Orientação Sexual na escola: para além dos Parâmetros Curriculares Nacionais
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- Leandro Farinha Azeredo
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1 Orientação Sexual na escola: para além dos Parâmetros Curriculares Nacionais Autoras: Tânia Regina Goia Instituição: Universidade Estadual Paulista Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Assis tania_goia@ig.com.br País: Brasil Eixo e área temática: C. de La Educación/Clínicas y Políticas: procesos de subjetivación e invención
2 Objetivos O presente artigo surgiu a partir da proposta de trabalho da disciplina de Psicologia Escolar da Universidade Estadual Paulista, tendo como objetivo principal entender como é vista e trabalhada a questão da orientação sexual nas escolas, por meio de entrevistas com professores do ensino fundamental, com base nos Parâmetros Curriculares. O papel da escola deveria ser complementar a educação sexual transmitida pela família, o que muitas vezes não é isso que ocorre. Em vista da luta e tolerância as diferenças (homossexualidade, gravidez na adolescência), a escola sendo como o local de início das relações, não prepara os sujeitos nem os professores para lidar com a diversidade (Itani, 1997). Muitas são as formas pelas quais o preconceito se manifesta nas relações sociais. Pode-se afirmar que o preconceito faz parte de nosso comportamento cotidiano, e a sala de aula não escapa disso. E trabalhar com essa questão, ou mesmo com intolerância, não está dentre as tarefas mais fáceis do professor. Para poder trabalhar com essas questões, é preciso compreendê-las, saber como se manifestam e em que bases são expressas. Considerando o que é proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, no que se refere à capacitação de educadores, conclui-se que além do envio de materiais é necessário a preparação efetiva destes profissionais para lidar com a sexualidade em todos os espaços e contextos que a demanda surgir, levando em conta, primordialmente, as necessidades peculiares de cada escola de acordo com a realidade social e cultural em que se inserem. O tema da sexualidade está presente em diversos espaços escolares. É corrente entre meninos e meninas, sendo este um assunto a ser abordado na sala de aula pelos diferentes especialistas da escola. É por ela (entre outros meios) que as informações sobre métodos contraceptivos e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, chegam ao adolescente. Considerando a necessidade latente de discussão do assunto em ambiente escolar, a orientação sexual foi incluída como tema transversal nos Parâmetros Curriculares Nacionais em 1997, e é trabalhado ao longo de todos os ciclos de escolarização. Um dos espaços privilegiados para o desenvolvimento do assunto é a aula de Educação Física.
3 O trabalho discutirá primeiramente o conceito de sexualidade e a forma como a orientação sexual vem sendo debatida no contexto escolar. Posteriormente, na parte prática do estudo, serão expostas as entrevistas realizadas com sete professores, os resultados e a conclusão obtidos delas. De acordo com Foucault, o termo sexualidade surgiu no século XIX, juntamente com práticas religiosas, judiciárias, pedagógicas e médicas; instituições estas que visavam dar sentido e valor a conduta, desejos, prazeres, sentimento, sensações e sonhos. Para este pensador, a sexualidade é dispositivo histórico que exerce o saber e o poder devido ao encadeamento de fatores como grande rede da superfície em que a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação ao discurso, a formação do conhecimento, o reforço dos controles e das resistências (Foucault, 1997). No século XVII, instrumentalizou-se a produção dos discursos sobre o sexo, baseada na confissão implementada na Igreja Católica. Foi apenas no século XIX, que a nova tecnologia do sexo se desenvolveu na da pedagogia, o da medicina e o da demografia. A sexualidade sai do domínio da Igreja e passa a ser negócio de Estado, administrando o todo social e convidando individualmente os sujeitos a exercer a vigilância. O biopoder sobre a população exercido pelo Estado se deu justamente pelo exercício do micropoder (através das disciplinas dos corpos e regulação da massa) (Foucault, 1997). Foucault, no primeiro volume da História da Sexualidade, diz sobre a existência de duas formas de apropriação do saber sexual: a scientia sexualis e a ars erótica. Entende-se por ars erótica ao saber prático, físico e espiritual com o objetivo de obter o prazer levando em conta suas intensidades, qualidades, duração e reflexos no corpo e no espírito. Para a ars erótica não existe limites, nem outro objetivo que não seja o prazer. A scientia sexualis é o saber sexual desenvolvido com base no conhecimento científico sobre a fisiologia da reprodução a partir do século XVIII (Foucault, 1997). Ainda nesta obra ele explica que a escola, instituição de tradição iluminista, responsável por transmitir o conhecimento científico, não herdou a ars erótica e sim a scientia sexualis. Desse modo, a escola não é acostumada a abordar o prazer e as angústias do exercício da sexualidade, e se restringe a informar às crianças e adolescentes sobre a fisiologia do aparelho genital. Limitação essa percebida, até mesmo, pelas próprias crianças (Foucault, 1997). O indivíduo sofre influências da família, da mídia, da religião e da escola, que adaptam os seus comportamentos aos modelos aceitos pela sociedade. A sala de aula é o
