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5HODomRGHFDXVDOLGDGHQR'LUHLWR3HQDOXPDFRQWULEXLomR %UXQR GRV 6DQWRV 3DUDQKRV servidor do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, acadêmico de Direito no UniCEUB Reza o nosso Código Penal, em seu art. 13, caput: "2 UHVXOWDGR GH TXH GHSHQGHDH[LVWrQFLDGRFULPHVRPHQWHpLPSXWiYHODTXHPOKHGHXFDXVD&RQVLGHUDVH FDXVDDDomRRXRPLVVmRVHPDTXDORUHVXOWDGRQmRWHULDRFRUULGR". Adotou-se, portanto, no ordenamento penal brasileiro, a 7HRULDGD(TXLYDOrQFLDGRV$QWHFHGHQWHV&DXVDLV, ou 7HRULDGD&21',7,26,1(48$121, adaptada, de Stuart Mill, por Von Buri, no que tange à relação de causalidade entre os fatos ocorridos e o resultado. Mas, qual o significado desta teoria? Nas próprias palavras de Von Buri: "QmRp SRVVtYHOGLVWLQJXLUHQWUHFRQGLo}HVHVVHQFLDLVHQmRHVVHQFLDLVDRUHVXOWDGR, VHQGRFDXVD GRPHVPRWRGDVDVIRUoDVTXHFRRSHUDPSDUDDVXDSURGXomRTXDLVTXHUTXHVHMDP". Assim, são elencados em um mesmo nível de causalidade todos os acontecimentos que mantém relação OyJLFRQDWXUDOtVWLFD com o resultado. Apelemos para a clareza de Nelson Hungria: "$ TXHVWmR GD FDXVDOLGDGH p UHVROYLGD QD yuelwd H[FOXVLYD GR HOHPHQWR PDWHULDOGRFULPHLVWRpQRHVWULWROLPLWHGDDomRRXRPLVVmRHRUHVXOWDGR(PIDFHGR DUWFDSXW GR&yGLJR(então)YLJHQWHpVHPSUHLQWHJUDOHVROLGDULDPHQWHUHVSRQViYHO SHORUHVXOWDGRFRQFUHWRGRSRQWRGHYLVWDOyJLFRFDXVDODDomRRXRPLVVmRVHPDTXDOR

UHVXOWDGRQmRWHULDRFRUULGR". Voltando nossa atenção, mais uma vez, à afirmação de Von Buri, não haveria, no que diz respeito à relação de causalidade, diferenças ontológicas entre os diversos fatos ocorridos, isto é, não haveria como diferençar "FRQGLo}HVHVVHQFLDLVHQmRHVVHQFLDLV". É novamente o grande mestre Hungria quem melhor nos coloca a questão: "NDGDLPSRUWDTXHKDMDFRRSHUDGRFRPDDomRRXRPLVVmR SDUD R DGYHQWR GR UHVXOWDGR RXWUD IRUoD FDXVDO FRQFDXVD 1HQKXPD GLIHUHQoD H[LVWH HQWUHFDXVDHFRQFDXVDHQWUHFDXVDHFRQGLomRHQWUHFDXVDHRFDVLmR". Então, como regra geral, para descobrir se certo acontecimento é causa de um determinado resultado, basta suprimi-lo mentalmente da linha causal; se chegarmos à conclusão de que o resultado LQFRQFUHWR não teria ocorrido, FRQWUDULRVHQVX ao FDSXW do art. 13 de nosso Código, não poderemos considerá-lo causa do resultado (a esta operação mental dá-se o nome de 3URFHGLPHQWR+LSRWpWLFRGH(OLPLQDomRGH7K\UHQ). Deste primeiro contato com o assunto, seríamos levados a supor, HJ, que em face de um resultado morte por disparo de arma de fogo, tudo aquilo que se coloca em sua linha de desdobramento causal seria considerado causa: a venda da arma, a venda da munição, as diversas fases de produção desses objetos, as fases de confecção dos produtos intermediários (ligas e juntas de ferro e aço), etc., um verdadeiro UHJUHVVXV DG LQILQLWXPConseqüentemente, estaríamos frente a uma infindável relação de eventos que constituem-se em causas do resultado morte, pois "UHODFLRQDGRVDRHYHQWRWDOFRPRHVWH RFRUUHXIRUDPWRGDVLJXDOPHQWHQHFHVViULRVHPERUDTXDOTXHUGHODVVHPRFRQFXUVRGDV RXWUDVQmRWLYHVVHVLGRVXILFLHQWH" (daí, portanto, esta teoria também ser chamada de Teoria da "conditio sine qua non").

