TRIBUNAL MARÍTIMO PROCESSO Nº 20.258/03 ACÓRDÃO



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Transcrição:

TRIBUNAL MARÍTIMO PROCESSO Nº 20.258/03 ACÓRDÃO L/M "XEREU". Colisão com banhista, nas proximidades das praias de Azeda e Azedinha, em Búzios, RJ., com danos materiais e ferimentos graves em banhista. Causa não apurada acima de qualquer dúvida.arquivamento. Vistos os presentes autos. Trata-se de analisar o acidente da navegação envolvendo a embarcação "XEREU", conduzida na ocasião pelo proprietário Mario Veiga de Almeida Júnior, veio a colidir contra a banhista Viviane Degan Cox, provocando os seguintes danos físico: traumatismo múltiplo de face e base do crânio, com afundamento frontal orbital e etmoidal, fratura exposta de acrônio direito, o acidente ocorreu no dia 20 de abril de 2002, por volta das 17h, nas proximidades das praias de Azeda e Azedinha, Búzios, RJ. Dos depoimentos colhidos e documentos acostados extrai-se que a embarcação "XEREU", tipo lancha de fibra na cor branca, inscrita na Capitania dos Portos do Rio de Janeiro, possui 5,40 metros de comprimento equipado com o motor de popa de 90 HP, com capacidade para 05 (cinco) passageiros, após retornar de uma pescaria, navegava da ilha Branca, sentido à praia dos Ossos, quando foi observado pelos seus ocupantes os impactos no fundo da lancha, ao constatar-se o motivo do impacto, notou-se que se tratava de uma banhista. Segundo o condutor e proprietário da lancha "XEREU" (fls. 62, 63 e 64), afirmou que desde 1993 é habilitado como Arrais Amador, e que seu conhecimento do local onde ocorrera o acidente é vasto. E que não haveria qualquer possibilidade do acidente ocorrer se a vítima não tivesse nadando ou mergulhando no local propício para tráfego de embarcações e apesar do acidente ter ocorrido quando conduzia a embarcação, não sente-se culpado pelos danos ocasionado na vítima, mesmo tendo dado todo o amparo

legal a mesma. Afirmou que conduzia a lancha de pé e vigilante, que lhe dava total visibilidade e que a vítima não foi vista, apenas sentiu o impacto. Segundo o Sr. João Lauro Facó Dornelles, o qual afirma, também que a vítima não foi vista no local em que trafegavam e por não ter sido vista por nenhum dos depoentes, porém, foi sentido apenas o impacto e que após esse fato, ao constatar-se o motivo do impacto notou-se que se tratava de uma banhista e que prestaram os primeiros socorros imediatos, acrescentando ainda com exatidão que a vítima encontrava-se aproximadamente 250 metros da praia da Azeda, o que fez-se confirmar no croqui efetuado pelo depoente do próprio punho às (fls. 66, 67 e 68); Segundo Sra. Viviane Degon Cox, vítima do acidente em questão encontrava-se aproximadamente a 80 metros da praia da Azeda nadando em sentido ao pôr-do-sol que estava pondo no horizonte não lembra como ocorreu o acidente, mais afirma que é acostumado à nadar naquela praia e não ultrapassa de 80 metros distância da areia. Ouvidas outras testemunhas declaram que o Sr. Mario, condutor da embarcação, acompanhado do Sr. João, navegava a bordo da lancha "XEREU" voltando de uma pesca submarina na ilha Branca em Búzios. Ao retornar para praia dos Ossos, passando pela praia da Azeda e Azedinha sua lancha colidiu com a banhista a 155 metros da praia de Azedinha e 215 metros da praia da Azeda, acordo laudo pericial. Após o acidente o Sr, Mario socorreu a vítima prestando os primeiros socorros e levando-a na lancha "XEREU" para praia dos Ossos, onde foi encaminhada para P.U. de Búzios, sendo atendida e transferida para a Clínica Santa Helena em Cabo Frio. Após exame realizado a vítima foi transferida de helicóptero para Clínica Barra D OR, no Rio de Janeiro. 2

