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Edição número 1870 segunda-feira, 25 de julho de 2011 Fechamento: 08h45 Veículos Pesquisados: Clipping CUT é um trabalho diário de captação de notícias realizado pela equipe da Secretaria Nacional de Comunicação da CUT. Críticas e sugestões com Leonardo Severo (leonardo@cut.org.br) Isaías Dalle (isaias@cut.org.br) Paula Brandão (paula.imprensa@cut.org.br) Luiz Carvalho (luiz@cut.org.br) William Pedreira (william@cut.org.br) Secretária de Comunicação: Rosane Bertotti (rosanebertotti@cut.org.br)

Estadão Proposta da Fiesp é criticada pelas centrais Para representantes da indústria, medida reduziria custos da mão de obra em até 20% Marcelo Rehder (Economia) 24/07/11 A proposta da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), de desonerar a folha de pagamento das empresas do setor dos 20% de contribuição ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), provocou críticas das centrais sindicais e dúvidas no governo. A entidade argumenta que a medida reduziria em até 20% os custos de mão obra, aumentando a competitividade da indústria brasileira. Segundo a Fiesp, a desoneração da contribuição patronal ao INSS reduziria em até 1,81% os preços finais do produto brasileiro, com reflexos positivos sobre o nível de produção, emprego e arrecadação tributária. "Para que efetivamente tenhamos aumento de competitividade, é importantíssimo que a desoneração não seja compensada com aumento de custos para a indústria", afirma o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. Isso significa que a compensação não poderia ser na forma de tributação sobre lucro nem qualquer outra forma de tributação da atividade industrial, como por exemplo aumento da alíquota do PIS/Cofins sobre o faturamento das empresas. Também não poderia ser compensada pela recriação de tributo sobre transações financeiras. Na verdade, a proposta da indústria é de que a conta seja repassada para os setores financeiro, de serviços e comércio, que arcariam com um aumento na alíquota do PIS/Cofins. Sem contrapartida. Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, não tem cabimento a proposta da Fiesp. O primeiro problema, segundo ele, é que se estaria fazendo com que toda a sociedade pagasse para uma parcela ter ganhos, que é a indústria. Sem contar que a Previdência Social não pode ficar ao sabor da economia ou do faturamento das empresas. Outro problema seria a falta de contrapartida das indústrias. O sindicalista afirma que questionou diversos representantes da indústria sobre o assunto, sem receber resposta afirmativa de nenhum deles. "Eu pergunto se eles topariam escrever que a cada 1% de redução da contribuição do setor à Previdência haveria a contrapartida, por exemplo de um aumento de 1% no gasto com a folha de salários ou de contração de mão de obra", relata o presidente da CUT. "Mas não dá para escrever isso, né Artur?", foi a resposta mais frequente, segundo o sindicalista. Para o diretor do departamento de competitividade e tecnologia da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, essa preocupação não deveria existir entre os sindicalistas. "As centrais sindicais deveriam estar preocupadas é com o aumento da competitividade das empresas brasileiras e a garantia do emprego, porque hoje estamos exportando postos de trabalho."

Já o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, diz que tem discutido com o governo a ideia da Fiesp de tirar a contribuição da Previdência da folha de salários e passar para o faturamento das empresas. "Estamos de acordo que a alíquota seja menor para a indústria e seja maior para os bancos, comércio e serviços", afirma o sindicalista. "Mas alíquota zero para a indústria não dá para a gente aceitar", ressalta. Segundo ele, a ideia do governo é aliviar um pouco a indústria de transformação, mas não eliminar a contribuição. "O governo ficou de apresentar os números e até agora nada. Na última reunião que tivemos, deu a impressão de que eles têm muitas dúvidas de tirar esse encargo da folha, passar para o faturamento e isso não funcionar." O presidente da Fiesp alega que a eliminação da contribuição patronal ao INSS é uma medida importante para aproximar o custo da mão de obra industrial brasileira do custo em países com os quais competimos. "Ela reduziria a disparidade existente na contribuição dos setores da economia à arrecadação tributária", afirma Skaf. "Não podemos esquecer que a indústria de transformação é responsável por 16,6% do PIB, mas sua participação na arrecadação total é de 36,7%. Além disso, é o setor que mais contribui para a arrecadação da Previdência Social." Governo libera arquivos para caça a torturadores (Política) O Ministério da Justiça liberou totalmente o acesso ao Arquivo Nacional para 12 representantes de perseguidos políticos e familiares de mortos e desaparecidos durante o regime militar, que, segundo o governo, procuram identificar torturadores e assassinos da ditadura. Os pesquisadores são ex-ativistas ou parentes de atingidos pelo período autoritário. O pedido de acesso foi feito há cerca de um mês pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, entidade civil, ao ministro. O trabalho começará na próxima semana e não poderá sofrer nenhuma restrição do Estado. A decisão consta da Portaria 1.668, de 20 de julho de 2011, do ministro José Eduardo Martins Cardozo, publicada no Diário Oficial de quinta-feira. Ex-ministro defende punição contra violações da ditadura (Política) Para o ex-ministro de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, o Brasil vai ter que se defrontar com a necessidade de esclarecer e punir as violações de direitos humanos ocorridas no período da ditadura militar. Ele não acredita, porém, que se isso se dará por meio de rupturas e condenações à prisão de pessoas envolvidas, como ocorreu em outros países do continente. Na avaliação de Vannuchi, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, a ditadura foi derrotada por um leque amplo de forças políticas, o que tem levado o País a conviver há mais de 20 anos com forças do passado. Trabalhando atualmente como assessor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Instituto da Cidadania, ele

