MASSAKI TANI PERFIL DOS PACIENTES SUBMETIDOS A ESTUDO URODINÂMICO NO HOSPITAL SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL NO PERÍODO DE 2009 A 2010.

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Transcrição:

MASSAKI TANI PERFIL DOS PACIENTES SUBMETIDOS A ESTUDO URODINÂMICO NO HOSPITAL SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL NO PERÍODO DE 2009 A 2010. São Paulo 2012

MASSAKI TANI PERFIL DOS PACIENTES SUBMETIDOS A ESTUDO URODINÂMICO NO HOSPITAL SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL NO PERÍODO DE 2009 A 2010. Trabalho de Conclusão de Curso apresentada à Comissão de Residência Médica do Hospital do Servidor Público Municipal, para obtenção do título de Residência Médica. Área: Cirurgia Geral Orientador: Dr. Daniel Kanda Abe São Paulo 2012

AUTORIZAÇÃO AUTORIZO A INCLUSÃO APENAS DO RESUMO DO TCC DE MINHA AUTORIA NA BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. SÃO PAULO, / / ASSINATURA DO AUTOR:

DEDICATÓRIA À LUCIANA, minha querida namorada, que mais uma vez me apoiou, me ajudou de diversas formas para a realização deste trabalho e iluminou meu caminho quando tudo parecia estar no escuro.

AGRADECIMENTOS Ao Dr. DANIEL KANDA ABE, dedicado médico urologista do Hospital do Servidor Público Municipal, por ter acreditado em mim e ter me orientado neste trabalho de conclusão de curso com muito empenho, responsabilidade e paciência. Aos demais doutores e residentes da equipe de Urologia do HSPM, pelo enorme acolhimento e colaboração.

RESUMO Introdução: O Estudo Urodinâmico está indicado em diversas patologias do trato urinário inferior, sendo utilizado como exame diagnóstico e de seguimento. É um método diagnóstico muito solicitado e realizado, porém não há consenso sobre sua real necessidade. Contudo, é um exame invasivo, não isento de complicações. Objetivos: O estudo pretende definir um perfil dos pacientes submetidos ao estudo urodinâmico analisando diversas variáveis para tentar estabelecer o real impacto desta abordagem nos pacientes. Material e Método: O estudo envolveu 818 pacientes submetidos ao estudo urodinâmico, onde analisamos sexo, idade, indicação clínica e o diagnóstico final da patologia em questão em pacientes indicados por um urologista (Grupo I) ou não urologista (Grupo II). Aplicamos o teste do Qui-quadrado para análise estatística. Resultados: Média e mediana de idade foram 58,2 ± 13,1 e 59 anos e mulheres corresponderam a 63% dos casos. Incontinência urinária foi a patologia mais prevalente (36%) e indicada na maioria das vezes pelo grupo II. Ao desconsiderar os resultados referentes à incontinência urinária cujo índice de acertos foi alto em ambos os grupos, observamos maior acerto diagnóstico no Grupo I. Conclusões: Mais da metade dos exames foi indicado por urologistas, que mostraram altas taxas de acertos para Incontinência urinária e Obstrução infra-vesical. Não houve diferença significativa de acertos e erros entre os grupos. Houve diferença para pacientes que realizaram exames e foram submetidos a cirurgia por urologistas Palavras-chave: estudo urodinâmico, diagnóstico, incontinência urinária, obstrução infravesical, bexiga hiperativa, bexiga neurogênica.

