A evolução recente da indústria farmacêutica veterinária brasileira. o restante destinado a animais de produção [IFAH (2013)].



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Transcrição:

Informe Setorial Área Industrial Novembro/2013 nº 27 A evolução recente da indústria farmacêutica veterinária brasileira Mercado e indústria internacionais O mercado farmacêutico veterinário mundial atingiu US$ 22,5 bilhões em 2012, com crescimento médio de 8% a.a. desde 2002. O crescimento da demanda mundial tem sido liderado pelo segmento de animais de companhia (pets), que atualmente representa 40% do mercado, sendo o restante destinado a animais de produção [IFAH (2013)]. A despeito desse crescimento da demanda por produtos para animais de companhia, a dinâmica do mercado farmacêutico veterinário é ainda bastante relacionada a animais de produção, em particular à pecuária. Segundo IFAH (2013) e dados disponíveis no site do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sidan), 1 Estados Unidos e Brasil são, nessa ordem, os dois maiores produtores de proteína animal e os maiores mercados veterinários do mundo, com participações de 40% e 8%, respectivamente. Quanto à oferta, conforme exposto na Tabela 1, o mercado de saúde animal é dominado por empresas multinacionais com sede em países Tabela 1. Ranking global das indústrias farmacêuticas de saúde animal por faturamento, 2012 Rank Empresas Fusões e aquisições (2007-2012) Origem Faturamento (US$ bilhões) acumulada 1 Zoetis Fort Dodge/Alpharma EUA 4,30 19,1 19,1 (Pfizer Animal Health) 2 MSD Animal Health Intervet (SGP) EUA 3,40 15,1 34,2 3 Merial (Sanofi-Aventis) Romage/Ancare França 2,80 12,5 46,7 4 Elanco Animal Health (Eli Lilly) Janssen Animal Health EUA 2,04 9,1 55,7 5 Bayer Animal Health KMG Chemicals A.H./ Alemanha 1,68 7,4 63,2 Bomac Group 6 Boehringer Ingelheim Alemanha 1,37 6,1 69,2 7 Idexx Laboratories EUA 1,29 5,7 75,0 8 Novartis Animal Health Suíça 1,09 4,8 79,8 9 Virbac França 0,89 4,0 83,8 10 Ceva Santé Animale Vetbrands Saúde França 0,78 3,5 87,3 Animal (Brasil) Total 10 maiores 19,64 87,3 Total mercado 22,50 100,0 Fonte: Elaboração própria, com base em relatórios anuais das empresas e Animal Pharm. 1 O Sidan é a entidade representativa do setor farmacêutico veterinário no Brasil. 1

desenvolvidos, como Estados Unidos, França, Alemanha e Suíça. Observase que apenas três das dez maiores atuam exclusivamente no mercado de saúde animal: Idexx, Virbac e Ceva Santé Animale. As demais são divisões de saúde animal de grandes conglomerados farmacêuticos com foco em saúde humana. 2 A diversificação de portfólio dessas empresas pode ser explicada pelas sinergias e economias de escopo, em especial em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Dessa forma, a estrutura em oligopólio diferenciado, característica das indústrias de saúde humana, reflete-se na indústria farmacêutica veterinária. O segmento passou, ainda, por intenso processo de concentração: no início da década de 1980, as vinte maiores empresas detinham pouco mais de 50% do mercado; em 1999, dez empresas respondiam por esse mesmo percentual [Waack (2000)]. Em 2012, as quatro maiores empresas passaram a representar aproximadamente 56% do mercado total. A concentração da indústria farmacêutica veterinária deve-se, em parte, à regulação crescentemente restritiva, que impõe custos de adequação de instalações produtivas às Boas Práticas de Fabricação (BPF), além de ampliar o tempo e o custo de colocação de produtos no mercado. O fortalecimento da regulação responde às pressões sociais quanto à qualidade e à rastreabilidade de produtos de origem animal. De forma indireta, a concentração é também reflexo dos movimentos de fusões e aquisições das holdings farmacêuticas, cujas subsidiárias são incluídas nas negociações. Nesse processo, em 2009, dois grandes movimentos alteraram significativamente a estrutura da indústria. Primeiramente, a Pfizer adquiriu a farmacêutica Wyeth, incluindo sua divisão