também colabora com a presidente Dilma Rousseff nas negociações em torno do projeto que cria a Comissão da Verdade. "O Brasil não tem a alternativa de não mexer. As alternativas reais que existem são fazer isso logo ou adiar para mais tarde. A segunda hipótese significaria o prolongamento dessa mistura entre passado e presente que vivemos nos governos de coalizão desde 1988", disse. Brasil é nº 1 em encargos trabalhistas Estudo da Fiesp confirma posição do País, onde indústrias gastam com contribuições 32,4% dos custos da contratação de empregados Marcelo Rehder (Economia) Confirmado: o Brasil é mesmo o campeão mundial dos encargos trabalhistas. Levantamento inédito da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), feito com base em dados compilados pelo Departamento de Estatística do Trabalho dos Estados Unidos (BLS, sigla em inglês de Bureau of Labor Statistics), mostra que os encargos já correspondem a praticamente um terço (32,4%) dos custos com mão de obra na indústria de transformação brasileira. Trata-se do valor mais alto de toda a amostra, 11 pontos porcentuais superior à média dos 34 países estudados pelo BLS (21,4%). Na Europa, por exemplo, o peso dos encargos no custo da mão de obra é de apenas 25%. Quando comparado aos países em desenvolvimento, com os quais o Brasil compete comercialmente em escala mundial, a posição do País é ainda pior. Os encargos são 14,7% dos custos em Taiwan, 17% na Argentina e Coreia do Sul e 27% no México. Apesar de o título brasileiro de campeão mundial já estar consolidado há um bom tempo no debate econômico, faltavam informações sobre a representatividade dos encargos trabalhistas no custo da mão de obra em um conjunto de países. No Brasil, os encargos sobre a folha salarial são compostos principalmente pelas contribuições patronais à Previdência Social. No caso da indústria de transformação, a contribuição ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), sozinha, corresponde a 20% da folha de salários. Há também a contribuição por Risco de Acidente de Trabalho, o Salário Educação e contribuições ao Incra, Sesi, Senai e Sebrae, que correspondem a até 8,8% da folha de salários. Somando-se as contribuições do empregador ao FGTS, indenizações trabalhistas e outros benefícios, como o 13.º salário e o abono de férias, o total de encargos chegou a 32,4% dos gastos com pessoal da indústria em 2009, ano-base do estudo do BLS. Para a Fiesp, a indústria brasileira enfrenta uma perda de competitividade que tem levado a um quadro de desindustrialização do País. "Os encargos incidentes na folha de salários traduzem-se em encarecimento da mão de obra e, consequentemente, dos custos de produção de bens e serviços, afetando a competitividade local", diz o diretor do departamento de competitividade e tecnologia da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, que coordenou o trabalho. "O problema é mais grave na indústria de transformação, cujos bens em geral competem em mercados com escalas globais."

Fora do pacote. O estudo da Fiesp é conhecido no momento em que o governo se prepara para lançar a nova versão da política industrial brasileira, chamada de Política de Desenvolvimento Competitivo. A expectativa dos empresários do setor era de que o pacote incluísse medidas para desoneração da folha de salários da indústria de transformação. No entanto, poucos ainda apostam nisso. A equipe econômica já deu sinais claros de que não deverá incluir a desoneração na proposta de política industrial a ser divulgada no dia 2 de agosto. O projeto deverá ser apresentado separadamente em outro momento. De acordo com Roriz Coelho, a situação da competitividade da indústria brasileira ficou ainda mais dramática por causa dos "graves efeitos da excessiva valorização" do real ante o dólar. Segundo ele, entre 2004 e 2009, o valor em dólares dos encargos trabalhistas no Brasil aumentou 119,5%, muito acima do que ocorreu na maior parte dos países. Na Coreia, a alta foi de apenas 1,2%, enquanto em Cingapura não chegou a 30%. Porém, como o custo em dólar da mão de obra no País ainda é relativamente baixo em comparação com a maioria das economias avaliadas, o valor dos encargos no Brasil, de US$ 2,70 a hora, é inferior à média dos 34 países (US$ 5,80 a hora). "O valor em dólares dos encargos incidentes em uma hora da mão de obra industrial no País é inferior ao da maioria das economias desenvolvidas, mas supera o de nações em desenvolvimento e mesmo de algumas desenvolvidas, como Coreia do Sul", argumenta o diretor da Fiesp. Folha de S.Paulo Haddad dá a largada em agenda de "prefeitável" Ministro avisa Dilma oficialmente que vai pleitear candidatura em 2012 Após férias em Havana, titular da Educação vai usar os finais de semana para minar a resistência da militância do partido Ana Flor e Vera Magalhães (Poder) O ministro Fernando Haddad (Educação) irá iniciar em agosto sua agenda de précandidato à Prefeitura de São Paulo. Sem se afastar do ministério, Haddad decidiu concentrar atividades nos finais de semana na capital. Na semana passada, o ministro comunicou oficialmente a presidente Dilma Rousseff que é pré-candidato. Combinou que tirará esta semana de férias -vai para Havana, em Cuba- e, na volta, começará a participar de eventos em São Paulo. Sua primeira tarefa será quebrar a resistência de seu partido, o PT, para aceitá-lo como candidato. Para isso, passará a ter encontros com dirigentes partidários. O primeiro deles foi com o presidente estadual do partido, Edinho Silva, na semana passada, em Brasília. A movimentação foi acertada com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva há duas semanas, quando os dois participaram do congresso da UNE, em Goiânia.

Lula aproveitou o evento para "lançar" a candidatura de Haddad. Elogiou o ministro, que já ocupava a pasta da Educação em seu governo, e explicitou publicamente que espera vê-lo candidato. Em privado, Lula deu um ultimato a Haddad. Pediu que ele se movimente politicamente na capital para angariar apoios ao seu nome. Há menos de um mês, Haddad assumiu publicamente que pretende disputar a eleição no próximo ano. Com a ajuda de um grupo de vereadores, Haddad deve iniciar o périplo em encontros com as zonais do partido. A intenção é obter apoios nas bases da legenda. Esses encontros estão sendo chamados internamente de "caravanas". Os primeiros acontecem entre os dias 5 e 7 de agosto, nos bairros de Sapopemba, Tatuapé e São Miguel Paulista, um a cada dia. Será o primeiro "teste de povo" dos pré-candidatos. Por isso mesmo, dirigentes petistas que conversaram com o ministro recentemente têm dúvida se ele vai querer fazer essa exposição pública antes de costurar nos bastidores sua précandidatura e antes de deixar o governo. Já a ex-prefeita e senadora Marta Suplicy está com a estrutura da pré-campanha montada, inclusive com coordenadores informais -os deputados federais Candido Vaccarezza, líder do governo na Câmara, e João Paulo Cunha, que, apesar de ter sua base eleitoral em Osasco, também articula na capital. Marta pretende usar os encontros das zonais para mostrar força. Para isso, seus aliados estão procurando líderes das comunidades e representantes de sindicatos e entidades para pedir apoio. TERRENO SEGURO Eventos na área de educação, em que receberá apoio de entidades, são o terreno mais seguro para Haddad iniciar a caminhada política. Em agosto, lançará uma escola técnica na zona norte. Lula, principal cabo eleitoral do ministro, não deve participar das agendas num primeiro momento. Ele deverá atuar nos bastidores, para evitar a realização de prévias. Segundo petistas ouvidos pela Folha, a musculatura de Haddad até outubro será o termômetro a definir se haverá ou não disputa. Caso Marta e os demais candidatos decidam enfrentar a indicação de Lula, há quem duvide que o titular da Educação se aventure a decidir no voto. O terceiro na lista do PT para 2012, o ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia), é considerado quase fora do páreo. Dilma não deixaria dois ministros saírem do governo antes de um ano para disputar entre si. Mercadante -cuja atuação vem sendo elogiada pela presidente- ficaria no governo e buscaria visibilidade para ser candidato ao governo de São Paulo em 2014. PT vê chance de vencer em cinturão de classe C (Poder)

