Andy Petroianu 1, Luiz Ronaldo Alberti 2, Renata Indelicato Zac 3 RESUMO ABSTRACT ARTIGO ORIGINAL

Documentos relacionados
NOVA IMAGEM RADIOGRÁFICA DE APENDICITE AGUDA: ACÚMULO FECAL NO CECO

Imagem da Semana: Radiografia de abdome

IMPORTÂNCIA DO SINAL RADIOGRÁFICO DE ACÚMULO FECAL NO CECO Para o Diagnóstico Diferencial de Apendicite Aguda

APENDICITE AGUDA O QUE É APÊNCIDE CECAL? O QUE É APENDICITE E PORQUE OCORRE

Caso Clínico. Paciente do sexo masculino, 41 anos. Clínica: Dor em FID e região lombar direita. HPP: Nefrolitíase. Solicitado TC de abdome.

SINAL RADIOGRÁFICO DE ACÚMULO FECAL NO CECO PARA DIAGNÓSTICO DFERENCIAL DE APENDICITE AGUDA EM RE- LAÇÃO A OUTRAS DOENÇAS INFLAMATÓRIAS ABDOMINAIS

Efficacy and Safety of Nonoperative Treatment for Acute Appendicitis: A Meta-analysis Pediatrics, Março 2017

Journal Club. Setor Abdome. Apresentação: Lucas Novais Bomfim Orientação: Dr. George Rosas

ASPECTOS ÉTICOS NA APENDICITE AGUDA

ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO. Dario A. Tiferes

DESAFIO DE IMAGEM Aluna: Bianca Cordeiro Nojosa de Freitas Liga de Gastroenterologia e Emergência

03/05/2012. Abdome Agudo. Abdome Agudo obstrutivo. Dor de início súbito (de horas até 7 dias), não traumática.

AVALIAÇÃO DOS DOENTES COM SUSPEITA CLÍNICA DE TEP COM RECURSO A ANGIO-TC Estudo retrospectivo

Imagem da Semana: Tomografia computadorizada. Figura 1: Tomografia computadorizada contrastada de abdome

Relevância da ultrassonografia no diagnóstico pré-operatório de apendicite aguda

DIAGNOSTIC IMAGING IN NONTRAUMATIC ACUTE ABDOMEN DIAGNÓSTICO POR IMAGEM NO ABDOME AGUDO NÃO TRAUMÁTICO

ESTUDO DA FREQÜÊNCIA DE PARASITAS E DE OVOS NAS CAVIDADES APENDICULARES DAS APENDICITES AGUDAS *

11º Imagem da Semana: Ultrassonografia dos rins e vias urinárias

Avaliação da telelaringoscopia no diagnóstico das lesões benignas da laringe

RADIOLOGIA DO ABDOME. Prof. Lucas Gennaro

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

9º Imagem da Semana: Radiografia Tórax

SUS A causa mais comum de estenose benigna do colédoco e:

APE P NDICITE T A GUDA MARCELO LINHARES

COLECISTITE AGUDA ANDRÉ DE MORICZ. CURSO CONTINUADO DE CIRURGIA PARA RESIDENTES COLÉGIO BRASILEIRO DE CIRURGIÕES

Avaliação Por Imagem do Abdome Introdução

TÍTULO: CARACTERIZAÇÃO DAS QUEDAS EM CRIANÇAS INTERNADAS EM HOSPITAL PEDIÁTRICO

COLECISTITE AGUDA ANDRÉ DE MORICZ CURSO CONTINUADO DE CIRURGIA PARA REWSIDENTES COLÉGIO BRASILEIRO DE CIRURGIÕES 2006

Caso do mês Março de

MODELOS DE LAUDOS NORMAIS ESÔFAGO, ESTÔMAGO E DUODENO NORMAIS

Ultrassonografia no Abdome Agudo Pediátrico

Fatores de Risco para as Complicações após Apendicectomias em Adultos

RESUMO SEPSE PARA SOCESP INTRODUÇÃO

COLECISTITE AGUDA TCBC-SP

Tomografia computadorizada. Análise das Imagens

Cintilografia com hemácias marcadas com 99mTc-PYP

Imagem da Semana: Colangioressonância

1 INTRODUÇÃO DAOIZ MENDOZA* CÁCIO RICARDO WIETZYCOSKI**

HÉRNIA DE AMYAND : RELATO DE CASO¹ AMYAND S HERNIA: A CASE REPORT

20º Congresso de Iniciação Científica TRIAGEM NUTRICIONAL DE PACIENTES ADULTOS INTERNADOS EM UM HOSPITAL DO INTERIOR PAULISTA

importante. Conclui-se, então, que o quadro é constituído basicamente por dor abdominal de grande intensidade, que na maioria das vezes requer solução

Hemangioma hepático: Diagnóstico e conduta. Orlando Jorge Martins Torres Professor Livre-Docente UFMA Núcleo de Estudos do Fígado

Imagem 1: destacada em vermelho a redução do espaço articular.

REVIEW ARTICLE ESCALA DE ALVARADO PARA O DIAGNÓSTICO CLÍNICO DE APENDICITE AGUDA

ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO EM PEDIATRIA

Lesões Ovarianas na Pré e Pós-Menopausa. Laura Massuco Pogorelsky Junho/2018

APENDICECTOMIA EM PACIENTES COM IDADE SUPERIOR A 40 ANOS - ANÁLISE DOS RESULTADOS DE 217 CASOS

TEP suspeita: tratar ou não tratar? AngioTCMD negativa exclui o diagnóstico de TEP?