ABSTRACT Introduction: The urodynamic study is indicated in several pathologies of the lower urinary tract, being used as a diagnostic test and follow-up. It is a very requested and performed diagnostic method, but there is no real consensus on its necessity. However, it is an invasive test, not free from complications. Objectives: The study aims to define a profile of patients undergoing urodynamic study analyzing several variables to try to establish the real impact of this approach in patients. Material and Methods: The study involved 818 patients who underwent urodynamic study, where we analyzed sex, age, clinical indication and the final diagnosis of the pathology in question indicated in patients by an urologist (Group I) or not urologist (Group II). We applied the chi-square test for statistical analysis. Results: Mean and median ages were 58.2 ± 13.1 and 59 years, and women accounted for 63% of cases. Urinary incontinence was the most prevalent pathology (36%) and most often indicated by the group II. Regardless the results related to urinary incontinence whose success rate was high in both groups, we observed a higher diagnostic accuracy in Group I. Success rates were larger than the errors for both groups. Conclusions: More than half of the tests were indicated by urologists, which showed high rates of correct answers for urinary incontinence and bladder outlet obstruction. There was no significant success and failure difference between the groups. There were differences for patients who underwent examinations and underwent surgery for urologists Keywords: urodynamic study, diagnosis, urinary incontinence, bladder outlet obstruction, overactive bladder, neurogenic bladder.

LISTA DE TABELAS Página Tabela 1 Distribuição dos pacientes por sexo e idade 9 Tabela 2 Distribuição dos pacientes por patologia e idade 10 Tabela 3 Distribuição dos pacientes por patologia e sexo 12 Tabela 4 Tabela 5 Tabela 6 Distribuição das patologias de acordo com o profissional que indicou o exame Acertos e erros dos diagnósticos urodinâmicos de acordo com a especialidade Número de cirurgias realizadas em pacientes de cada grupo 14 16 18

LISTA DE FIGURAS Página Gráfico 1 Porcentagem de homens e mulheres por patologia 11 Gráfico 2 Porcentagem de de pacientes por patologia 13 Gráfico 3 Diagnóstico urodinâmico de acordo com o 14 profissional que indicou o exame Gráfico 4 Acertos e erros por urologistas 17 Gráfico 5 Acertos e erros por não urologistas 17 Gráfico 6 Cirurgias realizadas em pacientes de cada grupo 19

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BHA BN EUD HD HPB HSPM IU LUTS OIV Bexiga hiperativa Bexiga neurogênica Estudo urodinâmico Hiperatividade detrusora Hiperplasia prostática benigna Hospital do Servidor Público Municipal Incontinência urinária Sintomas do trato urinário inferior Obstrução infra-vesical

SUMÁRIO Página AUTORIZAÇÃO DEDICATÓRIA AGRADECIMENTOS RESUMO ABSTRACT LISTA DE TABELAS LISTA DE GRÁFICOS LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS SUMÁRIO iii iv v vi vii viii ix x xi 1. INTRODUÇÃO 1 2. OBJETIVOS 4 3. MATERIAL E MÉTODOS 5 3.1. COLETA DE DADOS 5 3.2. ORGANIZAÇÃO DOS DADOS 5 3.3. ANÁLISE ESTATÍSTICA 8 4. RESULTADOS 9 5. DISCUSSÃO 20 6. CONCLUSÓES 25 7. BIBLIOGRAFIA 26

1 INTRODUÇÃO Embora os primeiros registros datem do século XIX, só em 1927, houve o primeiro relato de tentativa de se estudar numericamente a bexiga, quando o Dr. Rose desenvolveu o primeiro cistometrógrafo, um instrumento a fim de determinar as pressões de enchimento e esvaziamento vesical. A partir de 1975 a avaliação urodinâmica avançou com a utilização de microtransdutores e sistemas de gravação. Em 1979, a criação de um cateter de três vias permitiu a infusão simultânea de líquido e a avaliação das pressões vesical e uretral. A introdução do conceito urodinâmico de pressão de perda ao esforço na manobra de Valsalva ou tosse categorizou a deficiência esfincteriana intrínseca como incontinência urinária (IU) do tipo III. O estudo urodinâmico (EUD) associado à pressão de perda permitiu identificar e quantificar as alterações esfincterianas. A partir de então, o aparelho foi testado e produzido para comercialização e os princípios das medidas vesicais e uretrais seguem esse modelo até hoje (Battistetti et al, 2011). O EUD consta de três fases, isto é, (1) urofluxometria, com o objetivo geral de avaliar se a micção é normal ou não, (2) cistometria, para definir o comportamento vesical na fase de enchimento e (3) o estudo fluxo-pressão, para se analisar a interação entre a bexiga, o colo vesical, o assoalho pélvico e a uretra durante a micção. Além disso, outros dados podem ser avaliados, como o resíduo posicional, as pressões de perda urinária e a eletromiografia esfincteriana uretral (Battistetti et al, 2011).