Votação de Dilma em bairros anima partido Em 2012, o PT concentrará esforços para tentar crescer no eleitorado do chamado "cinturão intermediário" da cidade, onde está a classe média ascendente. O cinturão é formado por bairros que não são nem centrais (onde a prevalência é tucana) nem da periferia extrema (já "fidelizada" ao PT). O que anima o partido a investir nessas regiões são mapas comparativos das últimas eleições. Sem vencer na capital desde o segundo turno de 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva bateu José Serra no segundo turno, o partido experimentou recuperação com Dilma Rousseff, que teve 46% na cidade. O crescimento se deu justamente graças ao ganho de musculatura em bairros como Ermelino Matarazzo, Vila Prudente e Vila Maria. Em alguns deles, o PT conseguiu inverter a "cor" do mapa: do azul do PSDB para o vermelho. Em outros, os tucanos seguem na frente, mas a distância diminuiu. O eleitorado nesses bairros é, predominantemente, de classe média baixa e conservador, e "rompeu" com o partido após a gestão Marta Suplicy, segundo a avaliação da cúpula petista. Já foi malufista, votou em Gilberto Kassab em 2008, mas, segundo avaliação do PT, ainda não se definiu como tucano. DEMANDAS O partido traduz da seguinte forma o sentimento antipetista que predominou nos bairros de transição após a gestão Marta: "Nós pagamos os impostos, e o PT gasta na periferia". O maior exemplo usado nos diagnósticos internos é o dos CEUs (Centros Educacionais Unificados). Construídos prioritariamente na periferia, eles deixaram de atender esses bairros. "O morador da Vila Prudente tem de pagar uma escola particular para os seus filhos e ela é pior que o CEU, que é público", explica um cacique petista. Para saber quais são suas demandas e construir um discurso que permita crescer no cinturão, o PT vai fazer uma pesquisa focada nesse eleitorado. Já se sabe que um dos eixos do discurso deve ser educação profissionalizante, justamente uma das principais bandeiras do PSDB na gestão Geraldo Alckmin. Indústria do país perde de concorrentes Indicador mostra que Brasil foi o único, entre 13 nações, a apresentar encolhimento do setor no mês passado Produção industrial brasileira sofre com a forte valorização do real, que é resultado da elevada taxa de juros Érica Fraga (Poder)

A indústria brasileira tem apresentado o pior desempenho entre os grandes mercados emergentes. Segundo analistas, a forte valorização do real faz com que os bens fabricados no Brasil fiquem mais caros em relação ao que é produzido fora. Isso torna o setor industrial do país menos competitivo em relação a seus pares. Um indicador baseado em entrevistas feitas com executivos apontou uma tendência de contração do setor no país em junho. O chamado Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) tenta prever o comportamento da indústria com base em informações como nível de estoques, ritmo de novas encomendas e contratações. Entre as 13 nações emergentes para o qual é calculado, o Brasil foi o único a registrar queda no mês passado, embora outros países tenham exibido tendência de desaceleração. Na média dos últimos 12 meses, o Brasil também teve expansão mais fraca que a de outras nações. Para Fabio Akira, economista-chefe do JP Morgan no Brasil, a fraqueza da indústria medida pelo PMI reflete, principalmente, o desempenho dos setores exportadores, mais afetados pelo câmbio valorizado. "Isso contribui para uma redução da produção industrial", diz Constantin Jancso, economista do HSBC. O HSBC, em parceria com a consultoria Markit, calcula o Índice de Gerentes de Compras para um grupo de mercados emergentes (conhecido pela sigla EMI, em inglês). Dados de produção industrial confirmam a debilidade relativa do Brasil. Entre os dez emergentes que estão no G20 (grupo que reúne importantes economias), a produção industrial brasileira em maio só teve desempenho melhor que a da África do Sul. Registrou expansão em relação ao mesmo mês de 2010 de 2,7%, contra 13,3% da China, 5,6% da Índia, 4,1% da Rússia e 6,3% da Argentina. Segundo o economista Claudio Frischtak, da InterB Consultoria, o real forte prejudica a indústria, mas aumenta o poder aquisitivo da população. Produtos importados estão mais baratos. No longo prazo, ele acredita que o câmbio valorizado -resultado em parte de juros altos que atraem capitais de fora- limita o crescimento. Economistas ressaltam que conter despesas públicas -que seguem em patamar elevado- seria o canal ideal para uma redução dos juros, contribuindo para a recuperação da competitividade. O governo deve lançar, em agosto, medidas de estímulo à exportação de produtos manufaturados.

Segundo especialistas, incentivos pontuais ajudam setores específicos. Mas não atacam a perda de competitividade do setor, também afetado pela alta carga tributária e excesso de burocracia. Crescimento do consumo não veio acompanhado da produção Eduardo Costa Pinto (Poder) A indústria brasileira está numa encruzilhada, pois o crescimento econômico dos últimos anos possibilitou que ela crescesse em termos de produção, mas não o suficiente para acompanhar a expansão da economia como um todo. Recentemente, pós-crise internacional, inclusive, ela tem perdido posições na corrida devido ao aumento das importações, sobretudo as do dragão chinês, que se tornou a "fábrica do mundo". Economistas têm usado várias designações para o processo (desindustrialização, doença holandesa); outros defendem que isso não seria problema, pois a substituição da indústria por serviços seria uma tendência vista em países desenvolvidos. Independentemente de tomar uma ou outra posição, faz-se necessário apresentar a indústria de transformação como ela é hoje. Houve perda de participação desse setor no PIB (soma de bens e riquezas produzidas do país), de 17,1% no 3º trimestre de 2008, para 15,6% no 1º trimestre de 2011; a indústria importou mais do que exportou, o que fez seu deficit comercial pular de US$ 4 bilhões em 2009 para US$ 30,4 bilhões em 2010; e, de forma geral, importados ganharam mais participação no consumo interno. Em suma, o crescimento do consumo no país não veio acompanhado do aumento da produção nacional, o que faz com que boa parte da renda brasileira se destine aos produtos importados. Esse "vazamento" é compensado em parte pela forte entrada de dólares, causada principalmente pela busca de investidores estrangeiros por rentabilidade maior para seu dinheiro, já que as taxas de juros no Brasil estão entre as mais altas do mundo. Além disso, há muito dinheiro chinês entrando no país, seja por meio de investimentos diretos ou por importação das commodities produzidas no Brasil. Essa dinâmica da indústria é fruto da própria expansão da economia e, sobretudo, de sua perda de competitividade que pode ser explicada por questões tributárias, de infraestrutura, taxa de juros e câmbio. Tudo isso é importante, mas o binômio juro-câmbio urge. Se já era muito difícil concorrer com as manufaturas chinesas, com o atual nível dos juros e do câmbio é praticamente impossível. EDUARDO COSTA PINTO é pesquisador do Ipea e doutor em economia pela UFRJ.