4 local onde se encontram diferentes pontos de vista - crenças, valores, atitudes, tipos de organização familiar, etc. - e também diferentes modos de comportamento sexual. Assim, a sala de aula se constitui como um ambiente de tensões e conflitos (SOUZA, 1997). Sayão (1997) reafirma a importância da escola como instrumento imprescindível na disseminação dessa informação, pelas manifestações da sexualidade em banheiros, muros e carteiras, bem como nas brincadeiras e paródias inventadas e repetidas a todo tempo. O objetivo da orientação sexual é favorecer o exercício prazeroso e responsável da sexualidade, de forma que a informação seja adequada às diferentes fases do desenvolvimento cognitivo e etário do indivíduo, para que o método utilizado traga os resultados esperados pelos educadores (Rossi e col, 2000; Fernandes, 1994), destacando que o tema selecionado pelo aluno dará direcionamento ao objetivo do programa (Egypto, 2003). Contudo, os programas de orientação sexual começaram a ser implantados nas escolas municipais de São Paulo em 1989, sendo pioneiro o Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual. A partir de 1995, as escolas passaram a contar com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), elaborados pelo Ministério da Educação com apoio de diversos especialistas, sendo de grande valia para a inclusão dos conteúdos sobre sexualidade e saúde reprodutiva (Pecorari; Cardoso; Figueiredo, 2005). No intuito de atender a demanda de crianças e adolescentes, o Ministério da Educação e Desporto propôs a Orientação Sexual como um dos seis temas transversais integrantes dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Os critérios de escolha dos temas foram: urgência social, abrangência nacional, possibilidade de ensino e aprendizagem no ensino fundamental e favorecimento da compreensão da realidade e a participação social dos estudantes (Brasil, 1998). Os Parâmetros Curriculares Nacionais apontam que uma Orientação Sexual bem feita pode resultar em aumento do rendimento escolar (devido ao alívio de tensão e preocupação com questões da sexualidade) e aumento da solidariedade e do respeito entre os alunos. Com as crianças pequenas, o efeito é a diminuição da angústia e a agitação em sala de aula. (Brasil, 1998). Participaram deste estudo sete professores de escola pública e particular de ambos os sexos, com idades entre 23 a 68 anos, sendo dois aposentados e cinco atuando. Critérios de inclusão: professores iniciantes com 1 ano de atuação (N=1),
5 professores com mais de 15 anos de atuação (N=4) e professores aposentados (N=2). Foi aplicado uma entrevista estruturada desenvolvida pela própria autora do artigo, a fim de abranger questões relacionadas ao tema do estudo. Para análise dos dados foi realizada a categorização das respostas. E análise descritiva por meio de porcentagem. A partir dos dados pôde-se observar que 28,5% dos entrevistados são aposentados; 14,28% são iniciantes e 57,14% dos participantes possuem mais de 15 anos de atuação. A primeira questão relacionada à opinião sobre o que pensa ser Orientação Sexual na escola mostrou que todos os sete participantes responderam que se refere à orientação/informação a respeito de assuntos como: relação sexual segura, transformações no corpo, sexo, prevenção de doença, decisões em relacionamentos. A segunda questão referente à existência de programa de O.S. na escola mostrou que em apenas duas escolas era realizado um plano com tal tema. Para investigar quais recursos eram utilizados nesses programas a questão 3 mostrou que nas duas escolas onde há o programa são feitos trabalhos com vídeo, utilização de livros, palestras além de grupos de estudo com temas sugeridos pelos próprios alunos. Estas estratégias ocorrem em ambas às escolas durante todo o ano letivo. Para a questão que perguntava sobre a disciplina responsável pela orientação sobre O.S. as entrevistas mostraram que em cinco das escolas é o professor de Ciências e em uma escola é o professor de Biologia quem ministra tal assunto. Com relação à existência de alguma capacitação para realizar a O.S. dois entrevistados responderam que essa capacitação ocorre nas escolas onde trabalham, por meio de sugestões fornecidas por estagiários de psicologia e indicações de livros sobre o tema e também é realizada pelo coordenador pedagógico. Em ambos os casos a capacitação é realizada durante o tempo de horário de trabalho pedagógico coletivo (HTPC). Todos os entrevistados responderam que é importante que o tema O.S. seja realizado nas escolas, pois, em muitas famílias o assunto ainda é tabu; para compreensão direcionada e criteriosa sobre sexualidade e como forma de prevenção de DSTs e gravidez precoce. No entanto, somente quatro pessoas se consideraram capazes para lidar com o tema e dois entrevistados se disseram razoavelmente capacitados. Quando perguntado aos professores qual a sensação de falar sobre sexualidade com os alunos, somente três professores responderam que se sentem tranqüilos/à vontade para abordar o tema.