O EUD está indicado nos pacientes que apresentam incontinência urinária, obstrução infravesical e disfunção vesical de origem neurogênica primária ou adquirida, sendo utilizado como exame diagnóstico e de seguimento. Atualmente é um método diagnóstico muito solicitado e realizado pelo urologista quanto por outras especialidades, tanto pela qualidade de informações obtidas como pelo número crescente de exames realizados, porém não há consenso sobre sua real necessidade, de acordo com Borges et al, 2010. Apesar de não existir evidências em relação ao valor do EUD na investigação, ele geralmente é considerado superior ao diagnóstico clínico, tornando-se uma ferramenta utilizada na prática de várias outras especialidades além da urologia, e clínicos gerais, ginecologistas, geriatras, pediatras, fisiatras, neurologistas, entre outros podem utilizá-lo para direcionamento clínico e decisões de tratamento (5). Embora largamente utilizado, de fácil acesso e baixo custo, o EUD é um exame invasivo não isento de complicações, de longa duração e dividido em diversas etapas, cada qual com seu grau de exposição física e desgaste emocional ao paciente (5). As complicações mais comumente encontradas são: 1) hematúria, relacionada na maioria das vezes ao trauma e em menor incidência à infecção urinária; 2) disúria que aparece geralmente em homens e associada também ao trauma uretral (mínima: 60%, severa: 15%); 3) infecção urinária, relacionada aos fatores intrínsecos da patologia do paciente (infecção do trato urinário) e/ou erro de técnica cateterismo uretral (assepsia e antissepsia), que tem de ser

diagnosticada prontamente, já que estes pacientes possuem fatores complicantes, levando a um índice de morbidade real; 4) desgaste emocional (Vilela et al, 2001) Tais complicações devem ser consideradas, uma vez que uma parcela de especialistas o indicam sem uma necessidade clara dirigida à estratégia terapêutica. Embora a aplicabilidade do EUD já tenha sido avaliada em um grande número de doenças e condições urológicas, ainda poucos estudos analisaram o desempenho de especialistas urologistas e não urologistas na indicação deste exame para as diversas patologias do trato urinário inferior (5). O presente projeto trará informações relevantes para as equipes que indicam e realizam este exame, pois permitirá saber a dimensão do problema, incluindo o perfil de gravidade dos quadros de disfunção vesical e identificar grupos mais vulneráveis e com maiores necessidades de cuidados, fornecendo elementos indispensáveis para o desenvolvimento de propostas de intervenções que possam ser testadas quanto à sua efetividade. Desta forma, tal estudo pretende definir um perfil dos pacientes submetidos ao estudo urodinâmico, para tentar estabelecer o real impacto desta abordagem nos pacientes.

2 OBJETIVOS 2.1 PRIMÁRIO Traçar o perfil institucional dos pacientes submetidos ao EUD através da análise de variáveis como: sexo, idade, indicação clínica e o diagnóstico final da patologia em questão em pacientes indicados por um urologista ou não urologista. 2.2 SECUNDÁRIO Avaliar a precisão diagnóstica de urologistas e não urologistas, a partir da comparação entre a previsão clínica e o diagnóstico urodinâmico final.