Valor Econômico Cor da pele tem influência na profissão, aponta IBGE Arícia Martins e Luciano Máximo Pesquisa inédita realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que o trabalho é o local onde as pessoas acreditam que a raça ou cor têm a maior influência na relação social entre as pessoas. A resposta foi dada por 71% dos entrevistados de uma amostra de cerca de 15 mil domicílios, coletada em 2008 em cinco Estados brasileiros (Amazonas, Paraíba, São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso), além do Distrito Federal. Com o objetivo de classificar o peso dos fatores cor e raça em diferentes situações da vida do brasileiro, a "Pesquisa das Características Étnico-raciais da População: um Estudo das Categorias de Classificação de Cor ou Raça" ouviu pessoas com 15 anos ou mais, escolhidas por sorteio. Cada entrevistado podia apontar três alternativas para questões sobre trabalho, relação com a Justiça e polícia, convívio social, escola, repartições públicas, atendimento à saúde e matrimônio. Depois de trabalho, as relações sociais mais citadas foram Justiça/polícia, escolhida por 68,3% dos pesquisados pelo IBGE, e convívio social, item mencionado por 65% das pessoas ouvidas. Para especialistas consultados pelo Valor, a indicação de que cor e raça têm influência relevante em várias situações da vida do brasileiro reflete uma realidade há muito conhecida: o Brasil ainda é um país preconceituoso, sem verdadeira integração racial, o que é sentido principalmente no trabalho - espaço social que, assim como a escola, é o que mais envolve o cotidiano do cidadão. Na opinião do cientista político Daniel Cara, o estudo do IBGE só mostra em termos de opinião o que já é verificado de forma objetiva. "A questão racial pesa negativamente para os negros nos aspectos-chave para a construção da qualidade de vida e questão social", avalia. "A opinião dada na pesquisa só corrobora que é preciso tomar medidas no sentido de superar o preconceito." A violência contra os negros é tão gritante, diz Cara, que acaba superando discussões sobre o preconceito sofrido no emprego e na escola. "Desde o mercado de trabalho passando pela educação, e chegando especialmente nas relações que evidenciam violência e criminalização, no fundo a vida cotidiana mostra que o Brasil é um país que ainda precisa evoluir muito para superar a questão racial", afirma. Maria Julia Nogueira, secretária de combate ao racismo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), lembra que, nos últimos anos, o país "avançou muito" nas políticas de enfrentamento da discriminação racial, mas o preconceito ainda pode ser percebido nas estatísticas. "Pesquisas mostram, invariavelmente, que a disparidade entre trabalhadores negros e não negros é enorme, principalmente nas questões salariais e de ocupação de cargos de chefia", afirma a sindicalista. Recente relatório produzido pelo Instituto Ethos e pelo Ibope, a partir de um levantamento que colheu a opinião de mais de 620 mil empregados de 109 empresas grandes, revelou que 67,3% dos cargos de direção dessas companhias são ocupados por brancos, enquanto os negros representam 31% dos principais cargos da elite empresarial.

Mesmo com três diplomas, incluindo uma graduação em literatura inglesa pela universidade Westminster College, de Londres, o advogado João Antonio Alves reclama da dificuldade de conseguir emprego e diz que "já cansou" de sofrer preconceito racial "velado" em processos seletivos, principalmente em empresas de grande porte. "Dizer que o Brasil é um país sem preconceitos, que não há racismo por aqui, é chover no molhado. Pegue as grandes corporações: quantos chefes são de cor? Tenho três faculdades e sofri muito para me colocar no mercado numa posição à altura da minha capacidade, mas hoje trabalho por conta e estou muito bem profissionalmente", conta Alves. Na opinião de Antonio Guercio, também advogado, associar cor e raça a questões profissionais é um sinal claro de que "o preconceito existe e faz parte do nosso dia a dia". "Uma pessoa dizer que a cor tem peso no seu trabalho é obviamente uma percepção negativa, porque mostra que a sociedade brasileira ainda mantém arraigados certos valores da época do Brasil escravocrata. Ou seja, quando falamos de negros continuamos dando importância aos valores externos e não aos valores intrínsecos de cada cidadão", diz Guercio. "É um dado um pouco chocante", diz a pesquisadora do IBGE Ana Lúcia Saboia em alusão à pesquisa sobre raça e cor. Ela destaca, no entanto, que o instituto não pôde chegar a outras conclusões a partir das respostas encontradas no estudo, mas que pretende aprofundar melhor o tema em futuros levantamentos. "Estamos estudando como essa questão da cor e da raça está presente no debate público do país. Também estamos preocupados em fazer com que o nosso sistema de dados esteja sempre adaptado à realidade brasileira. Esse é um primeiro estudo para vermos como será daqui para frente", diz Ana Lúcia. 'Tenho compromisso com o controle da inflação', afirma Dilma Claudia Safatle Ao determinar, no início do governo, que a economia teria que ter um "pouso suave", com desaceleração paulatina do crescimento e manutenção de uma "razoável" oferta de emprego, a presidente Dilma Rousseff delimitou o raio de ação do Banco Central para o controle da inflação. "Desde o início fizemos uma pauta clara: controlar a inflação e, para isso, fazer um ajuste na nossa política de gastos com custeio e investimentos e, também, cumprir o superávit primário que nós nos comprometemos a fazer", disse a presidente, em conversa com um pequeno grupo de jornalistas. "Fazer a convergência da inflação para a meta de 4,5% no curtíssimo prazo seria danoso. Derrubaria o crescimento econômico para zero e não resolveria a inflação", argumentou a presidente, explicando que uma contração da atividade econômica para derrubar os preços acabaria por comprometer o aumento da oferta, necessário para que o país cresça sem pressões inflacionárias. Ela chamou a atenção para o desempenho fiscal dos primeiros cinco meses do ano, quando o governo central produziu superávit primário de R$ 45,5 bilhões, mais da metade do compromisso para o ano -R$ 81,7 bilhões.