6 Quando foi pedido para que os professores relatassem uma situação em que o tema sexualidade surgiu durante a aula apareceram diversas experiências como: mudanças no corpo gerando curiosidade; uso de palavras para denegrir o outro sem o real conhecimento da mesma; curiosidades surgidas em aula de anatomia e materiais como preservativo e revista com conteúdo pornográfico. As reações dos professores para lidar com estas situações foram adequadas, já que realizaram bons esclarecimentos e orientações. O que pode ser percebido com este trabalho é que uma das maiores dificuldades para a realização de programas de orientação sexual é o fato de que a maioria dos professores não sabe abordar o assunto, e há a falta de profissionais qualificados para a abordagem do tema. Isso fica claro nas entrevistas realizadas em que os professores apontam a falta de profissionais especializados para lidarem com o tema, sendo eles próprios muitas vezes que tem que responder aos questionamentos dos alunos. A falta de segurança dos orientadores para passar a informação ao aluno, dando respostas prontas, sem esclarecer todas as dúvidas, são as grandes reclamações e questionamentos por parte dos diretores, fazendo com que as escolas dificilmente desenvolvam atividades voltadas diretamente para orientação sexual. É o momento em que o professor tem que se sentir confiante para lidar com os temas trazidos pelos adolescentes. Frente a esse fato, a liberdade sexual não pode se expressar. A sexualidade deve ser ressignificada na escola, e para que isso seja possível é preciso transformar a sala de aula num espaço democrático onde as diferenças são aceitas e debatidas. A sexualidade é tema polêmico, pois está ligada a outros temas, também polêmicos, como a religião, moral, ética, status social, relação de poder e gênero.
7 Referência Bibliográfica Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais. Brasília: MECSEF, Egypto, C. A. O projeto de orientação sexual na escola In. Egypto, C. A. (Org). Orientação sexual na escola: um projeto apaixonante. Cortez, São Paulo, Fernandes, J. C. L. Práticas educativas para prevenção do HIV/AIDS, aspectos conceituais. Caderno de saúde pública, v. 10, n. 2, p, Foucault, M. A história da sexualidade 1: a vontade de saber. 12. ed. Trad. Maria Thereza da Costa Albuquerque e J.A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Graal, Itani, A. (1997). Subterrâneos do trabalho. Hucitec. In: Groppa, J. (org). Diferenças e Preconceito na escola: alternativas teóricas e práticas. 5ª edição. São Paulo. Summus Editorial, Pecorari, E. P. N.; Cardoso, L. R. D.; Figueiredo, T. F. B. Orientação sexual em escolas de ensino fundamental: um estudo exploratório. Cad. psicopedagogia, vol.5, no.9, Rossi, P., et al. Perfil dos professores que exercem papel de educador sexual em escolas da rede pública In. Gir, Elucir, et al, Sexualidade em temas, Sayão, Y. Orientação Sexual na escola: os territórios possíveis e necessários. In: In: AQUINO (1997). J. G. Sexualidade na escola: alternativa teórica e prática. São Paulo, Summus, Souza, M. C. C. C. Sexo é uma coisa natural? A contribuição da psicanálise para o debate da sexualidade/escola. In: Sexualidade na escola: alternativas teóricas e práticas. Summus Editorial
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