3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1. COLETA DE DADOS Foi realizada uma análise de dados a partir de uma base de dados salvos no computador da urodinâmica, no qual foram incluídos 818 pacientes submetidos ao EUD no ambulatório de Urologia do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo (HSPM) entre os períodos de janeiro de 2009 a dezembro de 2010. Para a realização do EUD no serviço é utilizado o equipamento Uromaster II instalado no computador da sala de urodinâmica. 3.2. ORGANIZAÇÃO DOS DADOS Trata-se de um estudo descritivo, observacional e retrospectivo. A partir do levantamento dos dados de cada paciente, foram extraídos os seguintes dados: iniciais do nome do paciente, sexo, idade, a indicação clínica, a especialidade do médico que indicou o exame e o diagnóstico final da patologia urológica em questão. Os pacientes foram divididos em dois grupos, ou seja, aqueles que fizeram o EUD por indicação de um urologista (Grupo I) e aqueles que o realizaram indicado por um especialista não urologista (Grupo II). Dados gerais de todos os pacientes e específicos para os grupos I e II foram demonstrados para

idade, sexo e porcentagem de acertos e erros, segundo as patologias mais prevalentes. Os diagnósticos finais avaliados foram (1) Incontinência Urinária (IU), (2) Obstrução infravesical (OIV), (3) Hiperatividade detrusora (HD), (4) Bexiga Neurogênica (BN), (5) Outros e (6) EUD Normal. Os diagnósticos de IU e BN não foram divididos entre seus subtipos e, portanto, IU de estresse, hiperatividade detrusora ou mista, e BN por hiperatividade detrusora neurogênica, hipotonia, dissinergismo vésico-esfincteriano etc., foram analisados como um todo dentro de cada patologia. Contudo, os termos específicos, quando utilizados, foram considerados para decisão de correlação positiva ou negativa. Consideramos correlação diagnóstica correta entre o diagnóstico clínico e o urodinâmico final os seguintes: 1. Incontinência urinária: os diagnósticos clínicos considerados corretos foram (1) incontinência urinária, para qualquer subtipo de IU, (2) incontinência urinária de esforço, para diagnóstico urodinâmico de IU de estresse, e (3) urgência e/ou incontinência de urgência quando o diagnóstico final foi IU mista ou hiperatividade detrusora. 2. Obstrução infra-vesical: as previsões diagnósticas clínicas de obstrução infravesical ou sintomas do trato urinário inferior (LUTS) foram aceitas como corretas. Condições consequentes ao processo obstrutivo, como hiperatividade detrusora, por exemplo, não foram consideradas para o diagnóstico final. 3. Hiperatividade Detrusora: para esta patologia, os únicos termos aceitos foram urgência e incontinência de urgência.

4. Bexiga Neurogênica: o termo clínico bexiga neurogênica ou termos específicos para cada situação (por exemplo, hiperatividade detrusora neurogênica, hipotonia) foram julgados como correlação positiva. 5. Outros: neste grupo incluímos todos os diagnósticos que não se enquadraram nas classificações anteriormente citadas. Se houve correlação positiva entre o diagnóstico clínico e o urodinâmico, então ela foi considerada. 6. EUD normal: foram considerados diagnósticos urodinâmicos de normalidade exames cujo laudo final foi EUD normal ou aqueles cujo diagnóstico final foi duvidoso (exemplo: indefinido para obstrução). Uma vez que o EUD, com raras exceções, não deve ser indicado em pacientes hígidos assintomáticos, consideramos negativas todas as correlações entre o diagnóstico clínico e o urodinâmico final. Quando o EUD definiu mais de uma conclusão diagnóstica, consideramos apenas a mais importante e relacionada ao diagnóstico clínico. Por último, a partir de uma lista com os pacientes submetidos a procedimento cirúrgico pela urologia, analisamos os pacientes que realizaram tratamento cirúrgico para a patologia diagnosticada. Ou seja, identificamos os pacientes para os quais o exame urodinâmico teve maior importância para definir o tratamento a ser realizado. Foram consideradas positivas as cirurgias específicas para tratamento da patologia diagnosticada. Por exemplo: cirurgia para correção de incontinência urinária por via abdominal ou vaginal nos casos de incontinência urinária ou ressecção endoscópica de próstata para os casos de OIV. Não foram consideradas corretas as cirurgias que não fazem parte do tratamento da patologia diagnosticada. Por exemplo: nefrectomias,