Laudo pericial direto às fls. 88, concluiu que o fator operacional contribuiu para o acidente, pois o local do mesmo fica a menos de 200 metros da praia da Azedinha, portanto área de banhista. Documentação de praxe anexada. No relatório o encarregado do inquérito concluiu que são possíveis responsáveis direto pelo acidente; Mario Veiga de Almeida Júnior por imprudência, em virtude do mesmo conduzir a lancha "XEREU" à menos de 200 metros da praia da Azedinha, nas proximidades do local existe um grande tráfego de embarcações (escunas, táxis marítimos e outros) que fazem o itinerário praia dos Ossos a praia João Fernandes e praia do Canto a praia João Fernandes. Viviane Degon Cox (vítima) a qual declarou ter sofrido o acidente a 80 metros da praia, a vítima nadava em direção ao pôr-do-sol, contudo, não tinha noção real da distância, uma vez que afirma, que não recorda como ocorreu o acidente, sendo o local onde ocorreu o mesmo de grande tráfego de embarcações. Notificação dos indiciados formalizadas. A PEM ofereceu representação em face de Mario Veiga de Almeida Júnior, proprietário e condutor da lancha "XEREU", com fulcro no Art. 14, letra a, da Lei nº 2.180/54, 14, alínea "a" (colisão), da Lei nº 2.180/54, fundamentando em termos com o relatório do encarregado do inquérito. Recebida a representação e citado o representado o mesmo foi regularmente defendido. A defesa de Mario Veiga de Almeida Júnior alega em resumo que: O ora defendente, no comando da lancha "XEREU", de sua propriedade, vinha retornando da ilha Branca junto com seu antigo companheiro de "mergulhos", João Lauro Facó Dornelles, após uma tarde pesca submarina. 3

A água turva, e fria, impediu que encontrassem boas presas, e era esse o tema da conversa a bordo no momento da aproximação da ponta de pedra. O defendente, por navegar a muitos anos naquela área, que é de intenso tráfego de embarcações, reduziu de imediato a velocidade para cerca de cinco a oito nós, o suficiente para manter a tração do motor e preservar a governabilidade da lancha, dado que o mar e as ondas a empurram pela popa. Ao dobrar a ponta avistam a praia da Azeda e algumas embarcações fundeadas ao largo. O defendente, já levantado da poltrona de comando e com o seu raio de visão, conseqüentemente aumentado, afasta-se do interior daquela enseada em forma de ferradura, segundo em linha retilínea no rumo da praia da Armação, o tanto quanto lhe bastaria para circundar a segunda ponta daquela enseada em forma de ferradura e penetrar no saco da Praia dos Ossos, onde mantém casa. Súbito, um baque seco na proa da lancha surpreende ambos. O motor é cortado de imediato. Imagina-se um pau, ou um coco vazio à deriva. Em frações de segundo um grito ressoa próximo, vindo do "táxi-boat" fundeado. Os gestos e a aflição dos seus tripulantes indicam perigo ou tragédia. O defendente olha a sua volta, investigando a origem da pancada no casco. Avista, então, bem próximo da lancha, uma enorme mancha de sangue e, abaixo dela, um corpo. O ato é reflexo e automático: atira-se na água para dar o devido socorro. Cumpre à risca, assim, o "artigo primeiro da Lei do Mar". O salvamento demora poucos e intermináveis segundos. Enquanto procura manter fora da água a cabeça ensangüentada da banhista inconsciente, seu companheiro manobra a lancha, procurando por maior aproximação. Chegam ao local outros dois banhistas. Um deles sobe a bordo para ajudar o içamento do corpo, enquanto o outro tenta auxiliar o defendente no esforço de mantê-lo flutuando. 4

