Relatório de Educação Física 2º semestre/2016 Turma: Jardim I Professora: Andrea Desiderio Coordenadora: Lucy Ramos Torres Brincar é como um soro silencioso, gotejante, invisível, percorre por dentro, ensina por via venal os modos de apreender o sumo do mundo. (Gandhy Piorsky)
Tenho utilizado, cada vez mais, meus tempos de leitura para coisas da infância, os momentos que antecedem o chamado ensino formal. Interessa-me a possibilidade que se tem na Educação Infantil de observar a infância sendo e assim aprender com ela como um ser estrangeiro. Muitos dos documentos oficiais que embasam, sustentam e deveriam orientar as práticas educativas com crianças pequenas apresentam como pontos potentes e focais para o trabalho com a infância o corpo, o movimento, a criação, a inovação, a transgressão, a efemeridade, entre outros. Além de darem abertura e muita flexibilidade para professores e instituições. Não tenho receita, não sigo padrões fechados e não acredito em desenvolvimento por faixas etárias. Minha base é a cultura, o movimento e a arte. Acredito nos encontros e nos desdobramentos que podem causar. Com isso o que vou relatar aqui vai abraçar as propostas da pesquisadora Ana Lúcia Goulart de Faria (2006) quando menciona que: (...)se impõe: uma pedagogia da escuta, uma pedagogia das relações, uma pedagogia da diferença, o que chamei no meu doutorado de pedagogia macunaíma, onde além das ciências que a Pedagogia busca suas bases epistemológicas, também a arte é seu fundamento, garantindo assim a ausência de modelos rígidos preparatórios para a fase seguinte e, além de um cognitivismo característico das pedagogias, também a construção de todas as dimensões humanas e o convívio com a diferença, sem nenhum caráter. Voltamos das férias de inverno e entre uma aula livre e outra fui modificando os espaços de nossos encontros para que pudéssemos vivenciar algumas práticas corporais gímnicas. A cada semana um novo circuito era montado e os Padrões Básicos de Movimento 1 foram sendo apresentados: aterrissagens, deslocamentos, saltos, posições estáticas, balanços e rotações. 1 Proposta metodológica de divisão de conteúdos da Ginástica proposta pela Federação Canadense de Ginástica e assinada pelo prof. Dr. Keith Russell
A galinha e sua família não frequentam mais a escola, porém em praticamente todas as aulas, as crianças pediam que brincássemos de Galinha e pintinhos, brincadeira conhecida no primeiro semestre, isso me deixou bastante intrigada, pensando qual seria o fator, o acontecimento que fez com que estas crianças gostassem tanto desta brincadeira. Aprendi que o trabalho corporal deflagra nosso envolvimento com o mundo, e isso é observação da infância. Movimento é vida, é mudança, é disponibilidade e a infância apresenta ao mundo sua força criativa, coletiva e uma grande potência. E tudo isso, encontrando adultos disponíveis e abertos tem grande chance de transformar a rotina e as expectativas. A transformação é sempre mais saudável do que a rigidez! Outro aprendizado! Uma nova brincadeira também caiu na graça da turma: Garrafa de veneno. Esta brincadeira é assim: A turma toda faz uma roda e uma criança é escolhida para ficar ao centro desta roda. Ela é a garrafa de veneno. A roda gira e pergunta: Garrafa de que? E a garrafa responde... De... (vale falar qualquer coisa). Só que de repente, a garrafa responde: De veneno e sai correndo atrás de todo mundo até que consiga pegar alguém. Esta criança será a nova garrafa de veneno. Nesse momento apareceu por muitas vezes a palavra arroz. Isso foi engraçado e todos entraram na brincadeira e a cada nova garrafa, a criança falava arroz. Outro fator bastante interessante e também curioso é que, a cada nova criança, eu preparo a garrafa. Mexo no cabelo, como se
fosse uma tampa de rosquear e transformo a criança em garrafa, este foi com certeza outro momento bem divertido. Com o passar das rodadas as próprias crianças foram assumindo este papel de transformar a criança em garrafa. É corrida igual das Olimpíadas, Andrea? Os resultados das pesquisas na área educacional (embora não escolar), em espaços coletivos de educação e cuidado, têm mostrado que as crianças pequenas de 0 a 6 anos são capazes de múltiplas relações, são portadoras de história, são produtoras de culturas infantis, são sujeitos de direitos. (FARIA, 2006) Neste semestre também tivemos a presença de dois estagiários, o Kaio e o Murilo. Lembrei de incluí-los aqui pois a turma teve grande apego a estes dois estudantes de educação física que escolheram nossa escola para complementarem seus estudos. Também tivemos a semana que preparamos a festa dos 40 anos da escola. Parti das repostas das crianças para a seguinte pergunta: que brincadeiras vocês fazem nas
festas de aniversário? Eu tinha a minha memória e conheci a deles: pula-pula, casinha, com bexiga, escorregador gigante, trem, parede de escalada, turma da Mônica. Foi então que misturei as memórias deles e as minhas e fizemos várias brincadeiras legais e possíveis na escola. O circo chegou! E começamos a cantar uma música: Lá no Circo tem anões e trapezistas Palhaços brincalhões e dois malabaristas Só que todos dizem que o mais o interessante...que o mais interessante... É a tromba do elefante! Que tromba bonita, que tromba elegante Que tromba bonita que tem o elefante. Além da música o circo trouxe outras de suas características e marcas culturais... Maquiagem, figurino, criação de personagem, reconhecimento da história e repertório corporal...
Equilibristas, acrobatas, contorcionistas, dançarinos e dançarinas e os famosos e conhecidos historicamente os saltimbancos 2. E viva o circo! Andrea Desiderio Obras inspiradoras e obras referenciadas Ana Lúcia Goulart de Faria Cadernos Pagu (26) janeiro a junho de 2006. Gandhy Piorski palestras na internet (youtube) Keith Russel Federação Canadense de Ginástica 2 Personagem bastante citado na historia do circo das feiras livres de antigamente, que tinham a habilidade de saltar bancos.