Ressalte-se que, para a análise até aqui elaborada, mantivemo-nos, unicamente, na análise da &DXVDOLGDGH2EMHWLYD (LPSXWDWLRIDFWL), isto é, na necessária relação fática, entre eventos, para a produção do resultado. Para Hungria: "D WHRULD HP TXHVWmRpDSUHIHUtYHOGHQWUHWRGDVDVIRUPXODGDVVREUHDFDXVDOLGDGHItVLFDSRLVVHUYHD XPD VROXomR VLPSOHV H SUiWLFD GR SUREOHPD". É aqui que se revela o acerto de sua adoção pelo legislador pátrio: a Teoria de Equivalência dos Antecedentes Causais visa, VLPSOHVPHQWH, a responder a pergunta formulada em termos de nexo objetivo de causalidade quais são as causas de determinado resultado? -, QmRYDLDOpPGRTXHR PHURHQFDGHDPHQWRGHDFRQWHFLPHQWRV. Voltemos ao grande mestre: "a HTXLYDOrQFLD GRV DQWHFHGHQWHV FDXVDLV p XP LUUHIXWiYHOGDGRGHOyJLFDHQDGDLPSHGHTXHVHMDUHFRQKHFLGRQDHVIHUDMXUtGLFRSHQDO GHVGH TXH VH QmR FRQIXQGDP D FDXVDOLGDGH REMHWLYD H D FDXVDOLGDGH VXEMHWLYD LPSXWDWLRIDFWLHDLPSXWDWLRMXULV" ; ou na linguagem simples do Professor Damásio de Jesus: "D WHRULD GD HTXLYDOrQFLD GRV DQWHFHGHQWHV SRUpP QmR OHYD D H[FHVVRVR VXMHLWRQmRUHVSRQGHUiSRUFULPHHPIDFHGDDXVrQFLDGHGRORHFXOSD". Não mais há que se falar em relações puramente causais (objetivas) entre a conduta do agente e o resultado produzido. Dentro da mais moderna teoria sobre a conduta humana, a 7HRULD )LQDOLVWD GD $omr, desenvolvida por Hans Welzel, temos que: "$ DomR HVWi FRQVWLWXtGD SHODGLUHomRGRVXFHGHUUHDOSHORGHVHMDGRSHORDJHQWHSRULQWHUSRVLomRGHFRPSRQHQWHV GHWHUPLQDQWHV $ DomR p XPD DWLYLGDGH ILQDO KXPDQD$ ILQDOLGDGH VH EDVHLD HP TXH R KRPHPFRQVFLHQWHGRVHIHLWRVFDXVDLVGRDFRQWHFLPHQWRSRGHSUHYHUDVFRQVHT rqfldv GH VXD FRQGXWD&RQKHFHQGR D WHRULD GD FDXVD H HIHLWR WHP FRQGLo}HV GH GLULJLU VXD DWLYLGDGH QRVHQWLGRGHSURGX]LUGHWHUPLQDGRVHIHLWRV". Em nosso singelo exemplo,