Já a bordo são prestados os primeiros socorros, por um dos que auxiliaram no salvamento. Afortunadamente, Rui Jared de Souza (fls. 59/60) é um enfermeiro competente, lotado no Posto de Saúde de Búzios, e com presteza consegue reduzir o volume da hemorragia. A lancha retoma o seu curso e velozmente navega rumo à praia dos Ossos. Quem a comanda agora é Ronald Alves de Souza (fls. 56/57) profissional de marinharia e que vem a ser o segundo banhista que acorreu ao local. O ora defendente, seu companheiro João Facó Dornelles e o enfermeiro Rui Jared de Souza seguram a vítima, procurando a melhor forma de acomodá-la no rápido trajeto até à praia. Desembarcam. A pick-up do defendente está estacionada na porta da casa. Com uma prancha de windsurf improvisam rapidamente uma maca, onde a vítima é acomodada. O enfermeiro Rui Jared de Souza pede que alguém traga um saco com gelo, a fim de melhor poder controlar a hemorragia. Ato seguinte, partem todos em direção ao posto de saúde, onde prosseguem os primeiros socorros. O posto de Búzios não conta, no entanto, com os recursos necessários. A acidentada precisa urgentemente ser transferida para outro hospital. O defendente providencia uma ambulância e parte em direção ao Hospital Santa Helena, situado em Cabo Frio. Prestado o atendimento inicial com a urgência que o caso impunha, a situação da vítima, embora ainda crítica, é estabilizada pelos médicos daquele nosocômio. Vem a noite. A acidentada continua em estado crítico no CTI do Santa Helena. O defendente, a seu turno, angustia-se. Sabe que a situação da paciente exige os mais modernos recursos tecnológicos no campo da neurocirurgia. E, se possível, os melhores médicos. Indaga da administração do hospital de Cabo Frio acerca das chances de remoção para o Rio de Janeiro. São positivas, dizem eles; "quanto mais rápido, melhor". O defendente providencia, então, a UTI da Aeromil Ltda., empresa de táxi-aéreo. 5

No dia seguinte, antes mesmo do final da manhã, a acidentada já agora identificada como uma cidadã franco-brasileira Viviane Degon Cox dá entrada no Hospital Barra D OR, um dos mais conceituados do país. Dezembro de 2002. Pouco mais de oito meses se passaram desde o trágico fato. A acidentada, de retorno ao seu país de origem, já retornou as atividades normais. Depois de ser submetida às cirurgias reparadoras que se fizeram necessárias, Viviane Degon Cox está de volta ao seu cotidiano parisiense. Contudo, ainda podem existir seqüelas. O defendente, a seu turno, e obedecendo, desta feita, ao "art. 2º da Lei do Mar", assumiu e continuará a assumir a integral responsabilidade pelo fato que envolveu a embarcação sob seu comando. Desde o momento daquele trágico fato não poupou esforços e recursos, tudo no intuito de amenizar o sofrimento daquela infeliz vítima do imprevisível. Sem indagar sobre culpas, ou sobre causas assumiu, voluntariamente, o ônus do enorme dispêndio financeiro representado pela internação da acidentada no reputado Hospital Barra D OR. Ainda não se conhecia, àquela altura, o fato de que Viviane Cox possuía seguro-saúde contratado em Paris, o qual, posteriormente, veio a cobrir parte da conta apresentada pro aquela instituição. Mas o socorro não parou aí. O defendente, ainda de forma absolutamente espontânea e desinteressada, financiou todos os gastos, inclusive os particulares, relativos à permanência de Viviane, no Rio de Janeiro no curso desses oito últimos meses. O rol das despesas realizadas pelo ora defendente conta com mais de cento e cinqüenta itens (anexo, doc. nº 01), e totaliza, até o momento, a importância de R$ 151.880,00 (cento e cinqüenta e um mil oitocentos e oitenta reais). Mas não teve isso por suficiente. No momento em que essas razões são escritas, o defendente e a vítima dão a última forma ao termo de responsabilidade que concederá a 6