Artigo Original TUMORES DO PALATO DURO: ANÁLISE DE 130 CASOS HARD PALATE TUMORS: ANALISYS OF 130 CASES ANTONIO AZOUBEL ANTUNES 2

III - CASUÍSTICA E MÉTODOS

Complicações na Doença Inflamatória Intestinal

JORNAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - JCS HU-UFPI

ARTIGO ORIGINAL. Palavras-chave: Keywords: doi: / v56n1p

Infecção do Trato Urinário na Infância

Bioestatística F Testes Diagnósticos

Anais do 38º CBA, p.0882

i r u r g i a II Série N. 36 Março 2016

LEVANTAMENTO EPIDEMIOLÓGICO DA PNEUMONIA NO ESTADO DE MINAS GERAIS E NA CIDADE DE VIÇOSA-MG

Cuidados no Tratamento Cirúrgico da Colecistite Aguda

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DO PACIENTE IDOSO INTERNADO EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA

Fatores de risco associados às complicações de apendicite aguda.

RETALHOS ÂNTERO-LATERAL DA COXA E RETO ABDOMINAL EM GRANDES RECONSTRUÇÕES TRIDIMENSIONAIS EM CABEÇA E PESCOÇO

I CURSO DE RADIOLOGIA BÁSICA DAS EMERGÊNCIAS MODULO: - ABDOME AGUDO LUCAS GENNARO

Fatores de risco associados às complicações de apendicite aguda

XXXXXXXXXXXXX. Samira El Hassan 1*; Ulysses dos Santos Torres 2; Eduardo Portela de Oliveira 2; Antônio Soares Souza 3 1. Resumo

Videolaparoscopia no Trauma. Dr. Wilson Laffita Labanino Cirurgia Geral Multiperfil

Anatomia e Fisiologia do apêndice cecal

i r u r g i a II Série N. 39 Dezembro 2016

TÍTULO: INCIDÊNCIA DE INFECÇÃO URINÁRIA ENTRE HOMENS E MULHERES NO MUNICÍPIO DE AGUAÍ EM PACIENTES QUE UTILIZAM O SUS

Índice. Índice... ii Sumário... iii Abstract... v

Journal Club (set/2010)

ANALISE DA ACURÁCIA DOS EXAMES DE IMAGEM DE APENDICITE AGUDA

Manejo Ambulatorial de Massas Anexiais

PROVA DE CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Cód. 35. Entende-se por comportamento endêmico de uma doença quando:

Afecções Sistema Digestório. Aula 03 EO Karin Bienemann

Profª. Thais de A. Almeida

INDICADORES BIOQUÍMICOS DA FUNÇÃO RENAL EM IDOSOS

PROTOCOLO MÉDICO CÓLICA NEFRÉTICA. Área: Médica Versão: 1ª

AVALIAÇÃO DOS ACHADOS MAMOGRÁFICOS CLASSIFICADOS CONFORME SISTEMA BI RADS¹. Beatriz Silva Souza², Eliangela Saraiva Oliveira Pinto³

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Após um episódio de ITU, há uma chance de aproximadamente 19% de aparecimento de cicatriz renal

HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA EM CIRURGIA GERAL GUSTAVO AUGUSTO MENDES COSTA LIMA

Data: 20/08/2014. Resposta Técnica 01/2014. Medicamento Material Procedimento X Cobertura

Declaração de possíveis conflitos de interesses

INDICAÇÕES DE LAPAROSCOPIA NO MANEJO DE MASSAS OVARIANAS

Imagem da Semana: Radiografia e cistografia retrógrada

Samira El Hassan. Comparação da Ultrassonografia e da. Tomografia Computadorizada em Pacientes. com Suspeita de Apendicite Aguda

Concurso Público UERJ 2012 Prova discursiva Médico Ccirurgião Geral

AUTORIA E COLABORAÇÃO. Autores. Assessoria didática. Luís Antônio Tobaru Tibana. Marcos Costenaro. Paulo Aguiar Kuriki

I Data: 24/05/05. II Grupo de Estudo: III Tema: IV Especialidade(s) envolvida(s):

TRATAMENTO CONSERVADOR DO PLASTRÃO APENDICULAR

Validação do escore de Alvarado no. para o diagnóstico de apendicite aguda em crianças

AVALIAÇÃO DO ESCORE HOSPITAL COMO PREDITOR DE MORTALIDADE E REINTERNAÇÃO EM PACIENTES ADMITIDOS EM ENFERMARIA CLÍNICA EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

- termo utilizado para designar uma Dilatação Permanente de um. - Considerado aneurisma dilatação de mais de 50% num segmento vascular

URI: / DOI: / _25

Artigo Original TRATAMENTO DO CÂNCER DE CABEÇA E PESCOÇO NO IDOSO ACIMA DE 80 ANOS

PAPEL DA IMAGEM NA AVALIAÇÃO DA PELVE FEMININA

FATORES ASSOCIADOS À DESISTÊNCIA DE PROGRAMAS MULTIPROFISSIONAIS DE TRATAMENTO DA OBESIDADE EM ADOLESCENTES

Transcrição:

Novo sinal radiográfico de apendicite aguda: imagem de acúmulo fecal no ceco para diagnóstico diferencial de apendicite aguda em relação a outras doenças inflamatórias abdominais. Estudo prospectivo 337 ARTIGO ORIGINAL Novo sinal radiográfico de apendicite aguda: imagem de acúmulo fecal no ceco para diagnóstico diferencial de apendicite aguda em relação a outras doenças inflamatórias abdominais. Estudo prospectivo A new radiographic sign of acute appendicitis: fecal loading in the cecum for differential diagnosis of acute appendicitis in comparision with other abdominal inflammatory diseases. A prospective study Andy Petroianu 1, Luiz Ronaldo Alberti 2, Renata Indelicato Zac 3 RESUMO Objetivo: O objetivo do presente trabalho foi verificar a importância do sinal radiográfico de acúmulo fecal no ceco para o diagnóstico diferencial da apendicite aguda. Métodos: Foram estudados prospectivamente 470 pacientes consecutivos, de ambos os sexos, internados com abdome agudo e dor localizada no flanco direito, distribuídos em: Grupo 1 (n = 170) portadores de apendicite aguda, subdistribuídos em Subgrupo 1A (n = 100) submetidos a um estudo radiográfico do abdome antes do tratamento cirúrgico, e Subgrupo 1B (n = 70) submetidos a dois estudos radiográficos do abdome: antes da operação e outro no dia seguinte à cirurgia; Grupo 2 (n = 100) portadores de cálculo na via urinária direita submetidos à radiografia do abdome durante o episódio de dor provocada pela litíase; Grupo 3 (n = 100) portadoras de afecções ginecológicas inflamatórias agudas à direita, submetidas a estudo radiográfico do abdome durante a crise de dor; Grupo 4 (n = 100) pacientes operados por colecistite aguda, submetidos a radiografias de abdome durante o episódio de dor que precedeu ao ato operatório. Resultados: A presença do sinal de acúmulo fecal no ceco esteve presente em 97 pacientes do Subgrupo 1A, em 68 pacientes do Subgrupo 1B, em 19 pacientes do Grupo 2, em 12 pacientes do Grupo 3 e em 13 pacientes do Grupo 4. No pósoperatório, dos 68 pacientes que apresentaram o sinal radiográfico, este desapareceu em 66 casos. A sensibilidade do sinal radiográfico para apendicite aguda foi de 97,05% e sua especificidade foi de 85,33%. Seu valor preditivo positivo para apendicite aguda foi de 78,94% e destacando-se seu valor preditivo negativo de 98,08%. Conclusão: A imagem radiográfica de acúmulo fecal no ceco associa-se à apendicite aguda. Essa imagem geralmente desaparece após o apêndice cecal ser removido. Esse sinal é incomum em outras doenças inflamatórias agudas do lado direito do abdome. Descritores: Impactação fecal; Diagnóstico diferencial; Apendicite/ radiografia; Abdome agudo/radiografia; Ceco ABSTRACT Objective: The purpose of this investigation was to verify the importance of the radiographic sign of fecal loading in the cecum for the differential diagnosis of acute appendicitis. Methods: A total of 470 consecutive patients of both sexes was admitted to hospital due to acute abdomen and pain in the right flank and prospectively studied. The patients were divided as follows: Group 1 (n = 170) diagnosed with acute appendicitis and subdivided into two subgroups: Subgroup 1A (n = 100) patients submitted to an abdominal radiographic study a few hours before surgical treatment, Subgroup 1B (n = 70) patients submitted to two radiographic studies of the abdomen, one before the surgical procedure and the other on the next day; Group 2 (n = 100) patients of both sexes with right nephrolithiasis submitted to an abdominal radiography during the episode of pain caused by the calculus; Group 3 (n = 100) women diagnosed with right acute inflammatory pelvic disease that underwent an abdominal radiographic study during the pain crisis; Group 4 (n = 100) patients of both sexes who underwent surgery due to acute cholecystitis and were submitted to abdominal radiography during the pain episode that preceded the surgical procedure. Results: The sign of fecal loading in the cecum was present in 97 patients of Subgroup 1A, in 68 patients of Subgroup Trabalho realizado no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais UFMG, Minas Gerais (MG), Brasil, e no Hospital Júlia Kubitschek da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (MG), Brasil. 1 Livre-Docente, Professor Titular do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais UFMG, Belo Horizonte (MG), Brasil. 2 Doutor em Cirurgia pela Universidade Federal de Minas Gerais UFMG, Belo Horizonte (MG), Brasil. 3 Residente de Dermatologia da Santa Casa de Belo Horizonte, (MG), Brasil. Autor correspondente: Andy Petroianu Avenida Afonso Pena, 1626 ap. 1901 Centro CEP 30130-005 Belo Horizonte (MG), Brasil Tel.: 31 3274-7744 e-mail: petroian@medicina.ufmg.br Data de submissão: 14/7/2007 Data de aceite: 1º/10/2007