"Estamos com sobra e não vamos gastar essa sobra, porque tenho compromisso com o controle da inflação", garantiu. "Estamos usando todos os instrumentos que todos concordam que têm ser usados para conter a inflação. E estamos tentando isso com algum sucesso." A partir do diagnóstico de que a inflação, cuja aceleração já vinha do segundo semestre de 2010, era resultado do descasamento entre a oferta e a demanda, caberia ao BC, através do arsenal de política monetária, conter a expansão do consumo sem "derrubar" o crescimento nem provocar desemprego. Frente a esse quadro, o Banco Central teve que optar por uma política de aumento gradual da taxa de juros e pelo uso de instrumentos macroprudenciais para controlar a expansão do crédito em setores pré-determinados. "Acho que o BC tem tomado as medidas de forma correta, usando a taxa de juros como principal mecanismo, mas sem deixar de usar instrumentos macroprudenciais", afirmou Dilma. Sem se comprometer com prazo nem garantir que fará a convergência da inflação para a meta em 2012 a qualquer preço, ela disse: "Espero que a convergência se dê no menor prazo possível". Outra informação importante dada pela presidente na entrevista refere-se à taxa de câmbio. Apesar das recorrentes declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que o governo usará um arsenal de medidas para conter a apreciação do real sobre o dólar, Dilma foi clara ao descartar, no momento, medidas mais ousadas nessa direção. "Você acha que a gente pode fazer alguma coisa num momento em que não se sabe se o pessoal está brincando na beira do abismo ou se, de fato, está criando uma rede de proteção para não cair no abismo?", indagou a presidente. Embora a situação dos EUA, hoje, seja dramática, diante da resistência do Congresso em aumentar o teto da dívida pública, Dilma não acredita na possibilidade de um default americano. "É uma coisa tão absurda, mas nunca se sabe da irracionalidade da política." Na Europa, o último pacote de socorro iniciou um processo - "foi um Plano Brady para eles" -, mas tudo indica que não será suficiente. "De qualquer forma, o mundo está andando de lado. Deixa ele andar para frente ou para trás que a gente faz...", indicou a presidente. Ela vai anunciar, nos próximos dias, medidas que podem ajudar a indústria nacional a conviver com o câmbio apreciado por mais um tempo. São incentivos fiscais para a produção de manufaturados exportáveis, aumento da exigência de conteúdo nacional para a produção, compras governamentais direcionadas para estimular o índice de nacionalização e novos instrumentos de defesa comercial. A presidente não detalhou as medidas, que serão anunciadas dia 2 de agosto, "porque ainda não há decisão", mas adiantou que a desoneração da folha de salários das empresas - iniciativa prometida há cinco anos por Mantega - não fará parte desse novo programa de inovação. "A desoneração virá na sequência", disse. Não se espera que esses estímulos compensem, mesmo que parcialmente, a sobrevalorização brutal da taxa de câmbio para a indústria, mas, de qualquer forma, são medidas que podem reduzir um pouco o custo de produção no país. Há outras providências que o governo espera poder anunciar em breve, segundo a presidente. Uma delas, que está sendo estudada pelo Ministério da Educação, é aproveitar a crise nos EUA e Europa para atrair "cérebros" de fora para o país. O MEC avalia a possibilidade de criar uma carreira temporária para professores estrangeiros nas universidades brasileiras. Seria um contrato por cinco anos, renováveis por mais cinco.

Segundo Dilma, fala-se que a Nasa, a agência espacial americana, por exemplo, demitiu 4 mil engenheiros desde a crise de 2008. Esse programa seria a contraface externa para o Brasil sem fronteiras, que pretende enviar para as 30 melhores universidades do mundo 75 mil estudantes do país. Eles serão escolhidos entre os melhores do Enem, do ProUni e das faculdades privadas. O governo estima gasto de R$ 3 bilhões com a concessão de bolsas para manter esses estudantes no exterior. Setor imobiliário terá índice oficial de preços Fernando Travaglini O governo prepara dois novos indicadores para acompanhar a variação dos preços dos imóveis, que nos últimos anos apresentaram valorização acima do usual. Chamado até agora de Índice de Valorização de Imóveis, o primeiro deles, reconhecido como oficial, será elaborado pelo IBGE, em parceria com os bancos. Outro convênio foi firmado entre a Caixa Econômica Federal, a Fundação Getulio Vargas (FGV) e a Abecip, que representa as instituições que operam crédito imobiliário por meio da poupança, para apurar um segundo medidor para o segmento. A ideia surgiu da necessidade de o Banco Central (BC) acompanhar os preços de um dos setores mais importantes da economia, mas que não possui nenhum indicador. Sob recomendação do BC, a Caixa fechou acordo com a FGV para fornecer suas avaliações das moradias. Esse convênio foi recentemente ampliado, com a ajuda da Abecip, que fez um guarda-chuva, fechando contrato com todos os demais bancos associados. Outro medidor será desenvolvido pelo IBGE, em trabalho coordenado pelo Ministério da Fazenda, para ser o índice oficial do governo. Esse indicador será mais amplo. Além de procurar parcerias com todos os bancos, o IBGE vai usar seu conhecimento para fazer pesquisas de mercado. A FGV vai trabalhar apenas com a avaliação feita pelos bancos. A fundação montou um modelo em que os bancos, via Abecip, fornecem os laudos de avaliação feitos para contratos de financiamento imobiliário e a FGV constrói o índice. Teotonio Costa Rezende, diretor-executivo da Caixa, explica que é importante ter dois índices até para efeito de comparação. "Se os dois começarem a se distanciar demais, das duas uma: ou um está errado, ou os dois estão errados." Segundo Rezende, esse é um trabalho complexo e os primeiros resultados devem ser conhecidos apenas no fim do ano. "Sendo muito otimista, talvez em dezembro tenhamos algo mais concreto." Fora da Presidência, Lula monta estrutura paralela de diplomacia Cristiane Agostine No início de junho, em uma conversa com o presidente Hugo Chávez, o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva deu broncas e conselhos ao amigo venezuelano. Lula repassou a Chávez a reclamação de empresários brasileiros em relação à