esta a tranqüilidade de saber que todas as cirurgias, tratamentos, remédios, consultas, terapias, ou qualquer outro gasto que possa ter relação com o fato investigado neste inquérito toda e qualquer despesa será coberta pelo ora defendente. Esse documento também garantirá a Viviane Cox o recebimento imediato de cerca de cento e cinqüenta mil reais, pelos salários que ela deixou de receber em Paria em função de sua temporária inatividade profissional. E se ocorrerem novas impossibilidades laborativas em razão de novas cirurgias que possam vir a ser realizadas, o defendente está assumindo a obrigação de ressarcir essas perdas financeiras. Até a completa recuperação da acidentada. Esse termo virá aos autos tão logo seja assinado pelas partes interessadas. É uma prova por cuja realização esta defesa, desde já, protesta. São esses os fatos, Sr. Capitão dos Portos exatamente como eles ocorreram. Mas não será somente em razão da atitude humanitária do defendente, ou da postura cavalheiresca e leal por ele assumida neste caso, que as Autoridades Marítimas deverão inclinar-se por não puni-lo. Há mais. Razões de ordem jurídica e legal aconselham no mesmo sentido. Vejamos, então. A mecânica do fato. Hipóteses. Provável causa adequada. A par das teorias relativas à causalidade no campo da responsabilidade civil, que admitem a coexistência de causas e concausas, de causas próximas ou imediatas em face de causas remotas ou mediatas, de causa típicas ou atípicas, de causa preexistentes e concomitantes, de condições substituíveis ou não, temos que a legislação penal brasileira, onde se abebera todo o direito repressivo, inclusive o de cunho administrativo adota, na atualidade o princípio da causalidade adequada, ou da "conditio sine qua non". Este princípio encontra-se inserido no art. 13, do Código Penal: "Art. 13 O resultado de que depende o crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido." 7

Comentando a norma penal em questão, Celso Delmanto ensina que: "O caput do Art. 13 estabelece nexo de causalidade (ou relação causal), pelo qual o resultado (nos crimes que dele dependem) só pode ser atribuído a quem lhe deu causa. A palavra causa significa aquilo que faz com que algo exista." (Código Penal Comentando, pg. 20). Esclarece ainda, que segundo a teoria da equivalência, também chamada "conditio sine qua non", acolhida pelo nosso Código Penal, para saber se um antecedente foi causa do resultado, "deve-se procurar eliminá-lo, mentalmente, e verificar se o resultado, sem ele, teria ocorrido". Esse mesmo processo lógico é recomendado pelo mestre Nelson Hungria, como se pode inferir na leitura do artigo por ele escrito para a Revista Forense, de março de 1942 (pg. 852): "A teoria em questão (da causalidade adequada) é preferível dentre todas as outras formuladas sobre a causalidade física, pois serve a uma solução simples e prática do problema. A pergunta Quando a ação ou omissão é causa do resultado? Ela responde de modo claro e categórico: a ação ou omissão é sempre causa quando, suprimida in mente (processo de eliminação hipotética, frase de Von Thyren), o resultado in concreto não teria ocorrido." Abstraídas, dessa forma, quaisquer outras concausas que possam, circunstancialmente, ter contribuído, como, por exemplo, as condições do mar e a luminosidade do pôr-do-sol, posto que nenhuma delas, quando considerada dentro das possíveis mecânica adiante imaginadas, serviria para determinar a ocorrência do fato aqui investigado, ou ainda que excluídas dessa verificação, forçoso reconhecer a existência de uma causa verdadeiramente adequada ao erro que se pretende atribuir ao ora defendente. E essa causa adequada, como se comprovará a seguir, resume-se na circunstância específica de que a vítima, turista e estrangeira, desconhecendo inteiramente o perigo, encontrava-se em área de intenso tráfego marítimo e, muito provavelmente, submersa no momento do acidente! 8

