SEXUALIDADE NA ESCOLA: UMA PROPOSTA LÚDICA NO ENSINO DE CIÊNCIAS

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Transcrição:

SEXUALIDADE NA ESCOLA: UMA PROPOSTA LÚDICA NO ENSINO DE CIÊNCIAS Cadidja Coutinho Programa de Pós-Graduação Educação em Ciências Química da Vida e Saúde, Universidade Federal de Santa Maria. cadidjabio@gmail.com Marcia Melchior Departamento de Química, Centro de Ciências Naturais e Exatas, Universidade Federal de Santa Maria. marcia_mexa@yahoo.com.br Eixo temático 2: Racionalidade, Singularidade e Prática Pedagógica Resumo: A meta da escola é educar, formar um cidadão consciente. E é neste contexto que professores buscam maneiras para informar o educando sobre orientação sexual não apenas no uso de preservativos e anticoncepcionais, mas sim, no resgate do indivíduo enquanto sujeito de suas ações, no seu autoconhecimento de seu corpo. Este trabalho tem por objetivo apresentar uma experiência de intervenção em orientação sexual com adolescentes estudantes de sétima série do ensino fundamental de uma escola particular. Esta intervenção pedagógica procura aliar uma estratégia lúdica ao processo de disseminação de informações necessárias à introdução do estudo do sistema reprodutor e sexualidade nas aulas de Ciências. Primeiramente houve uma análise da concepção dos alunos sobre a importância dos órgãos sexuais através do questionamento Como eu visualizo o meu corpo?. Após procedeu-se com uma dinâmica da Caixa do saber proporcionou a discussão de temas relevantes sobre reprodução e sexualidade. Introdução A sexualidade tem se colocado como tema preferencial a ser abordado com adolescentes pelos profissionais de saúde e educadores que atuam junto a este público. No entanto, educar para a sexualidade não é tarefa das mais simples, na medida em que não se reduz meramente à transmissão de informações de um sujeito que sabe para outro que aprende (CARVALHO et al.,2005). Para Foucault (1979), a sexualidade é o nome que pode ser dado a um dispositivo histórico: não à realidade subterrânea que se apreende com dificuldade, mas à grande rede da superfície em que a estimulação dos corpos, a intensificação dos

prazeres, a incitação ao discurso, a formação dos conhecimentos, o reforço dos controles e das resistências encadeiam-se uns aos outros, segundo algumas estratégias de saber e de poder Sexualidade é algo constituinte do ser humano, e como tal, se apresenta intrinsecamente relacionada ao âmbito privado, mas é também resultado da cultura e das relações sociais estabelecidas por homens e mulheres no decorrer de suas vidas (CARVALHO & PINTO, 2002; KAHHALE, 2001; RENA, 2001). O exercício da sexualidade na adolescência poderá constituir risco de grau variável para comprometimento do projeto de vida e até da própria vida, bastando para isto lembrar consequências como a gravidez precoce, o aborto, AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis. Na adolescência o indivíduo está sob intensas transformações estimuladas pela ação hormonal característica da puberdade, com acontecimentos como a menarca e a semenarca, cada vez mais precoces, dentre outras alterações biológicas as quais propiciam uma série de eventos psicológicos que culminam na aquisição de sua identidade sexual (BRÊTAS, 2004). Ao final desta transformação os sujeitos estão aptos para a reprodução, entretanto, a grande maioria não desenvolveu as habilidades emocionais necessárias para isso (CARDOZO et al., 2002). E ao se falar em Educação Sexual e Orientação Sexual Jardim & Brêtas (2006) definem como todo o processo informal pelo qual aprendemos sobre a sexualidade ao longo da vida, seja através da família, da religião, da comunidade, dos livros ou da mídia, enquanto definem Orientação Sexual como processo de intervenção sistemática na área da sexualidade, realizado principalmente em escolas (SUPLICY; EGYPTO; VONK; BARBIRATO; SILVA; SIMONETTI et al., 2004). Sabe-se que a escola é um cenário muito apropriado para o desenvolvimento de um programa de educação sexual, por que além de uma ação direta que exerce sobre os educandos, indiretamente incentiva a própria família a desempenhar a sua função na formação da identidade de gênero e no desempenho dos papéis sexuais de seus filhos. A escola é o ambiente social no qual o indivíduo passa grande parte de sua vida, e é um dos principais elementos para contatos interpessoais (COSTA et al., 2001), por isso deve contribuir para o desenvolvimento de uma educação sexual que promova no adolescente senso de auto-responsabilidade e compromisso para com a sua própria sexualidade (FELTRIN & GIL, 1996).