apesar da objetiva relação de causalidade entre a venda e produção da arma e o resultado morte, tanto o produtor quanto o comerciante do produto, por não conduzirem-se com dolo ou culpa para a produção do resultado, não viriam a cometer crime algum. $VXSHUYHQLrQFLDGHFDXVDUHODWLYDPHQWHLQGHSHQGHQWH. O primeiro parágrafo do art. 13 nos diz que: "D VXSHUYHQLrQFLD GH FDXVD LQGHSHQGHQWH H[FOXL D LPSXWDomR TXDQGR SRU VL Vy SURGX]LX R UHVXOWDGR RV IDWRV DQWHULRUHV HQWUHWDQWR LPSXWDPVH DTXHPRVSUDWLFRX". Admite, o referido mandamento legal, a interrupção do nexo causal entre a conduta do agente e o resultado, sob determinadas hipótese, quais sejam: a) a causa que produza o resultado seja VXSHUYHQLHQWHjFRQGXWDGRDJHQWH, isto é, ocorra depois de sua ação; b) que a causa superveniente seja UHODWLYDPHQWH LQGHSHQGHQWH GD FRQGXWD GR DJHQWH, isto é, mantenha relação com a conduta inaugurada pelo autor; c) que a causa superveniente independente SURGX]DRUHVXOWDGRSRUVLVy, isto é, seja causa bastante para a produção do resultado. Exemplifiquemos. Tício ministra veneno mortal a Caio, que, socorrido por uma equipe de médicos e enfermeiros, vem a morrer, poucos minutos após a ingestão da substância, em função de acidente sofrido pela ambulância a caminho do hospital. Encontram-se aqui todas as características elencadas acima: a) o acidente com a ambulância que transportava Caio ocorreu após a ingestão do veneno ministrado por Tício (superveniência); b) o acidente não teria acontecido se Caio não tivesse sido envenenado por Tício (independência relativa); c) as lesões causadas pelo acidente foram determinantes para a morte de Caio ("por si só"). Tício responderá pelos fatos que

praticou, a saber, WHQWDWLYDGHKRPLFtGLR. Não obstante, caso somente aplicássemos o FDSXWdo art. 13 ao caso em tela, Tício seria responsável pela morte de Caio uma vez que, eliminando-se o envenenamento, o acidente da ambulância, que provocou a morte de Caio, não teria ocorrido; logo é causa. Neste mesmo caminho, observamos que a conduta de Tício foi dolosa (agiu com intenção de produzir o resultado morte). No entanto, a intenção homicida, materializada por sua conduta de ministrar o veneno e daí resultar a morte de seu desafeto, não se completa em uma linha causal única, direta. Necessitava, o legislador, criar uma diferenciação no tratamento desta "nova" relação causal, uma vez que a linha de desenvolvimento desejada pelo agente "YHQHQR!PRUWHSRUHQYHQHQDPHQWR" foi interrompida, e, a partir dela, criou-se um novo curso de acontecimentos (relativamente independente da anterior), "DFLGHQWH!PRUWHHPIXQomRGDVOHV}HVVRIULGDV". Assim, tendo em vista o disposto no 1º do art. 13, muitos autores falam em "DEUDQGDPHQWR" ou "WHPSHUDPHQWR" da Teoria de Equivalência dos Antecedentes Causais. Claro está na abordagem feita por grandes penalistas "TXHDVFDXVDVSUHH[LVWHQWHVHFRQFRPLWDQWHVTXDQGRUHODWLYDPHQWH LQGHSHQGHQWHVQmRH[FOXHPRUHVXOWDGR". No entanto, mesmo revelando ser esta uma posição minoritária, parte da doutrina considera que o mandamento legal em tela revelaria não uma determinação de "abrandar", H[FOXVLYDPHQWH, situações em que houvesse superveniência de causa relativamente independentes. Vão além. Afirma-se "TXHKRXYHXPDODFXQDLQYROXQWiULD GD OHL QR DUW ž", isto é, quando da existência de causas SUHH[LVWHQWHV e FRQFRPLWDQWHV, poderia haver, por LQWHUSUHWDomR DQDOyJLFD, o mesmo tratamento dado pelo preceito legal, no que diz respeito à interrupção do nexo causal. Vamos a dois