Isso porque, a prova testemunhal colhida indica que o defendente conduzia a embarcação em velocidade baixa no momento do fato, informação que encontra pleno amparo na prova pericial, que não constatou qualquer avaria em seu casco, por mínima que fosse. O local do fato, por sua vez, distando cerca de 215 metros da praia central da enseada é, indiscutivelmente, de "grande tráfego de embarcações", como frisado na conclusão do laudo de fls. Deve se descartar, de pronto, por total implausibilidade e por absoluta inverossimilhança em face do perfil do ora defendente, homem afeito à vivência no mar, velejador de oceano há mais de duas décadas, qualquer suspeita de imperícia, ou de negligência, fato que, aliás, não deixou de ser observado pelo laudo preparado pela Delegacia da Capitania dos Portos de Cabo Frio, que terminou imputando ao defendente, ainda que indevidamente, como se verá mais a frente, uma única modalidade de conduta culposa: a imprudência. Mas o fato é que o ora defendente conduzia a sua embarcação em velocidade perfeitamente adequada ao local, encontrando-se absolutamente sóbrio, lúcido, desperto, atento e vigilante no momento do fato, até mesmo por que, há que se considerar, ele vivinha da prática de atividade esportiva de altíssimo risco, que não condiz com qualquer outro status físico e mental. Nessa linha de raciocínio, há forçosamente que se levar em conta a circunstância de que a mecânica do acidente propriamente dita como ele se deu na realidade ainda permanece envolta em mistério, em razão do que esta defesa encontra-se forçada a raciocinar sobre hipóteses. Considere V. Exa. e, oportunamente, os ilustres membros do Egrégio Tribunal Marítimo, que a vítima, em razão do choque e dos traumas sofridos, não tem a mais 9

mínima recordação do acidente. A sua memória alcança apenas os últimos momentos que teve na praia, antes de sair para nadar. De outro lado, as testemunhas aquelas mesmas que auxiliaram no salvamento não presenciaram o exato momento do acidente, pois só voltaram a atenção para o local após ouvirem "um barulho" (depoimento de Ronald de Souza na D.P. de Búzios). O enfermeiro Ruy Jared de Souza informou, por sua vez, que momentos antes do fato avistou Viviane nadando ao largo, passando pela popa de sua embarcação, "no rumo do sol". Enquanto isso, o ora defendente e seu companheiro, muito embora atentos ao rumo que seguiam, em baixa velocidade, sublinhe-se, não tiveram como perceber a presença de uma banhista em rota de colisão, tendo sido completamente surpreendidos com o impacto sofrido pela proa da lancha. Razoável se ponderar que um indivíduo executando nado livre, batendo braços e pernas, ou mesmo em nado de peito, forçado a erguer a cabeça a cada respiração, seriam alvos de fácil visualização por qualquer tripulante que se encontrasse na proa da embarcação, daí porque é muito provável que, no momento mesmo em que foi atingida pela lancha, Viviane não estivesse nadando. Então, de duas, uma: ou a vítima, percebendo a aproximação da lancha, submergiu propositalmente no intuito de escapar de seu curso, para então voltar a emergir e, assim fazendo, desacostumada a calcular equações que envolvem distância e velocidade, retornou à tona para respirar juntamente quando a embarcação já estava sobre si, ou, também muito provavelmente, Viviane encontrava-se com o corpo quase todo submerso, apenas mantendo fora da água a parte frontal do rosto, como fazem muitos banhistas ao tentarem "boiar". Mas a verdade é que assim como o ora defendente e seu companheiro embarcado não tiveram qualquer chance de avistar a vítima antes do choque, nenhum tripulante ou 10