de saúde animal, Fort Dodge. Hoje sob a marca Zoetis, a farmacêutica norteamericana é a maior empresa veterinária do mundo, com receita em torno de US$ 4,3 bilhões e uma participação de mais de 19%. No mesmo ano, a norte-americana MSD adquiriu a Intervet, 3 que passou a denominar-se MSD Animal Health, assumindo a vice-liderança do mercado veterinário global. Ainda em 2009, MSD e Sanofi- Aventis (Merial) iniciaram negociações para aprofundar a integração das duas divisões de saúde animal. A nova empresa estaria no topo do ranking veterinário global, com receita da ordem de US$ 6 bilhões. Entretanto, o projeto foi abandonado, e a MSD optou por vender sua participação minoritária na Merial para a Sanofi-Aventis. Nota-se, portanto, que a concorrência no mercado veterinário global é cada vez mais acirrada, com crescente participação das grandes multinacionais e reduzido espaço para atores de menor porte. Mercado brasileiro O mercado farmacêutico veterinário brasileiro cresceu em média 10% a.a. nos últimos cinco anos, chegando a R$ 3,7 bilhões em 2012 (Gráfico 1). Apesar do maior dinamismo do mercado de animais de companhia, 4 que vem ganhando participação ao longo dos anos, o segmento de animais de produção 5 ainda representa mais de 85% do mercado do país, percentual significativamente superior à divisão do mercado mundial. Assim, o crescimento do mercado de saúde animal brasileiro pode ser atribuído à profissionalização da atividade pecuária no país, que trouxe maior atenção com o cuidado sanitário do rebanho, sobretudo por meio das vacinas. As vacinas são produtos biológicos que constituem um dos pilares da saúde animal. Seu uso adequado tem contribuído para a prevenção e a ampliação da cobertura a várias doenças, aumentando a segurança de rebanhos e criações em geral, o que se reflete em crescentes avanços na qualidade dos animais. Os biológicos são os produtos mais importantes do mercado brasileiro (30%, conforme mostra Gráfico 2) com uma participação superior à observada no mercado global (21%). Nesse campo, destacam-se, por exemplo, as campanhas do governo brasileiro para erradicar a febre aftosa, 6 uma das principais doenças transmissíveis que afeta o gado [Brasil Global Net (2006)]. Gráfico 1. Evolução do faturamento da indústria de saúde animal no Brasil, em R$ bilhões 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0.5 0 11% 2008 2009 2010 2011 2012 Produção Companhia Fonte: Elaboração própria, com base em dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan). 14% 2 O mercado farmacêutico dedicado à saúde humana é cerca de quarenta vezes maior do que o veterinário, conforme dados do IMS Health. 3 A Intervet foi adquirida pela americana Schering-Plough no ano de 2007, quando era subsidiária da holandesa Organon BioSciences. 4 Se considerada a totalidade, e não somente os medicamentos, o mercado de animais de companhia superou R$ 14 bilhões em 2012. O Brasil é o país com a quarta maior população de animais de companhia, estimada hoje em cerca de cem milhões de pequenos animais, indicando haver ainda muito espaço para crescimento do mercado farmacêutico veterinário nesse segmento, de acordo com dados obtidos com Anfal Pet. 5 Inclui ruminantes, aves, suínos e equinos. O Brasil possui o maior rebanho bovino comercial e o segundo maior rebanho efetivo do mundo, conforme informações do Sindan. 6 A febre aftosa é uma doença viral altamente contagiosa que afeta animais de casco fendido, sendo os mais afetados os bovinos e os suínos. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em 2008, por volta de 59% do território nacional foi considerado livre da doença pela Organização Internacional de Epizootias (OIE). 2