338 Petroianu A, Alberti LR, Zac RI 1B, in 19 patients of Group 2, in 12 patients of Group 3 and in 13 patients of Group 4. During the postoperative period the radiographic sign disappeared in 66 of the 68 cases who presented the sign. The sensitivity of the radiographic sign for acute appendicitis was 97.05% and specificity was 85.33%. The positive predictive value for acute appendicitis was 78.94% and its negative predictive value was 98.08%. Conclusion: The radiographic image of fecal loading in the cecum is associated with acute appendicitis. The image usually disappears soon after the appendix is removed. This sign is uncommon in other acute inflammatory diseases of the right side of the abdomen. Keywords: Fecal impaction; Differential diagnosis; Appendicitis/ radiography; Acute abdomen/radiography; Cecum INTRODUÇÃO Entre as manifestações do abdome agudo, a dor abdominal na fossa ilíaca direita (FID) é provavelmente um dos mais desafiadores problemas da Medicina, na medida em que confronta possibilidades amplas de doenças cirúrgicas e não-cirúrgicas (1-3). O manejo adequado desses pacientes exige uma definição diagnóstica precisa para instituir-se o tratamento correto. Essa decisão requer dados sobre a evolução do quadro clínico associados ao exame físico, laboratorial de rotina e exames de imagem (4). Entre as afecções que podem provocar o abdome agudo da FID, a apendicite aguda destaca-se como a condição patológica mais freqüente. Essa doença é diagnosticada com base na avaliação clínica, contagem de leucócitos, ultra-sonografia e estudos radiográficos do abdome (1). Entretanto, a não perfeita acurácia desses métodos leva a erro diagnóstico inicial aceitável em até 20% dos pacientes com dor no flanco direito (5). O diagnóstico incorreto é mais freqüente em crianças, em mulheres e em idosos (5-6). Além dos casos de apendicite aguda que não são diagnosticados precocemente, cerca de 15% de todas as apendicectomias resultam na remoção de apêndices aparentemente normais (7-9). A relação entre apendicite aguda e cor da pele é outro aspecto pouco estudado. Trabalhos realizados em países com predominância de população branca mostraram incidências de apendicite que alcançava 17%. De outro lado, em populações negras de países da África essa doença é muito rara, com incidências que variam entre 0,3% e 1% (9-13). O retardo no diagnóstico pode resultar em ruptura apendicular e está associado à elevada morbidade e mortalidade, além de aumento nos custos terapêuticos (14). Da mesma maneira, os diagnósticos falso-positivos levam a apendicectomias talvez desnecessárias, que também contribuem para o aumento de múltiplos defeitos indesejáveis (15). Na presença de dor abdominal aguda, as radiografias simples de abdome são de grande importância. Desde Brooks e Killen, em 1965 (16), são conhecidos diversos sinais radiográficos como: apendicolito (2% a 22% dos casos), gás no apêndice (< 2%), dilatação gasosa em alças de intestino delgado, com níveis hidroaéreos confinados ao quadrante inferior direito íleo sentinela (15% a 55%), aumento da densidade de partes moles no quadrante inferior direito (12% a 33%), apagamento ou perda da faixa adiposa pré-peritoneal direita (< 8%), deformidade do contorno cecal (< 5%), separação do conteúdo cecal da gordura pré-peritoneal direita (< 5%), abscesso, apagamento da margem do psoas (1 % a 8%), escoliose lombar côncava direita (1% a 14% dos pacientes). OBJETIVO O objetivo do presente trabalho foi avaliar um novo sinal radiográfico caracterizado pela imagem de acúmulo fecal no ceco em doentes com apendicite aguda. MÉTODOS Este trabalho foi realizado de acordo com as recomendações da Declaração de Helsinque e da Resolução n o 196/96 do Ministério da Saúde, sobre pesquisa envolvendo seres humanos (17) e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Todos os pacientes concordaram em participar do estudo, por meio de consentimento livre e esclarecido. Foram estudados prospectivamente 470 pacientes consecutivos, de ambos os sexos, internados com abdome agudo e dor localizada no flanco direito, no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e no Hospital Júlia Kubitschek da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais, entre janeiro de 2000 e dezembro de 2004. Todos os pacientes foram identificados por idade, sexo e cor da pele (leucodérmicos, feodérmicos e melanodérmicos). Cada paciente recebeu o atendimento habitual para abdome agudo, que incluiu anamnese, com exame físico completo, incluindo o ginecológico nos casos em que houve dúvida sobre a dor do abdome inferior. Exames complementares (hematológico, bioquímico de sangue e urina, exames de imagem, radiografia simples, ultrasonografia e tomografia computadorizada de abdome) foram realizados dentro da rotina propedêutica, quando persistiu a dúvida diagnóstica. Dentro do protocolo desta pesquisa, a radiografia simples de abdome em incidência ântero-posterior fez parte da propedêutica complementar em todos os casos. Os pacientes foram distribuídos em quatro grupos, de acordo com as seguintes afecções: Grupo 1 (n = 170): pacientes de ambos os sexos portadores de apendicite aguda, operados por essa doença e com confirmação do diagnóstico pelo exame histopatológico