piloto de qualquer das dezenas de embarcações que cruzam aquele local diariamente teria podido, da mesma forma, adivinhar ou prever o fatídico acontecimento. E não prejudica a pretensão do ora defendente de ver-se inocentado pelo ocorrido o simples fato do acidente ter ser verificado a poucos metros da linha que supostamente deveria marcar a distância mínima para um normal tangenciamento da praia da Azedinha, e isso pelo motivo de que, para gozar do abrigo da ponta do Cavalo Ruço contra os fortes ventos de leste e nordeste que ali sopram na maior parte do ano, as embarcações, inclusive as de grande porte, utilizam há décadas essa mesma rota, dobrando o acima referido acidente geográfico a uma distância muito menor do que os estimados 15 metros apontados pelo laudo. As fotos nos 11 e 14, anexadas ao laudo pericial (fls. 95 e 96) dão bem a idéia da situação. Imagine-se, à vista dessas fotos, que ao invés de uma linha traçada a partir do centro da praia da Azedinha em direção ao rumo sudoeste, contando os 155 metros estimados pelo laudo o que define o local do acontecido marquemos uma outra, hipotética, no rumo oeste puro, ou no rumo oeste-noroeste, seguindo quase o mesmo traçado da ponta de pedra na direção do mar, e aí, indubitavelmente, teremos que a rota normal das embarcações que costeiam Búzios em direção à praia de João Fernandes, ou daquelas que o fazem para dobrar a costa rumando para Cabo Frio ou para o litoral sul, passa uma distância bem inferior aos duzentos metros regulamentares. E isso é detalhe do conhecimento de todos os que freqüentam aquelas praias, exceção feita, é óbvio, aos turistas que pela primeira vez lá desembarcam. Mister considerar que a linha de proteção de 200 metros, quando se trata de praia em trecho retilíneo da costa, é de fácil identificação, bastando que o condutor da embarcação tenha um senso mínimo de distância. O mesmo já não vai ocorrer no caso de praias com desenho côncavo, em forma acentuada de ferradura, ou de enseadas como a da 11

Azeda, que abrigam mais de uma praia, ainda mais se consideradas as características da geografia e da meteorologia local, que aconselham que se siga uma rota mais próxima da costa. E sendo assim, a circunstância técnica indicada pelo laudo como suficiente para incriminar a conduta do ora defendente, não pode ser considerada em caráter absoluto para determinar, em um processo de pouquíssima lógica em termos de causa e efeito, que o fato ocorreu porque a embarcação do ora defendente encontrava-se a uma distância inferior a 200 metros da pequena e pitoresca praia da Azedinha. O acidente não ocorreu por isso. Ele teria ocorrido, de idêntica forma, com qualquer outro barco que trafegasse naquele mesmo ponto, naquele mesmo e exato momento. A causa determinante foi outra, como já exposto acima e a sua adequação ao efeito verificado pode ser facilmente constatada se utilizado o mesmo processo lógico (de eliminação hipotética) proposto por Von Thyren e adotado por Nelson Hungria. Aplicada por meio desse processo racional de eliminação hipotética, a teoria da causalidade adequada mostra que ao substituir o vetor número um, representado pela embarcação sob o comando do ora defendente, por outra embarcação que estivesse navegando nas mesmíssimas condições de segurança, o presente o vetor número dois o corpo submerso ou semi-submerso da vítima (sem bóia de sinalização) a conclusão é a de que o acidente fatalmente ocorreria em razão da presença exclusiva do vetor número dois. A imputação de imprudência. Análise jurídica dessa modalidade culposa. Como já exposto acima, a mecânica do fato tratado neste inquérito não pôde ser criteriosamente elucidada em razão da reduzida presença de elementos confiáveis para a formação de qualquer convicção. Não obstante, partindo do raciocínio de que não foi a banhista que "atropelou" a embarcação, o laudo pericial de fls. termina por concluir que o acidente ocorreu por culpa 12