perineoplastias. Nessa análise também dividimos os pacientes cuja indicação para o exame foi feita por urologistas (grupo I) e aqueles cuja indicação foi feita por não urologistas (grupo II). Excluíram-se da análise estatística os exames com falha de preenchimento do laudo ou aqueles que por algum motivo não foi possível a conclusão do exame. 3.3. ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS DADOS Os dados foram analisados conforme o que propusemos nos objetivos deste estudo, e o teste do Qui-quadrado foi utilizado para comparar a correlação entre os dois desfechos (diagnóstico clínico e o urodinâmico final) nos grupos I e II, a fim de se estabelecer diferenças.

4 RESULTADOS Foram coletados dados de todos os pacientes que realizaram estudo urodinâmico no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo no período de 2009 a 2010 que resultou em um total de 862 pacientes. Desses, 44 pacientes foram excluídos do estudo por falhas de preenchimento do exame ou não conclusão do mesmo. Os pacientes incluídos no estudo resultaram em um total de 818 pacientes. Dados relacionados à idade e sexo dos pacientes estão representados na Tabela 1. Observou-se que 518 (63%) eram do sexo feminino e 300 (37%) do sexo masculino. A idade dos pacientes variou de 3 a 92 anos com média ± desvio padrão = 58,2 ± 13,1. Tabela 1 Distribuição dos pacientes por sexo e idade N= 818 P Sexo Masculino Feminino Idade Sexo Feminino Média Mediana (min-max) Idade Sexo Masculino Média Mediana (min-max) Legenda: N = número de pacientes 300 (37%) 518 (63%) 54,6 ± 12,2 55 (6-99) 64,4 ± 12,6 66 (3-89) <0,001

A maioria dos pacientes que receberam diagnóstico urodinâmico de IU era do sexo feminino (tabela 2 e gráfico 1). E naqueles que foram diagnosticados OIV, a maioria era do sexo masculino. A diferença entre os sexos para HD não foi significativa. Não houve um número de pacientes suficiente na amostra para se realizar análise estatística dos casos de BN. Tabela 2 Distribuição dos pacientes por patologia e sexo Masculino Feminino P IU 11 (4%) 282 (96%) <0,001 OIV 128 (97%) 4 (3%) <0,001 HD 70 (57%) 53 (43%) 0,030 BN 3 (75%) 1 (25%) Outros 29 (81%) 7 (19%) <0,001 Normal 59 (26%) 171 (74%) <0,001 Legenda: IU = incontinência urinária, OIV = obstrução infra-vesical, HD = hiperatividade detrusora, BN = bexiga neurogênica

Gráfico 1 Porcentagem de homens e mulheres por patologia Observamos que a IU, com 293 casos, foi o diagnóstico urodinâmico mais prevalente, seguida por OIV e HD como demonstrado na tabela 3 e gráfico 2. A OIV apresentou a média de idade mais elevada (65,7 ± 8,8 anos) e BN a mais baixa (50,5 ± 17,0 anos). A média de idade dos pacientes com IU foi de 55 anos e para pacientes com OIV foi de 65 anos. O EUD foi considerado normal em 230 pacientes, que corresponde a 28%.