dificuldade para importar coque de petróleo daquele país e o questionou sobre o programa habitacional "Gran Misión Vivienda Venezuela", a versão local do "Minha Casa, Minha Vida". No Palácio Miraflores, em Caracas, o petista colocou em xeque a meta ambiciosa do programa, de construir dois milhões de casas até 2017. No fim daquele mês, em encontro com o presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, o ex-presidente o orientou a mapear e cadastrar todas as famílias carentes do país, antes de pensar na criação de um programa como o Bolsa Família, carrochefe de sua gestão na Presidência. Em maio, Lula esteve no Panamá com o presidente Ricardo Martinelli. O petista aconselhou o governante, empresário varejista que ascendeu por fora da elite do país, como driblar resistências sociais. Recém-eleito presidente do Peru, Ollanta Humala também procurou o ex-presidente em busca de aconselhamento. Fora da Presidência, Lula tem feito de seu trabalho uma espécie de diplomacia paralela ao governo federal. O ex-presidente recebe chefes de Estado, empresários e é sondado até a intermediar o diálogo da oposição com governos estrangeiros, como na Venezuela. A seus auxiliares, o ex-presidente diz que está vivendo o melhor dos mundos: pode falar aquilo que deseja, sem os limites e obrigações diplomáticas que o cargo lhe impunha. Instituto Lula poderá reeditar Caravanas da Cidadania em países da África e da América Latina No primeiro semestre longe do Palácio do Planalto, Lula atua em três frentes: a montagem do Instituto Lula; a elaboração de um memorial com sua trajetória sindical e política e a empresa L.I.L.S. Palestras, Eventos e Publicações LTDA. O instituto será lançado até setembro e o projeto do memorial deve ficar pronto até o fim do ano. O museu está sendo negociado com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e deve ser instalado em um prédio a ser doado pela prefeitura. O Instituto Lula substituirá o Instituto Cidadania, atual local de trabalho do expresidente. Por enquanto, a entidade vai continuar na mesma casa onde funciona o Cidadania, no Ipiranga, na zona sul de São Paulo, mas os auxiliares do petista buscam uma sede maior. Do instituto, o ex-presidente comandará ações voltadas para a América do Sul e África. Uma das ideias estudadas, mas sobre a qual ainda não há consenso, é articular uma espécie de "Caravana da Cidadania" em países latino-americanos e africanos. Segundo o ex-presidente do Sebrae Paulo Okamotto, responsável pela organização do instituto, seria uma reedição internacional das caravanas feitas por Lula, então candidato à Presidência, no início dos anos 90. "Por que não fazer uma Caravana da Cidadania nesses países?", diz Okamoto. " Não podemos ficar daqui pensando e dizendo como eles têm que viver. Temos que fazer nesses países o que fizemos no Brasil, conhecer as classes políticas, as culturas, a realidade local", explica. A entidade já organizou dois debates sobre a África e a América Latina, com a participação de representantes do Banco Mundial, e pretende criar um conselho com especialistas, para elaborar programas. Empresários e governantes têm procurado o instituto para participar de projetos. Lula poderia atrair investidores àqueles países. "É importante fazer desses países grandes mercados consumidores. Isso acaba gerando empregos também para os países ricos, que vão produzir mais para vender nesses lugares", analisa Okamotto. "Queremos mostrar um novo modelo econômico", afirma.

A preocupação, diz Okamotto, é que a atuação de Lula não fique resumida às palestras. "Queremos trabalhar em projetos para ajudar no desenvolvimento econômico da África e da América Latina. Não somos uma ONG para ficar fazendo projetinhos", comenta Okamotto. "Ele não terá papel de consultor, mas sim animador, fomentador", registra. A agenda internacional do ex-presidente tem sido intensa e deve continuar assim no segundo semestre. Nos primeiros seis meses longe da Presidência, Lula já visitou 18 países. Na sexta-feira, o petista disse, em Pernambuco, que deverá fazer mais 23 viagens internacionais até o fim do ano. "Muitos governantes querem falar com ele e saber como é que ele promoveu o desenvolvimento com inclusão social, como fez o Brasil", conta Okamotto. Em todos os países que visitou, Lula foi reconhecido e tratado como celebridade, com direito a fotos, abraços e autógrafos. Em algumas viagens, o ex-presidente saiu para jantar e conhecer lugares. O petista tem feito o mesmo em São Paulo, ainda que com pouca frequência. Na Presidência, sempre evitava sair. Os auxiliares do ex-presidente aproveitam essa demanda de viagens para ganhar tempo e tentar focar a atuação do instituto. No comando das ações para os países africanos e latino-americanos estão o ex-ministro Luiz Dulci e a ex-assessora especial da Presidência Clara Ant. O Instituto Cidadania é considerado como a "incubadora" da futura entidade. Criada em 1990, sob comando de Lula, depois da derrota para Fernando Collor de Mello na disputa presidencial, a organização não governamental fomentou durante anos debates sobre políticas públicas até ser esvaziada com a vitória de Lula em 2002. Com o fim dos oito anos de governo, foi retomada. O Cidadania tem uma dúzia de funcionários e custa mensalmente cerca de R$ 100 mil, entre folha de pagamento, contas de água, luz e telefone e viagens de Lula. Os deslocamentos, no entanto, não costumam pesar no orçamento. Em geral, a passagem de avião é custeada pela empresa ou banco que contrata o ex-presidente para uma palestra. Lula costuma "pegar carona" em aviões de empresários. Kassab deve ajudar o petista e sinaliza com a doação de terreno e prédio para abrigar memorial Na direção do instituto está o deputado federal José de Fillipi (SP), ex-prefeito de Diadema e responsável pelas finanças das campanhas presidenciais de Lula em 2006 e de Dilma Rousseff, em 2010. A receita do Cidadania é obtida por meio de doações de empresários, pessoas físicas e do que o ex-presidente ganha com suas palestras de R$ 300 mil. Em geral, os doadores são também financiadores de campanhas. "É gente que conheci em campanhas passadas, há muito tempo", diz Okamotto. "Cada vez peço 50 paus [R$ 50 mil], 100 paus [R$ 100 mil], diz. Ao lançar o Instituto Lula, Okamotto afirma que a receita da entidade crescerá de forma significativa. "Para o novo instituto vamos fazer uma campanha mais forte de arrecadação. Vai levantar muito, mas muito dinheiro", afirma. "Hoje, muitos empresários oferecem dinheiro, mas não é o momento. Dinheiro não é o problema. Estou preocupado com o que o instituto vai fazer, em como vai atuar", explica. Okamotto buscou referências em diferentes institutos espalhados pelo mundo: dos americanos Al Gore e Jimmy Carter, do africano Nelson Mandela, outros na Índia e em Portugal. Em março, visitou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, no instituto do tucano, para trocar experiências. "Pesquisei vários no mundo todo e não tinha motivo para não visitar o de Fernando Henrique", diz. Foram estudados dois modelos: instituto e fundação. Descartaram esse último por avaliarem que

