos três dos seguintes fatores: elevada distribuição de gordura abdominal, hipertrigliceridemia, baixo HDL-C, hipertensão arterial e glicemia em jejum elevada (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2005). Estudos em adultos evidenciam que o exercício físico e a dieta balanceada têm uma benéfica influencia nos lipídeos, lipoproteínas e pressão arterial (KRANZ et al., 2007), contudo, em crianças e adolescentes as evidências sobre os benefícios associados à pratica de atividade física são inconclusivos (ANDERSEN et al., 2003). Assim, do ponto de vista preventivo, é especialmente importante investigar quais fatores de estilo de vida se relacionam com a agregação de fatores de risco, elegendo-os, como alvos das estratégias de prevenção. Neste sentido, este estudo se propôs a verificar como o estilo de vida está associado ao desenvolvimento de síndrome metabólica em adolescentes da cidade de Jacarezinho, PR.
Materiais e métodos A amostra foi aleatória, composta por 113 crianças e adolescentes de ambos os sexos, da Escola Estadual Imaculada Conceição, matriculados nas 6ª, 7ª e 8ª series do período matutino, sendo 46 meninos e 67 meninas. Este estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa com seres humanos da UENP. O nível de atividade física foi avaliado por medida objetiva através do monitor de atividade física da marca ACTIGRAPH. O consumo alimentar foi avaliado pelo questionário de Chiara e Sichieri (2001). A estatura total foi mensurada utilizando um estadiômetro vertical portátil, escalonado em 0,1 cm e a massa corporal foi mensurada utilizando uma balança digital portátil, com resolução de 100g. A circunferência de cintura foi mensurada no ponto médio entre o ultimo arco costal e a crista ilíaca. Pressão arterial foi mensurada através do método auscultatório, onde a PAS era definida como o som de Korotkoff fase 1 e PAD como o Korotkoff fase 5, após o individuo permanecer sentado, em repouso por 5 minutos. Para as análises sangüíneas os sujeitos foram instruídos com uma semana de antecedência sobre alguns cuidados que deveriam tomar para participarem da coleta sanguínea (SBC, 2001). Para determinação das concentrações de HDL-C, triglicérides e glicemia em jejum foram usados o método enzimáticocolorimétrico automatizado. A coleta foi realizada por profissionais devidamente treinados do Laboratório Ourilab da cidade de Ourinhos, SP. Os critérios para diagnóstico de síndrome metabólica foram: obesidade abdominal (circunferência da cintura > 90 th ): hipertensão (PAS ou PAD 90 th ): baixo HDL-C (< 40 mg/dl), hipertrigliceridemia (>110 mg/dl) e hiperglicemia em jejum (> 100 mg/dl). Síndrome metabólica foi diagnosticada quando o sujeito apresentava 3 ou mais dos 5 componentes agregados (KRANZ et al., 2007). Para descrição e freqüência dos dados foi utilizado o software SPSS, versão 13.0. Para correlação de hábitos alimentares e nível de atividade física com fatores de risco foi utilizado o método de correlação de Pearson, com significância de p<0,05. Resultados e Discussão A descrição dos dados estão apresentados na tabela 1. Podemos observar nas descrições, que os meninos apresentam nível de atividade física maior que as meninas. Porém em relação a fatores de risco, apenas o IMC e níveis de HDL-C apresentam-se com menores valores nos meninos. Tabela 1: Descrição dos dados entre meninos e meninas. MENINOS MENINAS Média DP Média DP Idade 12,7 0,87 12,9 0,97 Ativ.física 446,9 191,14 276,03 164,03 Hab.alimentar 147,9 75,82 176,25 92,86 PAS 100,8 11,70 97,91 9,77 PAD 60,6 10,62 58,65 9,83 Cintura 68,7 8,85 66,59 8,66 IMC 20,05 3,96 20,29 3,97 Glicemia 82,40 9,0 80,54 7,74
HDL-C 51,60 12,09 53,68 13,10 Triglicérides 76,03 42,09 64,91 35,62 Média e desvio padrão (DP). Em relação à prevalência de fatores de risco, 9,2% dos alunos avaliados apresentam-se com obesidade, 14,7% apresentam-se com sobrepeso, 70,6% com peso normal e 5,5% abaixo do peso. Para PAS, 4,3% dos meninos e 1,5% das meninas apresentam valores acima do percentil 90 th. Quanto à glicemia em jejum, apenas 4,3% dos meninos apresentam valores maiores que 100mg/dL, já para as meninas, nenhuma apresentou glicemia em jejum acima do ponto de corte. Para triglicérides, 19,6% dos meninos e 7,6% das meninas apresentam valores acima de 110mg/dL. A prevalência de indivíduos com HDL-C menor que 40mg/dL foi de 13,3% nos meninos e 18,2% nas meninas. A prevalência de síndrome metabólica entre os participantes do presente estudo foi de 3%. Segundo Neutzling et al., (2000), a obesidade na