Tabela 3 Distribuição dos pacientes por patologia e idade N Idade (anos) Média Mediana (Min Max) IU 293 (36%) 55,6 ± 11,4 55 (6 92) OIV 132 (16%) 65,7 ± 8,8 67 (40 86) HD 123 (15%) 59 ± 16,6 62 (5 88) BN 4 (0,5%) 50,5 ± 17,0 50,5 (30 71) Outros 36 (4,5%) 63,3 ± 17,0 63,3 (3 89) Normal 230 (28%) 56,2 ± 12,6 56,2 (9-89) Total 818 58,2 ± 13,1 58,2 ( 3 92) Legenda: IU = incontinência urinária, OIV = obstrução infra-vesical, HD = hiperatividade detrusora, BN = bexiga neurogênica

Gráfico 2 Porcentagem de pacientes por patologia De acordo com tabela 4 (gráfico 3) observamos que 455 dos exames foram indicados por urologistas e 363 foram indicados por não urologista. Dos profissionais não urologistas, a maior parte foi composta pelos ginecologistas (354 pacientes). A grande maioria das indicações de EUD para IU foi feita por não urologistas, enquanto que o contrário é verdadeiro para as demais patologias.

Tabela 4 Distribuição das patologias de acordo com o profissional que indicou o exame Urologistas Não urologistas IU 81 (28%) 212 (72%) OIV 131 (99%) 1 (1%) HD 91 (74%) 32 (26%) BN 3 (75%) 1 (25%) Outros 33 (92%) 3 (8%) Normal 116 (50,5%) 114(49,5) Total 455 (56%) 363 (44%) Gráfico 3 Diagnóstico urodinâmico de acordo com o profissional que indicou o exame

A tabela 5 mostra as ocorrências de acertos e erros do diagnóstico urodinâmico em cada um dos grupos. Tanto o grupo I quanto o grupo II obtiveram índices de acertos maiores que os de erros (62% de acerto para o grupo I e 60% para o grupo II). Quando comparamos os dois grupos no contexto geral, não notamos diferenças estatísticas significativas entre eles (p=0,631). Mesmo à comparação entre os grupos I e II para IU e HD individualmente, não observamos diferenças notáveis para erros e acertos (p = 0,200 e p=0,100 respectivamente). Não realizamos testes estatísticos para as demais patologias porque o número de erros e acertos foram muito heterogêneos e não permitiram a análise. Porém, ao analisarmos os dados excluindo os resultados de IU, observamos um total 210 acertos (56%) para urologistas com 164 erros. E para os não urologistas, 21 acertos (14%) e 130 erros. Isso significa que ao excluir os resultados referentes a IU, houve um índice de acertos maior para o grupo dos urologistas com significância estatística (p<0,001).

Tabela 5 Acertos e erros dos diagnósticos urodinâmicos de acordo com a especialidade Urologistas Não Urologistas p IU Acertos Erros OIV Acertos Erros HD Acertos Erros BN Acertos Erros Outros Acertos Erros Normal Acertos Erros Total Acertos Erros 72 (89%) 9 (11%) 113 (86%) 18 (14%) 63 (69%) 28 (31%) 2 (67%) 1 (33%) 32 (97%) 1 (3%) 0 116 (100%) 282 (62%) 173 (38%) 198 (93%) 14 (7%) 0 1 (100%) 17 (53%) 15 (47%) 1 (100%) 0 3 (100%) 0 0 114 (100%) 219 (60%) 144 ( 40%) 0,200 0,100 0,631 Nos gráficos 4 e 5 visualizamos as porcentagens de acertos e erros por urologistas e não urologistas em cada patologia.