Novo sinal radiográfico de apendicite aguda: imagem de acúmulo fecal no ceco para diagnóstico diferencial de apendicite aguda em relação a outras doenças inflamatórias abdominais. Estudo prospectivo 339 dos apêndices removidos. O critério histológico adotado para o diagnóstico da apendicite aguda foi a presença de infiltrado neutrofílico na camada muscular do apêndice, além de outros achados, dependendo da gravidade do caso (Crawford JM, 1999). Esses pacientes foram distribuídos em dois subgrupos: - Subgrupo 1A (n = 100) constituído por 61 pacientes do sexo masculino e 39 do sexo feminino, com idades variando entre 6 e 73 (31,33 ± 14,27) anos, sendo 63 pacientes leucodérmicos, 31 feodérmicos e 6 melanodérmicos. Todos foram submetidos a estudo radiográfico do abdome, poucas horas antes do tratamento cirúrgico. - Subgrupo 1B (n = 70) constituído por 40 pacientes do sexo masculino e 30 do sexo feminino, com idades variando entre 5 dias e 61 (18,71 ± 14,53) anos, sendo 41 pacientes leucodérmicos, 23 feodérmicos e 6 melanodérmicos. Todos foram submetidos a dois estudos radiográficos do abdome, um antes da operação e outro no dia seguinte à operação. Grupo 2 (n = 100): pacientes de ambos os sexos, portadores de cálculo na via urinária direita (88 casos de nefrolitíase e 12 de ureterolitíase). O grupo foi constituído por 40 pacientes do sexo masculino e 60 do sexo feminino, com idades variando entre 4 e 84 (40,82 ± 14,48) anos, sendo 54 pacientes leucodérmicos, 37 feodérmicos e 9 melanodérmicos. Todos realizaram radiografia do abdome em incidência ântero-posterior durante o episódio de dor provocada pela litíase. Grupo 3 (n = 100): pacientes portadoras de afecções ginecológicas agudas à direita, com idade variando entre 16 e 76 (32,60 ± 10,58) anos, sendo 29 pacientes leucodérmicas, 49 feodérmicas e 22 melanodérmicas. As afecções que motivaram o atendimento foram hidrossalpingite aguda em 63 pacientes, gravidez tubária rota em 22 casos, ruptura de cisto ovariano em 14 doentes e torção de ovário em dois casos. Uma paciente de 46 anos apresentava hidrossalpingite associada à ruptura de cisto ovariano. Todas as doentes foram submetidas a estudo radiográfico simples do abdome em incidência ântero-posterior, durante a crise de dor que precedeu ao tratamento. Grupo 4 (n = 100): pacientes de ambos os sexos (30 homens e 70 mulheres) com idade variando entre 17 e 90 (47,17 ± 18,28) anos, sendo 35 leucodérmicos, 54 feodérmicos e 11 melanodérmicos, operados de colecistite aguda, com o diagnóstico confirmado em todos os casos por meio do ato operatório e do exame histológico da vesícula biliar removida. Em oito doentes, havia colangite concomitante à colecistite. Radiografias simples de abdome em incidência ântero-posterior foram realizadas em todos os casos, durante a crise de colecistite aguda que precedeu o ato operatório. O sinal radiográfico investigado foi a presença de imagem intraluminar do ceco, caracterizada por hipotransparência entremeada por múltiplos pequenos focos de imagens hipertransparentes. Essa imagem, de aspecto semelhante a flocos, característica de acúmulo de fezes, eventualmente era vista também no cólon ascendente (Figuras 1 e 2). Todo o procedimento da técnica radiológica utilizada Figura 1. Radiografia simples de abdome de paciente com apendicite aguda. Observar imagem de acúmulo fecal no ceco (seta) Figura 2. Radiografia simples de abdome de outro paciente com apendicite aguda. Observar imagem de acúmulo fecal no ceco, que está distendido (seta) neste trabalho seguiu as recomendações de rotina para o estudo radiográfico do abdome, não expondo o paciente a riscos fora do habitual em toda propedêutica para abdome agudo (18). Fez parte do protocolo realizar radiografia de controle pós-operatório após o esclarecimento dos objetivos do exame e consentimento dos pacientes ou de seus responsáveis. Para a avaliação estatística, foi utilizado o método descritivo de média e desvio-padrão da média para a idade dos pacientes. Para comparar a presença do sinal radiográfico nos quatro grupos estudados, utilizouse o teste qui-quadrado. No subgrupo 1B, a análise comparativa da presença do sinal radiográfico no pré e no pós-operatório foi realizada pelo teste de McNemar