exemplos : a) Tício atira em Caio, errando os disparos, mas a vítima morre do coração devido a um problema coronário de nascença, pois o susto desencadeou a taquicardia capaz de matar; b) Tício persegue Caio na via pública, atirando contra o mesmo, sendo que Caio vem a ser atropelado enquanto foge, morrendo em decorrência do atropelamento. De acordo com a interpretação dada pelo nosso Código Penal, no primeiro exemplo a causa que por si só produziu a morte de Caio (problema cardíaco) é SUHH[LVWHQWH à conduta de Tício, que responderá por KRPLFtGLRGRORVRnote-se que o resultado "morte de Caio" decorre diretamente da conduta de Tício, isto é, Caio só vem a falecer por ação direta de Tício, pois são os disparos da arma que lhe causam o distúrbio cardíaco. No segundo caso, a causa que por si só produziu o resultado - atropelamento - é superveniente à conduta de Tício, HODSRGHULDQmRWHURFRUULGRH&DLRWHULDVLGRPRUWR SHORVGLVSDURVFDXVDGRVSRU7tFLRRXVHWLYHVVHFRQVHJXLGRHVFDSDUHVWDULDYLYR Logo, estamos diante de uma hipótese de incidência do 1º do art. 13, onde Tício responderá pelo atos praticados, isto é, WHQWDWLYDGHKRPLFtGLR. Sustentam os defensores da tese de utilização da interpretação analógica LQ ERQDP SDUWHP, que este "benefício" seria concedido nos "FDVRV HP TXH R DJHQWH GHVFRQKHFHVVH D FRQFDXVD SUHH[LVWHQWH RX FRQFRPLWDQWH SURYRFDGRUD GR UHVXOWDGRSRLVHP RXWUDV VLWXDo}HV HVWDUtDPRV JHUDQGR FHUWD LQMXVWLoD". Voltemos aos exemplos. Quando Tício, no primeiro exemplo, com QHFDQGLDQLPR, atira em Caio, quer, efetivamente, a sua morte; presentes estão os requisitos do dolo, a FRQVFLrQFLDde sua conduta e sua significação e a YRQWDGH de produzir o resultado. Inicia os atos de execução do crime (possui consciência da relação causal entre sua conduta "atirar" e o resultado "morte") e, efetivamente, vem a produzir o resultado, muito embora

não da forma que pretendia; seria razoável exigir-lhe que se tivesse conduzido de acordo com a norma jurídica vigente (NÃO MATAR), além de possuir plena consciência da ilicitude de sua ação. 1mRKiTXHVHIDODUHPLQMXVWLoDTXDQGRGHVXDWLSLILFDomRFRPR KRPLFtGLR GRORVR SRLV SUHVHQWHV HVWmR WRGRV RV UHTXLVLWRVHOHPHQWRV TXH FDUDFWHUL]DPDVVLPDFRQGXWDHDWHVWDPVXDFXOSDELOLGDGH. Já no segundo exemplo, suprida LQ PHQWH o acidente fatal (atropelamento), estaríamos diante de um número infindável de hipóteses que poderiam ter acontecido (a fuga de Caio, o seu atropelamento não ter resultado em sua morte, sua morte em função dos disparos realizados), porém, VXEVLVWH D WHQWDWLYD GH KRPLFtGLR SUDWLFDGD SRU 7tFLR HVWH p XP IDWR GD UHDOLGDGH QmRXPDRXWUDKLSyWHVH Há, então, uma clara diferença entre um e outro fato, exigindose do legislador pátrio tratamentos distintos, no tocante às condutas, pelo ordenamento jurídico. Vejamos outros exemplos: a) Tício, mesmo sabendo ser Caio cardiopata, tendo certeza de que sua conduta não virá a provocar sua morte, aplica, em Caio, um terrível susto, vindo este a falecer vítima de um infarto fulminante; b) Tício, não sabendo ser Caio cardiopata, ministra-lhe remédio para descongestionar-lhe as vias respiratórias, porém acelera-lhe o batimento cardíaco e Caio vem a sofrer um infarto fulminante; c) Tício, sabendo ser Caio cardiopata e desejando o resultado morte, o expõe, deliberadamente, a situação da alta tensão emocional (criada por ele mesmo, Tício), vindo Caio a sofrer um infarto fulminante. Para cada uma dessas situações, teríamos uma situação jurídico-penal distinta para Tício. No primeiro exemplo, a conduta de Tício poderia ser tipificada como KRPLFtGLRFXOSRVR; no segundo caso, QmRKDYHUiFULPH; na terceira hipótese, haveria KRPLFtGLRGRORVR.