Gráfico 2. Mercado veterinário brasileiro, participação por tipo de produto, 2012 vacinação do gado de duas para uma vez ao ano [Mendes (2013)]. Fonte: Sindan. Suplementos 6% Terapêuticos 9% Antimicrobianos 18% Outros 13% A dinâmica do segmento de vacinas no Brasil e o crescente alinhamento das normas sanitárias brasileiras às internacionais vêm levando as empresas a realizarem os primeiros passos em direção a mercados externos. Segundo informações do site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), as exportações 7 de vacinas cresceram em média 20% a.a., taxa muito superior à de crescimento das importações (4% a.a.). Entretanto, o déficit comercial, da ordem de US$ 118 milhões, é ainda significativo se comparado ao Biológicos 30% Antiparasitários 24% porte do segmento. Mais uma vez as vacinas contra febre aftosa aparecem com destaque, sendo o único produto superavitário de acordo com informações do site do MDIC. As vacinas também contribuem para explicar a desaceleração do crescimento do mercado farmacêutico veterinário brasileiro em 2012. Em particular, no caso da vacina contra a febre aftosa, com a queda da incidência da doença no país, alguns estados, como Goiás, Paraná e Bahia, reduziram a frequência das campanhas de Outros fatores conjunturais também contribuíram para o menor dinamismo recente do mercado brasileiro, como o aumento do custo com alimentação dos produtores de bovinos e suínos, levando à redução do consumo de produtos veterinários. Mesmo desconsiderados tais fatores conjunturais, parece pouco provável que as vacinas contra a febre aftosa continuem liderando o crescimento do mercado, em função da diminuição no ritmo das campanhas de vacinação do gado no país. Para os próximos anos, portanto, o setor deve experimentar crescimento menos acelerado. Pelo lado da oferta, há cerca de 150 empresas do setor instaladas no país, segundo o Sindan. As mais representativas no mercado doméstico são as multinacionais Zoetis (Pfizer), MSD Animal Health e Merial (Sanofi-Aventis), também líderes globais, que dispõem de instalações produtivas no país. O movimento global de concentração empresarial impactou diretamente a estrutura da indústria no Brasil. Em 2005, oito empresas detinham 46% do mercado. Em 2012, as oito maiores empresas responderam por 69% do total, sendo somente as quatro maiores responsáveis por cerca de 52% (Tabela 2). Tabela 2. Ranking nacional das indústrias farmacêuticas de saúde animal por faturamento, 2005 e 2012 Rank 2012 Rank 2005 Empresas Origem Faturamento 2012 (R$ milhões) 2012 Faturamento 2005 (R$ milhões) 2005 1 2 Zoetis (Pfizer) EUA 592 16,2 213 9,6 2 4 MSD Animal Health (Merck) EUA 500 13,7 155 7,0 3 1 Merial (Sanofi-Aventis) França 450 12,3 220 10,0 4 9 Ourofino Agronegócio Brasil 359 9,8 82 3,7 5 5 Vallée Brasil 200 5,5 141 6,4 6 8 Bayer Animal Health Alemanha 150 4,1 91 4,1 7 15 Hertape Calier Brasil 140 3,8 35 1,6 8 10 Novartis Animal Health Suíça 137 3,7 71 3,2 Total 8 maiores 2.528 69,1 1.007 45,5 Total mercado 3.660 2.211 Fonte: Elaboração própria, com base em relatórios anuais das empresas e Sindan. 7 Não foi possível delimitar o comércio exterior dos produtos farmacêuticos veterinários na totalidade. Foi considerado apenas o segmento de vacinas de uso animal, compreendido pela posição 30.0230 da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). 3

Entretanto, as empresas de capital nacional vêm se destacando, como é o caso de Ourofino, Vallée e Hertape Calier. No período considerado, a participação das três maiores empresas passou de 10% para 19%. A ascensão das brasileiras baseouse principalmente na expansão do mercado de biológicos, aproveitando a oportunidade gerada pelas campanhas de vacinação contra a febre aftosa. É digno de nota que a Ourofino já figura no ranking das vinte maiores empresas do mundo, na 19ª posição. Apesar de sua importância para o mercado brasileiro, grandes empresas produtoras da vacina contra febre aftosa no Brasil fecharam suas fábricas nos últimos anos, como foi o caso das multinacionais Bayer e MSD Animal Health. Essas empresas optaram por não realizar os investimentos necessários para adaptarem seus parques produtivos às novas regras de biossegurança adotadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). 