do ora defendente, culpa, essa, supostamente caracterizada na sua modalidade de imprudência. Mas essa conclusão não deverá prevalecer. E isso porque se encontra há muito assentado em nossos Tribunais Superiores o entendimento no sentido de que "Não se presumindo a culpa, deve ela ser cumpridamente provada, dentro dos elementos de sua configuração, desprezadas as deduções, as ilações ou as conclusões que não se assetem em prova concreta, acima de qualquer dúvida." (Revista Forense, nº 175, pg. 375). Ora, o próprio conceito jurídico-penal do que seja imprudência remete forçosamente a uma pretensa atuação comissiva do agente, posto que as de caráter omissivo normalmente caracterizam outra modalidade culposa: a negligência. "Consiste a imprudência na prática de um ato perigoso, sem os cuidados que o caso requer. A negligência, na falta de observância de deveres exigidos pelas circunstâncias. Uma é fato de comissão, é culpa in agendo: outra é, em geral, fato de omissão, é um atuar negativo, um não fazer." (Anibal Bruno, Direito Penal, Ed. Forense, Tomo 2º, pg. 88). "A conduta imprudente consiste em agir o sujeito sem as cautelas necessárias, com açodamento e arrojo, e implica sempre em pequena consideração pelos interesses alheios." (José Frederico Marques, Curso de Direito Penal, ed. Saraiva, vol. II, pg. 217). E por se tratar, assim, de atividade comissiva, pressupondo um atuar concreto do agente diretamente relacionado com o seu resultado, mister que para a sua perfeita e correta caracterização sejam conhecidos e descritos todos os eventuais elementos fáticos e mecânicos que possam revelar essa forma de atuar. O Colendo Tribunal de Alçada Criminal do Rio de Janeiro, apreciando apelação interposta em caso de homicídio culposo ocasionado em acidente de trânsito, cuja defesa tivemos a honra de patrocinar, houve por bem decidir que "ocorrendo dúvida razoável deve o julgador tender a um juízo absolutório segundo o consagrado princípio do "in 13

dubio pro reo" recepcionado pelo Art. 14, letra a, da Lei nº 2.180/54, 386, VI, do Código de Processo Penal." Homicídio culposo delito de circulação fato típico do Art. 14, letra a, da Lei nº 2.180/54, art. 121, 3º do Código Penal prova insuficiente para um juízo de reprovação sentença de 1º grau de jurisdição que se reforma para absolver o apelante. Insuficiente se apresenta o contexto probatório quando a prova pericial se faz imprecisa e incorre depoimentos de testemunhas presenciais ao fato. Em se tratando de crime culposo é indispensável que a culpa stricto sensu fique cumpridamente comprovada. Em ocorrendo dúvida razoável deve o julgador tender a um juízo absolutório segundo o consagrado princípio do in dubio pro reo recepcionado pelo Art. 14, letra a, da Lei nº 2.180/54, art. 386, VI, do Código de Processo Penal (2ª Câmara Criminal Apelação nº 48.862/92 Relator: Juiz Murta Ribeiro). Mas no caso presente, face ao já visto, não foi possível estabelecer como, em verdade, se deu o acidente. Muito embora tenham sido esgotados todos os recursos investigativos da ilustre autoridade naval que presidiu o presente "affaire" administrativo não há, como não poderia mesmo haver, um juízo definitivo acerca de qual foi o atuar concreto do ora defendente que pudesse conter algum teor, por mínimo que fosse, de reprovabilidade jurídica. A causa determinante do acidente não foi, definitivamente, a forma de atuar do ora defendente no comando da embarcação envolvida no trágico fato, que se deveu, exclusivamente, à total imprevisibilidade da situação. "Perguntado: se tem mais alguma coisa que possa colaborar com a atuação em pauta? Respondeu: que o local do acidente não é um local de banhista." (depoimento de Ronald de Souza). Idem, idem, depoimento de Ruy Jared de Souza na Capitania (Cabo Frio). 14

