O ENSINO DE SOCIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO E A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO DE PIERRE BOUDIEU 1. Antonia Eliane Lobo Carneiro

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Transcrição:

O ENSINO DE SOCIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO E A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO DE PIERRE BOUDIEU 1 Antonia Eliane Lobo Carneiro Graduanda do curso Licenciatura em Ciências Humanas Sociologia Universidade Federal do Maranhão. e-mail: eliane_carneiro@hotmail.com RESUMO: O presente artigo visa discutir o cenário do ensino de Sociologia no Ensino Médio, as problemáticas resultantes da intermitência da disciplina no quadro de ensino nacional, além da perspectiva de formação ativa do educando no papel social desenvolvido na escola na concepção de Pierre Bourdieu sobre a sociologia da educação relacionando herança familiar e desempenho escolar. A discussão desenvolvida apresenta os diversos fatores que compõe a instituição escolar como, políticos, sociais, culturais e ideológicos que estão envolvidos no processo de construção dos agentes sociais a fim de contribuir para uma reflexão sobre o ensino de sociologia, considerando que a educação escolar é um reflexo institucional dos movimentos sociopolíticos. PALAVRAS-CHAVE: Sociologia. Ensino Médio. Sociologia da Educação. Pierre Bourdieu INTRODUÇÃO 1 Artigo apresentado ao VIII Fórum Internacional de Pedagogia FIPED 2016.

A sociologia da educação busca estudar os processos sociais do ensino e a aprendizagem da disciplina de sociologia nas salas de aula a partir das relações sociais do cotidiano dos alunos. E entre os autores que abordam essa vertente, está Pierre Bourdieu é um autor contemporâneo que faz análises importantes sobre o desenvolvimento do ensino de sociologia e na década de 1960 emerge com questionamentos e reflexões sobre as desigualdades sociais iniciadas no âmbito escolar. A escola inicialmente seria uma instituição modalizadora de oportunidades que até então era considerada como neutra, porém segundo a teoria de Bourdieu é justamente nela que são legitimadas as desigualdades sociais, desconstruindo, portanto, a ideia de conhecimento racional que invés de supor como dados os pré-requisitos necessários à decodificação da comunicação pedagógica (capital cultural lingüístico), se esforçaria para transmiti-lo metodicamente a quem não os recebeu na família e a partir disso selecionar os alunos. O autor chama atenção para a importância do ensino de sociologia ao refletir sobre a influência do ensino à formação social do aluno por incitar reflexões de ações passadas para que se possa entender o presente, possibilitando compreender as transformações sociais ao longo do tempo sendo possível construir um ensino qualitativo e participativo na formação social. Partindo da premissa de Bourdieu sobre o ensino de sociologia, pretende-se neste artigo analisar o cenário do ensino de sociologia no ensino médio como propulsora do senso crítico social do educando a partir da didática aplicada, além de demonstrar as problemáticas enfrentadas pelos docentes em sala de aula para alcançar o objetivo pretendido. METODOLOGIA A metodologia deste trabalho orienta-se na reflexão teórica de Pierre Bourdieu sobre a Sociologia da Educação, assim como, as problemáticas apresentadas no ensino de sociologia no ensino médio a partir da intermitência da disciplina no quadro nacional de ensino que ao passar por muitas transições, tornou-se obrigatória na resolução nº4 de 16 de agosto de 2006, que alterava o artigo 10 da resolução CNE/CEB nº 3/1998 que dispõe sobre a inclusão de sociologia como componente curricular do Ensino Médio em todo o país. PROBLEMÁTICAS DO ENSINO DE SOCIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO

A incerteza da permanência da disciplina no quadro curricular de ensino fragiliza e desestimula a prática docente comprometendo os conteúdos, didática e número de aulas, este último geralmente é um número muito inferior se comparado às demais disciplinas. A preocupação de qual método aplicar para despertar interesse e atenção dos alunos nos temas contextualizados foi um fator muito citado na pesquisa realizada por Márcia Gobbi (2012) Os professores acreditam que os alunos não se dedicam a aprimorar os conhecimentos e que isso se dá pela vulnerabilidade e pelo descaso das políticas estaduais e federais que comprometem as práticas pedagógicas e mantém os alunos desinformados sobre a importância e objeto das Ciências Sociais. Quanto à formação para ministrar as aulas de sociologia, mesmo com um quadro de profissionais que nem sempre estão aptos de forma satisfatória, estes demonstram disposição para fazer compreensível a finalidade das aulas a fim de levar a compreensão social do homem partindo da racionalização sociológica, ampliando a imaginação, o pensamento e provocando os debates, segundo a pesquisa realidade por GOBBI (2012). Bernard Lahire (2013) diz que a naturalidade do ensino ocorre pela presença no cenário escolar, logo a descontinuidade de sociologia na grade curricular compromete a visão dos alunos sobre a importância dela na vida social. Devido à importância crítica da disciplina é que em muitos momentos da história brasileira ela foi retirada do quadro do ensino médio. Ao longo dos momentos marcantes, como o golpe militar de 1964 houve represálias contra os cientistas sociais que questionavam as ações governantes sendo obrigados a calar sua opinião e a influência que elas tinham sobre os demais indivíduos. As ciências sociais tem por objetivo fazer ascender a realidades que permanecem invisíveis frente à experiência imediata. (Bernard Lahire, 2013) Diante da consolidação da disciplina como componente curricular obrigatório no quadro de ensino nacional, o ensino de sociologia contribuiu para melhor compreensão do homem em sociedade a partir do raciocínio sociológico, desenvolvendo formas de pensar sociologicamente, além de enfrentar nos campos de debate de forma crítica, sendo de suma importância para o desenvolvimento e participação social do aluno, conforme Durkheim: Um povo é tanto mais democrático quanto mais considerável é o papel desempenhado, na marcha dos negócios públicos, pela deliberação, pela reflexão, pelo espírito critico. E, é tanto menos democrático quando, ao contrario, mais preponderem, nessa marcha, a inconsciência, os hábitos inconfessados, os

sentimentos obscuros, os preconceitos, numa palavra, os escapos ao exame. (DURKHEIM, 1983). SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO E A REPRODUÇÃO NO ENSINO A escola inicialmente seria uma instituição modalizadora de oportunidades que até então considerada neutra, porém na concepção Bourdiana é justamente nela que são legitimadas as desigualdades sociais contrapondo à ideia de conhecimento racional que invés de supor como dados os pré-requisitos necessários à decodificação da comunicação pedagógica (capital cultural linguístico), se esforçaria para transmiti-lo metodicamente a quem não os recebeu na família selecionando os alunos a partir disso. A sociologia da educação busca estudar os processos sociais do ensino e a aprendizagem da disciplina de sociologia nas salas de aulas a partir das relações sociais dos alunos. Nessa vertente na década de 1960 surge Pierre Bourdieu com a reflexão sobre as desigualdades sociais que se iniciariam no âmbito escolar. Ele chama atenção para a importância do ensino de sociologia ao refletir sobre a influência do ensino à formação social do aluno ao incitar através de reflexões de ações passadas o entendimento do presente sendo possível compreender as transformações sociais ao longo do tempo tornando possível construir um ensino de qualidade e rico em participação social e política. Surge então, uma nova perspectiva sobre o papel desempenhado pela escola na formação social dos alunos perdendo o papel de instituição transformadora e democratizadora e sendo apenas um local de reprodução das estruturas sociais a qual segundo Bourdieu ao longo do tempo, por um processo não deliberado [...] as estratégias mais adequadas [...] então, incorporadas pelos sujeitos como parte do seu habitus. Segundo Bourdieu os alunos não competem em condições iguais, pelo contrário, a origem social deles designa o sucesso promissor dentro e fora de escola. Uma das teses centrais da Sociologia da Educação de Bourdieu é que os alunos não são indivíduos abstratos que competem em condições relativamente igualitárias na escola, mas são atores socialmente constituídos que trazem em larga medida incorporada, uma bagagem social e cultural diferenciada e mais ou menos rentável no mercado escolar, ou seja, a origem social seria fator determinante no seu desenvolvimento. E, portanto, contrapondo a tese de que o mecanismo do sistema de ensino transforma as diferenças iniciais, sendo que este é resultado da transmissão familiar da herança