340 Petroianu A, Alberti LR, Zac RI para respostas dicotômicas em amostras pareadas. As diferenças foram consideradas significativas para valores correspondentes a p < 0,05 (19). Para a avaliação da acurácia do sinal radiográfico na detecção das doenças, foram calculadas sua sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo (VPP) e valor preditivo negativo (VPN) em todos os grupos. Para esse cálculo, definia-se o grupo em estudo como doente e os demais grupos como não-doentes. RESULTADOS A Tabela 1 mostra a presença do sinal radiográfico nos quatro grupos estudados. Observa-se que há diferença para a presença do sinal radiográfico de acúmulo fecal no ceco no Grupo 1 em relação aos demais grupos. Não houve diferença nessa incidência entre os Grupos 2, 3 e 4. O sinal radiográfico de acúmulo fecal no ceco esteve presente em 165 pacientes portadores de apendicite aguda. A sensibilidade do sinal radiográfico para apendicite aguda foi de 97,05 % e sua especificidade foi de 85,33 %. O valor preditivo positivo desse sinal para apendicite aguda foi de 78,94%, enquanto seu valor preditivo negativo destaca-se com 98,08% (Tabela 2). Com relação à classificação morfológica da apendicite, Tabela 1. Imagem de acúmulo fecal no ceco em radiografia simples de abdome de pacientes com abdome agudo do lado direito Doenças Sinal radiográfico (n) Presente Ausente Apendicite aguda (Subgrupo 1A)* 100 97 3 (Subgrupo 1B)* 70 68 2 Cálculos urinários (Grupo 2) 100 19 81 Afecções ginecológicas (Grupo 3) 100 12 88 Afecções biliares (Grupo 4) 100 13 87 *Diferente em relação aos grupos 2, 3 e 4 (p < 0,0001). Tabela 2. Comparação entre a acurácia dos valores estatísticos do sinal de acúmulo fecal no ceco em pacientes com abdome agudo do lado direito Grupos Sensibilidade Especificidade Valor preditivo (%) (%) Positivo (%) Negativo (%) 1 97.05* 85.33* 78.94* 98.08* 2 19.00 48.64 9.09 68.96 3 12.00 46.75 5.74 67.57 4 13.00 47.02 6.22 67.96 Grupo 1: apendicite aguda Grupo 2: cálculos urinários Grupo 3: afecções ginecológicas Grupo 4: afecções biliares * Diferente em relação aos grupos 2, 3 e 4 (p < 0,0001). dos 170 apêndices estudados, 23 estavam na fase catarral, 99 na fase fibrinopurulenta, 31 na gangrenosa e 17 na perfurativa. O sinal radiográfico esteve presente em todas as fases da apendicite, tanto nas iniciais quanto nas mais avançadas, e em todas as faixas etárias. Também não houve diferença entre os sexos ou cor da pele (p > 0,05). Dos 70 pacientes do Subgrupo 1B, o sinal esteve presente, no pré-operatório, em 68 casos e ausente em dois pacientes. No pós-operatório, dos 68 pacientes que haviam apresentado o sinal, ele desapareceu em 66 casos (p < 0,001), enquanto que em dois pacientes (um paciente feodérmico de 6 anos e outro leucodérmico de 38 anos, ambos do sexo masculino) o sinal persistiu no pós-operatório. Houve 49 pacientes na faixa etária pediátrica. Excetuando-se um menino de 8 anos, o sinal radiográfico esteve presente em todas as outras crianças. Esse sinal foi verificado inclusive em um recém-nascido pré-termo com cinco dias de vida e que desenvolveu apendicite aguda perfurada. No Grupo 2, o sinal radiográfico estudado foi encontrado em apenas 19 casos (Tabela 1). Dos pacientes portadores de cálculo renal que apresentaram esse sinal (19 casos), dez eram do sexo masculino e nove do feminino, 17 eram portadores de nefrolitíase e dois de ureterolitíase. A sensibilidade do sinal radiográfico para cálculos urinários foi de 19% e sua especificidade foi de 48,64%. O valor preditivo positivo foi de 9,09% e o valor preditivo negativo foi de 68,96% (Tabela 2). O sinal radiográfico foi encontrado em apenas 12% dos pacientes do Grupo 3. Dessas pacientes portadoras de afecções ginecológicas, nove tinham hidrossalpingite; duas, gravidez tubária rota e uma, ruptura de cisto ovariano, portanto não houve correlação entre a afecção ginecológica e o sinal radiográfico (p = 0,672). A sensibilidade do sinal radiográfico para afecções ginecológicas foi de 12% e a sua especificidade foi de 46,75%. O valor preditivo positivo foi de 5,74% e o valor preditivo negativo foi de 67,57% (Tabela 2). O sinal radiográfico esteve presente em apenas 13% dos pacientes do Grupo 4 (Tabela 1). Desses pacientes portadores de afecções das vias biliares, três eram do sexo masculino (10% dos homens deste grupo) e dez do feminino (14,28% das mulheres). Um desses pacientes teve colangite aguda associada à colecistite aguda. A sensibilidade do sinal radiográfico para afecções biliares foi de 13% e sua especificidade foi de 47,02%. O valor preditivo positivo foi de 6,22% e o valor preditivo negativo foi de 67,96% (Tabela 2). DISCUSSÃO O diagnóstico precoce da apendicite aguda ainda permanece um desafio, principalmente em crianças, em idosos, em pessoas debilitadas ou imunodeprimidas e no sexo feminino. A necessidade de identificar adequadamente essa afecção previne o retardo no tratamento e evita o aumento de sua morbidade, até com risco de morte (14,20). A morbidade e mortalidade da apendicite aguda decorrem da sua perfuração, com