criaria amarras como a fiscalização do Ministério Público e a abertura de contas da entidade. A principal finalidade do instituto será a de manter Lula no centro do cenário político. "Lula quer fazer política, ele quer continuar. Tem muita coisa ainda para fazer, para fortalecer a democracia. Fazer política não significa que isso desembocara em uma candidatura, mas ele pode ser candidato a tudo: prefeito, deputado, senador e presidente", comenta Okamotto. O ex-presidente concentrou a agenda internacional neste ano para dedicar-se em 2012 às viagens pelo país. Com vistas às eleições municipais, Lula estuda refazer trajetos das Caravanas da Cidadania e se empenhará na construção de alianças políticas e de candidaturas. A principal renda do ex-presidente têm sido as palestras pagas. Os pronunciamentos do petista ajudam a sustentar também Okamotto, sócio de Lula na empresa de palestras L.I.L.S. (de Luiz Inácio Lula da Silva), constituída em março deste ano. Okamotto é amigo de Lula há mais de 30 anos e diz ter pago uma dívida de R$ 29,4 mil do ex-presidente com o PT, em uma ação investigada na CPI dos Bingos. Ex-tesoureiro do partido, o petista diz não receber um salário no instituto, mas afirma que já estava preparado para isso. "Ganhei dinheiro quando estava no Sebrae, guardei. Tenho uma empresa de vendas pela internet [a Red Star Ltda.], sou aposentado e tenho a participação nessa empresa. Já estava preparado para passar alguns meses sem salário", comenta. O ex-presidente, além de atuar no instituto e fazer palestras, investe no lançamento de um memorial que contará os oito anos de sua gestão, sua história sindical e política e as transformações do país desde o fim do regime militar. Articulado por Okamotto, o projeto será lançado até o fim deste ano com apoio do ex-ministro Paulo Vannuchi. O memorial, denominado provisoriamente como da Democracia, será interativo, nos moldes dos museus da Língua Portuguesa e do Futebol, e deve ser instalado no centro de São Paulo, na região conhecida como cracolândia, para ajudar na revitalização da área. As negociações com o prefeito Gilberto Kassab estão avançadas e a prefeitura poderá doar um terreno e até um prédio para o museu. Assim como o instituto, o museu será custeado por empresários e buscará leis de incentivo cultural. O memorial deve ser gerido pela Universidade Federal de São Paulo. Seis meses depois, Furnas só trocou de presidente Cristian Klein, Josette Goulart e Claudia Schuffner Símbolo das mudanças que a presidente Dilma Rousseff pretendia fazer na Eletrobras, Furnas, estatal de maior orçamento do setor, de mais de R$ 9 bilhões, segue, seis meses depois da posse, quase intacta. Depois de uma queda-de-braço com o PMDB, Dilma tirou o presidente da estatal Carlos Nadalutti, apadrinhado do deputado federal Eduardo Cunha (RJ), vice-líder do partido na Câmara, mas manteve intactas todas as diretorias. Funcionário de carreira da estatal, Nadalutti não poderia ser demitido. O novo presidente, Flávio Decat abrigou-o como assessor de seu gabinete.

As expectativas de mudança foram alimentadas pela carta, divulgada em janeiro deste ano pelos funcionários de Furnas - "Furnas passa por uma das maiores crises de sua história e teme-se por seu futuro. Os empregados preocupados com o futuro da empresa apostam na intervenção da presidente Dilma", dizia o manifesto, que prosseguia listando o loteamento político da estatal e os prejuízos ao erário dele decorrente. A avaliação interna, é de que Decat não teve autonomia para trocar a cúpula da empresa - de superintendentes a diretores - da companhia que assumiu em fevereiro. Nome técnico, Decat era cotado para assumir a presidência da holding, mas o cartucho foi queimado logo em Furnas na tentativa de mudar a empresa. Mineiro, Decat é próximo do senador Aécio Neves, do PSDB, dos tempos em que trabalhou no setor elétrico em Minas Gerais e caiu no gosto da presidente Dilma, quando ela era ministra das Minas e Energia. Também teria relações com a família do presidente do Senado, José Sarney (PMDB), vinculação que Decat nega peremptoriamente. O executivo já disse a interlocutores que se encontrou com Sarney a pedido da própria Dilma mas que seu nome ficou vinculado ao do político maranhense porque uma conversa foi grampeada pela Polícia Federal, que investigava integrantes da família do senador. A nomeação de Decat criou a imagem de que a autoridade de Dilma havia prevalecido e que o novo presidente de Furnas faria uma "limpeza", impondo um estilo mais gerencial e menos subordinado a pedidos e pressões políticas. Ele assumiu depois de uma série de denúncias envolvendo favorecimento a um grupo ligado a Eduardo Cunha que gerou perdas para Furnas em negócios envolvendo as hidrelétricas Serra da Carioca II e Serra do Facão. Uma das primeiras medidas de Decat em Furnas foi o afastamento de Aluízio Meyer de Gouvêa Costa, substituído por Celio Calixto, homem de confiança do novo presidente. Apadrinhado de Cunha e com passagem pela Cedae, Aluízio Meyer, como é mais conhecido, já tinha sido condenado por improbidade administrativa. As três sociedades de propósito específico (SPEs) presididas por ele - a Transenergia Renovável, Transenergia São Paulo e Transenergia Goiás - foram criadas para construir linhas de transmissão e subestações tendo Furnas com sócia com 49%. Outro afastado foi Boris Gorenstin, que ocupava o cargo de assessor da presidência na gestão de Conde e de Nadaluti, e era responsável pela análise de novos investimentos. Depois que a poeira assentou, a impressão é de que nada mudou na empresa. Uma das razões para a inércia seria o modelo de governança corporativa no qual as decisões são colegiadas e o voto do presidente vale tanto quanto o dos demais cinco diretores. Sua ligação direta com a presidente impõe respeito e alguns diretores tentam se mostrar solícitos. Mas a atuação de Decat tem frustrado funcionários que apoiaram o manifesto de janeiro e já a alcunha de "tigre de papel". Procurado pelo Valor, Decat não quis se pronunciar. Integrantes de uma equipe que vem desde a penúltima presidência de Luiz Paulo Conde - ex-prefeito do Rio, que também chegou ao cargo pela força de Cunha -, permanecem nos mesmos lugares. Nos cargos principais da empresa, os cinco diretores ainda são os mesmos. O chefe de gabinete da presidência, Luiz Roberto Bezerra, foi mantido. Apesar de fontes informarem que Nadalutti não tem ingerência alguma mais na empresa, a expressão é sempre de espanto entre funcionários da Eletrobras que de repente

descobrem que ele se tornou assessor direto da presidência. Em diversas atas de assembleias de empresas do grupo, o nome de Nadalutti aparece assinado ao lado do de Decat. Ocupantes de outros postos importantes - como a consultora jurídica Denise Paiva e os superintendentes de Responsabilidade Social, Ana Cláudia Gesteira, de Recursos Humanos, Francisco Alonso, e de Organização e Informática, José Carlos Faria - também permanecem. Segundo uma fonte ligada à empresa, o novo presidente estaria cercado e imobilizado pela força das indicações políticas controladas pelo PMDB e por Eduardo Cunha, os quais ainda exercem pressão. A situação seria um reflexo da própria dificuldade da presidente Dilma Rousseff de impor sua vontade perante os aliados. "A Dilma achou que podia enfrentar esses interesses e está apanhando para dobrálos", afirma a fonte, que compara a ocupação de Furnas à do Ministério dos Transportes, cuja cúpula caiu devido a denúncias de corrupção, mas continua sob o comando do PR. Diante dos últimos dois presidentes, Conde e Nadalutti, apadrinhados de Eduardo Cunha, Decat é visto como alguém que impede um controle maior do deputado sobre a empresa, mas que não consegue reverter a situação e atender à expectativa de sua nomeação por Dilma. Seu papel tem sido mais o de garantir a manutenção da correlação de forças - como resistir à pressão para retirar o diretor de Operação do Sistema e Comercialização de Energia, Cesar Ribeiro Zani, cuja indicação é atribuída ao deputado licenciado e secretário municipal de Habitação do Rio, Jorge Bittar (PT) - do que mexer com os interesses de aliados. Duas diretorias, a de Construção, ocupada por Márcio Porto, e a financeira, por Luiz Henrique Hamann, teriam como padrinhos, respectivamente, dois caciques do PMDB: o presidente em exercício do partido, o senador Valdir Raupp (RO), e o também senador Romero Jucá (RR). A diretoria de Engenharia, de Mario Márcio Rogar, seria da cota do PR. E a de Gestão Corporativa, ocupada por Luís Fernando Paroli Santos, teria como padrinhos o deputado Odair Cunha (PT-MG) e Eduardo Cunha. O deputado fluminense estenderia ainda sua influência por outros cargos, como os de superintendentes, e de Nadalutti e Bezerra - assessores diretos de Decat. A escolha de pessoas da confiança de Dilma para a presidência de Furnas e da Eletrobras, chegou a ser utilizada como justificativa pelo governo para que novas frentes de conflito não fossem abertas, como a alteração de diretorias de estatais, autarquias e bancos públicos da Região Norte, controladas pelo PMDB. Agência Brasil Sete em cada dez brasileiros consideram que a cor ou raça influencia o trabalho Isabela Vieira