Note-se que em todas as soluções apresentadas, o simples estabelecimento do nexo de causalidade entre a conduta de Tício e o resultado "morte de Caio" não são suficientes para resolvermos o problema. Há de se analisar, como estabelece a doutrina, os demais elementos do fato típico (além do nexo de causalidade e do resultado morte). Cabe ainda analisarmos se a conduta humana é dolosa ou culposa e, também, a subsunção do fato à norma penal incriminadora - tipicidade. Voltemos aos nossos exemplos: no primeiro caso, Tício agiu com culpa consciente (o agente esperava levianamente que o resultado não ocorresse); no segundo não houve dolo nem culpa na conduta de Tício, sendo, portanto, o fato atípico; na terceira houve dolo, com consciência e voluntariedade no preparo da situação que causou o resultado morte. Não restam dúvidas que soluções apoiadas exclusivamente no estabelecimento de um QH[R GH FDXVDOLGDGH REMHWLYR entre conduta e resultado e na simples existência do próprio UHVXOWDGR, que são características QHFHVViULDV, PDV QmR VXILFLHQWHV, para se construir o fato típico, FRPHWHPJUDYHHUURno que diz respeito a sua formação completa. Dada a superação da Teoria Causal da conduta humana e da Responsabilidade Penal Objetiva, não poderíamos aceitar, em nenhuma das três hipóteses acima colocadas, o mesmo desfecho jurídico-penal para Tício. Outrossim, além do IDWR WtSLFR, também a DQWLMXULGLFLGDGH e a FXOSDELOLGDGH (e, para alguns autores, também a SXQLELOLGDGH) são requisitos para a existência do crime, estendendo-se, então, a análise para conceitos como a ilicitude do fato e sua reprovabilidade social. Não há, como querem alguns autores, que "R DJHQWH GR GHOLWR TXH SUDWLFRX D FRQGXWD VXSHUYHQLHQWH PHQRV JUDYH UHVSRQGD SHOR UHVXOWDGR PDLVJUDYHPHVPRTXHHVWH VHMDLQGHVHMDGR". Tal conclusão não se sustenta.

1RWDV 1. Conforme citado por Nelson Hungria, em seu Comentários ao Código Penal, Vol. I, Tomo II. Editora Forense, 5ª edição. 1978. Rio de Janeiro. Página 65. 2. Damásio de Jesus, citando Heleno Cláudio Fragoso ("Conduta Punível"). Direito Penal, 1º Volume - Parte Geral. Editora Saraiva. 20ª edição. 1997. São Paulo. Página 248, nota de SpGHSiJLQD n.º 1. 3. Hungria, Nelson, ob. cit. página 65. 4. Algumas teorias explicativas do nexo de causalidade diferenciavam causa e condição, ou estabeleciam certa distinção no tocante a sua eficiência para a produção do resultado (Teoria da Causalidade Adequada e Teoria de Eficiência). 5. Ob. cit. página 65. 6. Hungria, Nelson, ob. cit. página 65. 7. Ob. cit. Página 66. 8. Hungria, Nelson ob. cit. página 66 (grifo nosso). 9. Ob. cit. Página 251.

10. Jesus, Damásio de, ob. cit. página 232. 11. Para alguns autores (Damásio, 1997) não há interrupção do nexo de causalidade, mas apenas uma nova linha de desdobramento físico da ação, autônoma em relação àquela iniciada pelo agente. 12. Neste sentido, Nelson Hungria, ob. cit., página 68. 13. Jesus, Damásio de, ob. cit. página 256. 14. Mesquita Júnior, Sídio Rosa de. Relação de Causalidade no Direito Penal. Texto concluído em julho de 1999, publicado no VLWH"www.jus.com.br" (grifo nosso). 15. Exemplos propostos pelo Professor Mesquita Júnior. 16. Mesquita Júnior, Sídio Rosa de, ob. cit. (grifo nosso). 17. Mesquita Júnior, Sídio Rosa de, ob. cit.