Novo sinal radiográfico de apendicite aguda: imagem de acúmulo fecal no ceco para diagnóstico diferencial de apendicite aguda em relação a outras doenças inflamatórias abdominais. Estudo prospectivo 341 conseqüente formação de abscessos locais, subfrênicos, pélvicos e múltiplos, além do risco de peritonite generalizada e resposta inflamatória sistêmica (21-24). Apesar de o quadro clínico ser bem conhecido, até 25% dos apêndices removidos são aparentemente normais, especialmente em crianças e mulheres (21,25). Cabe ainda ressaltar que cerca de um terço das pessoas portadoras de apendicite aguda é submetido à intervenção cirúrgica com diagnóstico pré-operatório incerto. Apesar de cálculos nas vias urinárias direitas não provocarem um quadro de inflamação peritoneal, assim como ocorre na apendicite aguda, na colecistite aguda e na doença inflamatória pélvica, considerou-se pertinente acrescentar esse grupo por suas características de diagnóstico diferencial em dor apendicular. Dessa forma, avaliou-se também a influência da dor no acúmulo fecal dentro do ceco. A incidência de perfuração apendicular nesta casuística foi inferior à descrita na literatura. Pena et al. (2002) (26) submeteram 1.338 pacientes a um protocolo de avaliação da dor abdominal aguda que incluía ultrasonografia seguida por tomografia computadorizada do abdome e constataram que 15,5% das apendicites agudas já estavam perfuradas. Na pesquisa atual a perfuração ocorreu em 8% dos pacientes do Subgrupo 1A e de 9% para os do Subgrupo 1B. Esses dados indicam que talvez a precocidade do diagnóstico de apendicite na presente casuística tenha evitado que o apêndice perfurasse. Nesse sentido, o sinal radiográfico estudado contribuiu para essa condição favorável, pois em vários casos a sua presença foi decisiva para indicar-se a operação corretamente (21,24,26). Apesar do número maior de homens com apendicite, houve maior incidência de perfuração apendicular nas mulheres. Esse dado está em acordo com a literatura, que refere maior dificuldade para o diagnóstico da apendicite aguda em mulheres, em decorrência de a dor abdominal relacionar-se à maior variedade de causas, incluindo ovulações dolorosas, doenças dos ovários, afecções das tubas uterinas e do útero, além de infecções do trato urinário, que são mais comuns nas mulheres do que nos homens (27-28). Em decorrência dessa dificuldade, houve provavelmente retardo no diagnóstico, propiciando a progressão do quadro apendicular até perfuração. Entretanto, com o sinal radiográfico estudado, que surge desde o início da apendicite, talvez essa doença possa ser tratada com menos demora. Barnes et al. (29) relataram que cerca de 50% dos pacientes com mais de 60 anos portadores de apendicite aguda apresentavam sintomas mínimos e, por isso, foram classificados como apresentando apendicite silenciosa. Nessa situação, a doença avança e explica a elevada incidência de perfuração e peritonite generalizada nos doentes idosos com apendicite aguda. É importante ainda considerar a elevada morbimortalidade nesses doentes em decorrência do retardo no diagnóstico e no tratamento. No presente trabalho, o sinal de acúmulo fecal no ceco ocorreu em todos os pacientes com idade acima de 40 anos, possibilitando, assim, a abordagem terapêutica em tempo adequado. Se a etiopatogenia da apendicite aguda do paciente idoso for diferente da encontrada no jovem, o sinal radiográfico estudado está presente nos dois casos. Segundo Fenkins e Lee (30), não há sinal radiográfico patognomônico para o diagnóstico da apendicite aguda. Brady e Arrol, em 1957 (citado por Fenkins e Lee) (30), verificaram a associação entre apendicite aguda e o apendicolito em 24 de 74 casos de apendicite aguda estudados. Essa reduzida incidência tornou-se ainda menos destacada ao se encontrar esse sinal em outras doenças do sistema digestório e ginecológicas, além de ele poder ocorrer em pessoas sadias (31). Outro sinal relacionado à apendicite aguda é o nível hidroaéreo no intestino delgado, próximo à região apendicular (alça sentinela). Contudo, Oncel et al. (2003) (28), em análise de 162 pacientes com apendicite aguda, localizaram esse sinal em 34,7% dos casos, incidência esta menor do que os 36,8% encontrados em pacientes com outras doenças. Já a imagem de acúmulo fecal no ceco, além de ocorrer em uma incidência elevada nos pacientes com apendicite aguda, também é pouco comum em outras afecções inflamatórias, justificando sua importância para o diagnóstico da apendicite aguda. Vários estudos imaginológicos têm sido propostos para aumentar a acurácia diagnóstica na apendicite aguda, tais como: ultra-sonografia simples ou com Doppler, tomografia computadorizada, ressonância magnética e cintilografia. Apesar do uso desses métodos, a acurácia diagnóstica para apendicite aguda não ultrapassou 95% (32-33), valor alcançado pela imagem radiográfica avaliada neste trabalho. Ainda que o sinal radiográfico descrito não seja patognomônico de apendicite aguda, ele fornece indícios muito confiáveis para o diagnóstico dessa afecção, especialmente se correlacionado aos achados do exame físico e laboratorial. A palpação cirúrgica e avaliação tomográfica realizada em alguns casos mostraram que essa imagem corresponde de fato a acúmulo fecal. Nessa casuística, não houve erro de diagnóstico de apendicite aguda. Todos os apêndices estavam inflamados em diferentes estádios. Desde o início da pesquisa, houve alguns pacientes com dor no quadrante inferior direito do abdome, mas sem o sinal radiográfico estudado. Nesses casos a operação foi adiada e a propedêutica suplementar, bem como o acompanhamento por um tempo mais prolongado, definiu os quadros abdominais como não apendiculares: ovulação dolorosa, linfadenite mesentérica, litíase urinária e dor sem causa identificada.

