LINGUAGEM ESCRITA DE CRIANÇAS COM SINTOMATOLOGIA TDAH: UM OLHAR CLÍNICO EM PARCERIA COM A ESCOLA

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Transcrição:

LINGUAGEM ESCRITA DE CRIANÇAS COM SINTOMATOLOGIA TDAH: UM OLHAR CLÍNICO EM PARCERIA COM A ESCOLA Arineyde Maria D Almeida Alves de Oliveira; Mary Ellen Valois da Mota Cândido; Tatiane Duarte de Oliveira; Lisiane Maria Dias Rodrigues; Adriana de Andrade Gaião e Barbosa (orientadora) (Universidade Federal da Paraíba, arineyde_oliveira@hotmail.com) RESUMO: O TDAH é uma das patologias que estão presentes nos escolares e que os levam a apresentar alguma dificuldade em termos de aprendizagem. Trata-se de um transtorno do desenvolvimento de cunho neurobiológico, que pode persistir na vida adulta em mais da metade dos casos e também um dos distúrbios mais comuns da infância. O transtorno da linguagem para a criança com TDAH se apresenta como co-morbidade tão ou às vezes, mais importante que o transtorno em relação à sua expressão clínica e terapêutica. Com relação à escrita, o comprometimento acontece devido principalmente às características de desatenção e hiperatividade, uma vez que ambas são preponderantes no processo de desenvolvimento da mesma. Para um bom desenvolvimento da linguagem escrita são necessárias algumas habilidades tais como: atenção, concentração, equilíbrio motor, motricidade fina bem desenvolvida, áreas essas prejudicadas pelo TDAH. Até o momento, não existe, um exame que comprove a sua presença, e o seu diagnóstico requer uma observação clínica especializada.mediante isto, constata-se a problemática vivenciada em sala de aula por um aluno TDAH e, consequentemente, a necessidade de estratégias por parte do professor para envolver e incluir o aluno nas atividades de sala, principalmente no tocante às atividades de leitura, escrita e produção textual. Portanto, este projeto busca atenuar a problemática de produção textual das crianças com TDAH, colaborando com a formação dos professores dos anos iniciais da educação fundamental, pois investir na capacitação e sensibilização dos mesmos, se fornece ferramentas para que o profissional de educação as utilize em sala de aula, cooperando com seu trabalho, auxiliando na aprendizagem da criança com TDAH e, por conseguinte, na melhoria do processo de inclusão escolar. Ao término desse projeto, espera-se constatar a relevância do trabalho ser realizado em conjunto com a equipe pedagógica, família e profissionais clínicos. Palavras-chave: TDAH, linguagem escrita, projeto, formação docente, inclusão. INTRODUÇÃO Atualmente a escola vem enfrentando uma situação desafiadora com relação à construção da leitura e da escrita de crianças nos anos iniciais da educação fundamental. É comum encontrar casos de crianças que deveriam estar concluindo o ciclo da alfabetização e que, ao invés disso, ainda não leem nem escrevem de forma competente. O assunto se agrava quando, associado a este quadro, observa-se traços de

transtornos neurobiológicos, como no caso do Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), que segundo Riesgo (2006), apresenta uma interferência significativa no desenvolvimento da linguagem de aproximadamente 14% dos seus indivíduos, comprometendo além da fala, a escrita das crianças, uma vez que esta depende da atenção, concentração, pensamento organizado e coordenação motora, áreas essas prejudicadas pelo transtorno. Esta realidade foi percebida nas sessões de psicopedagogia clínica que atende crianças e adolescentes com distúrbios de aprendizagem e transtornos mentais, principalmente, naquelas que apresentam quadros característicos do TDAH. Ao serem solicitados relatórios escolares sobre a criança, foi observado o despreparo de alguns professores diante da situação e a ausência de estratégias para lidar com tal contexto. Na maioria dos relatos eram pontuadas situações de desatenção e inquietação por parte da criança, como também o fato de não concluírem suas atividades nem demonstrarem afinidade por tarefas como produção de texto escritos. Em consultório, também observou-se tal questão e acrescenta-se, em muitos casos, dificuldades na coordenação motora, o que também dificulta o processo de escrita. Tal constatação, fez afluir o desejo de elaborar um projeto para trabalhar diretamente com o processo de desenvolvimento da escrita proficiente das crianças com TDAH ou com a sintomatologia do transtorno. O TDAH é uma das patologias que estão presentes nos escolares e que os levam a apresentar alguma dificuldade em termos de aprendizagem. Trata-se de um transtorno do desenvolvimento de cunho neurobiológico onde atinge cerca de 3 a 6% das crianças, podendo persistir na vida adulta em mais da metade dos casos e também um dos distúrbios mais comuns da infância (ROHDE; MATTOS, 2003). O TDAH apresenta-se em três categorias principais de sintomas persistentes: desatenção e/ou hiperatividade e impulsividade, que necessitam se manifestar em, no mínimo, dois ambientes e devendo estar presentes desde antes dos 7 anos de idade, podendo comprometer diversas áreas da vida do indivíduo, entre elas, a acadêmica (BARKLEY, 2002). A criança com TDAH pode ter prejuízo não só nas suas atividades escolares, bem como nas relações familiares, pois, por apresentarem comportamentos inadequados, seus pais sentem dificuldades em lidar com os mesmos. Segundo Rotta (2006), o transtorno da linguagem para a criança com TDAH se apresenta como co-morbidade tão ou às vezes, mais