8 Além disso, houve forte concorrência com a entrada de novas empresas no mercado, entre elas as brasileiras Ourofino, Biovet e Inova Biotecnologia, 9 e da argentina Biogénesis-Bagó, que recebeu autorização para vender no mercado brasileiro a vacina contra aftosa fabricada na Argentina. A capacidade de produção de vacina contra a febre aftosa no país é estimada em seiscentas milhões de doses, mais que o suficiente para suprir a demanda nacional, de acordo com o Sindan. Atualmente, as americanas MSD e Pfizer terceirizam a produção para a brasileira Vallée. Aspectos regulatórios no Brasil A indústria veterinária tem como principal base legal de regulação o Decreto 1.662, 10 de 6 de outubro de 1995. A definição das normas para fabricação e comercialização, registro e fiscalização dos produtos destinados à alimentação animal é realizada pelo Mapa. Os estabelecimentos devem cumprir as normas no que se refere às BPF e condições higiênico-sanitárias das fábricas. Todos os produtos de uso veterinário, nacionais ou importados, incluindo vacinas, devem ser aprovados e registrados pelo Mapa, seguindo critérios de segurança, eficácia e qualidade. Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é responsável pelo controle e pela fiscalização de resíduos de medicamentos veterinários em produtos de origem animal [Capanema et al. (2007)]. Os produtos veterinários têm as mesmas tipologias e subdivisões que os produtos farmacêuticos dedicados à saúde humana, até mesmo em relação às normas sanitárias. No Brasil, a legislação vigente divide os medicamentos em três classes: medicamentos de referência, similares e genéricos. A figura do medicamento genérico de uso veterinário é recente, tendo sido criada em 2012 pela Lei 12.689. Com o objetivo de incentivar a demanda dos genéricos de uso veterinário, a lei também autoriza o governo federal a adotar medidas especiais relacionadas ao registro, à fabricação, ao regime econômico-fiscal e à distribuição desses produtos. A mudança poderá impactar no aumento da concorrência, na redução de preços e na abertura de um novo segmento econômico, impulsionando a produção doméstica. Entretanto, em função das características da demanda por produtos veterinários, em que as técnicas de aplicação são muito relevantes, ainda não é possível avaliar a adesão das empresas à nova classe de produto. Considerações finais e atuação do BNDES Se em termos globais a indústria veterinária é ainda muito dependente da dinâmica da farmacêutica para uso humano, no Brasil o segmento apresentou características mais particulares. A vacinação do gado brasileiro contra a febre aftosa representou a grande oportunidade da década de 2000, marcando o fortalecimento de alguns atores nacionais. Por outro lado, em movimento semelhante à indústria farmacêutica de uso humano, o aprimoramento da regulação foi peça fundamental para o fortalecimento da atividade produtiva no país. Os investimentos realizados na certificação das plantas permitiu que as empresas aqui instaladas começassem a se expandir em direção a mercados externos por meio da exportação. No que se refere a recursos financeiros, o BNDES tem apoiado a indústria farmacêutica veterinária por meio de seus diversos instrumentos, seja por meio de operações diretas ou por intermédio de agentes financeiros, seja ainda pelo estímulo à aquisição de máquinas e equipamentos. Nos últimos dez anos, a carteira total de operações supera R$ 300 milhões em recursos desembolsados, em mais de oitocentas operações, cuja distribuição é apresentada no Gráfico 3. Nesse contexto, destaca-se o apoio do Banco por meio de participação acionária (renda variável). Em 2007, a BNDESPAR adquiriu participação minoritária no capital da Ourofino Agronegócio, à época classificada no grupo de micro, pequenas e médias empresas (MPME). Com seu plano de negócios alavancado, a Ourofino vem obtendo êxito, tendo se tornado um ator relevante no mercado veterinário nacional. Com o possível enfraquecimento das vacinas contra a febre aftosa como principal motor de crescimento da indústria veterinária, devem ser buscadas alternativas capazes de manter o dinamismo do segmento. Em função do estágio competitivo da indústria brasileira, o desenvolvimento de medicamentos veterinários genéricos novos pode representar uma alternativa viável. 