342 Petroianu A, Alberti LR, Zac RI Nenhum desses pacientes foi operado e a causa de dor foi resolvida com tratamento particularizado a cada caso. Novas pesquisas estão em andamento com vista à explicação da presença desse sinal radiográfico em apendicite aguda e à sua fisiopatologia. Uma hipótese para explicar o acúmulo fecal seria a presença de um íleo localizado no ceco, em decorrência do processo inflamatório próximo a ele. O conteúdo ileal, ao penetrar no ceco, ficaria retido e sob a ação da sua função absortiva de água. Nesse período de estase quilosa, decorrente da disfunção motora cecal, haveria a formação das fezes vistas à radiografia. CONCLUSÃO Em presença de apendicite aguda, identificou-se uma imagem de acúmulo fecal no ceco, em quase todos os doentes, independentemente de idade, sexo ou cor da pele. A freqüência desse sinal é muito superior à encontrada em outras afecções inflamatórias agudas da parte direita do abdome. A ausência desse sinal torna pouco provável o diagnóstico de apendicite aguda e, após a retirada do apêndice, essa imagem geralmente desaparece. REFERÊNCIAS 1. Boleslawski E, Panis Y, Benoist S, Denet C, Mariani P, Valleur P. Plain abdominal radiography as a routine procedure for acute abdominal pain of the right lower quadrant. World J Surg. 1999;23(3):262-4. 2. Marincek B. Nontraumatic abdominal emergencies: acute abdominal pain: diagnostic strategies. Eur Radiol. 2002;12(9):2136-50. 3. Zhou H, Chen YC, Zang JZ. Abdominal pain among children re-evaluation of a diagnostic algorithm. World J Gastroenterol. 2002;8(5):947-51. 4. Eriksson S, Granstrom L, Bark S. Laboratory tests in patients with suspected acute appendicitis. Acta Chir Scand. 1989;155(2):117-20. 5. Reynolds SL. Missed appendicitis in a pediatric emergency department. Pediatr Emerg Care. 1993;9(1):1-3. 6. McCallion J, Canning GP, Knight RV, McCallion. Acute appendicitis in the elderly, a five-year retrospective study. Age Ageing. 1987;16(4):256-60. 7. Jess P, Bjerregaard B, Brynitz S, Holst-Christensen J, Calaja E, Lund-Christensen J. Acute appendicitis, prospective trial concerning diagnostic accuracy and complications. Am J Surg. 1981;141(2):232-4. 8. Lewis Fr, Holcroft JW, Boey J, Dunphy E. Appendicitis, a critical review of diagnosis and treatment in 1000 cases. Arch Surg. 1975;110(5):677-84. 9. Petroianu A, Oliveira-Neto JE, Alberti LR. Incidência comparativa da apendicite aguda em população miscigenada, de acordo com a cor da pele. Arq Gastroenterol. 2004;41(1):24-6. 10. Walker ARP, Walker BF. Appendectomy in South African inter-ethnic school pupils. Am J Gastroenterol. 1987;82(3):219-22. 11. Walker ARP, Walker BF, Mantesi B, Tsotetsi NG, Segal I. Appendicitis in Soweto, South Africa. J R Soc Health. 1989;109(6):190-2. 12. Addis DG, Shaffer N, Fowler BS, Tauxe RV. The epidemiology of appendicitis and appendectomy in the United States. Am J Epidemiol. 1990;132(5):910-25. 13. Petroianu A, Oliveira-Neto JE. Prevalence of acute appendicitis in a mixed population. Dig Surg. 1997;14(3):195-7. 14. Graff L, Russell J, Seashore J, Tate J, Elwell A, Prete M, et al. False-negative and false-positive errors in abdominal pain evaluation: failure to diagnose acute appendicitis and unnecessary surgery. Acad Emerg Med. 2000;7(11):1244-55. 15. Izbicki JR, Knoefel WT, Wilker DK, Mandelkow HK, Müller K, Siebeck M, et al. Accurate diagnosis of acute appendicitis: a retrospective and prospective analysis of 686 patients. Eur J Surg. 1992;158(4):227-31. 16. Brooks DW, Killen DA. Roentgenographic findings in acute appendicitis. Surgery. 1965;57:377-84. 17. Petroianu A. Pesquisa em medicina. In: Petroianu A. Ética, moral e deontologia médicas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. p. 174-8. 18. Bondrager KL. Abdome e procedimentos contrastados comuns. In: Bondrager KL. Técnica radiológica e base anatômica. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. p. 211-50. 19. Altman DG, Gardner MJ. Means and their differences. In: Altman DG, Machin D, Bryant TN, Gardner MJ, editors. Statistics with confidence. England: British Medical Journal Books; 2000. p. 28-35. 20. Sivit CJ. Imaging the child with right lower quadrant pain and suspected appendicitis: current concepts. Pediatr Radiol. 2004;34(6):447-53. 21. Adolph VR, Flaterman KW. Appendicitis in children in the managed care era. J Pediatr Surg. 1996;31(8):1035-7. 22. Pieper R, Kager L, Näsman P. Acute appendicitis: a clinical study of 1,018 cases of emergency appendectomy. Acta Chir Scand. 1982;148(1):51-62. 23. Rappaport WD, Peterson M, Stanton C. Factors responsible for the high perfuration rate seen in early childhood appendicitis. Am Surg. 1989;55(10):602-5. 24. Sivit CJ, Newman KD, Boenning DA, Nussbaum-Blask AR, Bulas DI, Bond SJ. et al. Appendicitis: usefulness of US in a pediatric population. Radiology. 1992;185(2):549-52. 25. Bell MJ, Bower RJ Ternberg JL. Appendectomy in childhood: analysis of 105 negative explorations. Am J Surg. 1982;144(3):335-7. 26. Pena BMG, Taylor GA, Fishman SJ, Mandl KD. Effect of an imaging protocol on clinical outcomes among pediatric patients with apendicitis. Pediatrics. 2002;110(6):1088-93. 27. Dueholm S, Bagi P, Bud M. Laboratory aid in the diagnosis of acute appendicitis. Dis Colon Rectum. 1989;32(10):855-9. 28. Oncel M, Degirmenci B, Demirhan N, Hakyemez B, Altuntas YE, Aydinli M. Is the use of plain abdominal radiographs (PAR) a necessity for all patients with suspected acute appendicitis in emergency services? Curr Surg. 2003;60(3):296-300. 29. Barnes BA, Behringer GE, Wheelock FC, Wilkens EW. Treatment of appendicitis at the Massachusetts General Hospital (1937-1959). JAMA. 1962;180:122-6. 30. Fenkins D, Lee P. Radiology in acute appendicitis. J Roy Coll Edinb. 1970;15:34-7. 31. Rulfs DM, Fisher RG. Radiographic findings in acute appendicitis. Text Med. 1971;67:89-93. 32. Birnbaum BA, Wilson SR. Appendicitis at the millennium. Radiology. 2000;215:(2):337-48. 33. Incesu L, Yazicioglu AK, Selcuk MB, Ozen N. Contrast-enhanced power Doppler US in the diagnosis of acute appendicitis. Eur J Radiol. 2004;50(2):201-9.