importante que o transtorno em relação à sua expressão clínica e terapêutica. Com relação à escrita, o comprometimento acontece devido principalmente às características de desatenção e hiperatividade, uma vez que ambas são preponderantes no processo de desenvolvimento da escrita. Para um bom desenvolvimento da linguagem escrita são necessárias algumas habilidades tais como: atenção, concentração, equilíbrio motor, motricidade fina bem desenvolvida, áreas essas prejudicadas pelo TDAH. Até o momento, não existe, um exame que comprove a sua presença, e o seu diagnóstico requer uma observação clínica especializada. Barbosa e Gaião e Barbosa (2001), corroboram com a exposição realizada acima quando fazem menção do quadro de características dos alunos com TDAH, os quais englobam dificuldades em: concentrar-se, organizar tarefas, interesse por atividades que exijam atenção por um período prolongado. Além da necessidade de estarem em constante movimentação, essas crianças distraem-se com facilidade em situações diferentes do que está acontecendo em seu presente contexto, o que geralmente é responsável pelo baixo desempenho escolar, apresentando prejuízos na aprendizagem. É comum o comprometimento cognitivo e atrasos específicos do desenvolvimento motor e da linguagem; as complicações secundárias incluem comportamento antissocial e baixa autoestima. Mediante a exposição desse quadro, constata-se a problemática vivenciada em sala de aula por um aluno TDAH e, consequentemente, a necessidade de estratégias por parte do professor para envolver e incluir o aluno nas atividades de sala, principalmente no tocante às atividades de leitura, escrita e produção textual (ROHDE e cols., 2000). A preocupação com a escrita proficiente tem como base o pensamento de Vygotsky o qual considerava que o aprendizado da linguagem escrita é preponderante para o desenvolvimento da pessoa, promovendo maneiras diferentes e abstratas de pensar, de se relacionar com os outros e com o conhecimento. Neste constructo, enfatiza-se que para Vygotsky, a aquisição da linguagem escrita é um processo complexo que requer múltiplas habilidades cognitivas que ultrapassam o conceito de desenhar letras e formar palavras. A escrita em si tem uma intenção social de comunicação e de expressão, pois, não adianta ensinar de forma enfática a leitura mecânica do que está escrito, obscurecendo a linguagem escrita em sua íntegra (REGO, 2009 apud VYGOTSKY, 1984, P.119). Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa - PCN s (2001) enfatizam que a relação entre leitura e escrita não é

mecânica e por este motivo, o ensino deve ter como foco primordial formar leitores capazes de produzir textos coerentes, coesos, adequados e ortograficamente escritos. O trabalho com produção de textos tem como finalidade formar escritores competentes capazes de produzir textos coerentes, coesos e eficazes. Um escritor competente é alguém que, ao produzir um discurso, conhecendo possibilidades que estão postas culturalmente, sabe selecionar o gênero no qual seu discurso se realizará escolhendo aquele que for apropriado a seus objetivos e à circunstância enunciativa em questão. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: LÍNGUA PORTUGUESA; 2001:40) Diante dessa afirmação, torna-se consensual a necessidade de se formar produtores de texto competentes, que compreendam o sentido social da escrita e a valorizem, que saibam construir textos coerentes e com coesão, que se comuniquem através da escrita de forma proficiente e autônoma, por isso este projeto visualiza as crianças com sintomatologia TDAH, que precisam de um olhar mais focado daqueles que fazem a mediação do ensinoaprendizagem, os quais precisam desenvolver estratégias que alcancem essas crianças, que proporcionem sua inserção no universo da escrita, que facilite sua compreensão de mundo e sua expressão textual. Acredita-se, portanto, que essa proposta traz contribuições para o nível de proficiência escrita dos alunos com sintomatologia TDAH, visto que se trata de uma proposta em que a escrita é trabalhada a partir de sua essência e funcionalidade social, o que permite ao indivíduo reflexão sobre a linguagem e sua própria realidade. Enquanto mediador do processo de ensino-aprendizagem, tal problemática nos remete ao seguinte questionamento: De que forma o professor pode contribuir para atenuar ou até mesmo erradicar os problemas de escrita de crianças que apresentem traços desse transtorno? E, que metodologias podem ser realizadas em busca de uma melhora tanto do aspecto gráfico quanto da produção textual competente? Inseridos neste contexto de investigação, o presente projeto de pesquisa tem como objetivo geral investigar, analisar e propor intervenção na escrita de crianças que apresentam sintomatologia do TDAH considerando-o como possível desencadeador de um transtorno de linguagem, neste caso a escrita, e consequente acentuado declínio no aproveitamento da aprendizagem. Como objetivos específicos, o projeto almeja conhecer as concepções dos professores acerca do transtorno em pauta e suas atuais metodologias de como lidar com a problemática da escrita em sala de aula com esses alunos. Também se dispõe a informar e propor estratégias que instrumentalizem os professores