Gráfico 4 Acertos e erros por urologistas Gráfico 5 Acertos e erros por não urologistas

Dentre os 818 pacientes submetidos ao estudo urodinâmico no período, 134 pacientes (16%) foram submetidos ao tratamento cirúrgico da patologia diagnosticada (tabela 6). Observamos que 120 pacientes (26%) dos 455 que tiveram o exame indicado por urologistas foram submetidos ao tratamento cirúrgico e dos 363 pacientes cujos exames foram indicados por não urologistas, 14 pacientes (4%) passaram por intervenção cirúrgica apresentando uma diferença estatística significativa demonstrando que pacientes indicados por urologistas foram submetidos a mais procedimentos que os não urologistas (p <0,001). Tabela 6: Número de cirurgias realizadas em pacientes de cada grupo N = 818 Cirurgias p Urologistas 455 120 (26%) Não Urologistas 363 14 (4%) <0,001

Gráfico 6 Cirurgias realizadas em pacientes de cada grupo

5 DISCUSSÃO O EUD é um exame indicado na maior parte das vezes para pacientes em torno da 6ª década de vida que é o período da vida em que costumam se iniciar os sintomas de patologias como incontinência urinária e hiperplasia prostática benigna que são prevalentes em nosso meio. O sexo feminino apresentou maior quantidade de exames indicados com diferença estatística (p<0,05). Levando em consideração a variável idade, não houve associação estatisticamente significativa com as patologias urinárias principalmente nos quadros de IU, fato também observado em trabalho desenvolvido por Botleroa et al, 2009. Observamos que certos estudos relatam aumento da prevalência da IU com a idade, porém quando avaliam esta variável não fazem distinção entre os vários tipos de IU, detalhe importante, pois a incontinência de urgência e a forma mista apresentam pico de prevalência após a sexta década de vida (Onur et al, 2009; Minassian, 2003). Como esperado, a maioria dos pacientes que receberam diagnóstico urodinâmico de IU eram do sexo feminino, uma vez que a incontinência urinária é uma patologia mais prevalente na população feminina. Da mesma forma, era esperado maior prevalência de obstrução infra-vesical no sexo masculino devido às patologias prostáticas (hiperplasia prostática benigna). Incontinência urinária, que se define por qualquer perda involuntária de urina, clinicamente demonstrável e que causa problema social e higiênico, foi a

patologia mais prevalente e apresentou a média e mediana de idade de 55,6 e 55 anos, respectivamente, indicando seu acometimento a faixas etárias relativamente mais jovens. Esses achados estão em concordância com a literatura mundial, que a define como condição do trato urinário inferior feminino de alta prevalência, gerando prejuízos à qualidade de vida da mulher. Encontramos uma prevalência extremamente baixa de IU em homens (4%), resultados semelhantes ao encontrados por Battistetti et al., 2011, o que pode ser explicada pelas especificidades anatômicas da uretra masculina e geralmente relacionada a cirurgias prostáticas ou condições neurológicas. IU é de diagnóstico não complicado quando não se especifica sua causa. Desse modo, encontramos altas taxas de acertos de correlação entre o diagnóstico clínico e urodinâmico final tanto para o grupo I (89%) como para o grupo II (93%) e este fato não permitiu diferenças entre eles (p = 0,20). A incontinência urinária é um sintoma comum em ambos os sexos, principalmente em pessoas idosas. Porém em mulheres de meia-idade, a prevalência varia entre 30 a 40%, podendo alcançar 50% em mulheres acima da sexta década de vida. Embora a IU seja considerada uma condição que afeta primariamente as mulheres, também apresenta substancial impacto na saúde masculina (D Ancona et al, 2007). A segunda patologia mais frequente foi OIV, correspondendo a 16% dos casos estudados (n = 132). Ela representa uma condição que acomete praticamente homens e está associada, na grande maioria das vezes, a patologias prostáticas. Aqui podemos observar que este grupo de pacientes exibiu a maior média e mediana de todos os casos estudados (65 e 67, respectivamente) e isso