A orientação sexual na escola está sugerida nos novos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) elaborados pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), dando autonomia aos próprios estabelecimentos de ensino para decidirem a forma de abordarem esta temática (GARCIA, 2004). Sobre as aulas de educação sexual, Vitiello (1994, p. 209) afirma que, idealmente, devem ser ministradas por meio de metodologias participativas e dialógicas, baseadas na realidade sociocultural, desenvolvida com criatividade, intimista e lúdica. Segundo Lorencini-Júnior (1997, p. 95), as aulas de educação sexual podem ser consideradas como um processo de transformação e mudança, que parte de um projeto coletivo e atinge os indivíduos, cada qual com sua busca particular do(s) sentido(s) da sexualidade. No entanto, sabemos que estas instituições enfrentam dificuldades para a inserção de novas práticas em educação sexual, e muitas vezes deixam de oferecer um espaço para que ocorram debates sobre saúde reprodutiva e sexualidade de uma forma contínua, referidos principalmente a carência de recursos materiais e pessoal capacitado (ECOS, 2004; GONÇALVES, 2004). Se a meta é informar ou, melhor ainda, formar, a escola destaca-se entre os grupos de referência por ser esta a sua função precípua. Nesse espaço pedagógico, a orientação sexual torna legal a discussão sobre sexualidade (SAITO & LEAL, 2000). Neste contexto, a experiência de trabalho aqui apresentada pretendeu ir além de um caráter puramente informativo, buscando uma metodologia capaz de compreender os sujeitos integralmente em suas dimensões biológica, psíquica e social. Procurou-se juntamente com os adolescentes, refletir e elaborar uma proposta de ensino lúdica e de explanação de conhecimentos compartilhados face à sexualidade humana. O estudo visa revalorizar o diálogo, o autoconhecimento e uma melhor integração entre sentir, pensar e agir (AFONSO, 2000). Metodologia Este estudo apresenta uma proposta de intervenção pedagógica que procura aliar uma estratégia lúdica ao processo de disseminação de informações necessárias à introdução do estudo do sistema reprodutor e sexualidade nas aulas de Ciências. Neste artigo são apresentados os resultados da intervenção realizada com um grupo de 24 adolescentes, estudantes de sétima série do ensino fundamental de uma

escola particular, sendo 11 do sexo masculino e 13 do sexo feminino, e idades entre 13 e 15 anos. Para a realização da atividade, procedeu-se, primeiramente, uma análise da concepção dos alunos sobre a importância dos órgãos sexuais através do questionamento Como eu visualizo o meu corpo?. Foram feitos desenhos representativos do corpo humano de cada estudante, no intuito de verificar nas imagens criadas pelos alunos a presença do sistema reprodutor. Num segundo momento foi adotada a dinâmica de Caixa do saber onde os alunos anonimamente depositavam as principais dúvidas sobre o sistema reprodutor e sexualidade em forma de perguntas. Através desse mecanismo foi possível estabelecer temáticas para as aulas, gerar diálogo e discussão sobre os temas propostos nos questionamentos, bem como buscar recursos para elucidá-las. Os dados obtidos foram analisados e interpretados em um contexto quantitativo, expressos mediante símbolos numéricos. Apresentados em tabelas e gráficos para melhor compreensão dos mesmos e analisados descritivamente. Resultados No primeiro momento da atividade, quando foram instigados a representar Como eu visualizo o meu corpo? nenhum dos entrevistados desenhou como parte integrante o sistema reprodutor. A dinâmica da Caixa do saber proporcionou a discussão de temas relevantes sobre reprodução e sexualidade no decorrer das aulas. Dentre as perguntas mais frequentes estavam dúvidas sobre órgãos, ciclo menstrual e métodos preventivos (Tabela 1). Tabela 1: Principais questionamentos elaborados pelos alunos na Caixa do saber. A B C D E F Quais os órgãos que compõem o sistema reprodutor feminino e masculino? Quais medidas podem ser usadas para evitar a transmissão de doenças sexuais? Como ocorre o ciclo menstrual da mulher? Em qual etapa do ciclo menstrual existe maior risco de gravidez? O que é sêmen? Qual a sua importância? Qual a função da pílula do dia seguinte? Existe algum risco no uso frequente?