proporcionando melhoria no processo de ensino-aprendizagem dessas crianças, uma vez que, as crianças que apresentam sintomatologia TDAH necessitam de atendimento diferenciado e individualizado, pois não são incapazes de aprender, apenas aprendem de forma diferente. Desta forma, buscamos nesse projeto atenuar a problemática de produção textual das crianças com TDAH, colaborando com a formação dos professores dos anos iniciais da educação fundamental, pois existe a certeza de que investir na capacitação e sensibilização dos mesmos, se fornece ferramentas para que o profissional de educação as utilize em sala de aula, cooperando com seu trabalho, auxiliando na aprendizagem da criança com TDAH e consequentemente, na melhoria do processo de inclusão escolar de tais crianças. METODOLOGIA O presente estudo está sendo realizado com crianças de um centro médico da cidade de Bayeux Paraíba. As mesmas são atendidas pela equipe multidisciplinar do mesmo, composta por médicos psiquiatras, psicólogos, psicopedagogo e fonoaudiólogo. Refere-se uma pesquisa descritiva em que através de um questionário direcionado aos pais e professores é possível verificar traços de TDAH nos escolares. A pesquisa acontece em duas etapas. Na primeira, que já está em fase de execução, são realizados os levantamentos acerca da sintomatologia da criança quanto ao transtorno e iniciado o processo de intervenção clínica. Na segunda, serão realizadas visitas às escolas desses alunos e realizadas entrevistas com os professores, como também acordado momentos de reunião para capacitação dos mesmos através de oficinas, palestras e rodas de conversa. Participam da pesquisa 10 crianças atendidas no centro médico, que estão fazendo entre o 1º e 3º ano do ensino fundamental e que são alunos regulares de escolas municipais da cidade de Bayeux PB. Os instrumentos necessários à pesquisa estão relacionados a seguir: Entrevista semiestruturada elaborada exclusivamente para este projeto: Através de pesquisa na literatura vigente, são elaboradas questões acerca da presença sintomatológica do transtorno, como o mesmo se dá no espaço escolar e quais são as concepções e metodologias utilizadas pelos professores. Índice de Hiperatividade do Questionário Abreviado de Conners. O questionário abreviado de Conners foi elaborado em 1969, originalmente em inglês, sendo validado na versão brasileira por Barbosa, Dias e Gaião em 1997. Trata- a

se de um instrumento que possui escalas que avaliam o índice de hiperatividade com versão para pais e professores. A versão para pais é composta de 42 itens e a versão para professores de 39. Cada item descreve uma conduta característica da criança hiperativa, ao qual os pais e professores devem avaliar. Para cada item existem quatro opções: 0 = nunca, 1 = às vezes, 2 = frequentemente e 3 = sempre. Além desses instrumentos serão utilizados materiais e estratégias próprias da clínica psicopedagógica para intervenção nos casos de TDAH. Na proposta de capacitação com os professores, serão realizadas oficinas, palestras e rodas de conversa. Os dados analisados serão categorizados e quantificados através de procedimentos estatísticos de análise descritiva e submetidos à análise de conteúdo qualitativa. RESULTADOS E DISCUSSÃO A pesquisa encontra-se em andamento, porém, como citado anteriormente nos artigos e livros pesquisados, observa-se a constatação da interligação das dificuldades nas áreas de linguagem como comorbidade das crianças com TDAH, inclusive na escrita, e a necessidade de uma melhor capacitação dos professores para disporem de estratégias de como lidar com o transtorno em sala de aula (ROHDE; MATTOS, 2003; GOLFETO; BARBOSA; 2003; RIESGO, 2006; ROTTA, 2006). Foi realizada a apresentação do projeto para os responsáveis pelas crianças que estão em atendimento psicopedagógico no centro médico, os quais demonstraram interesse e se prontificaram em colaborar com o mesmo. Foram disponibilizados os questionários de Conners para os pais e iniciados os primeiros trabalhos de intervenção na escrita das crianças no consultório, através de leitura e produção textual, com possibilidade de reconto por parte da criança e atividades de coordenação motora fina. Os passos seguintes dizem respeito à visita às escolas dessas crianças para uma conversa inicial e agendamento de encontros que possibilitarão a aproximação com os professores, discussão esclarecedora sobre as dúvidas dos mesmos e promoção de ferramentas que auxiliarão nas estratégias que serão necessárias em sala de aula. Esses encontros também facilitarão a identificação dos pontos que devem ser mais trabalhados, como também a necessidade individual de cada profissional, no que diz respeito à sua conduta diante da problemática.