adolescência vem aumentando nos últimos anos, atingindo índices de 10,6% nas meninas e 4,8% nos meninos. Em nosso estudo, a prevalência de obesidade são semelhantes ao estudo de Monteiro et al., (2000) realizado na cidade de Pelotas, que encontram 9% de obesidade. Tendo em vista que estes componentes da síndrome metabólica apresentam uma grande influência do estilo de vida, optou-se por associar o hábito alimentar (HA) e o nível de atividade física dos adolescentes com os fatores de risco avaliados. Os coeficientes de correlação entre as variáveis são apresentados nas tabela 2 e 3. Tabela 2: correlação entre HA e NAF com fatores de risco em meninas PAS Cintura Glicemia HDL-C Triglicérides Hab.Alimentar 0,162 0,044 0,037 0,165-0,74 NAF 0,052-0,204-0,272 0,073 0,085 Tabela 3: correlação entre HA e NAF com fatores de risco em meninos PAS Cintura Glicemia HDL-C Trigliceris Hab.Alimentar 0,141 0,106 0,108 0,066-0,068 NAF -0,140-0,300-0,106 0,445* -0,261 *Correlação significante de p<0,05 Hábitos alimentares e triglicérides em meninas apresentaram correlação negativa, porém sem significância estatística. Quanto ao NAF, foi encontrada correlação negativa, porém sem significância, com circunferência da cintura e glicemia, demonstrando que quanto maior o NAF das meninas, menores será os valores destes fatores de risco. Nos meninos em relação ao NAF, foram encontradas correlações negativas com PAS, cintura, glicemia e triglicérides, demonstrando que quanto maior o NAF menor será os valores destes fatores de risco citados, porém não houve significância em linguagem estatística. Contudo, em relação ao NAF e HDL-C, os meninos apresentaram significância estatística, demonstrando uma associação positiva entre atividade física e aumento dos níveis de HDL-C. Estudos mostram forte associação entre obesidade e inatividade física, bem como associação inversa entre atividade física, índice de massa
corpórea (IMC) e circunferência da cintura (GUSTAT et al., 2002). Para Dietz (1993), a obesidade em adolescentes resulta do desequilíbrio entre atividade física reduzida e excesso de consumo de alimentos calóricos. Conclusões De acordo com os resultados obtidos, pode-se concluir que a síndrome metabólica vem se tornando cada vez mais constante em crianças e adolescentes. Desta maneira, a intervenção de medidas preventivas quanto a um estilo de vida mais saudável com a prática de atividades físicas regularmente e hábitos alimentares saudáveis devem ser inseridos no cotidiano de crianças e adolescentes visando à diminuição em longo prazo de adultos com fatores de risco para problemas cardiovasculares. Agradecimentos Ao Conselho nacional do Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq), e ao Laboratório de Análises Clínicas OURILAB de Ourinhos. Referências Andersen, L.B.; Wedderkopp, N.; Hansen, H.S.; Cooper, A.R.; Froberg, K. Biological cardiovascular risk factors cluster in Danish children and adolescents: the European Youth Heart Study. Preventive Medicine. 2003, 37, 363-367. Chiara, V. L.; Sichieri, R. Consumo alimentar em adolescentes. Questionário simplificado para avaliação de risco cardiovascular. Arq. Bras. Cardiol. 2001, 77, 332-336. Dietz, W. H. Factors increasing risk of obesity and potencial for prevention overweight in childhood. In: Workshop in Prevention of Obesity Population at Risk, Etiologic Factors and Intervention Strategies, Baltimore, National Institutes of Health/ National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases, 1993. p.64. Gustat, J.; Srinivasan, S.R.; Elkasabany, A.; Berenson, G.S. Relation of selfrated measures of physical activity to multiple risk factors of insulin resistance syndrome in young adults: the Bogalusa Heart study. J. Clin. Epidemiol. 2002, 55, 997-1006. Kranz, S.; Mahood, L.; Wagstaff, D. A. Diagnostic criteria patterns of U. S. children with metabolic syndrome: NHANES 1999-2002. Nutrition Journal. 2007, 6, 1-9. Monteiro, P.O.A.; Victora, C.G.; Barros, F.C.; Tomasi, E. Diagnóstico de sobrepeso em adolescentes: estudo do desempenho de diferentes critérios para índice de massa corporal. Rev Saúde Pública. 2000, 34, 506-13. Neutzling, M.B.; Taddei, J.A.A.C.; Rodrigues, E.M.; Sigulem, D.M. Overweight and obesity in Brazilian adolescents. Int J Obes Relat Metab Disord. 2000, 24, 869-74. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGICA. III Diretrizes Brasileiras sobre dislipidemias e diretriz de prevenção da aterosclerose do departamento de aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2001, 77, 1-48.