Os principais questionamentos elaborados pelos alunos durante a dinâmica da Caixa do saber foram reapresentados aos sujeitos da pesquisa durante atividades avaliativas. Foi possível constatar que os entrevistados lembravam-se das explanações feitas em aula, respondendo as perguntas com facilidade. Além disso, nas respostas estavam contidas informações relevantes sobre o assunto, conhecimento gerado a partir do diálogo e discussão dos temas em sala de aula. Discussão É intrigante o descaso para com a sexualidade constatado no cotidiano escolar. Pois, na verdade o indivíduo passa boa parte de sua vida na escola, onde lhe falam de quase tudo, mas não se menciona o desabrochar natural de sua sexualidade e do seu desenvolvimento (JARDIM & BRÊTAS, 2006). Talvez a sexualidade ainda encontre resistências ao seu desvelamento, em razão do lugar privilegiado que detém no cerne dos valores associados à intimidade da pessoa moderna (HEILBORN & BRANDÃO, 1999). É preciso manter inocência e a pureza das crianças e adolescentes, ainda que isso implique no silenciamento e na negação da curiosidade e dos saberes sobre identidade, as fantasias e práticas sexuais (LOURO, 2000). Nesse contexto, acredita-se que um dos motivos que dificulta o ensino e aprendizado nas disciplinas Ciências e Biologia, especialmente no que se refere ao corpo humano, encontra-se na possível dissintonia entre perspectivas e de necessidades que instruem as falas e também os silêncios dos educadores e dos educandos. Assim, o conteúdo que é apresentado como importante de conhecer para uns, não o é para outros e o fluído na fala para uns, mostra-se temeroso de ser dito para outros, ditando as possibilidades de sucesso ou de fracasso do processo pedagógico (FILHO & OBREGON, 2000). O público adolescente forma um seleto grupo etário que passa por intensas mudanças nos quesitos biológicos, psíquicos e sociais. É uma etapa cheia de conflitos pessoais e interpessoais em que os adolescentes incorporam influências culturais de familiares, da mídia, dos amigos, enfim, da sociedade. Essas influências culturais repercutem diretamente nos seus comportamentos atitudes ante as relações de gênero (TORRES et al., 2007).

Os horizontes da escola devem se ampliar cada vez mais, abrangendo conhecimentos sempre mais relevantes sobre adolescência e sexualidade, o que possibilitará o desenvolvimento de técnicas de abordagem ainda mais adequadas (SAITO & LEAL, 2000). È importante não considerar a sexualidade como sinônimo de sexo ou atividade sexual, mas, sim, como parte inerente do processo de desenvolvimento da personalidade (SAITO & LEAL, 2000). Assim, para que o adolescente se torne agente na promoção de sua própria saúde, é necessário que conheça seu corpo e suas formas de obter prazer, conheça os riscos de determinados comportamentos e possa elaborar para a vida projetos que visem lidar com sexualidade de forma ética e responsável (CARVALHO et al., 2005). Referências AFONSO, L. Oficinas em dinâmica de grupo: um método de intervenção psicossocial. Belo Horizonte: Edições do Campo Social, 2000. BRÊTAS J. R. S. A Mudança corporal na adolescência: a grande metamorfose. Temas Desenvolvidos, 2004; 72(12): 29-38. CARDOZO DN, FREITAS IC, FONTOURA MSH. Comportamento sexual de adolescentes do gênero feminino de extratos sociais distintos em Salvador. Revista Paulista Pedagogia 2002; 20(3): 122-7. CARVALHO, A. M.; RODRIGUES, C. S. e MEDRADO, K. S. Oficinas em sexualidade humana com adolescentes. Estudos de Psicologia, 2005, 10(3), 377-384. CARVALHO, A., & PINTO, M. V. Ser ou não ser... Quem são os adolescentes? In A. CARVALHO, F. SALLES, M. GUIMARÃES (Orgs.), Adolescência (pp. 11-29). Belo Horizonte: Editora da Universidade Federal de Minas Gerais, 2002. COSTA COM, LOPES CPA, SOUZA RP, PATEL BN. Sexualidade na adolescência desenvolvimento, vivência e propostas de intervenção. J Ped 2001; 77(supl 2): 217-24.

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