se relaciona à maior prevalência da hiperplasia benigna da próstata (HPB) com o avançar da idade. Essa condição urológica é de manejo praticamente exclusivo do urologista, uma vez que OIV demanda um conhecimento profundo da HPB, sua sintomatologia e complicações. Assim, 99% dos casos pertenceram ao grupo I e, mesmo demandando alta previsibilidade, a taxa de acertos foi alta para este grupo (86%). Em contrapartida, apesar de apenas um caso ter composto o grupo II, este obteve correlação incorreta. Hiperatividade detrusora, conceituada como presença de contrações involuntárias do músculo detrusor com ou sem incontinência e frequentemente associada à polaciúria e noctúria representou a terceira patologia em prevalência (15%). Hiperatividade detrusora é condição comumente associada à IU em mulheres e OIV em homens, permitindo dessa maneira, média e mediana de idade intermediárias em relação às duas últimas doenças (59 e 62 respectivamente). Embora exista tendência em se associar hiperatividade detrusora ao trato urinário inferior feminino, curiosamente relatamos sua alta prevalência em homens. Isso é importante a partir do momento que urologistas muitas vezes não relevam este fato, diretamente associado à baixa qualidade de vida no sexo masculino, quando investigam sintomas do trato urinário inferior. Mesmo assim, ao analisarmos as Tabelas 4 e 5, percebemos que a maioria dos casos fez parte do grupo I (74%). Comparando-se os índices de acertos e erros entre os grupos I e II, pontuamos que, mesmo com uma superioridade de erros sobre acertos, o grupo II errou mais com 47% de erros contra 31% do grupo I. Bexiga neurogênica e outros diagnósticos corresponderam a 0,5% e 4,5% dos diagnósticos respectivamente, sendo que a maioria dos casos foi indicada por

urologistas. Devido ao baixo número de casos obtidos, não foi possível análise estatística confiável. Quase um terço dos exames (28%) não apresentou alterações relevantes à hipótese diagnóstica clínica. Estes resultados estão de acordo com estudos anteriores que mostraram principalmente para pacientes com HPB a falta de associação entre sintomas com os achados urodinâmicos. Levando se em conta todos os diagnósticos urodinâmicos, não houve diferença significativa de acertos e erros entre os grupos I e II. Porém deve se levar em conta que IU é uma patologia de fácil diagnóstico e correspondeu à maioria dos exames indicados pelo grupo II. Ao analisarmos os índices de acertos e erros excluindo a IU, observamos maior taxa de acerto para o grupo I com 56% de acertos do grupo I contra 14% (21) do grupo II (p<0,001). Observamos que o número de pacientes submetidos a tratamento cirúrgico foi maior no grupo I com 26% dos pacientes que no grupo II (4%) com diferença estatística (p<0,001). O que pode estar relacionado com maior chance de prover tratamento e manejo mais adequados e, por conseguinte, promover melhor qualidade de vida ao paciente enfermo. Uma das etapas mais importantes no diagnóstico das doenças do aparelho urinário é a correta avaliação dos sintomas do paciente. História minuciosa deve ser realizada e tudo o que o paciente relara deve ser aferido. A literatura sugere que mulheres com incontinência urinária de esforço demonstrada no exame urodinâmico podem ser identificadas em centros primários de atenção à saúde através de história clínica com sensibilidade de 92% e especificidade de 56%. Já

nos casos de bexiga hiperativa, a história clínica tem sensibilidade de 61% e 87% de especificidade (D Ancora CAL, 2007). Portanto, a realização de anamnese e exame físico detalhados para cada caso é imprescindível para se indicar corretamente o exame urodinâmico, evitando exames desnecessários.

6 CONCLUSÕES O sexo mais prevalente foi o sexo feminino, a faixa etária foi de 58 anos, a IU foi patologia urológica mais prevalente diagnosticada pelo EUD. Levando se em conta todos os diagnósticos urodinâmicos, mais da metade dos exames foi indicado por urologistas, que mostraram altas taxas de acertos para IU e OIV. Não houve diferença significativa de acertos e erros entre os grupos, tanto urologistas quanto não urologistas. No entanto, houve diferença estatística quando excluímos os resultados referentes à IU. Foi encontrada diferença estatística para pacientes que realizaram exames e foram submetidos a cirurgia por urologistas

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