cultural em desigualdades de destino escolar. Explora a relação com o saber, em prejuízo do saber em si mesmo, mostrando como os estudantes provenientes de famílias desprovidas de capital cultural apresentarão uma relação com as obras da cultura veiculadas pela escola que tende a ser interessada, laboriosa, tensa, esforçada, enquanto para os alunos originários de meios culturalmente privilegiados essa relação está marcada pela desenvoltura, facilidade verbal que seria caracterizada como natural, diz ainda que isso se perpetue porque os indivíduos tendem a propagar essa estrutura a qual eles foram socializados. CONSIDERAÇÕES FINAIS Logo, Bourdieu enfatiza que não existe fronteira de classe social para a aprendizagem e que diversas culturas ajudam no desenvolvimento do saber humano, acreditando que a diversidade possibilita uma educação rica em aprendizagem, mas que a instituição escolar apenas reproduz a cultura dominante que lhe é favorável e desse modo contribui para uma concepção ilusória do mundo social atribuindo aos sujeitos falsa autonomia. Para ele, o indivíduo é um ator socialmente configurado em seus mínimos detalhes e que a cultura escolar seria, basicamente, a cultura imposta como legítima pelas classes dominantes e que para isso seria necessário ela se apresentar como neutra. Portando, a importância do ensino das Ciências Sociais se dá ao proporcionar o conhecimento reflexivo da realidade, podendo descobrir objetos nunca percebidos, que não eram notados até então do ponto de vista geral, e aí está o ponto chave do papel principal do ensino e aplicabilidade dela no currículo escolar e na vida social do educandos, promover reflexões de ações cotidianas a fim de serem atores na formação social e construir um ensino de qualidade ainda que seja instável a presença da disciplina na grade curricular considerando ao longo da história educacional as idas e vindas dela. Nota-se que a cada ano ela vem ganhando mais reconhecimento diante da função na vida em sociedade. São as relações sociais que constituem o ser social em qualquer contexto social (IANNI, 2011), logo a continuidade do ensino possibilitará evolução do aluno mediante as visões despertadas nas abordagens dos temas propostos em sala de aula, além de firmar a relevância no quadro de ensino nacional.

REFERÊNCIAS BOURDIEU, Pierre. A reprodução. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1992. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1987. BRASIL. Parecer CNE/CEB Nº 38/2006. Inclusão Obrigatória das Disciplinas de Filosofia e Sociologia no Currículo do Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, 7 de julho de 2006. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio Ciências Humanas e suas Tecnologias. Brasília: Ministério da Educação, 2000, vol. 4. DURKHEIM, Emile. Lições de sociologia: a moral, o direito e o estado. Trad.de J. B. Damasco Penna. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1983. GOBBI, M. A. Professores e professoras de sociologia no ensino médio: práticas docentes e representações. Reflexão e Ação. p. 161-174, 2012. IANNI, Octavio. O Ensino das Ciências Sociais no 1º e 2º Graus. Cad. Cedes, Campinas, vol. 31, n. 85, p. 327-339, set.-dez. 2011. LAHIRE, Bernard. Viver e interpretar o mundo social: para que serve o ensino da Sociologia? Revista de Ciências Sociais, Fortaleza, v. 45, n. 1, jan/jun, 2014, p. 45-61. NOGUEIRA, Maria Alice; NOGUEIRA, C. M. M. A Sociologia da Educação de Pierre Bourdieu: limites e contribuições. Educação e Sociedade, São Paulo, v. 78, n.78, p. 15-36, 2002.