Espera-se como resultado, que o projeto venha a contribuir com o nível de proficiência escrita dos alunos com TDAH, uma vez que a mesma tem caráter intervencionista e procurará trabalhar a escrita através da sua funcionalidade social, o que permitirá ao educando uma reflexão sobre a sua própria linguagem. Quanto aos professores, espera-se que o projeto possibilite a ressignificação da sua postura enquanto profissional de sala de aula e o equipe com ferramentas que servirão de estratégias no cotidiano escolar. Portanto, através das leituras realizadas sobre o tema em estudo, observa-se a importância de propor estratégias para o desenvolvimento da escrita de crianças com sintomatologia TDAH, como também a necessidade da parceria dos profissionais de saúde com a comunidade escolar e a família para o sucesso da aprendizagem da criança. CONCLUSÕES Mediante ao exposto, pode-se constatar a necessidade de projetos voltados para a promoção de informações sobre o TDAH, pois não são poucas as possíveis complicações caso não haja o correto tratamento e atenção direcionados a esta situação de aprendizagem. A inclusão escolar, apesar de muito discutida, ainda é pouca vivenciada por grande parte das escolas. Em se tratando de uma criança com TDAH ou sintomatologia da mesma (para aquelas que ainda não possuem diagnóstico fechado), a situação agrava-se, por ser um transtorno que afeta áreas como atenção e impulsividade, necessárias ao bom andamento do processo de ensino e aprendizagem. A realização de um projeto que trabalhe a capacitação do professor para saber lidar com determinadas situações em sala de aula, torna-se um investimento na educação e contribui para uma formação docente reflexiva e que consegue buscar ressignificação para sua prática docente. Diante das implicações na linguagem escrita, já percebidas nas crianças com TDAH atendidas no centro médico, pontua-se que o profissional clínico precisa deixar sua zona de conforto, entenda-se aqui o consultório clínico, para adentrar no universo vivenciado no cotidiano da criança, que é o seu contexto de aprendizagem, pois dessa forma, será mais fácil orientar tanto pais quanto às escolas sobre as estratégias que podem ser utilizadas para melhoria do aprendizado da criança.

Paralelo a isso, faz-se necessário que a família também seja participante do processo e interaja questionando, tirando dúvidas e colaborando com o que lhe for solicitado fazer. Ao término desse projeto, espera-se constatar a relevância do trabalho ser realizado em conjunto com a equipe pedagógica, família e prática clínica, neste caso, multidisciplinar. O trabalho de inclusão escolar, em suas mais diversas áreas, não é fácil, mas completamente possível, quando temos as mãos entrelaçadas com aqueles que podem fazer a diferença na vida do indivíduo. REFERÊNCIAS BARBOSA, G. A; GAIÃO E BARBOSA, A. A. Apontamentos em Psicopatologia Infantil. João Pessoa: Idéia, 2001. BARBOSA, G.A, DIAS MR, GAIÃO, AA. Validacíon factorial de los índices de hiperactividad del cuestionário de Conners en escolares de Jõao Pessoa Brasil. Infanto 1997;5:118-25. BARKLEY, R. A. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH): Guia completo para pais, professores e profissionais de saúde. Porto Alegre: Artmed, 2002. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura, Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. 3 ed. Brasília: A secretaria, 2001. GOLFETO, J. H.; BARBOSA, G. A. Epidemiologia. In: ROHDE, L. A.; MATTOS, P. Princípios e práticas em TDAH. Porto Alegre: Artmed, 2003. p. 15-33. REGO, T.C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 20 ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2009. RIESGO, R. S. Transtornos da atenção: co-morbidades. In: ROTTA, N. T.; OHLWEILER, L.;. Transtornos da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2006a. p. 347-363 ROHDE, L. A.; BARBOSA, G.; TRAMONTINA, S.; POLANCZYK, G. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade. Rev. Bras. Psiquiatr. [online]. 2000, vol.22, suppl.2, pp. 07-11. ISSN 1516-4446. ROHDE, L. A.; MATTOS, P. et al. Princípios e práticas em transtorno de déficit de atenção/hiperatividade. Porto Alegre: Artmed, 2003. ROTTA, N. T. Transtornos da Atenção: aspectos clínicos. In:.; OHLWEILER, L.; RIESGO, R. S. Transtornos da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2006. p. 301-313.