Rio de Janeiro - Mais da metade da população brasileira (63,7%) reconhece que a cor ou a raça exerce efeitos diferentes nas relações cotidianas. A constatação é de pesquisa divulgada na sexta (22) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o estudo, o trabalho, citado por 71% dos entrevistados, é a situação cotidiana que mais sofre influência da cor e da raça. Em seguida, aparecem as relações com a polícia/justiça (68,3%) e no convívio social (65%). O levantamento foi feito em 15 mil domicílios de cinco estados e no Distrito Federal, em 2008. A Pesquisa das Características Etnorraciais da População: um Estudo das Categorias de Classificação de Cor ou Raça foi feita no Amazonas, na Paraíba, em São Paulo, no Rio Grande do Sul, em Mato Grosso e no Distrito Federal. Do total dos entrevistados, 96% souberam se autoclassificar. Para coordenador do IBGE, resultado de pesquisa etnorraciais mostra que maioria da população admite a existência de racismo Isabela Vieira Rio de Janeiro - A pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre as características etnorraciais da população, divulgada na sexta (22), constatou que 63,7% dos brasileiros admitem que a cor ou raça influencia a vida das pessoas. Para um dos coordenadores do estudo, José Luís Petruccelli, isso indica que a população reconhece a existência de racismo no país. Por meio de questionário aplicado em 15 mil domicílios em cinco estados e no Distrito Federal, o levantamento do IBGE revela que, para os brasileiros, o racismo está mais evidente no trabalho (71%), na relação com a polícia e com a Justiça (68,3%) e no convívio social (65%). De oito categorias, a escola foi citada por 59,3% dos entrevistados e as repartições públicas, por 51,3%. O estudo também destaca que é na unidade da Federação com maior renda per capita do país (mais de cinco salários mínimos), o Distrito Federal, onde a população mais percebe o racismo. Lá, 10,9% dos entrevistados, na resposta aberta, se declarou "negra" - categoria que não é usada pelo IBGE. No Amazonas, menos pessoas notam o problema (54,8%). No estado, também foi registrado o menor percentual de autodeclarados "brancos" (16,2%) e a maior proporção de "morenas" (49,2%), termo que assim como "negra" também não é usada pelo instituto para a classificação etnorracial. Segundo a pesquisa, 96% das população sabe se autoclassificar, sendo que 65% seguem os critérios do IBGE. Para ele, o fato de uma parcela se definir "morena" é uma forma de evitar se assumir "preto" ou "parda", categorias que somadas equivalem a "negros". "Moreno é um termo para fugir da questão. Pode ser quase qualquer um, pode ser bronzeado de sol ou afrodescendente", disse o pesquisador. No total, 21,7% dos entrevistados se declararam "morena" e 7,8%, negra. A decisão de usar dados desagregados de raça nas pesquisas domiciliares pelo IBGE cumpre recomendações firmadas pelo Brasil na 3º Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada em Durban, na África do Sul, em 2001.

Greve dos técnicos das universidades federais ameaça início do semestre letivo Amanda Cieglinski Brasília - A greve dos técnicos administrativos das universidades federais já dura 45 dias. Até agora, não houve reunião alguma para discutir as reivindicações dos servidores. Segundo o governo, só haverá negociação se o movimento for suspenso. Sem perspectiva de diálogo, a categoria promete reforçar a paralisação, o que pode atrasar o início das aulas no segundo semestre, comprometendo o calendário universitário. O movimento tem a adesão de servidores de 39 das 59 universidades federais. De acordo com o Ministério do Planejamento, o impasse foi criado pela Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores das Universidades Brasileiras (Fasubra), que decidiu deflagrar a greve durante a negociação. Entre as reivindicações da categoria, está o reajuste do piso salarial em pelo menos três salários mínimos. Segundo a entidade, o vencimento desses servidores hoje é R$ 1.034. Apesar de não terem ligação direta com o trabalho desenvolvido em sala de aula, os servidores são responsáveis por atividades administrativas importantes, como o processamento da matrículas. De acordo com o coordenador-geral da Fasubra, Paulo Henrique Silva, o movimento grevista agora tentará prejudicar esse processo. Esse é um ponto, dentro das universidades, que nos favorece. É um processo necessário de resistência para que a gente possa ter uma resposta, disse Silva. Segundo ele, o comando de greve também vai intensificar a paralisação de serviços prestados pela categoria nos hospitais universitários. A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) espera que o problema seja resolvido durante o período de férias e não comprometa o próximo semestre letivo. Quando há conflito de interesses, só a conversa resolve, disse o secretário executivo da associação, Gustavo Balduíno. Os reitores, informou, participaram do processo de interlocução entre os servidores e o governo. Até o momento, acrescentou, os prejuízos causados pela paralisação foram superados. Apostamos na responsabilidade do movimento sindical, destacou Balduíno. A categoria [dos técnicos] não causará prejuízos aos alunos e professores. A universidade oferece um conjunto de serviços de extrema importância que precisa funcionar em benefício da sociedade - e não em benefício do reitor ou do governo. Aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília entram no programa de privatizações de Dilma Brasília - Decreto publicado na sexta (22) no Diário Oficial da União incluiu no Programa Nacional de Desestatização (PND) os aeroportos internacionais Governador André Franco Montoro, em Guarulhos (SP), de Viracopos, em Campinas (SP), e Presidente Juscelino Kubitschek, em Brasília. Com a privatização dos três aeroportos, o governo espera ampliar, até a Copa do Mundo de 2014, a capacidade de tráfego e de movimentação de passageiros e cargas dos terminais.