Parece evidente, por tudo o que ficou acima assinalado, que a incogitável presença da vítima no local assinalado na fotonº 01 (fls. 89) que é de intenso tráfego de embarcações provavelmente submersa, ou semi-submersa, no momento em que foi atingida, retirou do ora defendente qualquer possibilidade de evitar o acontecido, assim como ocorreria com qualquer outro que não estivesse previamente alertado para o fato. Na instrução foi designada a audiência para oitiva de testemunhas para o dia 10 de dezembro de 2003 às 08h30min. No dia 10 de dezembro de 2003, foi declarada cancelada a audiência, tendo em vista o não comparecimento das testemunhas e do patrono do representado. Em alegações finais, manifestou-se o representado e a Douta Procuradoria. Decide-se: De tudo o que consta nos autos, conclui-se que o acidente da navegação sob análise, tipificado no art. 14, letra a, da Lei nº 2.180/54, ficou caracterizado como colisão de lancha de esporte-recreio em banhista que encontrava-se nadando nas proximidades das praias Azeda e Azedinha, localizadas em Búzios, RJ. A colisão provocou graves lesões corporais na banhista Viviane Degon Cox que foi socorrida com presteza pelo condutor e proprietário da lancha L/M "XEREU", Mario Veiga de Almeida Junior. Cabe ressaltar que a L/M "XEREU" navegava da ilha Branca com direção à praia dos Ossos, aproximadamente a 155 metros da praia Azedinha e 215 metros da praia da Azeda, desenvolvendo cerca de 8 (oito) nós de velocidade, seguindo em rumo retilíneo para a praia da Armação. O condutor da L/M "XEREU", ora representado, somente tomou conhecimento da tragédia ao sentir um baque na proa da lancha, o qual imaginou a princípio, ser um pedaço de madeira ou até mesmo um côco, quanto então ouviu gritos vindos de um 15

táxi-boat cujo condutor informou-lhe o ocorrido. A proa da lancha havia atingido de forma violenta, a banhista Viviane Cox provocando graves lesões corporais na mesma. Após o acidente não houve recusa de socorro por parte do condutor da L/M "XEREU". O mesmo ofereceu a vítima todo o auxílio material necessário à sua plena recuperação, não poupando esforços e recursos financeiros, como muito bem demonstrado nos autos, tudo no intuito, tão somente, de amenizar o sofrimento da banhista. Contudo, permanece ainda no campo das dúvidas, a real distância em que a banhista encontrava-se da praia, visto que a mesma declarou ter sofrido o acidente a 80 metros da praia quando nadava em direção ao pôr do sol, que não recorda como ocorreu o acidente e que o local onde o mesmo se deu é de grande tráfego de embarcações. Na hipótese de se considerar que a banhista estava em local não permitido, não se pode afirmar que a distância da L/M "XEREU" tenha guardado relação de causa e efeito com o trágico acidente. Por outro lado, se ao contrário, a mesma estivesse nadando em local permitido, teria então, havido falta de vigilância por parte do condutor da L/M "XEREU". Entretanto, como tais fatos não foram apurados devidamente visto que todos os envolvidos no acidente (condutor, testemunhas e a própria vítima) não se preocuparam em observar a real posição da lancha objetivando tão somente em salvar a vítima, a qual encontrava-se em estado deplorável. Diante do exposto, conclui-se que improcedem os termos da Representação da Douta Procuradoria, tendo em vista que o acidente da navegação que provocou graves lesões corporais em banhista não teve suas circunstâncias em determinante apurada acima de qualquer dúvida, razão pela qual exculpo o ora representado, Sr. Mario Veiga de Almeida Junior, condutor e proprietário da L/M "XEREU" e determino que se mande arquivar os autos. Assim, 16

A C O R D A M os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do acidente: colisão de lancha em banhista, nas proximidades das praias de Azeda e Azedinha, em Búzios, RJ., com danos materiais e ferimentos graves em banhista; b) quanto à causa determinante: circunstâncias não apuradas com a devida precisão; c) decisão: julgar o acidente da navegação tipificado no art. 14, letra a, da Lei nº 2.180/54, como decorrente de circunstâncias não determinadas, mandando arquivar os autos, exculpando o representado Mario Veiga de Almeida Junior, condutor e proprietário da L/M "XEREU". P.C.R. Rio de Janeiro, RJ, em 15 de julho de 2004. EVERALDO SÉRGIO HOURCADES TORRES Juiz-Relator WALDEMAR NICOLAU CANELLAS JÚNIOR Almirante-de-Esquadra (RM1) Juiz-Presidente 17