8 Em 2012, o Mapa incorporou novos requisitos para as instalações de fabricação de vacina contra febre aftosa, tendo como proposta a elevação dos parâmetros de biossegurança (Instrução Normativa 5). 9 Joint-venture criada em 2006 entre as brasileiras Eurofarma e Hertape Calier Saúde Animal. 10 Segundo o Artigo 2º do Decreto 1.662: Entende-se por produto veterinário toda substância química, biológica, biotecnológica ou preparação manufaturada. A indústria veterinária também tem como base legal o Decreto-Lei 467, de 13 de fevereiro de 1969, que dispõe sobre a fiscalização de produtos de uso veterinário e dos estabelecimentos que os fabricam. 4

Gráfico 3. Desembolsos do BNDES para a indústria farmacêutica veterinária, 2004-2013, por produto financeiro Exportação R$ 19.246.197 6% acionária R$ 105.516.870 35% Bens de capital (FINAME) R$ 52.092.610 17% Cartão BNDES R$ 9.990.432 3% Projetos de investimento R$ 118.776.198 39% Fonte: BNDES. Portanto, a inovação deve passar ao centro das estratégias empresariais na indústria farmacêutica veterinária, cujo financiamento é contemplado pela linha BNDES Inovação. A incorporação de atividades de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, associada às competências adquiridas na produção de biológicos, pode proporcionar um novo ciclo virtuoso para a indústria veterinária brasileira. Referências Amaral, V. Anvisa orienta sobre medicamentos veterinários e humanos. Portal Anvisa, 7 mai. 2012. Disponível em: <http://portal.anvisa. gov.br/wps/content/anvisa+portal/ anvisa/sala+de+imprensa/menu+- +noticias+anos/2012+noticias/anvisa +orienta+sobre+medicamentos+ veterinarios+e+humanos>. Acesso em: 22 out. 2013. Brasil Global Net. O Mercado Brasileiro para Vacinas Veterinárias Originárias do Uruguai. PSCI, Brasília, ago. 2006. Disponível em: <http://www.brasilglobalnet.gov.br/ ARQUIVOS/PSCI/PSCIUruguaiVacinas. pdf>. Acesso em: 22 out. 2013. Capanema, L. et al. Panorama da Indústria Farmacêutica Veterinária. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 25, p. 157-174, mar. 2007. Disponível em: <http://www.bndes. gov.br/sitebndes/export/sites/ default/bndes_pt/galerias/arquivos/ conhecimento/bnset/set2506.pdf>. Acesso em: 22 out. 2013. Delgado, C. L.; Courbois, C. B.; Rosengrant, M. W. Global food demand and the contribution of livestock as we enter the new millenium. IFPRI MSSD. Discussion Paper n. 21, 1998. Disponível em: <www.ifpri.org/sites/default/files/ publications/pubs_divs_mtid_dp_ papers_dp21.pdf>. Acesso em: 22 out. 2013. IFAH International Federation for Animal Health. Animal Health Industry Global Market Review 2012. IFAH, 2013. Mendes, L. H. MSD Saúde Animal ajusta operações no Brasil. Valor Econômico, 16 set. 2013. Disponível em: <http://www.valor.com.br/ agro/3270720/msd-saude-animalajusta-operacoes-no-brasil>. Acesso em: 22 out. 2013. Waack, R. S. Fusões e aquisições na indústria farmacêutica-veterinária. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 7, n. 3, jul.-set. 2000. Disponível em: <http:// www.ead.fea.usp.br/cad-pesq/ arquivos/v07-3art06.pdf>. Acesso em: 22 out. 2013. Sites consultados Animal Pharm <www.agra-net.com>. Mapa Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento <www. agricultura.gov.br>. MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior <www. mdic.gov.br>. Sindan Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal <www.sindan.org.br>. 5

Elaborado pelo Departamento de Produtos e Intermediários Químicos e Farmacêuticos da Área Industrial Equipe responsável: Mario Jorge Fernandes, André Borges Landim, Vitor Paiva Pimentel, Renata de Pinho Gomes e João Paulo Pieroni Editado pelo Departamento de Divulgação